Imprensa

Diário: Plano Real que
durou nove meses (39)

  DANIEL LIMA - 04/12/2024

Estamos colocando o caro leitor no túnel do tempo da Redação do Diário do Grande ABC de 20 anos atrás, quando ali estava diretor de Redação num projeto de reestruturação do jornal que durou nove meses de 60 meses contratados. A série prossegue com mais seis edições da newsletter que criei para manter a corporação sintonizada nas mudanças que se efetivavam.

As seis edições daquela newsletter, que seguem abaixo, referem-se a janeiro de 2005, e uma a fevereiro. A viagem prosseguia. Vale a pena acompanhar.  Via-se claramente que a Redação começava a descontaminar-se do reflexo condicionado de práticas que não se encaixavam no Planejamento Estratégico que introduzi naquele jornal. 

 

 EDIÇÃO NÚMERO 31

Grande ABC, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005.

Primeiro Plano reformatado,

com espírito de regionalidade

Uma das mudanças que introduzimos no jornal está impressa diariamente no Primeiro Plano, de Economia. Estamos publicando a cada dia o perfil de uma pequena empresa do Grande ABC. Gente que empreende. Gente que produz. Gente com esperança de resistir a um mercado muito competitivo. Gente que dificilmente tinha acesso às páginas do jornal. Gente que era simplesmente esquecida, porque o jornal trabalhava principalmente com releases de assessorias de imprensa de grandes corporações e instituições diversas.

O que aplicamos conceitualmente no Primeiro Plano, em realidade, é uma reintrodução. Em tempos passados, inclusive quando Editor de Economia deste jornal, introduzimos o princípio da valorização dos empreendimentos locais como prova de que temos compromisso com a regionalidade. A revista LivreMercado, que veio depois, é exatamente isso e muito mais.

Por isso, quem pretender colaborar com nossa empresa e também estimular os empreendedores de pequeno porte, está convidado a nos informar sobre as potenciais reportagens. Só teremos a ganhar com isso. Em forma de prováveis futuros anunciantes. Ou mesmo de anunciantes já ativos do jornal e da revista do Grupo Diário. 

Jogamos no lixo, literalmente, os releases que não são de interesse regional. Ou reciclamos o material, caso haja importância, produzindo pautas específicas, fora do Primeiro Plano. O que não permitimos mais é que o Primeiro Plano seja tapa-buraco, algo sem importância. Como, infelizmente, foi durante muito tempo, por absoluta falta de estratégia editorial. 

 

 EDIÇÃO NÚMERO 32

Grande ABC, terça-feira, 15 de fevereiro de 2005.

Cobertura da reunião do Consórcio

mostra avanço da Redação do Diário

A cobertura da reunião de ontem do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, com vasto temário de interesse regional, foi brilhantemente exposta nas páginas do jornal de hoje. Alguns senões comentarei pessoalmente na reunião diária com editores e secretários. Eventualmente, inclusive com o chamamento de repórteres envolvidos. Aos poucos estamos eliminando um dos graves problemas que detectamos ao chegar ao jornal: a pauta da reunião da tarde já não é olimpicamente sufocada pela prática dos textos que os leitores acompanham no dia seguinte. Ou seja: não temos mais dois jornais, o da pauta e o dos leitores. Exceto em condições especiais de descuidos. 

Fico particularmente feliz com a cobertura da reunião do Consórcio de Prefeitos porque a Redação já capturou o conceito que inauguramos ainda recentemente e que pode ser resumido na máxima de que “eventos especiais, cobertura especial”. Foi assim, iniciando essa nova fase, em janeiro, durante a posse de William Dib como presidente do Consórcio de Prefeitos. No Carnaval, com Rita Camacho como coordenadora-geral, demos um show de bola. 

Esse modelo de atuação será replicado sempre que se vislumbrar a oportunidade de aplicarmos ação mais completa sobre determinada pauta. Regionalidade pressupõe atenção máxima. Os eventos potencialmente exigíveis de coberturas mais abrangentes não podem passar despercebidos. Temos de estar atentos e tirar o máximo do máximo das fontes de informação.

No bom sentido, esquartejamos na edição de hoje tudo que se referiu ao evento de ontem. Faltou-nos sistematização editorial. É disso que trataremos na reunião com secretários e editores. Deixei essa costura propositalmente livre. Ao contrário da cobertura da posse de Dib no Consórcio, quando orientei pessoalmente a distribuição das páginas sobre o assunto. O resultado, na edição de hoje, não foi bom e vou explicar as razões. Mas isso não tira o brilho da cobertura.

