Economia

DIADEMA É MESMO PIOR
QUE SANTO ANDRÉ (2)?

  DANIEL LIMA - 03/11/2025

Cuidado com os dois números que se seguem para você entender que, para começo de conversa, a manchetíssima desta série especial não é estapafúrdia. Longe disso: é o retrato acabado de duas tragédias municipais no interior da tragédia regional. Neste século, contabilizados apenas os primeiros 21 anos, o PIB per capita de Santo André caiu 47 posições no ranking do Estado de Paulo. E Diadema caiu 80 posições. Diadema e Santo André perderam participação estadual de quase 50%, enquanto o Grande ABC caiu pouco mais de 40%. Quase um empate técnico de empobrecimento econômico.

O choque anafilático com a revelação desses números no triunfalismo dos dois municípios, e do Grande ABC como um todo, não é consequência de excepcionalidades econômicas. Os resultados são a mais cruel realidade estrutural da situação regional, jogada às traças por todas as instituições locais.  Não há quem se salve.

O confronto entre Santo André e Diadema, nos termos colocados na manchetíssima, é propositadamente um choque de realidade mesmo. Provavelmente foi interpretado, no primeiro capítulo, como anedota ou algo equivalente. Alienígenas econômicos e sociais são assim mesmo. 

PRIMO POBRE, PRIMO RICO

Afinal,  o primo rico Santo André (ou seja, a trajetória ocupacional econômica e social ao longo de décadas) transpiraria superioridade massacrante. Mas a história é outra. Pobres e miseráveis de um lado, e imobilidade social de outra, são algumas das características das duas sociedades.

Ainda não disponho de todos os dados dos indicadores que pretendo utilizar nesta série. Mas não corro risco de quebrar a cara da credibilidade e reputação inerentes a esse e a outros trabalhos. Tenho um arsenal de dados oficiais de fontes diversas, de datas diversas, que assegura a aproximação de gravidade entre Santo André e Diadema.

Para começar, a importância  central do PIB per capita não é escolha aleatória. Por mais que o conceito técnico de Produto Interno Bruto per capita – e também de PIB Geral -- seja métrica contestável, trata-se de base documental que desbrava e explica boa parte dos demais índices.

PIB de qualquer natureza, individual e coletivo,  é o pior dos regimes econômicos de que se tem notícia na literatura internacional, exceto os demais. Notaram a vizinhança explicativa com os pressupostos de Democracia, o pior dos regimes políticos, exceto os demais? Pois PIB é isso.

22 ANOS RELEVANTES

O resultado desses 22 anos de novo século (a contagem se faz de janeiro de 2000 até dezembro de 2021) é a única alternativa para medição do PIB per capita dos dois municípios. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) produz o PIB dos Municípios Brasileiros apenas a partir de 1999. E por conta de mudanças no governo federal, já deveria ter anunciado os resultados de 2022.

Tradicionalmente os resultados são desembrulhados da maçaroca estatística com dois anos de atraso. O IBGE anunciou recentemente que vai divulgar os números dos três anos em atraso em batelada única. Se houver mesmo a confirmação dessa medida, provavelmente Santo André e Diadema teriam caído mais alguns degraus na hierarquia do PIB per capita do Estado. Estamos cada vez mais distante da média estadual.

Contamos com uma alternativa para antecipar com possível margem de erro elástica os dados dos três últimos anos em atraso do IBGE. Menos, claro, números abrangentes de todos os municípios do Estado de São Paulo Ou seja: é possível detectar o comportamento do PIB per capita de Santo André e de Diadema nos últimos anos, mas sem correlacioná-los com segurança aos demais 643 municípios paulistas.? A centralidade estatística é do governo federal.

GANGORRA ECONÔMICA

Por outro lado, não é loteria explicar o que chamaria de alternância de poderio econômico em desajuste no período anterior à definição do PIB dos Municípios Brasileiros pelo IBGE. Contamos com método que será revelado nesta série. Tenho acervo suficiente para assegurar que Santo André e Diadema formam dueto de transposições mútuas no PIB per capita muito antes de o novo século começar.

Santo André já foi muito maior que Diadema nesse quesito fundamental à medição da temperatura econômica em qualquer lugar do planeta. Gradualmente, com a desindustrialização de Santo André e a descoberta do que seria a redenção de Diadema de logística privilegiada, o primo pobre ultrapassou o primo rico.

Mas, na sequência, com efeitos anabolizantes do Polo Petroquímico de Santo André incrementado em produção, e a criminalidade afastando investimentos e provocando evasão industrial, Diadema perdeu fôlego e Santo André se recuperou ante o concorrente regional.

VIRANDO O JOGO

A Doença Holandesa Petroquímica, que favorece a arrecadação de tributos em Santo André, e o ambiente criminal em  Diadema,  traduzido em dados estatísticos horrorosos de 106 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes no final dos anos 1990, explicam sem rodeios a recuperação econômica de Santo André relativa e bilateral nesse combate direto. Mas como se verá na sequência, a diferença é pífia. E altamente vulnerável.

