Esportes

SÃO BERNARDO VALE
MAIS QUE SANTO ANDRÉ

  DANIEL LIMA - 11/03/2025

De imediato, para não deixar dúvida sobre dúvida ou quem sabe aumentar ainda mais dúvida sobre dúvida, vou relacionar os fatores principais que estariam numa competição entre investidores dispostos a adquirir o Esporte Clube Santo André, um dos modelos de clube associativo que ainda resistem no futebol,  e os investidores que já estão fuçando aqui e ali para adquirir o controle do São Bernardo Futebol Clube, um dos muitos modelos do clube-empresa do futebol. Acompanhem: 

1. TRADIÇÃO ESPORTIVA.

2. REPRESENTATIVIDADE ESPORTIVA.

3. POTENCIAL ESPORTIVO.

4. POTENCIAL SOCIAL.

5. POTENCIAL ECONÔMICO.

6. INFRAESTRUTURA ESPORTIVA.

7. AMBIENTE INSTITUCIONAL.

8. ARENA MULTIUSO.

Isto posto e colocado, nada melhor que, resumidamente, destrinchar cada um desses eixos estruturantes que determinariam o valor de cada agremiação. Não  custa nada chamar a atenção a um aspecto relevante: os fatores expostos acima não são excludentes, mas também não são integralmente includentes às análises dos investidores.

No mundo dos negócios esportivos não há desperdício de foco, mesmo que o foco centralizado reúna condicionalidades. Ou seja: o foco no produto final deriva de avaliação mais abrangente, estabelecendo-se valores relativos de importância distintos. Uns valem mais que outros, segundo expectativas de planejamento.

No caso em questão, dessa disputa de um clássico do futebol levado ao campo de negócios, há fatores compensatórios que poderiam determinar a escolha de um ou de outro clube. Vou personalizar essa equação, como se fosse um investidor, ou integrante de um grupo de investidores, e resolvesse dar a resposta que mais levaria em conta com a multiplicação dos recursos despendidos.

VANTAGEM ELÁSTICA

Com quem ficaria? Levando-se em conta o hoje, o agora, e isso pode ser interpretado também como os últimos anos, e agindo de forma fria, submetido aos rigores do capitalismo,  o São Bernardo é muito mais negócio do que o Santo André. Uma vantagem de no mínimo 40% em termos financeiros. Ou seja: se o São Bernardo vale R$ 100 milhões, o Santo André não passaria de R$ 60 milhões. Esses valores são apenas referenciais, sem aproximação com eventuais cotações na praça.

A elasticidade da diferença que separaria as duas agremiações manifesta-se em vetores essenciais, sem os quais, a disputa seria levada ao campo da dúvida e da reavaliação. Mas, mesmo assim, o São Bernardo ainda seria melhor investimento. A diferença não seria tão larga, mas não há como negar que seria expressiva.

De qualquer forma, mesmo se considerando que há produtos esportivos mais interessantes no mercado nacional e que estão sob o escrutínio de investidores de múltiplas faces, tanto São Bernardo quanto Santo André são recomendáveis a quem vê cifras e mais cifras e não simplesmente uma bola de futebol.  

VALOR AGREGADO

O problema todo é que temos de maneira geral produtos de baixo valor agregado. Se for considerado o conceito de valor agregado envolvendo os oito quesitos reproduzidos acima, o São Bernardo é o único que resiste à frieza dos investidores como ativo de rentabilidade mais viável nos próximos tempos.

Um dos fatores elencados é crucial à constatação de que o São Bernardo vale mais que o Santo André e, mais que isso, que o São Bernardo pode sim, em função desse fator, despertar muito mais ambição de eventuais investidores que não ficam correndo atrás da bola como caminho ao sucesso.

A bola não é um detalhe nesse caso, mas não é a personagem única. Dividiria a atenção, porque há complementariedade à projeção de resultados. Os leitores vão entender aonde pretendo chegar.

Vou manter um ambiente de suspense para justificar a equação citada, de complementariedade. Ou alguém tem dúvidas de que futebol é Economia de chuteiras? E Economia de chuteiras também é Economia de eventos sem a bola, como os grandes shows musicais.  

1. TRADIÇÃO ESPORTIVA

Não há termos de comparação entre os dois clubes. O Santo André vem de um passado contínuo de disputas esportivas a partir da fundação há quase 60 anos. O São Bernardo tem trajetória de duas décadas. O Santo André jamais foi objeto de lambuzamentos político-partidários como o São Bernardo. No Santo André não houve infiltração alienígena que colocasse o clube eticamente à deriva. O São Bernardo chegou ao extremo de politizar tanto, mas tanto, que até o presidente Lula da Silva foi instalado no altar do oportunismo com a reserva da camisa 13 como manto sagrado, ou seja, excluída da relação dos atletas. Até que o clube mudasse de mãos diretivas e revogasse a extravagância. 

2. REPRESENTATIVIDADE ESPORTIVA 

O São Bernardo vive situação muito mais destacada. Integra a Série A-1 do Campeonato Paulista e a Série C do Campeonato Brasileiro. O Santo André tenta voltar à Série A-1 do Paulista e está fora do circuito nacional de quatro divisões. A Série D, de que participa com relativa frequência, não passa de competição classificatória efêmera. O clube que não chega ao final da competição entre os quatro primeiros, que dá direito a Acesso à Série C do Campeonato Brasileiro, volta a entrar na fila em busca de classificação à Série D, decidida conforme os resultados na Série A-1 do Paulista. O São Bernardo chegou muito perto da Série B do Brasileiro nas duas últimas competições. Ingressar na Série B do Brasileiro é um encontro no paraíso de receitas de patrocínios e de transmissão de TV e uma abertura de portas de valorização e negociação de atletas. Ou seja: uma vitrine disputadíssima. 