Estamos prestes a completar, no próximo dia 21 deste mês, 11,66% do trajeto a que nos propusemos. Serão, naquela data, sete meses de um total inicial de 60 meses, primeira fase do Plano Estratégico Editorial. Passamos verdadeiras tormentas nos quatro primeiros meses, ainda temos muito o que avançar, mas, felizmente, alcançamos patamar satisfatório nos meses seguintes. As deficiências serão sanadas, os conceitos serão aprofundados, as novidades serão aplicadas, mas sempre com cautela. Sem querer agarrar o mundo. Sem projetos megalomaníacos. Típicos de quem precisa mostrar serviço. Precisamos apenas mostrar competência. Todos nós. Diariamente. Como exigem os leitores. 

 

 EDIÇÃO NÚMERO 33

Grande ABC, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005.

Equilíbrio é desafio à

conquista dos leitores

Um dos desafios que teremos de superar — nem poderia ser diferente — é tornar equilibrado o jogo que envolve as ramificações de produção e publicação diária do nosso jornal, no caso as editorias de Esporte, Economia Regional, Política Regional, Setecidades e Cultura & Lazer. A diferença que as caracteriza no que chamaria de confrontos de qualidade já foi maior. Muito maior. Responsáveis pelo que vai diariamente aos leitores, essas editorias não podem ter discrepâncias, não podem ser ilhas, não devem compartimentar o jornal em cinco pedaços distintos.

Os leigos em jornalismo terão dificuldades em perceber e, muito mais, em identificar as especificidades que contaminam diretamente as relações comparativas entre essas cinco editorias. Quando não se percebem os problemas, mas não se gosta do produto, a atitude automática é a substituição. Quando se percebem e se identificam os problemas, a deserção é mais rápida. Os leitores não são bobos.

Quem subestima os leitores, principalmente os leitores cativos, aqueles que estão entre os assinantes do jornal, joga no lixo suposta esperteza porque ninguém é tolo o suficiente para gastar dinheiro com algo de que não faz uso.

Exatamente por isso que, num primeiro módulo de transformações, nosso desafio é equilibrar esse jogo intereditorias. Depois, avançar e avançar em busca do cetro da melhor qualificação generalizada.

Por isso, quem imaginar que é possível fazer um jornal de todos os leitores com virtudes consolidadas de uma ou outra editoria não entende nada de jornalismo. Seria algo como comprar uma passagem de cruzeiro por causa da fartura gastronômica, sem considerar as cabines emporcalhadas, o capitão do navio constantemente embriagado, as dançarinas fora de forma, o teatro com shows mambembes. 

 

 EDIÇÃO NÚMERO 34 

Grande ABC, segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005.

Um abecedário de evolução

da Redação em sete meses

Estamos completando hoje, 21 de fevereiro, sete meses de ações no Diário do Grande ABC. São 11,6% da trajetória do plano plurianual de recuperação editorial do veículo que, em 2008, quando o Planejamento Estratégico Editorial estará consumado em sua primeira fase, terá completado o cinquentenário.

Entendo que no cômputo geral, entre avanços e recuos permanentes — mas não tão pronunciados e irritantes quanto nos primeiros meses –, os resultados são positivos. De forma sucinta, elencamos alguns pontos que possibilitaram essa melhoria. Convém ressaltar, entretanto, que o resultado ainda está muito longe do que pretendemos.

Transcrevo, na sequência e de improviso, sem nada preliminarmente anotado, mas tudo fruto de memória colocada em xeque no final da noite deste domingo em meu escritório domiciliar, o que chamaria de “Abecedário de Evolução” da Redação do Diário nesse período.

a) A regionalidade editorial é nossa doutrina. As cinco editorias que chamaria de “quentes”, cujas ações têm compromisso com o dia seguinte, estão assimilando a necessidade de transformar em protagonistas os agentes regionais, não os alienígenas que nos chegam por meio de agências de notícias. Era muito cômodo trabalhar sem vínculos tácitos com manchetes regionais, porque não se tinha responsabilidade com as transformações sociais.

b) As reuniões de pauta são mais objetivas e estão fundamentalmente relacionadas ao produto que vai sair no dia seguinte, não a virtualismos que não se cristalizam. O enfoque de regionalidade retirou qualquer sombra de dúvida sobre o que pretendemos. A conclusão parece de obviedade estonteante, mas quem viveu a Redação nesses anos todos sabe distinguir o passado do presente.

