Esportes

Ramalhão prioriza SAF
para barrar decadência

  DANIEL LIMA - 15/08/2024

Num comunicado sucinto mas suficientemente esclarecedor sobre o futuro que pretende para o Santo André, a diretoria do Santo André não está preocupada com o Santo André no formato de Conselho da Salvação, proposto por CapitalSocial como alternativa ao fortalecimento do Santo André.

Martelar “Santo André” seguidamente é uma forma de chamar a atenção ao clube que representa uma cidade decadente. O futebol segue o mesmo ritmo, também decadente. Não é fácil expor essas duas constatações.

Há quem prefira amenizar a situação em nome de pretensa posição politicamente correta. Uma bobagem  sem tamanho. Já está mais que provado que esconder a realidade é a pior das saídas em todas as atividades. Reparem como manchetes de jornais locais teimam em revelar  crueldades sociais de uma região que perdeu o rumo, caindo pelas tabelas em praticamente todos os rankings econômicos e sociais. Haja criatividade dos marqueteiros em fabricar efeitos especiais.

Decadência não é um mal que não se cure sem que se apure. E para tanto depende de muitos fatores. No caso do Santo  André, quem sabe o futuro seja semelhante ao do Bragantino que, também decadente, encontrou a tábua de salvação numa empresa de energéticos que faz do futebol empreendimento competitivo com potencial de elevar a autoestima da cidade.

GRAVIDADE MAIOR

Já na Santo André decadente como Município, que cai pelas tabelas no ranking estadual de PIB per capita, a situação é muito mais grave. O Poder Público sofre sequestros de qualidade na gestão, enfeita  o pavão, comete falhas seguidas, mas jamais vai à falência. Isso é destino mesmo que temporário de Detroit, por exemplo. Afinal, contribuintes de impostos cada vez mais elevados garantem o girar da roda quadrada.

O Santo André deixou claro no comunicado enviado à direção de CapitalSocial que  não pretende tomar a iniciativa de acrescentar voo rumo à privatização pretendida nada que lembre representantes de uma sociedade omissa. Pelo menos não vai tomar essa iniciativa.

Uma cidade anestesiada em mobilização social para qualquer tipo de empreitada não é confiável a transformações no modelo de futebol necessário.

Quem quiser entender que o Conselho da Salvação proposto por CapitalSocial é uma boa alternativa que se mobilize, porque aí sim o Santo André estaria disponível.

UMA PROVOCAÇÃO

De fato e para valer, Conselho da Salvação foi uma provocação para expor a mediocridade geral da cidade de Santo André. Se não há mobilização nem contra  aumento do IPTU, que mexe diretamente no bolso dos contribuintes, como esperar algo diferente e intenso em outras modalidades?

Sem o Conselho da Salvação, desenlace mais que provável porque não haveria alma viva que tomaria a iniciativa, e tampouco um grupo organizado ou diverso que se lançasse à empreitada, o futuro do Santo André será mesmo tomado pela expectativa de que a SAF (Sociedade Anonima do Futebol) saia da pauta de intenções e vire realidade construtivista.

Aliás, para tanto, já caminha há quase um ano a autorização do Conselho Deliberativo para que o comando administrativo do Santo André leve adiante a iniciativa.

O que está faltando para o Santo André virar Santo André Sociedade Anônima do Futebol é que finalmente ocorra um encaixe de interesses do clube e de eventuais interessados.

CUIDADOS ESPECIAIS

Há critérios informais que balizariam a confluência de definições e todos passariam pelo enquadramento de relações que respeitem a história do clube. O Santo André não quer cair nas garras de gente que faria da agremiação um saco de gatos de ambições e excessos que tornariam a emenda da SAF pior que o soneto de clube associativo.

Nada disso, é bom que se lembre, consta da resposta praticamente telegráfica, em extensão, da direção do Esporte Clube Santo André à direção editorial de CapitalSocial.

Veja o teor do material enviado pelo presidente Celso Luiz de Almeida:

RESPOSTA ABERTA AOS TORCEDORES DO E.C.SANTO ANDRÉ. O ano de 2024 está marcado por ter sido um ano de dificuldade no âmbito esportivo. A diretoria executiva do EC Santo André está remodelando a gestão e fazendo as correções necessárias para se reorganizar financeiramente e esportivamente. O EC Santo André está aberto a sugestões e opiniões para sua melhoria de todos os setores. O Esporte Clube Santo André está em negociação para contratação de um grande escritório de advocacia de São Paulo, especializado em SAF. O presidente Celso Luiz de Almeida já recebeu diversos possíveis investidores, mas até agora as negociações não evoluíram. 

Como se observa, não há qualquer menção direta ou indireta à proposta de composição do Conselho da Salvação, movimento que se repetiria de forma contextualizada à nova conjuntura, depois de vivida na década de 1070, quando o Santo André estava à beira do fechamento.

PERDENDO TERRENO

De fato e para valer, a posição oficial do Esporte Clube Santo André não é surpresa para quem conhece a realidade da agremiação que está na Sexta Divisão do Futebol Brasileiro, como integrante da Série A-2 (Segunda Divisão) do futebol paulista.

O Santo André ainda é o maior patrimônio sentimental de Santo André e uma das referências do Grande ABC no universo interno e externo de identidade regional. Entretanto, há muito perdeu viscosidade representativa.

O envelhecimento da população, a ausência de ações de marketing junto a estudantes do Ensino Fundamental, entre outras medidas, coloca o Santo André cada vez mais distante do cotidiano da cidade. É uma marca decadente quando se compara com várias agremiações com as quais dividia posição de destaque logo abaixo dos grandes clubes paulistas.

Em termos regionais, está atrás do São  Bernardo, que disputa a Série C do Campeonato Brasileiro com amplas possibilidades de acesso. Mas o São Bernardo não serve de inspiração: é um clube empresarial sem laços fortes com a própria cidade. O São Bernardo só manda os jogos no Estádio Primeiro de Maio. As atividades de preparação técnica e tática do elenco estão concentradas no Interior do Estado.

É esse modelo que possivelmente não encontraria respaldo diretivo na busca de grupo de investidores que decida adquirir  ações com direito ao comando do clube.

COMO SENSIBILIZAR?

Não parece constar do plano da diretoria um Santo André pronto para ouvir a sociedade e levar avante a proposta de adotar o Conselho da Salvação para, inclusive, possivelmente, acelerar o processo em busca de SAF. Haveria dificuldades em sensibilizar agentes da sociedade. O tempo em busca de uma SAF será prioridade mesmo. Até porque a concorrência aumenta no mercado da bola.

O comunicado do Santo André publicado por CapitalSocial é a constatação de que teria de partir de terceiros, como no passado, o caminho a ser trilhado pelo menos durante determinado período, até que a SAF virasse realidade.

Há mais de três anos a SAF do Santo  André é pauta obrigatória de CapitalSocial. Dezenas de textos foram produzidos inclusive com série de propostas. Nada, entretanto, foi executado pela direção do Santo André. A mesma direção que preferiu contornar uma situação politicamente delicada no comunicado acima.

Trata-se do desinteresse do Paço Municipal em liberar o Estádio Bruno Daniel a eventuais interessados no controle acionário do Santo André. Sem a garantia de uso do local, prática de prefeituras de todos os lugares do País, o risco do empreendimento seria enorme. As condições de uso ficariam pendentes e por isso mesmo colocariam em risco os planos de ocupação do espaço.

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