Imprensa

Diário: Plano Real que
durou nove meses (34)

  DANIEL LIMA - 18/11/2024

Estamos reproduzindo hoje, em nova edição desta série especial, nada menos que sete  emissões de Capital Digital Online, newsletter que criamos para nos comunicar eletronicamente com colaboradores do Diário do Grande ABC durante o período em que atuamos como diretor de Redação daquela publicação, entre 2004 e 2005. O contrato público de cinco anos foi interrompido nove meses depois. As razões parecem explícitas demais nesta série.

Diria, sem qualquer exagero, que, a melhora contínua no que chamaria de rendimento do time de Redação do Diário do Grande ABC dava sinais de que se manteria, mesmo com alguns retrocessos, como se verá. O jornal começava a viver um período de efetiva transformação. Quem acompanhar esta série até o fim terá a oportunidade de entender por que nestes dias da terceira década do novo século dedico inquietação com o destino do jornal.

Claro que não falta mau-caráter a estabelecer relações fantasiosas sobre esse trabalho e tantos outros que colocam o Diário do Grande ABC como principal alvo deste jornalista. Até parece que jornalistas que fazem eventuais ou sistemáticas análises sobre endereços pelos quais passaram tenham alguma sintomatologia doentia. De fato, esse é o DNA de quem enxerga terceiros olhando para o próprio presente ou passado de assíduos frequentadores de chiqueiros sociais.

A edição logo abaixo do primeiro entre os sete boletins desta data, evidencia o quanto em tempos de disputas eleitorais este jornalista à frente do Diário do Grande ABC se inquietava com manipulações, privilégios, protecionismos e tudo o mais que colocam  no chinelo do amadorismo desclassificatório porções minoritárias de delinquentes-aprendizes das redes sociais. 

 EDIÇÃO NÚMERO 14 

Grande ABC, terça-feira, 14 de setembro de 2004.

Armadilha denuncista

e o calendário eleitoral

Temos recomendado à Editoria de Política e à Secretaria de Redação cuidado específico com os oportunistas eleitorais que plantam informações para desgastar adversários políticos. Condeno veementemente a prática jornalística adotada pela maioria dos veículos de assumir a função de caixas de ressonância de sanguessugas sazonais. É preciso que materiais denuncistas sejam cuidadosamente analisados e que, mesmo assim, sejam encaminhados ao prévio conhecimento do diretor da área.

Duas questões básicas nos dão a garantia de que denuncismos precisam de tratamento ético mais cuidadoso.

Primeiro, se os eventuais casos são realmente sustentáveis, é fundamental definir a justeza de cada um. Ou seja: estão as supostas gravidades sem vícios de origem eleitoral ou estariam geneticamente comprometidas pelo calendário dos votos e, portanto, sob forte suspeição?

Segundo, se as supostas denúncias se sustentam documentalmente e se não são perecíveis ao tempo, por que não dispensar tratamento editorial depois que os votos forem contabilizados? Principalmente se o assunto em questão teve origem de fontes político-partidárias.

Essas alternativas e o conceito central não significam que vamos dispensar linearmente toda e qualquer informação valiosa. Não é isso. O que pretendo passar é que haja cuidado seletivo nesse período. Que a Secretaria de Redação esteja informada sobre matérias eventualmente explosivas e que, por isso mesmo, tenha acesso ao conteúdo a fim de avaliá-lo.

Essa orientação não tem cores partidárias específicas. Vale para todos os paços municipais e os possíveis interesses político-eleitorais que giram em torno dos poderes locais. 

 EDIÇÃO NÚMERO 15

Grande ABC, quarta-feira, 15 de setembro de 2004.

Aparato de fechamento

precisa fugir da rotina

A edição desta quarta-feira é emblemática de uma rotina que precisamos transformar em ação coordenada: as matérias locais com chamada de primeira página precisam de tratamento editorial e gráfico diferenciado. Com mais atenção, com mais integração.

Por mais atenção e por integração entenda-se a necessidade de mais profissionais envolverem-se com o assunto, dentro e fora de cada editoria propriamente dita. Ou seja: nessas ocasiões a Editoria Especial, formada pelos membros da Secretaria de Redação e vários agregados, não pode perder a embocadura. Tem de dar assistência integral ao editor e aos jornalistas envolvidos.

