Santo André menos ruim
que Santo André. Entenda

A situação do Santo André no futebol é menos ruim que a situação de Santo André como Município economicamente decadente, sem rumo e sem prumo. O Santo André do futebol acaba de cair para a Segunda Divisão do futebol paulista (Série A-2) enquanto a cidade de Santo André já caiu faz tempo e continua a cair. Ocupa a posição 184, ou algo como a Décima-Segunda Divisão do PIB per capita no Estado de São Paulo. Foram 39 degraus abaixo entre 2017 e 2021, os dados mais atualizados.
Quem apostar que o Santo André tem um futuro menos problemático que a cidade de Santo André não estará enganado. No futebol é sempre mais fácil ou menos difícil encontrar uma saída. Na Economia, a demagogia e o imperialismo só agravam o quadro.
A porta da solução do Santo André também conhecido por Ramalhão é a chegada agora menos provável de investidores com lastro, competência e seriedade, aproveitando a onda mesmo que menos festejada da SAF, Sociedade Anônima do Futebol.
SAF DE SAFADEZA?
Houvesse o prefeito Paulinho Serra liberado a concessão do Estádio Bruno Daniel, as possibilidades de a SAF ter-se instalada seriam muito maiores. Sem passaporte do estádio, que todo prefeito com juízo libera aos clubes, não há SAF que tope a parada. Só se a SAF for senha de safadeza.
A saída para Santo André encontrar alguma coisa que possa ser classificada como roteiro de estancamento da sangria econômica e o encalacramento de perspectivas rumo ao futuro é um Planejamento Econômico Estratégico produzido por profissionais do ramo. Algo que preferencialmente envolva os demais municípios da região. O Arquipélago Cinza, está provado, não leva a nada que não seja ao caos.
O Santo André que ontem ganhou da Ponte Preta mas não contou com a colaboração do Red Bull para se livrar do rebaixamento fez uma campanha numericamente sofrível. Ganhou apenas oito pontos dos 36 disputados, marcou oito gols e sofreu 17. Jogou um futebol monocórdio, incapaz de surpreender com alguma coisa que lembrasse versatilidade de estilo tático.
CORAÇÃO NORMAL
O Santo André se comportou como um eletrocardiograma saudável, mas incapaz de resistir a um choque de tensão ou a uma corrida de 100 metros. O Santo André, enfim, foi um time previsível, limitado.
Sem calendário, a figura de imagem de barraca de praia, que funciona três meses no ano, é o que consegui construir de mais próximo como explicação.
Qualquer semelhança com a Santo André passiva, que observa o tempo passar e acredita que a solução virá por combustão espontânea, não seria mera semelhança.
Mas a diferença entre o Santo André e a Santo André é que o Santo André é rigorosamente submetido a sabatinas todos os anos, com transparência nos gramados. A Santo André decadente é mistificada, vilipendiada por gente que só tem uma coisa na cabeça: a carreira política, a carreira política, a carreira política. Gente que busca a unanimidade por coerção, parente próximo da cooptação, que, por sua vez, lembra imposição.
SÃO BERNARDO FORTE
Já o São Bernardo há muito clube-empresa, embora despreze o mercado da cidade, na qual só manda os jogos, foi disparadamente o melhor time da região na temporada da Primeira Divisão. Faltou pouco para chegar de novo a mata-mata. O São Paulo ganhou no último minuto numa penalidade máxima que só vi uma única, sem repetição, mas que me pareceu claríssima. O São Bernardo perdeu a vaga nesse lance. Mas a campanha de 21 pontos conquistados em 36 disputados, 14 gols a favor e nove contra, revela a estabilidade de uma equipe que por pouco não ingressou na Série B do Campeonato Brasileiro da temporada passada. O São Bernardo é um modelo privado que está mais próximo do que poderemos ter no futuro na região. Só falta público.
Já o Água Santa de Diadema ficou equilibradamente entre os dois rivais da região. Também ficou a um ponto da classificação. Ganhou 15 dos 36 pontos, marcou apenas oito gols e sofreu 11. É uma agremiação que avança rumo à estabilidade a cada ano. Tem uma modelagem empresarial que não me agrada e não deveria agradar a ninguém. O ecossistema do futebol internacional não encontrará no Água Santa eventual endereço de investimentos. E o futebol do futuro, que já é presente, ultrapassa os limites territoriais nacionais.
FUTEBOL MELHOR
No total, as três equipes da região disputaram 108 pontos, ganharam 44, ou 40,74%, marcaram 30 gols (0,833 por jogo) e sofreram 37 (1,029 por jogo). O São Bernardo liderou com 47,73% de aproveitamento, 46,66% de gols marcados e 24,32% de gols sofridos quando se coloca no mesmo saco o balanço das três equipes.
O comportamento do futebol da região no Campeonato Paulista configurou-se melhor que o comportamento da economia da região nas últimas temporadas. Somos no futebol mais resiliente que as respectivas cidades na Economia. É verdade que no nosso futebol não tivemos nenhuma Dilma Rousseff para atrapalhar neste século. Mas também ainda não temos o encaminhamento consistente de um modelo restaurador.
O que mais choca na comparação entre futebol e economia, é que da mesma forma que no futebol falta público presente, que exerça pressão sobre os adversários e sinalize às equipes e aos dirigentes que pulsa vida entre nós, no economia vivemos um estado de anomia, de enganação e de prostração. Perdemos a capacidade de reagir ou de melhorar porque faltam lideranças de verdade, muito além de gestão pública e disputas partidárias.
Estamos tão à deriva que, como se fosse uma anedota pronta, sindicalistas que sempre lutaram por melhores condições de salários e de ambiente laboral nas fábricas, principalmente, deram de enxergar a China ditatorial e escravagista a saída para reforçar investimentos. Nossa economia, visto por todos os ângulos, é uma tormenta de rebaixamentos incontidos e dilacerantes.
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