Esportes

SAF do Santo André depende
de estádio, dívidas e adversário

  DANIEL LIMA - 10/02/2022

O Santo André está sob o escrutínio de uma consultoria especializada em tratar o futebol como negócio. A empresa tem experiência suficiente para distinguir o que é melhor para os investidores e também para o futuro da agremiação dentro e fora de campo. 

A SAF (Sociedade Anônima do Futebol), nova modalidade de clube-empresa que conta com vantagens fiscais, entre outras, possivelmente transformará o Santo André numa equipe mais poderosa. Mas para isso precisa passar por rigorosa sabatina e concorrência. 

Um dirigente da consultoria especializada que vem trabalhando com a possibilidade de tornar o Santo André uma SAF acredita que o caminho está delineado com perspectivas positivas.  

A atuação da empresa não é confirmada pela direção do Santo André. Nada indica que seja um trabalho independente e aleatório, embora também possa ser inicialmente fora da gestão deliberada do clube.  

TRES BARREIRAS  

Especula-se que haveria pelo menos um intermediário no clube que repassaria informações contábeis aos investidores. Mas o Santo André nega. Nenhum contrato ainda foi firmado no mercado da bola para diagnosticar o melhor para o Santo André.  

Tive acesso a um dirigente da consultoria em questão e pude constatar que há sim muito empenho em perscrutar a possibilidade de investidores atuarem no Santo André.  

Entretanto, há três barreiras naturais que precisam ser observadas e desmontadas, segundo avaliações preliminares. Na verdade, eram apenas duas, mas agora surgiu uma terceira. 

FISCAL E ESTÁDIO  

O balanço fiscal do Santo André e a concessão do Estádio Bruno Daniel teriam sinalização positiva porque o ambiente seria favorável. Entretanto, o surgimento de um novo clube na cidade, especialmente porque adotaria denominação antiga do Esporte Clube Santo André, no caso Santo André Futebol Clube, poderá desestimular eventuais negociações.  

O princípio do negócio do futebol é o princípio de qualquer negócio: a marca é uma das propriedades mais valiosas, por isso não pode ser confundida com marcas semelhantes de terceiros.  

Ao que consta de informações extraoficiais, a situação financeira do Esporte Clube Santo André não causaria embaraços às negociações.  

Ainda não haveria números definitivos, mas o que se sabe é que o passivo fiscal e trabalhista seria contornável numa programação que correria em paralelo com as exigências da regulamentação da SAF.  

O Santo André é um clube reconhecidamente com os pés no chão, segundo avaliações preliminares. Dirigentes do clube têm informado a terceiros que nada está em descontrole. O ano recém-encerrado apontaria novo déficit, mas por conta de novas versões do Coronavírus.   

CONCESSÃO É VITAL  

Quanto à concessão do Estádio Bruno Daniel, informações de bastidores dão conta de que o prefeito Paulinho Serra tem todo o interesse em desobstruir a transição de forma que o Santo André Sociedade Anônima não encontre dificuldades.  

A origem da construção do Estádio Bruno Daniel e a razão de o Estádio Bruno Daniel existir foram e têm-se mantido porque o futebol profissional da cidade é representado pelo Santo André.  

A identidade jurídica que acrescentaria Sociedade Anônima e excluiria Esporte Clube é o que menos interessaria, segundo avaliação do especialista. 

A continuidade da agremiação e, mais que isso, a possibilidade de vir a ser potencializada na hierarquia do futebol brasileiro, seriam sinalizações claras de ganhos de marketing para a cidade.  

MELHOR IMAGEM  

O Esporte Clube Santo André já fez o suficiente para colocar Santo André entre os endereços municipais mais conhecidos do País, dada a força popular do futebol.  

Sem o Santo André, Santo André não teria reconhecimento nacional e tampouco, internamente, seria espécie de patrimônio cultural da região.  

Santo André não é um nome estranho a qualquer caminhoneiro que percorra o território nacional. Muito menos a profissionais de tantas outras atividades. 

Entre os mais de seis mil municípios brasileiros, mais de 600 do Estado de São Paulo, Santo André é visto como destaque exatamente por conta da popularidade do futebol.  

Qual é o valor sentimental e institucional de uma marca que, numa noite como a de ontem, enfrentou o São Paulo no Morumbi?  

IMAGEM POSITIVA  

Não existe praticamente nada em Santo André fora o futebol do Santo André que torne o Município reconhecidamente importante.  

Um contraponto de más lembranças e marketing negativo é o Caso Celso Daniel, da área político-administrativa, levado à imaginação popular pelo perfil de violência e drama que o caracteriza.  

O Santo André da Copa do Brasil vitoriosa em 2004 diante de um Flamengo no Maracanã é a consagração maior do futebol da região. Lembrada sempre nas programações esportivas, a conquista do Santo André é uma das maiores façanhas da história do futebol nacional.  

No mundo do futebol empresarial muitos vetores fazem a diferença na hora de investidores decidirem onde colocarão recursos em forma de clube-empresa administrado em moldes corporativos.  