Na cobertura de hoje, quando pudemos confrontar nosso material com outros jornais em assuntos do Grande ABC, sentimos dificuldades de nos ombrearmos em vários aspectos. Sabemos de nossas dificuldades operacionais, técnicas, estruturais, mas isso não pode nos servir de proteção.

Conversaremos com os profissionais envolvidos nos assuntos desta edição, mas antecipo que poderíamos ter tido material mais qualificado. Não que o que publicamos tenha comprometido o veículo. Nada disso. Mas poderia ser melhor.

Precisamos compreender esse conceito da forma mais ampla possível a fim de tornar rotina esse tipo de inquietação que por si só se desdobra do próprio cotidiano editorial. O que vai para a primeira página pressupõe maior importância e, portanto, exige atenção mais especial ainda. De cabo a rabo da operação. Sabemos que já existe natural busca nesse sentido, mas ainda não se tornou dogma, no bom sentido.

Para terminar, espero que aquele profissional mau-caráter que recebe uma das cópias desta newsletter e eventualmente replica a amiguinhos fora de nossa empresa sempre com comentários próprios de sua mesquinhez, tenha ao menos a coragem de se apresentar pessoalmente à minha sala para uma conversa de homem e de profissional. Se achar que isso é impossível, por causa de suas limitações como homem e como profissional, que escolha a arma que quiser, mas de forma transparente. Sem sem-vergonhice. Menos sofrível que esse protótipo de esterco não esteja diretamente em nossa redação. 

 EDIÇÃO NÚMERO 16

Grande ABC, quarta-feira, 20 de setembro de 2004.

Agregar valor ao produto,

uma enorme dificuldade

É impressionante o quanto é difícil a Redação dar sequência ao que insisto em chamar de agregar valor às matérias. Existe dificuldade imensa em entender que, sobremodo as matérias de maior visibilidade, que abrem páginas, que ocupam manchetes principais ou secundárias de primeira página, recomendam atenção maior. A incorporação de novas informações, de novos dados, parece algo ameaçador porque deveria ser uma rotina e, infelizmente, se transforma em chateação.

São tantas as vezes que tenho recorrido a isso que, infelizmente, não há paciência capaz de suportar. Estragam-se matérias porque não se verificam dados históricos ou mesmo temporais que constam dos arquivos. Sabemos das dificuldades tecnológicas para acessar o banco de dados, mas isso não pode continuar sendo desculpa. Como disse, estou à disposição para contribuir com a melhoria do produto inclusive no dia-a-dia. Algo que, convenhamos, pretendia não fazer de forma direta, porque tenho uma porção de responsabilidades que superam o que supostamente poderia ser entendido como questões pontuais. Dois exemplos emblemáticos sobre esse caso específico:

Primeiro — A manchete sobre criminalidade no Grande ABC que, segundo dados da Fundação Seade, teria sido rebaixada entre 1999 e 2003. O IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), que criei justamente para dar substância ao assunto, tem informações muito melhores. Sem contar que os arquivos são fartos em mostrar por que melhoramos. Mais: nossa melhora é relativamente pobre, porque continuamos entre os piores endereços em matéria de qualidade de vida, principalmente no tocante a homicídios.

Segundo — A cobertura sobre o Pólo Petroquímico de Capuava só deu uma melhorada depois que eu trouxe de meu banco de dados, na Editora Livre Mercado, uma matéria especial publicada há dois anos e que reúne informações importantíssimas para se entender o negócio químico-petroquímico, algo que o jornal insiste em ignorar nos momentos em que mais precisa realçar.

Francamente, essa sazonalidade da qualidade editorial é algo que exaure a paciência de qualquer um. Os editores, seus auxiliares e a Secretaria deveriam assumir a missão de impedir novos deslizes.

Qualquer dia desses escreverei como me sinto fazedor de revista e fazedor de jornal ao mesmo tempo. A diferença é abissal. O jornalismo diário é excessivamente permissivo ao erro ou à informação rasa. E não é por falta de tempo não. É falta de cultura, no sentido de aprendizado prático, de fazer acontecer. Talvez fosse melhor dizer que é falta de hábito, para ninguém se sentir ofendido. Até porque esse não é o objetivo. Muito pelo contrário — minha missão é transmitir experiência de um mundo diferente do jornalismo diário e, também, aprender com o jornalismo diário sem, entretanto, ser contaminado com a avalanche de problemas. 

