SOROCABA INDUSTRIALIZA
E SANTO ANDRÉ FRACASSA
O PIB per capita de Santo André era 5,17% maior que o de Sorocaba antes da chegada deste século, em 1999. Vinte e dois anos depois, Sorocaba virou o jogo e o PIB per capita tornou-se 42,71% maior. Como isso foi possível? Cantamos e acompanhamos essa caçapa ao longo dos anos e a virada foi inapelável. Agora o estágio é de alargamento da goleada. Sorocaba cresceu 10 vezes mais que Santo André no período. Um massacre ignorado e festejado a cada dia em Santo André. Até parece que nada se alterou no período.
Sorocaba tem o que Santo André já teve e que praticamente desapareceu. As cadeias de produção industrial de Santo André foram embora e o que restou é a Doença Holandesa Petroquímica. É desindustrialização na veia.
A diversidade de industrialização de Sorocaba e a desindustrialização praticamente geral de Santo André estão no cerne dessa virada no placar que se está tornando goleada. Não tem choro nem vela. O futuro não acena mesmo a outro cenário senão o esticamento da diferença – e das mazelas sociais. Há numerosas razões para essa projeção. Uma das quais é a mobilidade urbana em forma de logística de Santo André, um convite ao caos. Mas há muito mais vetores nocivos. Já escrevemos sobre isso.
FEIRA-LIVRE POPULISTA
Perdemos o trem da história de mobilidade social que só a indústria é capaz de produzir. Ou novas tecnologias na imensidão de áreas de serviços tecnologicamente sofisticados, que o Grande ABC está longe de ter. Por conta disso e de muito mais, é melhor se acautelarem todos aqueles que acreditam em Papai Noel de novos tempos econômicos em Santo André. Não será o setor de serviços de baixo valor agregado que dará a resposta. Mais que isso: vai dilatar os estragos.
O que se vende numa espécie de feira-livre de exageros populistas de Santo André não passa de penduricalhos em larga escala autofágicos. E quem sofre mais sempre e sempre são os negócios familiares, cada vez mais comprimidos pela concorrência do comércio eletrônico de varejistas asiáticos e franquias mais bem preparadas para enfrentar borrascas.
Enquanto a mesma modinha festiva não para de tocar para embevecer incautos ou sádicos, o aprofundamento do sucesso de Sorocaba, sede de uma das maiores regiões metropolitanas do Estado de São Paulo, segue sem parar. E o fracasso de Santo André se acentua comparativamente àquele endereço e a tantos outros endereços.
MELHOR MÉTRICA
PIB não é a melhor medida para alcançar a temperatura de Desenvolvimento Econômico necessária e desejada, mas ainda não inventaram nada que seja mais satisfatório e confiável. PIB está para a Economia assim como Democracia para regime político. E o PIB per capita, então, é infinitamente melhor que o PIB Geral.
O PIB per capita traduz na individualidade média dos moradores o resultado do PIB Geral. Com isso, unifica todos os municípios sob a mesma métrica. O PIB Geral de São Paulo, por exemplo, é muito superior ao PIB Geral de qualquer Município brasileiro. Mas quando se traduz para o PIB per capita, a história é outra. E PIB per capita tem tudo a ver com qualidade de vida no sentido mais amplo.
O PIB per capita brasileiro trafega próximo do fim da fila dos 100 maiores do mundo. Mas o que se exalta é o PIB Geral, entre os 10 maiores. Simplificação é uma das armas de marqueteiros em sintonia com políticos que fazem do curta-prazismo retórica deliberadamente ruinosa.
ANTES DO SÉCULO
Antes da virada deste século, em 1999, Santo André contava com PIB per capita nominal de R$ 9.201,16 enquanto o PIB per capita nominal de Sorocaba não passava de R$ 8.712,00. Os dois municípios perdiam para a média do PIB per capita do Estado de São Paulo, de R$ 9.250,35.
Vinte e dois anos depois, O PIB per capita de Santo André cresceu nominais (sem considerar a inflação do período) 410,35% e chegou a R$ 46.957,00. O PIB per capita de Sorocaba registrou crescimento nominal de 670,14% e passou a R$ 67.095,00 A diferença de crescimento favorável a Sorocaba chegou nesse período a 66,31%. Daí à virada no placar. O PIB per capita médio do Estado de São Paulo superou a marca de Santo André, mas perdeu fôlego diante de Sorocaba ao registrar R$ 60.583,00.
Traduzindo os números do PIB per capita de Santo André e de Sorocaba nos 22 anos já contabilizados deste século, a diferença se tornou incontrolável. A inflação registrou 385,24% no período. Isso significa que Santo André cresceu em termos reais apenas 5,17%.
