Economia

Ainda faltam 82 fábricas da
Toyota de empregos na região

  DANIEL LIMA - 03/10/2023

O governo Lula da Silva gerou 12.547 mil empregos com carteira assinada na região em oito meses de mandato. Mas ainda precisa de o equivalente numérico a 82 fábricas da Toyota (45.266) para zerar o déficit de Dilma Rousseff e o estrondoso estrago dos anos 2015-2016. A conta foi reduzida em 37.183 empregos formais durante os quatro anos de Jair Bolsonaro. 

Se você não entendeu, vamos repetir: ainda temos no mercado de trabalho da região, só contando os dois anos tenebrosos de Dilma Rousseff, os últimos dois anos, um déficit de 82 fábricas de empregos da Toyota de São Bernardo. 

Pelo andar da carruagem de recuperação média mensal de empregos em todos os setores, ainda serão necessários 29 meses para zerar a conta. Ou seja: somente em Tjaneiro do último ano do terceiro mandato de Lula da Silva iriamos zerar o que Dilma Rousseff jogou no lixo. 

SEM COMEMORAÇÃO  

Por essas e outras não se deve comemorar com ares de triunfalismo o resultado parcial do governo Lula da Silva. Como não se deve comemorar os quatro anos de mandato do antecessor, Jair Bolsonaro.  

Mesmo com a perda de 48 mil postos formais de trabalho em 2020, por causa do Coronavírus, a região sob o comando de Bolsonaro registrou saldo de 37.183 carteiras assinada, que corresponde a 68 fábricas iguaizinhas a da Toyota, que desfalcou o universo de empregos em São Bernardo. Foram destruídas 550 carteiras assinadas.  

Tudo isso quer dizer que Dilma Rousseff provocou dano mensurável de 172 fábricas de empregos da Toyota na região. Alguns malabaristas colocam a culpa em terceiros.  

NÃO PARA OS FANÁTICOS  

A fábrica da Toyota foi embora porque, entre outros pontos, a região como um todo perdeu competitividade no mundo automotivo. Já a Toyota fabricava peças em São Bernardo. Os quase 100 mil empregos destruídos por Dilma Rousseff são bombas de Dilma Rousseff. Houve estreita colaboração do antecessor, Lula da Silva, que deixou um rastro de gastanças que se acentuaram e se agravaram com a sucessora. Qualquer criancinha sabe disso. Os fanáticos não.   

Quem perder conexão com a realidade histórica da região jamais vai entender que não será um saldo gordo aqui, outro saldo gordo ali, como ocorreu em agosto, que afrouxaria preocupação com o futuro. O déficit que persiste, e que chega a 45.266 vagas quando se conta entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016, é desafiador.  

Basta fazer as contas para entender que o entusiasmo de manchetes sem restrições à linha do tempo é um comportamento com potencial de levar a decisões precipitadas, como se o ABC Paulista já houvesse se afastado de todo e qualquer ônus do desastre dilmista.  

MUITO DISTANTE  

A região está muito distante disso. Tão distante que, quando se pega o primeiro de janeiro de 2015 e se estende a janeiro de 2026, quando supostamente o governo Lula da Silva teria zerado o estrago, teria passado mais de uma década à recuperação da quantidade de carteiras assinadas na região. E mesmo assim sem a qualidade de remuneração, que dificilmente contará com a mesma parcela de trabalhadores industriais expelidos das empresas. Foram mais de 50 mil entre os 94.996 deserdados de Dilma Rousseff. 

Não será nesta análise que vamos municipalizar os resultados desta temporada. Os números publicados e os consequentes métodos utilizados por marqueteiros das administrações municipais nem sempre correspondem às manchetes. Há permanente preocupação em destacar a quantidade de empregos gerados sem levar em conta um fator essencial: o estoque anterior. 