3. POTENCIAL ESPORTIVO 

A supremacia na grade de valoração do São Bernardo possibilita saltos em direção a ganhos de escala como força motriz à potencialização da equipe de futebol dentro de campo e também a empreitadas fora de campo, na área de infraestrutura. Mais de meio caminho já foi percorrido à consolidação do São Bernardo como um dos 40 maiores clubes do País, ou seja, como integrante potencial da Série B do Campeonato Brasileiro. Nos últimos anos o São Bernardo mostrou que está muito mais próximo disso do que de eventual rebaixamento à frágil Série D. 

4. POTENCIAL SOCIAL

Entre outras razões ou principalmente porque tem história longeva e sem interrupções dentro do gramado, o Santo André conta com potencial bastante superior ao São Bernardo na relação com a sociedade que representa. A torcida do Santo André é muito mais fiel e expressiva que a do São Bernardo, mas está longe de ser o que poderia ser porque a baixa competitividade esportiva num mundo de grandes clubes e de efeitos transformadores das mídias em geral coloca em xeque até que ponto não estaria vulnerável demais como produto que reflita o engajamento dos moradores. O caso do São Bernardo é mais grave. A equipe apenas joga no Estádio Primeiro de Maio. A preparação é toda em Atibaia. OU seja: São Bernardo é barriga de aluguel do São Bernardo. Um marketing audacioso poderia corrigir essa distorção. Mas leva tempo.  

5. POTENCIAL ECONOMICO

Santo André e São Bernardo são municípios semelhantes em riquezas e problemas. Juntos, contam com 1,5 milhão de habitantes. Como o grau de bairrismo destes tempo é mais fluido, ou seja, sem ares de rivalidade que poderia separar os dois municípios em partes distintas, não relativamente integralizadas, quem conseguir nos próximos anos chegar mais próximo do sucesso em campo e de forma consistente tende a ver refletidos os resultados no campo econômico, em forma de aportes de patrocinadores e investidores em grades de marketing.

6. INFRAESTRUTURA ESPORTIVA 

Tanto o Santo André quanto o São Bernardo não dispõem de centros de treinamentos adequados para as divisões de base. No caso do São Bernardo a situação é ainda pior, porque não tem divisões de base. Os dois clubes contam com espaços físicos para tanto, mas é necessário investir para que os dois endereços se tornem fábricas de jogadores que o Grande ABC tem aos montes. 

7. AMBIENTE INSTITUCIONAL 

Embora longe do registrado no passado, o Santo André conta com maior proximidade identitária com as instituições locais. Não é nada extraordinário. Diferentemente disso. É uma sobra do que já foi relativamente forte. Há afastamento entre o clube e a sociedade por múltiplas razões, entre as quais o apequenamento da representatividade do futebol local diante das grandes forças do Estado. O Santo André da camisa dividida nos anos 1970, quando se colocava até mesmo como primeiro time de palmeirenses, corinthianos, são-paulinos e santistas, se tornou uma camisa dividida agora nas condições de subalternidade sentimental, ou seja, como peça sobressalente dos torcedores dos times grandes. Já o São Bernardo, sem a mesma tradição no futebol, jamais foi camisa dividida e, diante de afastamento popular do atual modelo empresarial, não passa de visitante no próprio estádio.

8. ARENA MULTIUSO 

O Estádio Primeiro de Maio é a peça mais importante para o São Bernardo cristalizar-se como fonte de criação de receitas, juntamente com a fábrica de jogadores num centro de preparação bem aparelhado. A localização do Estádio Primeiro de Maio, às portas da Via Anchieta, oferece perspectiva de receber caudalosas demandas por espetáculos musicais, principalmente. Além de contar com a atenção de moradores das áreas periféricas da cidade de São Paulo, especialmente da Zona Leste e da Zona Sul, a Arena do São Bernardo teria três milhões de moradores do Grande ABC como alvo de iniciativas rentáveis. O Estádio Primeiro de Maio é infinitamente mais apropriado a uma arena de espetáculo do que o Estádio Bruno Daniel, localizado distante dos principais eixos metropolitanos. Não há termos de comparação. O mercado de eventos é de pobreza franciscana no Grande ABC. E quem tem maior potencial de ajustar as peças entre oferta e demanda é o São Bernardo. O Estádio Primeiro de Maio conta com disponibilidade de espaço a uma empreitada extraordinária.

RESUMO DO DIAGNÓSTICO 

A mesma grade que consta da primeira página desta análise será repetida na sequência. Mais que isso: faço uma avaliação individual com o apontamento de superioridade temática nesse clássico de suposto foco de investidores. Santo André vence em dois dos oito quesitos. São Bernardo também alcança quatro vitórias. No outro, empate técnico.

Então, qual é a razão de o São Bernardo ser potencialmente um negócio mais vantajoso aos investidores? Simples: a superioridade apontada está localizada nos pontos viscerais que definem o que poderia ser traduzido como custos versus benefícios. Ou potencialidades relativas. Vejam os resultados.

1. TRADIÇÃO ESPORTIVA – Vantagem do Santo André.

2. REPRESENTATIVIDADE ESPORTIVA – Vantagem do São Bernardo.

3. POTENCIAL ESPORTIVO – São Bernardo.

4. POTENCIAL SOCIAL –Vantagem do Santo André.

5. POTENCIAL ECONÔMICO –Vantagem do São Bernardo.

6. INFRAESTRUTURA ESPORTIVA -- Empate.

7. AMBIENTE INSTITUCIONAL – Vantagem do Santo André.

8. ARENA MULTIUSO – Vantagem do São Bernardo.

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