Diário: Plano Real que
durou nove meses (21)
DANIEL LIMA - 03/10/2024
Acrescentamos hoje três edições da newsletters OmbudsmanDiário a esta série que trata do Plano Real Editorial do Diário do Grande ABC, preparado e executado durante nove meses por este jornalista, entre 2004 e 2005. Esse é um material continuamente histórico. Tratamos de questões que ainda são pauta obrigatória da sociedade desorganizada e servil da região.
Não custa ressaltar, novamente, que estamos recuperando, ainda, o período que antecedeu a minha posse no jornal. Um período em que atuei como primeiro e único ombudsman da publicação mais tradicional da região. Uma experiência repetida na segunda década deste século.
Na edição de número 20 da newsletters, de 30 de junho de 2004, continuava a mesclar atuação em duas frentes: analisava diariamente o produto que ia aos assinantes e consumidores em geral e reproduzia gradualmente as propostas do Planejamento Editorial Estratégico, entregue havia dois meses aos acionistas e diretores do jornal.
Sempre é bom lembrar que o Planejamento Editorial Estratégico foi preparado num fim de semana em que me mandei para o Interior do Estado, isolando-me de tudo e de todos. Escrevi quase 100 mil caracteres, que correspondem a 10 páginas inteiras de jornal.
Delineei o Diário do Grande ABC do futuro com base no passado (então presente) de sucesso editorial da revista LivreMercado. Criei do nada e sem nada aquela publicação em março de 1990. LivreMercado se converteu no melhor produto editorial regional do País.
O Diário do Grande ABC estava a léguas de distância do padrão de LivreMercado. Daí ter estipulado o período mínimo de cinco anos para alcançar algo semelhante em princípios éticos e fundamentos técnicos.
Na edição de OmbudsmanDiário de 30 de junho de 2004 tratei de multifuncionalidade. Já a edição de número 21 estava imperdível. Em 30 de junho de 2004 vivíamos um Grande ABC efervescente. Particularmente Santo André, eufórica com a decisão da Copa do Brasil entre o Ramalhão e o Flamengo, programada para aquela noite no Maracanã.
Na em 1º de junho de 2004 reproduzi na edição número 22 de OmbudsmanDiário, o item relativo à parceria projetada entre Diário do Grande ABC e a Editora LivreMercado.
EDIÇÃO NÚMERO 20
A especialização é parente muito próximo da multifuncionalidade. Sem especialistas não se alcança a diversidade funcional. Com vagar, é mais que possível, é certo, que um profissional de jornalismo absorva várias atribuições que o convencionalismo editorial subdivide entre vários colaboradores. As diversas fases que caracterizam a linha de montagem editorial podem ser compactadas com evidentes vantagens de tempo e recursos financeiros. Um mesmo jornalista pode desempenhar funções de pauteiro, repórter, redator, editor, titulista e legendista. E não se observe esse encadeamento como algo tecnicamente inconciliável. Trata-se de gestão compulsória de atributos pessoais. Basta querer. É assim que iniciamos uma revolução na Editora Livre Mercado, onde metade da equipe editorial é formada de jovens ainda inexperientes.
Destacamos esse caráter de juventude que caracteriza parte dos quadros editoriais da Editora Livre Mercado para que não se avoque a impossibilidade de combinar revolução e inexperiência. Os resultados não são semelhantes entre os dois grupos de profissionais. Os jornalistas com maior experiência e que tiveram de adequar-se ao novo modelo, vindos todos do arcaísmo de uma hierarquia atávica, compreenderam a importância de se tornarem donos de cada produto que têm na mão -- sim, a eles entregamos a responsabilidade e o prazer de extraírem o máximo de insumos. Quem redige a matéria tem mais facilidades para escolher a foto, sacar um título, optar pela melhor legenda, redigir o texto de chamada de primeira página, coisas assim. Ao editor compete, entre outras tarefas, a homogeneização da linguagem que, por sua vez, é uma das frondosas ramificações da mesma árvore editorial. A isso se dá o nome de personalidade editorial.
A introdução do sistema de multifuncionalidade conjugada com especialização poderá causar certo impacto no início, mas a mensagem que será passada aos profissionais permitirá amortecer eventuais desconfortos. Primeiro porque poucos resistirão à tentação de apropriarem-se de cabo a rabo dos produtos sob sua responsabilidade. Segundo porque a perspectiva favorecerá o enriquecimento técnico. Terceiro porque estará firme no horizonte a oportunidade de a racionalidade associada à qualidade gerar maiores rendimentos salariais porque os mais apetrechados acabarão por galgar os melhores postos. É impressionante como os profissionais que se motivam com a multifuncionalidade -- e a motivação é praticamente compulsória -- acabam por se preocupar muito mais com o conjunto da obra. Sim, porque eles passam a entender uma das leis soberanas do jornalismo: se a matéria é confusa, o título se torna um tormento e a legenda um desafio.