 EDIÇÃO NÚMERO 17 

Grande ABC, quarta-feira, 20 de setembro de 2004.

Uma edição extremamente

cuidadosa da Sabatina Diário

O padrão de qualidade do caderno especial da Sabatina Diário de Rio Grande da Serra, sob os cuidados de Robinson Sasaki, deve servir de referência aos cadernos subsequentes. Acompanhei com atenção a ação do Sasaki e posso assegurar que o nível atingiu o mais elevado ponto. Houve ação deliberadamente cuidadosa para que as opiniões dos prefeituráveis de Rio Grande constituíssem algo bastante interessante.

Quem já degravou alguma fita na vida sabe o quanto é complicado harmonizar as declarações à linguagem jornalística, tornando-as atrativas como leitura. Pois Robinson Sasaki conseguiu transformar o que dizem ter sido um embate pouco inteligente em obra substanciosa. A edição, então, merece nota máxima. 

 EDIÇÃO NÚMERO 18

Grande ABC, quarta-feira, 20 de setembro de 2004.

Troca de legenda, uma

aberração que se repete

A recorrente troca de fotos precisa ter fim. Vou cobrar da Fotografia a responsabilidade pelo produto final nesse ponto. Não é possível admitir como obra do destino a repetição sistemática de falha de identificação. O que tivemos na edição deste domingo, com a suruba entre Brandão e Avamileno, é acachapante. Diria que quase imperdoável. O sistema adotado para a liberação de páginas deve estar superado, porque não é de hoje que casos como o que estou apontando acontecem.

O que mais me choca não é propriamente o erro em si, mas o pós-erro. Os profissionais dão a impressão de que se trata de uma fatalidade e como tal deve ser vista. Os leitores que se danem. Entendo que a troca de fotos como a que tivemos domingo compromete toda a edição. Há leitores que não perdoam e julgam o jornal mais pelos erros do que pelos acertos.

Quando apenas acompanhava o jornal, entendia que erros como esses são uma aberração. Agora que faço parte do processo, acho que, mais que aberração, são uma estupidez.

Nossa obrigação é desvendar o mistério que nos coloca de quatro diante de casos como esses. Não aceitarei mais fotos ou legendas trocadas. E o Departamento de Fotografia é quem vai me prestar contas. Além dos editores e da Secretaria, evidentemente.

outros que ele comandava, é que por mais talentosos e competentes que sejam os recursos humanos de uma empresa, sempre se corre o risco de o barco da qualidade afundar se não houver apetrechamento técnico para dar suporte ao trabalho. A recíproca também é verdadeira, ou seja: de nada adiantam equipamentos de última geração se os profissionais que os utilizarem não tiverem talento.

 EDIÇÃO NÚMERO 19 

Grande ABC, quinta-feira, 07 de outubro de 2004.

Banco de horas: agora sim

um aliado dos profissionais

O banco de horas implantado no Diário e que se tornou montanha de problemas chegou nos dois últimos meses ao estágio que pretendíamos: estamos debelando o incêndio da má gestão e aquecendo os motores da produtividade. Nada mais interessante, porque a nova situação fortalece os profissionais agregados à Redação e revela o quanto estamos comprometidos com o produto final sem acrescentar custos. Poderemos, diante de eventuais situações especiais, como no caso da cobertura das eleições, sacar do banco de horas para fortalecer o produto. Só não podemos fazer dessa modalidade rotina em casos convencionais.

Resumidamente, conseguimos nos 30 últimos dias vencidos em 18 de setembro não só acabar de vez com o saldo negativo do banco de horas como alcançar 142 dias de saldo positivo. Por saldo positivo se entenda o que a Redação deixou de incorporar de carga suplementar ao congelamento do banco de horas. Em verdade, no segundo mês em que foram adotadas medidas de acompanhamento do banco de horas, a Redação simplesmente reverteu o processo porque a média anterior acusava exatamente números semelhantes, mas como dias negativos.

Talvez esteja utilizando equivocadamente os verbetes “positivos” e “negativos”, que podem expressar juízo de valor, mas não é esse o caso. Utilizei-os apenas para simplificar a abordagem. O banco de horas pode e deve ser apenas positivo, desde que bem gerenciado. É uma ferramenta como a faca de cozinha, que, sob o controle de mãos hábeis, garante um churrasco inigualável mas, de posse de um facínora, provoca desgraças.

