SETE SECRETÁRIOS
DESAPARECIDOS
Nunca na história do Grande ABC houve sequer um encontro de secretários de Desenvolvimento Econômico dos sete municípios com qualquer instância, ou mesmo entre eles, para analisar o presente ou projetar intervenções no futuro. Por mais que procure provocar minha memória, desde que há 30 anos o prefeito Celso Daniel atendeu à demanda deste jornalista e criou a primeira secretaria voltada ao setor econômico, seguido que foi por outras prefeituras, jamais houve algum encontro entre os escolhidos contando com uma pauta previamente elaborada.
Quando bato na tecla de que o separatismo da região em meados do século passado é uma das maiores barbaridades já cometidas contra o Desenvolvimento Econômico, entre outras repercussões sociais e culturais, o exemplo que acabo de formular deveria deixar os emancipacionistas de orelha em pé.
Por mais que tenham o direito a comemorar aquelas mutilações territoriais, alguém precisa chamar a atenção para oferecer contraponto que pode não ser politicamente correto, mas é socialmente indispensável. Sem contar, claro, as rasuras culturais que os movimentos de herdeiros daqueles esquartejamentos procuram resgatar, mas sempre sob o preceito de territorialidade municipal repartida.
RITUAL REPETIDO
A questão econômica do Grande ABC é propriedade especial desta publicação desde o nascedouro da revista LivreMercado, em 1990. Contamos com o maior banco de dados e de análises da região. Isso é uma afronta aos chefes do Poder Executivo, entre outras instâncias relapsas. O lamentável em tudo isso é que não existe concorrência nesse campo. Os parceiros de jornadas jornalísticas também não entendem desse riscado. E fazem a festa de fontes mais que suspeitas.
Algumas iniciativas individuais envolvendo um e outro secretário de Desenvolvimento Econômico foram levadas adiante durante algum tempo com Celso Daniel. Depois, tudo desapareceu nas brumas de improvisações, descasos, dispersão e tudo o mais. A Economia do Grande ABC vem sendo triturada há mais de três décadas. Só neste século – e não canso de repetir essa informação como alerta aos irresponsáveis – nosso PIB per capita corre à velocidade de apenas 30% quando comparado à média nacional de um País à deriva desde sempre.
A leva de novos secretários de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, na garupa dos atuais mandatários do Clube dos Prefeitos, segue o mesmo ritual dos antecessores: praticamente a totalidade deles não tem maiores afinidades com a especialidade, integram o batalhão de individualidades a serviço de iniciativas politicas e partidárias e simplesmente são peças nulas nos organogramas oficiais. Pode, com muita boa-vontade crítica, não lhes faltarem empenho e boa-vontade de socorristas. Mas a demanda é por planejadores e cirurgiões.
POUCO DINHEIRO
Para agravar ainda mais a situação de individualidades que não convergem atenção às demandas municipais e tampouco esquentam a cabeça com medidas integracionistas que considerem a região como um todo, os secretários desaparecidos deixam vácuo de inoperância preenchida por agentes ligados ao Clube dos Perfeitos, especialmente da Agência de Desenvolvimento Econômico, a quem se oferecem de vez em quando oportunidades para desfilar incompetência de despreparo.
Há leitores que, contaminados pelo ambiente de polarização política, que virou uma boa desculpa à preguiça mental, sempre estão com um pé atrás quando me refiro a legados de Celso Daniel. São exemplares clássicos de rejeição preventiva e infatigável. Nem ao menos se dão conta dos fatos históricos.
Celso Daniel teria sido o melhor secretário econômico do Grande ABC se não fosse o melhor prefeito Regional do Grande ABC. Professor da Fundação Getúlio Vargas, Celso Daniel contava com bagagem cultural, enviesamento estatal à parte, para derreter as geleiras de desinteresse sobre o tema que não atrai atenção dos poderosos de plantão porque os recursos financeiros disponíveis no organograma oficial das prefeituras são sempre uma ninharia. Saúde, Educação e Obras é que contam para quem quer fazer as malas.