Não conseguimos enxergar uma redação que não tenha vocação a multiplicar funções. Estamos reproduzindo no campo editorial uma realidade prática do mundo da indústria de transformação. Mais e mais os chãos de fábrica patrocinam cases de engenhosidade funcional. Os núcleos de produção estão sendo ocupados cada vez mais por profissionais doutrinados a exercerem funções correlatas múltiplas. Vivemos tempos ultramodernos em que o conhecimento teórico aliado à funcionalidade prática faz a diferença.
Estabelecer limites fossilizados aos profissionais de comunicação é o caminho mais curto ao desperdício. Quando se descobre capaz de pautar, redigir, corrigir, titular e legendar, não há jornalista que não estufe o peito da autoestima. Que prazer tem um profissional, se de autocrítica dispor, em simplesmente executar uma dessas tarefas? O mais interessante é que multitarefas se revestem de tanta sinergia individual e coletiva que acabam por agilizar o amadurecimento dos profissionais. Queimam-se etapas. Profissionais mais antigos e que não passaram pela experiência simplesmente acusam as dores do despreparo. Há profusão de casos de bons redatores péssimos titulistas, bons pauteiros péssimos redatores, bons editores e péssimos pauteiros.
EDIÇÃO NÚMERO 21
Hoje é dia de decisão da Copa do Brasil. Confesso que estou com o coração na mão. Estou preparado para uma derrota, para um empate desclassificador, mas também estou ansioso por comemorar um grande feito. Nem mesmo esse dia especialmente diferente nos retirou da missão de ombudsman, nós que estamos na terceira semana dessa jornada. Dou maior ênfase ao caso Celso Daniel, mas também trato de outros assuntos. Todos referentes à edição de hoje.
PRIMEIRA PÁGINA
Bastante enriquecida com chamadas abundantes da região e com esperado destaque à decisão entre Santo André e Flamengo.
CASO CELSO DANIEL
Nosso jornal foi o que melhor cobriu o julgamento de ontem no Tribunal de Justiça de São Paulo. Por vários motivos. A começar do título ("TJ adia pedido de prisão de vereador de Santo André"), muito mais preciso e equilibrado que o do Estadão ("TJ decreta prisão de Klinger e Ronan") e da Folha de S. Paulo ("TJ decreta prisão preventiva de vereador e 5 empresários"). É verdade que faltou um box com a cronologia sintetizada do caso, como o Estadão e a Folha apresentaram, mas nosso jornal foi mais substancioso nas informações. Deixou a superfície do julgamento em si e ouviu inclusive o advogado de defesa.
Está mais que comprovado que o Estadão definitivamente perdeu a compostura jornalística nesse caso, porque não lhe interessa, jamais, apresentar noticiário que conflite com a unilateralidade do Ministério Público Estadual instalado em Santo André. E o que significa essa unilateralidade? Que todos aqueles que procuram responsabilizar os denunciados como mandantes do assassinato do prefeito Celso Daniel devam merecer o máximo de atenção e espaço. E, inversamente, todos aqueles que se apresentarem como contraponto a essa ditadura da versão única, ou versão seletiva, devam ser excluídos do rol de entrevistados.
A Folha de S. Paulo, por outro lado, mesmo sem apresentar postura constantemente justa, tem-se mantido, principalmente nos últimos tempos, muito mais próxima do que se poderia chamar de democracia da informação. Nosso jornal, que errou muito ao longo desse caso, manipulado por interesses diversos, preso aos promotores públicos, entregue à sanha de vínculos pouco nobres entre alguns de seus integrantes e fontes suspeitas, parece que começa a recuperar o terreno. Mas ainda há muito o que melhorar. Como, por exemplo, principalmente agora, ir a fundo no julgamento do caso que está no Supremo Tribunal Federal e cujo resultado decidirá, inclusive, a sorte de Sérgio Gomes da Silva e dos envolvidos nas denúncias de supostas propinas.
Se o jornal quiser fazer grande matéria, disponho de uma fita em que um dos promotores do Gaerco comete, a meu ver, um deslize monumental, numa entrevista recentemente dada a uma emissora de rádio. Trata-se de algo condenável quando se coloca a função de promotor de Justiça livre de deduções e pressupostos. Será que o jornal tem coragem para, de posse desse material, questionar o promotor em questão? Sem contar que o caso José Cicote também não pode cair na vala comum do esquecimento, depois de o jornal torná-lo público.
