EMPREGO INDUSTRIAL 
 DESABA  APÓS COVID                                                                                    
   DANIEL LIMA - 09/10/2025
  DANIEL LIMA - 09/10/2025
O emprego industrial com carteira assinada nos sete municípios do Grande ABC desabou ainda mais desde 2020, após sofrer duros efeitos da Covid-19. A recuperação líquida da massa de trabalhadores segue num ritmo muito aquém da média proporcional anterior, que, por sua vez, já sofria os efeitos continuados da desindustrialização renitente.
De cada 100 empregos do estoque em todos os setores em 2020, o Grande ABC registrava o acumulado histórico de 24,64% na indústria de transformação. No recorte atualizado dos últimos 56 meses, até agosto deste ano, a proporção caiu para 12,88%. Recorte é o período específico de 56 meses, ou seja, não considera o acumulado histórico anterior.
A preocupação com o balanço do emprego industrial no Grande ABC deveria ser cláusula pétrea das autoridades públicas supostamente organizadas no Clube dos Prefeitos e na Agência de Desenvolvimento Econômico. Tanto numa quanto noutra instituição o que se tem de fato como matéria-prima é o descaso com o andar da carruagem da economia regional. Cada vez os mandachuvas e mandachuvinhas se especializam em tentar apagar incêndios que a desindustrialização empurra goela abaixo dos acomodados.
As autoridades públicas do Grande ABC cada vez mais buscam recursos no governo estadual e no governo federal. No passado já passado, sobravam recursos nos orçamentos municipais.
MARCHA DOS DADOS
Tomando-se como exposição de fatos apenas os últimos 56 meses, referentes aos dados de 2020 a agosto deste ano, e mesmo sem contar com dados municipais mais abrangentes, o emprego industrial do Grande ABC saltou em termos absolutos de 171.348 trabalhadores formais para 189.742. Um saldo positivo de 18.394 postos de trabalho. Ou um saldo mensal de 328 contratações líquidas, entre admissões e demissões.
Esse resultado, repito, corresponde a 12,88% do total do período de 56 meses. Ao se somar todas as atividades econômicas o Grande ABC registrou saldo de 142. 828 trabalhadores no mesmo período. Os setores de comércio e de serviços somam praticamente 80% das contratações.
O Grande ABC somava 699.052 empregos em todos os setores em dezembro de 2020 fortemente impactados pela Covid. Só naquela temporada foram decepados 30.948 trabalhadores, dos quais 8.521 na área industrial. Já em agosto deste ano o Grande ABC passou a contar com 841.880. Um avanço acumulado 20,43% no período, ou a média mensal de 0,364% . Já os empregos industriais nos 56 meses esquadrinhados passaram de 171.348 para 189.742, ou avanço acumulado de 9,03% média mensal de 0,161. Ou seja: o nível de emprego geral, envolvendo todas as atividades, inclusive a industrial, foi quase o triplo da indústria de transformação.
GERAÇÃO DE RIQUEZA
Como temos mostrado e analisado ao longo dos anos, o emprego industrial no Grande ABC não é apenas um caso grave de redução do contingente de trabalhadores formais, mas também de rebaixamento do salário médio.
A importância da indústria na região é histórica como fonte principal de construção de riqueza. A classe média na região foi forjada pelo setor industrial. Salários em média 30% mais elevados que as demais atividades e espraiamento de riquezas fizeram do Grande ABC do passado o que o Grande ABC ainda apresenta de diferencial no País, mas cada vez de forma menos relevante.
Se no recorte dos últimos 56 meses o Grande ABC dá mostras claras de que terá mais dificuldade de reagir no emprego industrial, com possibilidades cada vez maiores de ser menos importante a cada nova temporada, o período que antecedeu a Covid e também a grande recessão provocada pelo governo Dilma Rousseff pode ser ilustrativo ainda mais contundente da queda de geração de riqueza.
PERDA HISTÓRICA
Mostramos ainda recentemente que, entre 2014 e 2023, o assalariamento médio dos trabalhadores industriais do Grande ABC sofreu fortes quedas. O ano de 2014 marca a linha de corte da recessão dilmista, expressivamente contundente entre 2015 e 2016, quando o PIB per capita da região caiu perto de 30%. O segundo golpe foi a chegada da Covid, em 2020.
Entre 2014 e 2023, o salário médio dos trabalhadores industriais no Grande ABC caiu 24% em termos reais, ou seja, descontada a inflação do período.
Entre dezembro de 2014 e dezembro de 2023 o Grande ABC perdeu 57.337 trabalhadores industriais e R$ 331.189.727 milhões de massa salarial. No caso da massa salarial, a comparação limita-se a valores ponta a ponta entre dezembro de 2014 e dezembro de 2023.
A perda líquida de 57.337 empregos formais entre janeiro de 2015 e dezembro de 2023, tendo sempre dezembro de 2014 como âncora, não perdoou nenhum dos municípios da região. Eram 238.722 empregos industriais em dezembro de 2014. Viraram 181.385 mil em dezembro de 2023. Proporcionalmente, o estoque mais impactado é o de Santo André, com baixa de 29,75%. Eram 33.439 postos de trabalho industriais em 2014 e passaram para 23.491 em 2023. Uma baixa de 9.948 trabalhadores.
CONCORRÊNCIA FORTE
São Bernardo está bem adiante em termos absolutos: perdeu 20.801 postos industriais com carteira assinada no período, ou 22,56% do estoque de dezembro de 2014. Eram 92.211 trabalhadores. Passaram a ser 71.410.
São Caetano passou por perdas no emprego industrial praticamente iguais a São Bernardo em termos relativos: 23,17% do estoque foi para o ralo. Eram 26.410 trabalhadores em 2014 e em 2023 passaram a ser 14.487. Uma perda líquida de 11.913 postos de trabalho.
Diadema perdeu em números absolutos praticamente o mesmo que São Caetano: foram decepadas 11.977 cabeças industriais com carteira assinada. O percentual também é semelhante ao de São Caetano: o estoque sofreu perda relativa de 22,58%. Em 2014 eram 53.028 trabalhadores industriais em Diadema, enquanto em 2023 não passavam de 41.051.
Mauá do Polo Petroquímico se salva na geoeconomia regional, mas também não se livrou das dores do parto da desindustrialização em forma de emprego formal: perdeu 9% no período. Uma queda de 2.210 postos de trabalho. Eram 24.099 e sobraram 21.889. O setor químico-petroquímico e o setor automotivo seguram as pontas da economia industrial da região. E também são os mais vulneráveis. As demais cadeias produtivas derreteram ao longo de décadas. Praticamente não sobrou nada.
Completando o circuito regional, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que não pesam mais que 2% do PIB Regional, também se deram mal no emprego industrial formal: Ribeirão Pires perdeu 1,7% estoque de 2014: eram 7.968 e ficaram 7.830. Rio Grande da Serra perdeu 21,69 %: eram 1.567 e sobraram 1.227. Rio Grande da Serra não deve ser levada a sério nesse quesito para efeitos dimensionais. Não tem tamanho para competir quando o prato a ser servido é o vatapá do mercado de trabalho.
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