Quem tem benefícios da Doença Holandesa hoje pode sofrer um bocado de complicações amanhã. Essa é uma expressão que caracteriza atividade de muitas escaramuças macroeconômicas. Doença Holandesa é, em suma, a dependência exagerada de determinado setor econômico.

É o caso de Santo André sob dominação  petroquímica e de ramais químicos. Em 1999, último ano do século passado, o PIB per capita de Santo André registrava de R$ 9.201,16 mil, ante R$ 11.114,45 mil de Diadema, em valores nominais, ou seja, sem considerar o fator inflacionário. P0rtanto,uma vantagem de 17,21 %  de Diadema.

Já na ponta da tabela, em 2021, de efeitos já mencionados, o PIB per capita de Santo André ultrapassou Diadema, também em valores nominais: R$ 46.957,oo ante R$ 45.573,00. A diferença é mínima, poderá até ter sido  novamente alterada nos últimos três anos ainda não revelados, mas não refuta em nada a simbologia de íntima proximidade ao longo do tempo, com oscilações no placar aqui e acola. 

ENGANA QUE EU GOSTO

Os negacionistas da desindustrialização do Grande ABC, que ainda existem, por mais estapafúrdio que isso se revele, poderiam lançar mão da participação relativa regional de Santo André e de Diadema para, num lance que envolva o PIB Geral, ou seja, considerando-se valores gerais, não por habitante,  não enxergar declínio econômicos nos dois endereços. Se já o fizeram antes de serem desmascarados, quem garante que não repetiriam a operação?

Basta a esses malabaristas numéricos organizarem contas  para chegar à conclusão precária e enganosa de que Santo André e Diadema não sofreram qualquer processo de empobrecimento produtivo, com reflexos sociais, durante este século.

Em 1999, o PIB Geral de Santo André somado ao PIB Geral de Diadema (esqueçam o PIB per capita nessa conta), representavam 36,36% do PIB Geral do Grande ABC. Santo André contava com PIB Geral de R$ 5.954,25 bilhões enquanto Diadema somava R$ 3.824,97 bilhões. Resultado? R$ 9.779,22 bilhões de um total regional de R$ 26.884,25 bilhões.

QUASE PELA METADE

Vinte e dois anos depois, em 2021, o total da dupla chegava a também nominais R$ 51.104.64 bilhões, do total geral regional de  R$ 150.576,37 bilhões,  correspondentes a R$ 32.620,295 bilhões de Santo André e R$ 18.484.356 de Diadema, ou 33,93% de participação relativa no PIB Geral de Santo André.

Como se pode observar, trata-se de uma queda relativamente pífia de pouco mais de três pontos percentuais entre a linha de partida e a fita de chegada temporal.

Quando se pretende chegar a alguma conclusão responsável sobre o comportamento dos municípios da região em qualquer indicador que deixe de comparar o Grande ABC com o Grande ABC, porque é perda de tempo se houver outras plataformas informativas, a recomendação é que se faça a escolha mais abrangente. O Grande ABC não é uma ilha demográfica nem econômica, embora não faltem exemplares de estupidezes que desprezem o universo.

O PIB Geral de Diadema e de Santo André no período de 22 anos desse estudo-análise aponta para o desastre: em 1999 a participação relativa de Santo André e Diadema no Estado de São Paulo registrava 3,51%, enquanto em 2021 baixou para 1,80%. Uma queda relativa real de 48,72%.

MAIS GRAVE AINDA

Traduzindo a tragédia: o PIB Geral de Santo André e de Diadema correu praticamente à metade do ritmo médio dos municípios paulistas. Considerando-se que o PIB Geral médio paulista também correu abaixo da média de crescimento do PIB Geral dos Municípios Brasileiros, dá-se para dimensionar o tombo de  Santo André e Diadema.

Quanto aos números da totalidade do Grande ABC em participação relativa do PIB Geral do Estado de São Paulo, os R$ 26.884,25 bilhões nominais de 1999 correspondiam a 7,90% do total de R$ 340.281,48 bilhões. Em 2021, o total do Grande ABC, de R$ 150.576,37 bilhões correspondia a 5,55% dos R$ 2.719.751.231 trilhões. Uma queda relativa do Grande ABC de 42,34%  – portanto inferior à dupla Santo André-Diadema. E seria maior ainda se fossem desconsiderados da contabilidade regional tanto um quatro outro Município.

Mas bom mesmo é tentar capturar o PIB per capita como medidor mais preciso e inteligente de transformações. A comparação com a média paulista é ainda mais desfavorável a Santo André e a Diadema. O  PIB per capita paulista em 1999 (R$ 9.250,35) estava um pouco acima (R$ 9.201,16) de Santo André, mas abaixo do PIB per capita (11.114,45) de Diadema. Já em 2021, a média estadual se consolidava bem superior ao atingir R$ 60.583,00 ante R$ 46.957,00 de Santo André e R$ 45.678,00 de Diadema. Ou seja: 32,36% de superioridade do Estado frente a Santo André e 32,92% frente a Diadema.  Aguardem o próximo capítulo.

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