Esportes

Santo André vai mesmo
para a Segunda Divisão?

  DANIEL LIMA - 23/02/2024

A resposta que diz respeito ao provável rebaixamento do Santo André à Segunda Divisão do principal campeonato estadual do País (a Série A-2) é fácil de ser respondida, ao contrário do que imaginam muitos de que se trata de uma pergunta que valeria um milhão de dólares. A resposta é simples: faltam três rodadas.

Mas se enganam todos os afoitos e maledicentes que pretendem me imputar o pessimismo mesmo que realista de que quando respondo que faltam três rodadas estou decretando por livre arbítrio e afobação, ou contaminado por sites, que o Santo André já caiu.

Até achava há algum tempo que o Santo André não escaparia, mas agora, só para me contrariar, e adoro me contrariar nesse jogo de contradizer-me por prazer em forma de desafio profissional, que o Santo André pode escapar.

Até imagino porque vivido sou o quanto o presidente Celso Luiz de Almeida anda a perder cabelos brancos e a barba farta. Não é mole mesmo segurar um rojão desses numa cidade em que a riqueza cultural histórica do Santo André, manifesta claramente na audiência dos jogos, está longe da materialidade prática do dia a dia. Santo André é insensível com o Santo André quando se exige prova material. Por isso somos obrigados, como escrevi ontem, a acreditar no que dizem os algoritmos.

HORA DA VERDADE

Possivelmente não estarão faltando a Celso Luiz de Almeida olhares desconfiados. Nessas horas, nas horas de iminentes borrascas, os supostos amigos desaparecem e os falsos amigos aparecem para se venderem como amigos de sempre. Uma contradição que Freud explica.

Mas vamos ao que interessa sobre as três rodadas. O site Chance de Gol, que traduz em forma de estatísticas as probabilidades de as equipes tanto caírem quanto irem para o mata-mata do Campeonato Paulista, já decretou a queda do Santo André.

Como o Chance de Gol erra muito, e isso é natural porque futebol não é ciência exata, o desfile de dados não deve ser visto como sentença de morte do time mais tradicional da região.

O Chance de Gol coloca o Santo André com 83,0% de probabilidade de queda à Segunda Divisão, enquanto o Ituano, com 55,3%, seria o segundo rebaixado da temporada. O Guarani de Campinas vem logo abaixo com 43,7%. A Portuguesa, que compõe o quarteto de degoláveis, como escrevi aqui outro dia, estaria praticamente livre, com apenas 15,8% de risco de queda.

EXAGERO ESTATÍSTICO?

O que impressiona no Chance de Gol é o pós-vírgula de cada número precificado de probabilidade de queda. Transmite-se a ideia, quando não a certeza, de que os dados são uma equação tão certeira e tão definidora da situação que não haveria como contestar. Um exagero desnecessário.

De fato e para valer, os valores embutidos nas perspectivas de rebaixamento das quatro equipes que listei aqui outro dia e que se confirmam no site Chance de Gol são valores de tessitura lógica vulnerável. Entretanto, na medida em que se aproxima o fim da fase de degola, algo que vale muito também para as pesquisas eleitorais, os números foram se ajustando e passam a conviver mais e mais com a realidade possível.

É o caso de agora, portanto, ao faltarem três rodadas para se conhecerem os dois rebaixados. O Santo André de fato é o mais próximo disso, mas não custa lembrar que três jogos são nove pontos e que nove pontos são pontos possíveis de se somarem aos pontos atuais de cada equipe. Nove pontos não são abstrações nem semânticas.

DERROTA FRUSTRANTE

A derrota diante do São Bernardo atrapalhou muito os planos do Santo André porque um ponto a mais nessas alturas do campeonato não são apenas um ponto no sentido matemático, mas um impulso de confiança e entusiasmo que retroalimentaria as esperanças.

Não se pode esquecer o contexto do ponto que se foi naquela cabeçada indefensável. Afinal, o Santo André vinha de um empate heroico diante do quase imbatível Palmeiras e em seguida, em Campinas, num jogo de seis pontos com o Guarani, arrancou um empate após estar perdendo de dois a zero. Também, até então, as três últimas rodadas acumuladas foram favoráveis ao Santo André, porque os competidores contra o rebaixamento ficaram atolados em suas dificuldades.

Não custa lembrar que o Santo André conta com quatro pontos ganhos, ante cinco do Guarani e seis do Ituano. A Portuguesa, quase livre da queda, conta com sete pontos. Me parece um exagero a diferença percentual de possibilidade de rebaixamento que confronta Santo André e Guarani, porque os jogos que restam são de pesos e contrapesos semelhantes.

RODADAS FINAIS

Nesta próxima rodada, enquanto o Santo André enfrenta o Internacional de Limeira, no Estádio Bruno Daniel, o Ituano joga com casa com o Bragantino e o Guarani enfrenta o São Paulo. Observem o contexto: todos os adversários dos três mais fortes concorrentes ao rebaixamento precisam da vitória para se garantirem na próxima etapa do campeonato, a fase de mata-mata. Não há acomodação em vista.

Na penúltima rodada, o Guarani enfrenta o Botafogo em Ribeirão Preto, o Santo André joga com o Corinthians na Neo Química e o Ituano vai a Limeira para enfrentar o Internacional. A situação se repetiria em forma de perspectivas de mata-mata. Talvez o jogo entre Botafogo e Guarani seja a exceção.

Na rodada derradeira, as três equipes mais ameaçadas jogam como mandantes. O Santo André enfrenta a Ponte Preta, o Ituano pega o São Paulo e o Guarani enfrenta o Bragantino.

Esse embaralhamento que envolve risco de rebaixamento e oportunidade de disputar o mata-mata relativiza, mesmo na reta de chegada, a numerologia estatística de Inteligência Artificial ou o que valha, além de metodologia, a definição dos dois rebaixados.

É nessa onda de ponderabilidades e imponderabilidades que surfo no sentido de construir uma argamassa de otimismo sustentável que me retire do nocaute.

Nesse sentido e em todos os sentidos que os leitores podem imaginar, e extrapolando o bom senso com que, por exemplo, me lanço em estudos sobre a economia da região, estou me alimentando da expectativa de que o peso da camisa do Santo André em momentos dramáticos acabe se manifestando.

PASSADO HISTÓRICO

Não deveria passar pela cabeça de ninguém que tenha a cabeça no lugar ver o Santo André rebaixado à Segunda Divisão Paulista justamente no ano em que deveria transformar os 20 anos da conquista da Copa do Brasil no Maracanã diante do Flamengo em peça de marketing importante.

Santo André, a cidade como um todo, sofre tanto com baixa estima econômica, destroçada que foi ao longo de quatro décadas, que qualquer coisa em que poderia se agarrar daria algum fôlego. Ou alguém tem dúvidas que a 184ª colocação no Ranking de PIB Per Capita no Estado de São Paulo não é mesmo uma vergonha?

Notem os leitores que raramente uso Ramalhão como sinônimo de Santo André. Não há preconceito algum. Muito diferente disso. Mas Ramalhão é algo tão especial que, utilizado frequentemente e num contexto de fragilidade competitiva, soaria abusivo, quando não enganador.

O Santo André na Primeira Divisão de São Paulo é, pelas circunstâncias atuais num quadro de internacionalização de investimentos no futebol, quase que um milagre. A diferença de potencial competitivo na Primeira Divisão Paulista colhe o Santo André num vácuo inquietante por razões que já expus à exaustão mas que ainda estão longe de se exaurirem.

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