c) Aos poucos a contextualização de informações transforma o jornal não em veículo insosso de notícias, mas em compromisso permanente com a informação qualificada, metabolizada, aprofundada. Poderia citar mil exemplos, mas basta a manchete de hoje: transformamos um assunto eminentemente policial em texto sociopolicial. Agregar valor à informação e, com isso, retirar o trabalho jornalístico do critério raso de notícia, eis o nosso desafio permanente. Parece simples, mas a catequese exige martelamento constante.

d) Os repórteres estão sendo prestigiados. Eles trabalham pelas manchetes e, inclusive, participam de reuniões de pauta quando especialmente chamados. Introduzimos essa novidade porque o compartilhamento do texto com outros executivos de Redação é decisivo para avaliação mais adequada do que poderemos levar aos leitores. Ninguém melhor do que o repórter que está apurando a matéria para traduzir os acontecimentos que vão virar notícia. E ninguém melhor do que os principais executivos de Redação para hierarquizar as matérias que os leitores vão consumir no dia seguinte.

e) O banco de horas virou sucata. Ainda não atingimos a eficiência que exijo, mas acabou a industrialização de horas. A redação era uma casa sem dono, onde, sem controle, o que mais se produzia era um amontoado de créditos contra a empresa e, muito pior que isso, uma desprezível lógica de improdutividade. Há uma extensa lista de abusos, desrespeitos, oportunismos e despautérios resultante da absoluta incompetência de gerenciamento do banco de horas que, felizmente, está, se não controlado, pelo menos distante da barafunda de até então.

f) Os editores e os secretários passaram a exercer controle mais rígido da qualidade do produto a partir do nascedouro da pauta, não mais no fechamento da edição diária. Ainda apresentamos buracos, ainda estamos longe do ideal, mas houve sensível melhora. Para que os leigos entendam: a linha de produção redacional não tinha monitoramento e o que decorria do trabalho era praticamente publicado no dia seguinte.

g) As pressões externas, formadas basicamente por gente que pretende se locupletar com o jornal, foram retiradas do radar de preocupação. Ainda existe uma ou outra fonte mais abusada que tenta vender gato por lebre, mas estamos atentos. O jornal não pode ficar refém de forças externas, sejam quais forem. Muitas estão aí apenas para desmoralizar nossa imagem, descaracterizar nossas lutas.

h) Melhoramos o índice de qualidade dos textos, mas, infelizmente, estamos anos-luz do desejado. Isso não significa que não atingiremos a meta. Quando a Redação estiver dotada de equipamentos que possam ser chamados de tecnologicamente saudáveis, passaremos a imprimir novo ritmo de cobrança. O modelo de copidescagem na própria tela de computador será aposentado porque é comprovadamente estúpido.

i) As editorias de Economia e de Política Regional continuam as menos efetivas em equilíbrio de qualidade, mas já avançaram bastante. Entendo perfeitamente as dificuldades que a maioria dos profissionais encontra para dar vazão a novos saltos, porque é preciso desativar as bombas de uma cultura conservadora que transformava a Política Regional em extensão de Câmaras de Vereadores e, na Economia Regional, em rebotalho de coberturas oficiais, de repercussões sempre com as mesmas e viciadas fontes. O deslocamento dos secretários Eduardo Reina, Marcelo Moreira e Fausto Siqueira para as duas editorias, incorporando novas funções, ajuda a explicar os ganhos de qualidade. Mas queremos muito mais. Felizmente, já não publicamos números fraudulentos, já não construímos fantasias macroeconômicas, já não damos vez a maquiagens estatísticas.

j) O Caderno Cultura & Lazer tem respondido a contento às demandas de regionalidade de cobertura de eventos e também avança no questionamento de atividades públicas na região. Temos, entretanto, comentado com os responsáveis pelo setor que ainda não atingimos o que espero. Precisamos que o caderno seja crítico também no dia-a-dia, não apenas ou principalmente nas edições de domingo. Quanto mais o jornal se posicionar sobre o acervo cultural na região, mais o poder público será tentado a tratar a pasta com mais interesse. Em termos comparativos, Cultura & Lazer apresenta a melhor performance média entre todas as editorias.

k) Também estou satisfeito com o Caderno de Esportes, mas valem as mesmas observações relacionadas ao Cultura & Lazer. Precisamos apurar a função mais crítica e, principalmente, retirar o excesso de torcida das matérias relativas aos clubes da região. Não precisamos exagerar em adjetivos para provar que queremos o melhor dos nossos times. A Folha de S. Paulo é a melhor referência de caderno esportivo.