AVANÇO CONGELADO
O que Santo André registrou em 2021 (R$ 46.957,00) sempre com correção monetária pelo IPCA do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ficou levemente acima da inflação do período. Quando se estende o resultado à divisão por 22 anos do período dessa análise, o crescimento médio anual não passa de 0,235%. Ou seja: numa linguagem dilmistas, praticamente um quarto de apenas 1%. Traduzindo: praticamente congelado.
No caso de Sorocaba, com crescimento nominal de 670,95% e crescimento real de 58,71%, o resultado do PIB per capita é simplesmente 10 vezes maior que a média anual de Santo André, atingindo 2,67%.
A reviravolta no placar nessa disputa entre os dois municípios que contam com praticamente a mesma quantidade de moradores se deu estruturalmente com a força da industrialização de Sorocaba e a desindustrialização de Santo André.
PIB INDUSTRIAL EXPLICA
As cadeias produtivas de Santo André agora se resumem em larga escala ao Polo Petroquímico e variáveis ramificadas no setor químico. Os dados oficiais de 2021 deixam evidenciados o estrago industrial em Santo André e o quanto Sorocaba cavalga na diversidade de produção.
O PIB Industrial de Santo André está anexado a duas atividades irmãs, no caso o setor de Produtos Químicos e o setor de Borracha e Material Plástico. Em conjunto, representam 75,3% de tudo que sai das fábricas. Máquinas e Equipamentos participam com 17% do PIB Industrial, enquanto Veículos, Automotores e Carrocerias contam com 5,4% do total. Outras atividades têm participação residual.
Já o PIB Industrial de Sorocaba ganhou a diversidade que Santo André perdeu neste século. Veículos, Automotores e Carrocerias participam com 28,8%, Máquinas e Equipamentos com 21,4%, Equipamentos de Informática, Eletrônicos e Ópticos com 11,2, Produtos Químicos 8,6%, Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos 8,4%. Os demais setores contam com produção superior à registrada em Santo André.
GOLEADA PRODUTIVA
Não é preciso dizer que goza de mais resistência e resiliência em situações de dificuldades do País e ganha maior torque nos períodos de recuperação do PIB Nacional quem conta com mais cestas para assegurar os ovos do Desenvolvimento Econômico.
Sorocaba não sofre com a Doença Holandesa Petroquímica de Santo André e tampouco com a Doença Holandesa Automotiva que faz de São Bernardo e São Caetano reféns do quadro nacional e agora cada vez mais internacional com a chegada dos veículos chineses.
O PIB Industrial, que integra o coquetel de atividades que resultam no PIB Geral, está na sustentação dos dados de Sorocaba e na catástrofe de Santo André. Em 1999, base desse trabalho, o PIB Industrial de Santo André (Geral, não per capita) superava o PIB Industrial de Sorocaba em valores nominais: 2.256,54 bilhões ante R$ 1.746,38. Quem fizer as contas vai chegar à vantagem de 29,21% favorável a Santo André. Vinte e dois anos depois, em 2021, Sorocaba registrou dados muito mais robustos que os de Santo André: R$ 11.416.524 bilhões ante R$ 7.782,625 bilhões. Diferença favorável a Sorocaba? Nada menos que 46,70%.
PERDAS E GANHOS
Entenderam por que o PIB Industrial carregou a virada e a disparada do PIB per capita de Sorocaba? Em termos nominais, sem considerar a inflação, o PIB Industrial de Santo André cresceu 244,94%, enquanto o de Sorocaba avançou 553,84%. Esse confronto é relevante porque mostra o quanto o PIB Industrial de Santo André foi duramente abatido. Basta repetir que a inflação do período registrou 385,24%.
A distância de comportamento do PIB Industrial entre os dois municípios foi alarmante durante os 22 anos já apurados deste século. Enquanto o PIB Industrial de Santo André caiu 40,69% em termos reais, ou seja, descontando a inflação, o PIB Industrial de Sorocaba avançou 34,72%.
Santo André perdeu em valores reais de PIB Industrial numa comparação ponta a ponta, sem considerar os anos intermediários, R$ 3.167,01 bilhões tendo o ano de 1999 como base e o ano 2021 como reta de chegada. Já Sorocaba contabilizou ganho de R$ 2.942,39 bilhões sob a mesma métrica.
Do PIB Industrial de 1999 contando com a soma dos dois municípios (R$ 4.002.977 bilhões, Santo André dominava com participação de 56,37%, ou 12,74 pontos percentuais. Na reta final de 2021, do total de R$ 19.199,14 bilhões, Sorocaba fica com 59,46%. Ou seja: de uma desvantagem de 12,74 pontos percentuais em 1999, Sorocaba passou à frente com superioridade de 18,92 pontos percentuais.
Novas abordagens estão sendo preparadas. A perde da riqueza em forma de PIB colocou Santo André numa enrascada que só agrava a situação.
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