QUEM SÃO OS TERRORES
DO EMPREGO INDUSTRIAL?
Ainda há quem não acredite ou faz de conta que não acredita ou insiste em dizer que não houve uma coisa nem outra e tantas outras coisas para negar os efeitos nocivos de dois dos piores governos federais na história da Economia do Grande ABC. Há um terceiro que também não pode ser desconsiderado, mas vamos deixar para lá com o seguinte sentido: tentem descobrir quem é, porque vou esmiuçá-lo dentro do possível em análise posterior.
A identificação nominal dos malfeitores externos e internos do Grande ABC não é uma caça às bruxas como pretendem fazer crer alguns que defendem bandidos sociais por serem bandidos sociais de aluguel.
Contar a história do Grande ABC sob bases factuais, estatísticas e contextualizadas é uma obrigação que deveria reger a ética e a moralidade de todo jornalista. Não se deve esperar algo assim de agentes econômicos e sociais. A maioria está capturada pelos donos dos poderes, principalmente dos paços municipais.
Os leitores já mataram a charada da manchetíssima de hoje ou vai ser preciso que os identifique o quanto antes para começarem a entender essa análise?
FHC E DILMA
Os dois piores inimigos da Economia do Grande ABC ao longo dos tempos não tiveram resultados semelhantes quando se trata da amplitude nacional. Um deles se salva com certo louvor, embora com condicionantes. O outro, entretanto, foi uma tragédia completa. Mais que uma tragédia qualquer, foi uma catástrofe da qual ainda não nos recuperamos e muito provavelmente jamais nos recuperaremos.
Será que os leitores ainda não chegaram aos respectivos nomes?
Vamos dar nome aos bois de imediato para que os leitores possam, a partir disso, raciocinarem por conta própria, com vieses naturalmente consumados.
O primeiro presidente da Republica na lista de devastadores da Economia do Grande ABC chama-se Fernando Henrique Cardoso.
O segundo presidente da República na lista de devastadores da Economia do Grande ABC é na verdade mulher, a impagável Dilma Rousseff.
A ordem de importância de malefícios internos, locais, não é necessariamente a exposta. Aliás, diria que se forem medidas cuidadosamente as duas gestões federais, levando-se em conta vários aspectos econômicos e sociais, Dilma Rousseff supera Fernando Henrique Cardoso.
DUPLA ARRASADORA
Essa dupla foi arrasadora. Mas, a bem da verdade, não se pode sacrificar tanto um quanto outro de forma implacável e isolada de um contexto regional que precisa ser ressaltado. Contexto não é bem a definição dos dois períodos. Tanto num caso quanto no outro o que tivemos foram mesmo resultados estruturantes, enraizados, contaminados, dilapidados.
Quando o contexto ultrapassa a linha de fundo da cronologia própria, no caso dos respectivos mandatos, e invade o terreno da vizinhança, tudo se torna estrutural. Quem deixa rabo de foguete para o sucessor é mandatário além da cronologia formal. É um invasor de terreno alheio.
Pegando a bucha de canhão do legado de Fernando Henrique Cardoso e deixando a terra mais ou menos aplainada para Dilma Rousseff, o presidente Lula da Silva, de dois mandatos, salvou parcialmente a lavoura no Grande ABC. A macroeconomia o ajudou tremendamente. Nunca se exportou tantas commodities para os asiáticos. Pena que Lula da Silva incrementou gastos estruturantes que não combinaram com receitas circunstanciais. A conta sempre chega. A sucessora Dilma Rousseff também tem o DNA gastador de Lula da Silva como aperfeiçoamento de um descalabro.
FALTA CIDADANIA
Agora vou dar aos leitores os números dos bois. Mas antes disso é importante explicar que o massacre aos crachás industriais – é disso que se trata essa análise – não teria tido a intensidade, a profundidade, a gravidade e tudo o mais se o Grande ABC não fosse uma grande piada de suposta cidadania e arranjo institucional.
Aqui não se exercita cidadania desde muito tempo. Mesmo quando parecia que se praticava durante o período ebulitivo do movimento sindical. Tudo não passou de iniciativas corporativas, com todo o direito do mundo em se manifestar por interesses próprios.
Como Sociedade Civil Organizada, o Grande ABC jamais existiu para valer mesmo. Canso de escrever sobre isso, mas é importante repetir à exaustão para no mínimo confrontar lambe-botas de triunfalismo inconsequente que leva sofismadores a carreiras políticas vitoriosas.
Aliás, esse fato, ou seja, carreiras políticas vitoriosas de gente que raramente moveu alguma palha para reagir à hecatombe regional, é a prova provadíssima de que cidadania e todos os bregueços utilizados para enganar o distinto público não passam mesmo de patifaria.
QUASE 90 MIL
Então vamos lá com os números daqueles dois governos federais e da omissão generalizada da massa de autoridades públicas, privadas e sociais do Grande ABC durante todos esses anos. O primeiro dado é estarrecedor para quem não conhece estas páginas que circulam há 35 anos.