COPA DO BRASIL (I)
O jornal deu show de cobertura hoje sobre a final da Copa do Brasil entre Santo André e Flamengo. Está bem acentuado pelo comparativo com Estadão e Folha que devemos valorizar nossas potencialidades culturais, porque aquelas publicações, na maioria dos casos, só se preocupam mesmo com nossas eventuais mazelas, dando-lhes amplo destaque.
COPA DO BRASIL (II)
Juro que estou esperando que a edição de amanhã, independentemente do resultado, consiga levar aos leitores o comportamento da TV Globo na transmissão do jogo. O ideal é que alguém enfronhado na área esportiva, que saiba o que é uma bola de futebol, analise a transmissão do espetáculo pela principal emissora de TV do País. Sugeri na semana passada que se destacasse um jornalista de Cultura & Lazer e mantenho a proposta -- desde que o escalado saiba o que é um jogo de futebol. Afinal, as nuances vão muito além do que imaginam os poucos afeitos aos negócios e negociatas do futebol.
COPA DO BRASIL (II)
Nada impede que também sejam ouvidos torcedores do Santo André que acompanharão o jogo em bares e restaurantes. O ambiente desses espaços coletivos é sempre instigante à informação diferenciada. Traduzir a reação de torcedores durante os 90 minutos, em detalhes, seria apetitoso desdobramento do jogo.
COPA DO BRASIL (III)
O memorialista Ademir Medici, preciosidade que o jornal precisa realçar mais, inclusive com chamadas de primeira página, poderia ter tido a coluna transferida para as páginas de esportes nestes dias em que o Santo André é o grande assunto regional. Ademir tem informado diariamente sobre aspectos históricos do Santo André. Lembro que na última Copa do Mundo a Folha de São Paulo levou seus principais colunistas para o caderno de esportes. O jornal precisa se preparar para quebrar paradigmas. Há situações que exigem remelexo espacial. Ademir é profissional de alto nível, mas excessivamente discreto. Para azar da companhia.
LEGISLATIVO ENXUTO
A Folha de S. Paulo foi o único jornal que fez reparo, mesmo assim residual, à notícia de que o Senado manteve o corte de 8.528 vereadores sem que isso represente, necessariamente, corte nas despesas. Regionalizamos corretamente o assunto, com a perda de 30 vereadores, mas mais uma vez não conseguimos fugir da superficialidade. Há dados consolidados no site do Instituto de Estudos Metropolitanos sobre gastos dos legislativos de mais de meia centena dos principais municípios paulistas, cujos valores permitem série de avaliações. É impressionante como o jornal perde oportunidades ímpares para marcar gol de placa.
LEGISLATIVO DEMAIS
A cobertura de decisões das Câmaras de Vereadores precisa ser remanejada em termos de abordagem, retirando-lhe o foco essencialmente legislativo. Um exemplo está na página 2 do caderno Política Grande ABC de hoje, sob o título "Câmara de Diadema aprova programa de recuperação fiscal". Sob o enfoque que sugiro, o título deveria seguir mais ou menos a seguinte linha: "30 mil inadimplentes de Diadema podem parcelar dívidas". Afinal, é isso que está explícito no segundo parágrafo da matéria. Não é fácil acabar com cultura de décadas de submissão à pauta legislativa, mas é preciso começar. O enfoque econômico-administrativo permitiria profundidade e se tornaria muito mais interessante e didático aos leitores.
SAÚDE EM MAUÁ
Está boa a cobertura sobre o caso de saúde em Mauá que matou três pessoas. O jornal soube valorizar o tema, inclusive com matéria de fundo sobre a preocupação da comunidade local.
PRIMEIRO PLANO (I)
Mais uma vez o Primeiro Plano foge da linha ao publicar algo tipicamente noticioso, sobre o ritmo das eleições na Fiesp, num espaço que deveria ser de notas informativas e, se possível, quentes.
PRIMEIRO PLANO (II)
Mereceria muito mais que uma notinha de Primeiro Plano a informação sobre acordo entre o presidente do BNDES e o deputado federal Vicentinho Paulo da Silva para implementação da Universidade do Empreendedor. Exceto se foi de última hora -- e, portanto, inviável à tradução mais detalhada --, não há justificativa para o erro. Se de fato houve esse acordo, o jornal precisa correr atrás da informação, dar-lhe consistência e abrir manchete. Aparentemente, com muito menos munição (até agora não provada) o jornal deu recentemente um destaque impressionante a suposto investimento alemão em São Bernardo, fruto de suposta diplomacia empresarial do mesmo deputado federal.