E a imagem do Santo André é considerada peso bastante importante entre dezenas de quesitos analisados com cuidado extremo. Não se trata, entretanto, de algo que possa ser monetizado no negócio do futebol. Faz parte de avaliações objetivas e subjetivas.  

Como se acredita que há encaixe de créditos a serem considerados pelos investidores tanto no controle de passivos financeiros como na história da equipe de futebol, restaria o encaminhamento de negócio o modelo que será adotado à concessão do Estádio Bruno Daniel. 

COMISSÃO ESPECIAL  

Uma comissão especial já foi nomeada pelo secretário de Desenvolvimento Estratégico da Prefeitura, José Police Neto. Acredita-se que os estudos vão ser levados adiante de maneira que favoreça a confluência em direção à consolidação do interesse dos investidores conectados com a lógica natural de que pretendem o melhor para a agremiação. Futebol não é brincadeira infantil. Capital requer valorização dos recursos aplicados.  

Possivelmente não haveria mais nenhum quesito na pauta de negociações. Mas surgiu uma pedra no meio do caminho. O noticiário dando conta do surgimento de uma nova agremiação de futebol em Santo André, o Santo André Futebol Clube, pode colocar água no chope da modernização do Esporte Clube Santo André em forma de Sociedade Anônima do Futebol.  

A agremiação que se pretende homônima do Esporte Clube Santo André poderá enfrentar barreiras legais para consumar a denominação. Representantes da consultoria que busca viabilizar a transformação do Santo André em SAF dão indicações de que eventuais interessados nas ações patrimoniais da agremiação poderão recuar. Já houve, inclusive, questionamentos a respeito. 

MARCA COMPROMETIDA  

A consultoria especializada mantém a confidencialidade do negócio. Chega-se a especular que há um grupo interessado no Esporte Clube Santo André, mas dá indícios de que as negociações que poderiam ser encaminhadas nos próximos tempos de forma efetiva poderão ser suspensas.  

Não se admite, segundo informações, que o Santo André tenha a grandeza da denominação histórica abalroada por um grupo distinto que adotaria a mesma marca, alterando-se apenas o complemento, de Esporte Clube inicial para Futebol Clube complementar.  

Tudo já seria bastante conflitivo, segundo a consultoria especializada, mas se tornou ainda pior quando possíveis investidores foram informados de que Santo André Futebol Clube foi a denominação oficial do Santo André, fundado em 1967.  

A troca de marca, na metade dos anos 1970, derivou de débitos fiscais e trabalhistas que afastaram temporariamente o interesse do empresário Acyr de Souza Lopes em assumir a agremiação.  

PASSADO E PRESENTE  

O Santo André Futebol Clube fundado nas instalações antigas do Tiro de Guerra, na área da Estação Ferroviária, virou Esporte Clube Santo André sob a presidência do empresário Acyr de Sousa Lopes.  

Entretanto, a mudança foi inócua: a agremiação sob nova denominação foi dada juridicamente como sucessora da inicial e como tal teve de assumir todas as dívidas.  

Ainda não se tem notícia de que a consultoria especializada já manteve contato com a direção do Esporte Clube Santo André para repassar a preocupação dos investidores com a concorrência nominativa.  

Oficialmente, segundo dirigentes do Santo André, nada que envolva a mudança para SAF foi tratado até agora. A concentração da diretoria executiva converge para a disputa da Série A-1 do Campeonato Paulista. E também no levantamento de documentações relativas à saúde financeira da agremiação. 

NEGÓCIO COMPROMETIDO  

Sabe-se, junto à consultoria especializada, que não se aceitaria de forma alguma a sobreposição da marca do Santo André Sociedade Anônima por uma ação de homonímia considerada oportunista, que visaria a confundir o mercado de futebol.  

Há indicativos preliminares de que o Santo André Futebol Clube pretendido por um grupo de investidores concentrados nas atividades de futebol de salão seria barrado do baile por ação legal ligada à propriedade de marcas e patentes.  

Oficialmente a direção do Esporte Clube Santo André não se manifesta sobre o Santo André Futebol Clube. E também ainda não teria sido informada pela consultoria especializada sobre os eventuais danos nas negociações por conta do problema.  

Ainda não tem se tem informações de eventuais grupos interessados nas ações do Esporte Clube Santo André após a transformação em Santo André Sociedade Limitada, como preconiza a nova legislação federal.  

OFERTA DEMAIS  

Há indicativos de que as perspectivas já foram melhores, nas semanas seguintes à aprovação pelo Congresso Nacional. Agora já existe mais oferta de clubes interessados em mudanças de personalidades jurídicas do que investidores decididamente convencidos de que se trata de uma grande oportunidade de negócio.  

A situação de descompasso entre oferta e procura deverá gerar dois filhotes de complicações aos clubes associativos interessados em virarem clubes empresariais.  

Primeiro, os valores das transações tendem a ser reduzidos drasticamente. Segundo, exacerbam-se as exigências dos investidores quanto ao conjunto de quesitos prioritários para que não se compre gato de problemas por lebre de objetividade.

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