l) Setecidades, com o suporte de Rita Camacho e também de Lola Nicolas, tem apresentado sistêmico quadro de melhoria. A editora Cláudia Fernandes destaca-se pelo cuidado editorial. A equipe é jovem, com evidentes dificuldades de compreender o grau de importância do noticiário que produz, mas temos esperanças de que o amadurecimento será um presente para todos. Uma equipe bem estruturada e com exemplos de chefia competente acaba por desabrochar sempre. Setecidades lida diariamente com uma elasticidade de problemas do cotidiano, por isso exige cuidados redobrados.

m) Demos um show de cobertura nas eleições, no Carnaval e na morte de Luiz Tortorello, momentos mais complicados nesse período pelas características específicas de cada temário. Respondemos a essas demandas com muito empenho.

n) Também estamos nos saindo muito bem em temários especiais, como a cobertura de tudo que se relacionar de importante no Consórcio Intermunicipal de Prefeitos. Colocamos o Rodoanel no temário regional e os nossos homens públicos estão correndo atrás da bola. Essa é a principal função do jornalismo cidadão: ancorar o que de fato interessa à comunidade regional.

o) Também estamos dando show de responsabilidade regional com a permanente pauta da Universidade Pública Federal do Grande ABC. Não vamos dar folga a ninguém. Depois de aprovada, vamos brigar por currículo decente, que favoreça o desenvolvimento econômico da região. O jornal tem coberto com bastante interesse e competência esse assunto, principalmente porque conta com setorista exatamente para chutar a bola em gol, no caso Andreia Catão.

p) Adotamos para as questões mais relevantes o que chamaria de coordenadorias especiais. Trata-se de reunir um grupo de profissionais, sob o comando de um dos secretários, para atuar circunstancialmente em determinada pauta. Foi assim com Rita Camacho no Carnaval, com Eduardo Reina na posse de William Dib na presidência do Consórcio Intermunicipal e com o mesmo Eduardo Reina na cobertura do temário Rodoanel no mesmo Consórcio Intermunicipal. Juntamos, nessas ocasiões, repórteres de distintas editorias. Todos perceberam o valor do que chamamos de equipe.

q) Estamos conseguindo reduzir o intervalo de troca de fotos, um dos maiores problemas do jornal ao longo dos anos. Embora os mecanismos de controle sejam frágeis, temos contado com a boa vontade de todos os envolvidos. Mas a blitz precisa ser permanente. A Secretaria é parte integrante desse rastreamento. Não há jornal que resista à troca de fotos. Diria que uma das medidas de avaliação da qualidade editorial de um jornal diário está na frequência com que legendas e fotos não combinam. Não há nada pior que a reincidência do erro. Passa-se atestado público de incapacidade de organização.

r) O ambiente na Redação está visivelmente melhor. Tivemos de recorrer recentemente a algumas demissões, sempre em decisão compartilhada com membros da Secretaria, mas nem por isso houve trepidações. E nem deve haver, porque o que todos queremos é colocar nas ruas um jornal melhor, independente, maduro, capaz de saber distinguir crises fabricadas de crises reais.

s) Quem visita o jornal sabe que o endereço para entrevistas é o terceiro andar. Essa mudança foi indispensável para que a diplomacia diretiva do sexto andar não seja eventualmente confundida com servilismo editorial. Ganhou a Redação, ganhou a Diretoria. Quando se afasta da Redação o controle da informação, esgarça-se o tecido do distanciamento mínimo que deve prevalecer entre jornalismo e relacionamento corporativo-institucional.

t) Fizemos alguns ajustes que, entretanto, ainda não chegaram ao fim. Temos alguns profissionais menos apropriados a determinadas funções editoriais e que, portanto, exigem deslocamentos. Trata-se unicamente de certa inaptidão para desempenhar tarefas sobre as quais se lançam há muito tempo.

u) Alguns profissionais melhoraram claramente a rentabilidade editorial depois de terem sido mais continuamente levados a observar seus erros. Pior que a falta de relacionamento instrutivo é o recado mal dado, a omissão diante de erros. Há casos que pareciam insuperáveis mas que evoluíram muito e nos permitem dizer que valeu a pena ter um pouco de paciência. Só não podemos ter mais paciência com quem não consegue entender que jornalismo não é benemerência.

v) Ainda não conseguimos encaixar eficiência sustentável no acabamento do jornal que mandamos aos leitores. Perdemos qualidade em gráficos, em quadros, em parafernálias que dão suporte ao aumento da audiência do produto. Temos um vaivém que decorre de questões estruturais, mas é inquestionável que já fomos piores.