TRANSPORTE PÚBLICO
Convém Setecidades ficar atenta ao noticiário sobre o bilhete único implantado em São Paulo pelo governo de Marta Suplicy. Por que não se discute algo semelhante na região? Temos território muito menor que o da Capital e quem se desloca entre os municípios locais sofre com o desencaixe de recursos financeiros, o que ajuda a elevar o chamado Custo ABC. Como está essa questão no Consórcio de Prefeitos? O bilhete único municipal pretendido por Santo André é apenas parte de um problema muito maior a ser resolvido: o bilhete único regional. Isso mesmo -- bilhete único regional. Ou será que a tal de integração regional só serve mesmo para distribuir bônus eleitorais da divisão da Universidade Federal em vários campi no Grande ABC? Há especialistas no assunto que poderiam falar sobre o assunto.
SENHORA DO DESTINO
Ao dar destaque à nova novela das nove da Globo, com texto crítico de Patrícia Vilani, espero que o jornal não se esqueça de, ao final de mais um folhetim, acompanhar o desenlace igualmente com análise de peso. O Brasil parou na última sexta-feira para ver quem matou Lineu e, como se sabe, os assinantes e leitores do jornal ficaram a ver navios nas edições seguintes.
ELEIÇÕES NA FIESP
O jornal Valor Econômico publicou matéria competente sobre as eleições na Fiesp. Com interpretação serena, correta. Um estilo que nosso jornal ainda, infelizmente, demorará muito para alcançar como um todo, como uma marca. Mas nada que não seja possível com trabalho, com união e dedicação.
EDIÇÃO NÚMERO 22
As relações corporativas entre Editora Livre Mercado e Diário do Grande ABC vão depender também de áreas além do setor de insumos, mas no que estiver sob nosso gerenciamento não há dúvidas de que prevalecerão medidas cooperativas para racionalizar custos e implementar receitas. O Prêmio Desempenho, realizado há 10 anos pela Editora Livre Mercado e poucas vezes tratado como produto da companhia Diário do Grande ABC, será pela primeira vez compartilhado dentro dos limites redacionais que esperamos frutíferos. Para isso, entretanto, teremos de fazer série de adaptações para corrigir posicionamentos do jornal.
Vamos a um exemplo prático e insofismável: raramente, muito raramente, e mesmo assim sem o conhecimento necessário na formulação dos cases, o Diário do Grande ABC publica reportagens que contam histórias de sucesso de nossos empreendedores privados, governamentais e não-governamentais, marca registrada do Prêmio Desempenho. Prefere o jornal flutuar na superficialidade de noticiário do dia-a-dia, alguns importantes, outros apenas para preenchimento do espaço. Essa deformação é uma das sequelas da escravizante teoria e prática de o jornal pretender competir com os grandes veículos da Capital sem, entretanto, contar com meios materiais e humanos para tanto. Por isso é relevante que o jornal tenha vocação e vontade editorial para acrescentar a livre iniciativa regional -- sobretudo de pequeno e médio porte -- em seu portfólio de publicações. Não fosse a Editora Livre Mercado -- e isso é comprovável com simples ida aos arquivos --, os empreendimentos privados e mesmo os programas públicos e não-governamentais consagrados pelo Prêmio Desempenho seriam desconhecidos do público.
Não é preciso ir longe para pinçar alguns exemplos clássicos de que o Prêmio Desempenho, extensão da linha editorial de LivreMercado, firmou compromisso de reconhecimento dos cases de sucesso na região. Basta ver quantas vezes a Coop, a Bridgestone Firestone e tantas outras empresas regionais tiveram atuações destacadas além do noticiário convencional. Nossa aproximação com a Bridgestone Firestone em 1999 se deveu a um case que escrevemos depois de entrevista com o presidente Mark Emkes, hoje dirigente máximo da companhia nas três Américas. A Reportagem de Capa -- "A Lista de Emkes" -- foi um sucesso extraordinário, entre outras razões, porque contamos como aquele norte-americano manteve a fábrica de capital japonês no território de Santo André. Ele conseguiu iniciar a injeção de mais de US$ 200 milhões de investimentos em contraposição à sedutora guerra fiscal que pretendia levar a indústria para outro município brasileiro, fértil em isenção de impostos. Mark Emkes acabou eleito Empresário do Ano da Acisa, o case ganhou o título de Melhor dos Melhores do Prêmio Desempenho e o Legislativo de Santo André conferiu-lhe o título de Cidadão Andreense. Tudo depois daquela Reportagem de Capa.