Logo após o Plano Real, lançado em 1994, passando pelos dois últimos anos do desgoverno de Dilma Rousseff, e chegando a agosto deste ano, depois da pandemia do Coronavírus e a bem da verdade de oito anos do governo Lula da Silva, depois de tudo isso, que soma 368 meses, o universo de empregos industriais com carteira assinada nos sete municípios do Grande ABC sofreu baixa em números absolutos de 89.908 trabalhadores.
Espero que os leitores guardem o número acima. Nada menos que 89.908 trabalhadores industriais com carteira assinada foram dispensados das fábricas em termos de balanço geral e final, entre janeiro de 1995 e agosto deste ano. A contabilidade em períodos específicos dessa trajetória foi mais intensa e também menos intensa. O resultado exposto é a contagem atual.
O pós-Plano Real foi cruel com a Economia do Grande ABC. Fomos expostos à competição interna tanto no Estado de São Paulo, principalmente, como de outras instâncias estaduais em todos os ramais da indústria de transformação. Salvaram-se apenas a Doença Holandesa Automotiva e a cadeia petroquímica, com variável química, da Doença Holandesa Petroquímica.
DE 53 PARA 22
Antes dos efeitos do Plano Real, mesmo já com o acumulado de perdas na primeira metade dos anos 1990, quando o presidente de mandato relâmpago abriu as fronteiras alfandegárias (já descobriram de quem se trata o nosso terceiro protagonista?) antes disso, era enorme a possibilidade de os leitores apontarem aleatoriamente para alguém empregado com carteira assinada na região pertencer à indústria de transformação. De cada 100 trabalhadores, 53,76% batiam ponto em alguma fábrica instalada na região.
Sei que o parágrafo anterior foi longo demais. Não custa dar uma nova lida. Se preciso mais uma. Guardaram o sentido das coisas? Resumindo: de cada 10 trabalhadores formais no Grande ABC em 1994, mais de cinco eram industriários. Combinado?
O que ocorreu nesse período de 368 meses? Se os leitores pretenderem acertar na loteria de apontamento da ocupação de cada 100 trabalhadores formais, vai precisar de muita sorte para chegar à média percentual. Não passam, esses privilegiados, de 22,53 do total dos empregos formais nos sete municípios.
244 A CADA MÊS
Traduzindo: em 368 meses, o Grande ABC de emprego industrial perdeu o equivalente a 244 crachás a cada mês. No total, faltam 163 fábricas da Toyota na geografia regional. Sim, 163 fábricas de autopeças da Toyota que até outro dia estava sediada em São Bernardo. Diziam, os despreparados, que a Toyota integrava à rede montadoras de veículos no Grande ABC. De fato, a Toyota pertencia à imensa rede de autopeças, que abastecem as montadoras.
Há mais números que explicam a transformação econômica do Grande ABC como um presente de grego. Afinal, mudamos para pior. Perdemos o tônus industrial tanto em empregos formais quanto em Valor Adicionado (já escrevi muito sobre isso) e incorporamos empregos de baixa remuneração e tecnologia nas áreas de comércio e serviços. Éramos um tigre e viramos uma ovelha desgarrada.
Se no vetor setorial o emprego industrial do Grande ABC perdeu 48,62% dos trabalhadores no período analisado, com a demissão líquida de 89.908 trabalhadores ao final de 368 meses, as demais atividades econômicas, principalmente serviços e comércio, avançaram extraordinariamente. Mais precisamente cresceram 174,12%.
Os empregos formais na região, sem contar os empregos industriais, registravam 237.901 trabalhadores em 1994. Já em agosto de 2025, alcançava o total de 652.138. O total de empregos formais de todas as atividades em 1994 alcançava 521.551 trabalhadores. Passou para 841.380 em agosto último.
FESTA NOS PAÇOS
O mais engraçado nessa história toda, para não dizer o mais dramático, é que a cada novo balanço mensal do Ministério do Trabalho, as assessorias de imprensa oficiais e oficiosas das prefeituras engalanadas, trombeteiam retumbantes vitórias na disputa regional.
O marketing abusado despreza o passado que está presente no presente porque a massa salarial do Grande ABC, mesmo com todo o saldo de empregos, entre aspas, perde de goleada para o passado de prevalecimento do emprego industrial.
Até o final desta década, faltando como faltam cinco anos de jornada, a proporção de emprego industrial no Grande ABC, em confronto com o total geral dos empregos, não deverá chegar ao nível de Santo André, mas vai descer a ladeira, como tem descido.
A dupla ação de perda de emprego industrial e crescimento de emprego em serviços e comercio deverá rebaixar a participação relativa da atividade mais consistente a mudanças sociais pouco acima de 15%, ante os 22,53% de agosto último.
Santo André de apenas 11% de emprego industrial no cômputo geral de trabalhadores com carteira assinada cairá ainda mais. Quem não tem infraestrutura pública à logística de produção e confunde logística de produção (industrial) com logística de distribuição de produtos asiáticos (os centros logísticos de comércio eletrônico) não escapará de novo rebaixamento.
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