x) As coberturas de finais de semana também já foram piores, com improvisos catastróficos como os de deslocar gente que jamais viu uma bola de futebol para fazer a cobertura de jogos importantes. Entretanto, espero por novos saltos. O conceito de plantão passivo precisa ser urgentemente eliminado. Temos manancial enorme de pautas para serem exploradas.

z) Todos que apostaram numa derrocada da Redação, depois de construírem fantasias sobre o novo comando, desprezando o histórico deste profissional, simplesmente caíram do cavalo porque desprezam o princípio que mais prezo: é impossível, absolutamente impossível, fazer uma boa omelete sem ovos. Quem tem equipe tem meio caminho andado ao sucesso. 

 

 EDIÇÃO NÚMERO 35

Grande ABC, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005.

Leitura é a base de tudo.

Quem não leu, já perdeu!

É inegável que temos alguns problemas na Redação, cujas resoluções não podem mais ser postergadas. Outros problemas, menos graves, podem ser administrados. A sapiência está em saber distinguir o emergencial do suportável, sempre tendo em vista o que chamaria de cronologia ancorada no Planejamento Estratégico Editorial.

Vivemos situações complicadíssimas. Ouço atentamente os responsáveis pela secretaria e também pelas editorias, os quais participam diariamente de reuniões de pauta com este profissional. Reuniões de pauta que, aliás, tratam sistematicamente de questões conceituais. Editores e secretários são disseminadores da nova cultura do jornal. Qualidade, qualidade e qualidade — eis nossas três prioridades. E, todos sabem, ainda estamos muito longe do necessário.

Temos profissionais que não conseguem compreender que há novos tempos na Redação. Talvez até compreendam, mas não conseguem reagir. Provavelmente não se empenham e não se empenharam como deveriam nesse ofício ao longo dos anos. Ser bom jornalista é processo histórico que começa, segue e se consolida principalmente com uma ação: leitura voraz, meticulosa, detalhista, crítica, avaliativa. Quem não lê fora do ambiente de trabalho durante pelo menos duas horas diárias pode esquecer que não será jamais bom jornalista. Será um depositário de informações, sem qualificações para ancorar as matérias — sim, ancorar as matérias, que é o grande mote da informação qualificada.

Os finais de semana são experiência corriqueira de duplicidade de minha carga de leitura. Chego a acumular 12 horas de avidez. E olha que tenho tempo ainda para muita coisa. Quem não tem foco está perdido. E só se tem foco com conhecimento. E conhecimento não se compra. É extrato divinamente resultante de esforço individual. Nenhuma tecnologia é capaz de substituir o aprendizado proporcionado pela leitura. 

 

 EDIÇÃO NÚMERO 36

Grande ABC, segunda-feira, 7 de março de 2005.

Teoria da Produtividade Editorial

segue em frente na revista do Grupo

Há três meses estamos desenvolvendo o que chamo de Teoria da Produtividade Editorial. Estamos aplicando a metodologia na revista LivreMercado, do Grupo Diário. Escrevi recentemente extenso arrazoado sobre o assunto. Estamos saindo da teoria para a prática, para acabar com simplismos metodológicos de aferição de produção da equipe de jornalistas. Uma coisa horrorosa sob qualquer ponto de vista.

Seria chover no molhado, pelo menos para quem entende do assunto, o quanto é risível a introdução de mecanismos de aferição da atividade individual dos jornalistas sem levar em conta série de aspectos que só quem é do ramo pode efetivamente encaminhar. A Teoria da Produtividade Editorial é um caminho nesse sentido, porque não mede produção no jornalismo sem associá-la com produtividade. Como se sabe, produção é uma coisa, produtividade é outra.

Reconheço o interesse de profissionais da casa em lutar pela melhoria dos indicadores de eficiência da empresa. Nada mais salutar, nada mais engajador. Entretanto, há minúcias que saltam do campo exclusivamente técnico. Jornalismo é função que nenhum mágico de gerenciamento corporativo conseguirá enquadrar na medição convencional.

O que fizemos na revista LivreMercado — e podemos provar com números, com informações, com detalhamento conceitual — no campo editorial é uma revolução que, quem sabe, um dia, seja replicada no próprio Diário do Grande ABC.

Um dia poderemos ter o diagnóstico perfeito de toda matéria que foi publicada no jornal, do nascedouro da pauta à impressão final. E medir um monte de indicadores relativos a isso. Inclusive vetores subjetivos, de qualidade do texto, obra exclusiva de jornalistas que entendam do riscado.

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