INVASÃO DOS BÁRBAROS
Alguns poucos nomes de valor chegaram a ocupar o cargo de Secretário de Desenvolvimento Econômico nas cidades do Grande ABC, mas acabaram engolfados pela ausência de estrutura física e de recursos humanos. Também tivemos gente esforçada, mesmo sem muito talento e experiência, mas gente que não resistiu à desimportância hierárquica imposta pelos chefes de Executivo.
Não foi preciso muita coisa para convencer Celso Daniel, naquela metade dos anos 1990, recém-eleito prefeito, a criar uma secretaria especifica para tratar do destino econômico de Santo André. Ele cumpriu a promessa feita a este jornalista. Outros prefeitos o seguiram e tudo indicava que poderia haver reviravolta no placar municipal e regional que já acusava perdas inquietantes.
Emissários de municípios do Interior do Estado frequentavam a região com séquitos de assessores. Vinham buscar nossas empresas. Ofereciam rios de vantagem fiscal, ambiental e imobiliária. A competição era desigual. Nem precisariam oferecer tanto. Os sindicalistas indomáveis e o chamado Custo ABC se colocavam como incentivadores naturais à debandada.
INTERAÇÃO COM SOCIEDADE
Se nos tempos em que ainda se duvidava da desindustrialização como matriz de empobrecimento do Grande ABC já era pouco provável reunir os sete secretários concorrenciais, imagine agora que falta pão para todos?
Sem uma autoridade pública regional acima das fronteiras municipais, qualquer iniciativa que implique aproximação estratégica será perda de tempo. Reunir os sete secretários num mesmo endereço com a prescrição de encontrarem fios condutores a politicas em comum soaria como heresia.
Primeiro porque eles se veem como adversários, como concorrentes. Segundo porque não contam com nada que possibilitaria enxergarem um palmo à frente em forma de objetivos a alcançar.
Levando-se em conta a situação de debilidade permanente da economia do Grande ABC, a identidade de cada um dos sete secretários de Desenvolvimento Econômico deveria ser conhecida dos formadores de opinião e tomadores de decisões.
Mais que isso: independentemente de ações municipais, eles deveriam ser demandados frequentemente a participarem de encontros de estudos com representantes da sociedade. Seriam sabatinados, mas também poderiam contar com a retaguarda de gente que coloca a mão na massa e sabe o que acontece em distintas atividades econômicas.
Para que essa sugestão fosse levada adiante sem que se convertesse em farsa ou até mesmo em eventos comemorativos, porque essa é uma das ramificações do estágio de irresponsabilidade coletiva dos agentes públicos do Grande ABC, para que isso fosse possível seria indispensável, também, que houvesse sociedade a contrapor-se.
No caso, sociedade seriam profissionais de vastas atividades econômicas instaladas na região e que teriam peso nos encontros como questionadores e apoiadores de decisões.
ANALFABETISMO ECONÔMICO
O drama regional é que não temos uma coisa nem outra coisa. Ou seja: os secretários de Desenvolvimento Econômico não saem dos respetivos quadrados e o potencial de contraditório e de colaboração desapareceu do mapa. A Economia do Grande ABC é de desconhecimento massacrante. Um exemplo: entre os 150 vereadores dos sete municípios, não se terá meia dúzia, literalmente, que compreenda a diferença entre Valor Adicionado e IPTU.
Possivelmente os leitores sugeririam que este jornalista estaria febril por não ter mencionado nessa análise uma vez sequer o impagável secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, Rafael Demarchi, detentor do título de Exagerado do Ano da Administração do prefeito Marcelo Lima.
Afinal, Demarchi projetou 100 mil empregos formais ao fim de quatro anos de mandato, baseado especialmente no setor de logística que, para ele, é uma fonte de transformação econômica extraordinária quando, de fato, não passa de concorrência de baixo valor agregado e, pior que isso, incrementa a ocupação do comércio eletrônico destruidor de pequenas e médias empresas varejistas em diversas atividades.
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