SALDO VERSUS ESTOQUE  

Quem gera mais empregos não necessariamente tem o melhor desempenho. Tudo depende do que era antes e mais precisamente do tamanho do mercado de trabalho local. O que vale mais mesmo é o índice de contratações, gerado pela divisão de novos empregos pelo total de empregos até então. 

Um exemplo? São Paulo vai gerar sempre e sempre mais emprego que São Bernardo ou que qualquer Município da região, mas é pouco provável, como tem ocorrido ao longo dos anos, que alcance crescimento relativo superior quando confrontado com o estoque anterior.  

Disso trataremos em outra oportunidade. O que mais interessa mesmo e que deveria ser pauta obrigatória de instâncias locais seria uma análise profunda do comportamento histórico do emprego formal na região. Sobretudo do emprego industrial, que definha a cada ano. Tanto definha que Santo André, outrora Viveiro Industrial, conta com apenas 13% de participação relativa do emprego industrial no conjunto de empregados formais.  

EMPREGO INDUSTRIAL  

Todos sabem que emprego industrial tem remuneração pelo menos 30% mais alta que a média dos demais e que gera muito mais valor agregado. A indústria ainda é propulsora de Desenvolvimento Econômico. Até porque o setor de serviços na região é pobre no encadeamento de riquezas.  

Qualquer Município da região que, mesmo levando-se em conta o saldo dividido pelo estoque, apresenta dados positivos, deveria se preocupar com o andamento do jogo.  

Temos repetido em várias situações uma equação que simboliza essa inquietação. Se o crescimento do emprego formal na região estiver muito abaixo do que se registra nos principais municípios paulistas, por exemplo, é sinal de que a roda continua quadrada em termos de futuro. E é o que está ocorrendo.  

CAMPINAS MELHOR  

Em junho deste ano mostramos que Campinas, sozinha, produziu mais empregos que o ABC Paulista inteiro até maio deste ano sob o governo Lula da Silva. Foram precisamente 1.281 carteiras assinadas acima das alcançadas na região.  

As até então 5.622 novas ocupações de empregos formais nos sete municípios da região representaram apenas 0,75% de elevação do estoque registrado em dezembro do ano passado. Em Campinas, as então novas 6.903 carteiras de trabalho adicionais significaram crescimento de 1,74%. Ou seja, mais que o dobro.  

Outros integrantes do G-22, o Clube dos Maiores Municípios Paulista, tiveram rendimento semelhante. Uma atualização dos dados provavelmente repetirá a situação. Ou seja: o ABC Paulista corre numa raia menos competitiva do que os principais concorrentes paulistas.  

O jornal Repórter Diário publica reportagem hoje sobre o emprego formal na região e lembra que os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, mostram o saldo positivo da região e aponta que as 4.217 vagas preenchidas correspondem a 1,70% do estoque.  

O montante significa que o crescimento é inferior ao registrado no mesmo período no último ano de mandato de Jair Bolsonaro, quando registrava 3,70%.  O Repórter Diário tem mantido essa toada editorial de contextualizar as vagas geradas e os respectivos estoques.  

TEMPO É PRECIOSO  

O jornal entrevistou o gestor do curso de economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Volney Golveia, um otimista incorrigível. Disse o professor que questões macroeconômicas ainda afetam a geração de emprego e freiam as contratações. “O país ainda está preso nesse cenário de crise econômica, com juros altos e o programa Desenrola ainda está no início, e esses fatores atrapalham o desempenho da economia. Se olharmos os números acumulados dos últimos 12 meses, percebemos uma tendência de recuperação gradativa, principalmente do setor de serviços, que é muito presente na nossa região. Eu avalio que estamos em um ciclo saudável”, disse o entrevistado. 

Só o futuro vai dar a resposta. E a resposta não tem a simplificação de números positivos como os até agora registrados nos oito meses de Lula da Silva. O ABC Paulista precisa dar um salto para trás para encetar um avanço no futuro. Dar um salto para trás significa não esquecer os fracassos que afetam o presente. E o avanço rumo ao futuro necessariamente deve apagar o déficit do passado. Simples assim.  

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