As relações históricas do Diário do Grande ABC com a iniciativa privada no formato proposto e executado pelo Prêmio Desempenho jamais se efetivaram. De fato, o jornal é mais conhecido dessas e de tantas outras empresas apenas pela publicação nos cadernos de classificados de empregos -- muito mais no passado do que no presente, é claro. Esse descompromisso editorial precisa ser reparado com certa urgência, já que o Projeto Diário50Anos depende também da sensibilidade editorial da companhia. Quando os insumos desprezam o território do qual o jornal vive economicamente, optando pelo descarado Complexo de Gata Borralheira de considerar 20 novas mortes no Irã mais importantes que os investimentos de uma metalúrgica de Diadema, o tamanho do rombo de inter-relacionamentos editoriais e comerciais é maior do que se imagina.
Percebe-se, portanto, que há um vácuo dividindo o jornal e a classe empresarial. Foram na realidade poucos os momentos na história do Diário do Grande ABC em que as empresas locais lhe interessavam como nutriente editorial. Lembro que ao assumir a redação do jornal em 1983, quando cuidei pessoalmente da tropa nos aspectos operacionais, sem poder de decisão para implementar estratégias mais profundas, encontramos uma Editoria de Economia com apenas dois profissionais. Quando deixamos o cargo, dois anos depois, tínhamos oito profissionais e confesso, mesmo assim, naquela oportunidade, ainda não foi possível transmitir a importância de um jornalismo econômico regional. Viemos a empreender essa proposta em 1990, quando criamos LivreMercado e ainda estamos amadurecendo o projeto, porque há sempre inovações a ser aplicadas.
Temos muito o que construir na Editoria de Economia do Diário do Grande ABC, para onde haveremos de concentrar não só esforço de descoberta desse filão há muito identificado com a revista do grupo como também da própria dinâmica de recuperação da economia regional mais fortemente abalada pelos sucessivos planos econômicos que nos tiraram parte da riqueza industrial e do potencial de consumo. Quem acompanha diariamente as páginas do jornal sabe o quanto essa editoria está alquebrada. A Economia do Grande ABC praticamente inexiste no Diário do Grande ABC, e quando aparece, se transforma num terror de imprecisões e manipulações de fontes suspeitíssimas. O pesquisador João Batista Pamplona, durante três anos porta-voz da Agência de Desenvolvimento Econômico, foi demitido por causa dos constantes desmascaramentos estatísticos e interpretativos aos quais o submetemos. Durante todo aquele período ele -- e outros pesquisadores menos ostensivamente deletérios nas informações -- se tornou verdadeiro ídolo dos jornalistas do jornal. Incapazes de compreender as nuances econômicas locais, entregues às baratas de uma hierarquia interna mambembe que simplesmente joga a editoria às traças, e embalados pela cegueira de um triunfalismo pouco lúcido, os responsáveis pela Economia do Diário do Grande ABC cometeram as maiores sandices informativas -- documentadas especialmente no livro "República Republiqueta", que lancei em 1º de abril de 2003 em homenagem sarcástica a todos aqueles que usam a mídia para interesses muitas vezes inconfessos e outras vezes por pura falta de competência.
É por essas e outras razões que convém assinalar neste documento que consideramos improrrogável uma aliança estratégica e operacional entre os membros da redação da revista e do jornal -- sempre com cuidados iniciais para que não se gere melindres. Poderemos maximizar a carga horária dos profissionais, bem como as próprias coberturas. Um simpósio que se realize dentro ou fora do território regional e cujo temário é de fundamental importância para a concepção editorial do jornal e da revista -- no caso as questões metropolitanas -- poderá ter a cobertura de um jornalista da revista, mais enfronhado no assunto. A diferença entre o padrão de cobertura atual e o novo é que o Diário não dá importância ao tema, embora seja o veículo mais importante da Região Metropolitana depois dos diários sediados na Capital. A revista cobrirá o acontecimento, dando-lhe formato de texto adequado de revista, mas o repórter também ocupará espaços nos dias do evento com a descrição da série de debates. Aos poucos incorporaremos aos quadros de Economia do Diário do Grande ABC os preceitos de coberturas regionais, com ênfase nos cases que serão levados ao Prêmio Desempenho, as nuances das ações e inações das secretarias municipais de Desenvolvimento Econômico, ao imbróglio das Regiões Metropolitanas, principalmente da Grande São Paulo, e também aos pequenos negócios que eventualmente não estejam preparados para galgar o Prêmio Desempenho mas que tanto carecem de visibilidade -- como fazemos hoje na revista. Enfim, repassaremos ao jornal a cota da cara econômica que tanta falta lhe faz inclusive com objetivos comerciais decorrentes da sinergia ética entre os departamentos de redação e comercial.
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