As respostas que a Redação vem oferecendo nos animam porque se dão como desdobramento de um período inicial de inconformidades. Ainda estamos distantes do produto de qualidade que baliza meus sonhos, mas sem dúvida a reação conjunta é alentadora. A cobertura das eleições é prova disso. Contamos com um grupo de profissionais numericamente muito inferior ao de quatro anos atrás, mas conseguimos resultados bem mais interessantes.

Estou particularmente feliz porque a insistência com que tenho batido na tecla de planejamento e conceituação das atividades está encontrando respostas. Espero que principalmente a Secretaria e as Editorias não percam a percepção de que sem diagnóstico, planejamento, execução e controle — exatamente nessa ordem — jamais conseguiremos superar os desafios. Tudo que nos propusermos a fazer exige esses quatro estágios. Quando se desdenha qualquer uma dessas medidas, tenham absoluta certeza de que há o risco de descarrilamento.  

 EDIÇÃO NÚMERO 20 

Grande ABC, segunda-feira, 18 de outubro de 2004.

Rita Camacho reforça

Secretaria de Redação

O reforço de Rita Camacho à Secretaria de Redação formalmente a partir desta segunda-feira é apenas mais um passo que damos para concentrar as mudanças conceituais num grupo de profissionais e, a partir daí, disseminá-las ao conjunto da corporação. Ainda falta reforço na Secretaria, mas, como se trata de processo, convém aguardar. O trabalho de Rita Camacho é essencial ao Planejamento Estratégico Editorial. Precisamos produzir um jornal fortemente regional dentro da metrópole e para tanto a catequização passa pela Secretaria. Os demais profissionais da companhia virão na sequência. É indispensável, portanto, que os editores acompanhem a implantação desse modelo e o repliquem aos comandados.

A deslocação de Rita Camacho para a Secretaria de Redação sacrifica a Editoria de Setecidades, à qual a profissional está vinculada já há algum tempo. Mas haveremos de chegar a um ponto de equilíbrio com o empenho de todos. As eleições — como enfatizei na semana passada — estão permitindo que as editorias de Economia e de Setecidades, além da Política propriamente dita, se preparem e se reorganizem para os tempos de eventuais vacas magras de abordagens dignas de manchete de primeira página.

Particularmente, entendo que com Política, Setecidades e Economia azeitadas, teremos superado qualquer previsão mais catastrófica sobre a impossibilidade de sustentar manchetes locais. Seria o fim da picada que essa imensidão de 2,5 milhões de habitantes não oferecesse regularmente insumos para consumo de alta classe editorial.

A respeito disso, antecipo proposta para alterar completamente o conceito de determinadas coberturas. Aliás, já o fizemos de início com a quebra da mesmice improdutiva e alienadora de visitas às Câmaras Municipais.

Não atuaremos a reboque de ninguém. Definiremos e aplicaremos as pautas e selecionaremos as demandas externas com sapiência. Tenho esse preceito no Planejamento Estratégico Editorial, mas, infelizmente, alguns editores ainda não se aperceberam disso. Vou insistir com os membros da Secretaria de Redação para que ajam como cães farejadores na luta pelo enquadramento editorial do jornal.

Tenho evitado nos últimos tempos participar do cotidiano da Redação. Minha ação tem-se cristalizado de forma mais seletiva. É tudo proposital, porque cada vez mais darei à descentralização diretiva da Redação configuração filosófica.

A Secretaria de Redação são meus olhos, minha mente e minha alma. Cada um que atua na área precisa ser visto como tal. Isso não me impede de ouvir editores e repórteres. As portas estão abertas para todos, mas é preciso que pratiquemos racionalmente a função de comunicadores sociais. Não nos percamos em detalhes.

É provável que na próxima semana realize um encontro aqui na casa com toda a Secretaria de Redação e os editores. Pretendo apresentar alguns conceitos dos leitores do jornal ouvidos pelo Instituto Brasmarket.

Para completar, a reforma gráfica do Estadão trata o mesmo produto de sempre com roupagem moderna. Principalmente com valorização das fotos. Utilizamos muito mal, de maneira geral, as fotografias. Não existe um padrão para tornar as páginas mais suaves e agradáveis. Já falei sobre isso em reuniões e procurarei, agora, levar a mensagem diretamente à Secretaria de Redação, para repasse.

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