Sociedade

Caso Saul Klein: documentário
do UOL estupra contraditório

  DANIEL LIMA - 05/09/2022

Depois de cinco meses de tentativas reparatórias frustradas decidi levar aos leitores a fraude em forma de documentário que o UOL preparou sobre o Caso Saul Klein. Trata-se de um estupro informativo praticado pelo portal ligado ao Grupo Folha. Sou vítima provada e comprovada. Diferentemente, portanto, até prova em contrário, de tudo que originou o Caso Saul Klein.  

Quer uma tradução sólida de tudo isso? Quer mesmo? Então vamos lá: 

Enquanto a integridade das informações da entrevista que concedi ao UOL está demarcada por gravação à disposição inclusive de autoridades policiais e ministeriais, o escândalo envolvendo o empresário não passa de fake news porque desprovido exatamente do que tenho em abundância: materialidade do crime, nesse caso praticado pelo UOL.  

TUDO SEM PROVAS  

Uma entrevista de 80 minutos que concedi em novembro do ano passado, introduzida no produto de audiovisual (lançado em março deste ano) acrescenta camada de impropriedades ao assassinato social que vitimou o namorador de Alphaville, acusado de molestar e incomodar mais de uma dezena de mulheres. Tudo sem qualquer prova material até estas alturas do campeonato, quase dois anos depois da ofensiva iniciada exatamente pelo UOL.  

Por ironia do destino, Saul Klein foi imolado por três mulheres no altar da mídia compulsivamente adepta de carnificina moral. Uma promotora criminal (Gabriela Manssur, agora candidata a deputada), uma cafetina juramentada (Marta Gomes da Silva) e Ana Paula Banana, comprovadamente desequilibrada mental e agente da cafetina nas residências de Saul Klein. 

Tanto Marta Gomes como Ana Paula Banana, mulheres, foram e continuam a ser sistematicamente poupadas pela mídia. A ordem unida é metralhar a família Klein.   

MULHERES POUPADAS  

As mulheres que adoravam controlar outras mulheres encaminhadas como companhias a muitos homens, além de Saul Klein, foram poupadas o tempo todo pela honra supostamente ultrajada de feministas de plantão. Muitas talvez não se deem conta de que vão além da linha de fundo à identificação de situações de gênero quando decidem carimbar vilões e vítimas.  

Até agora, o que se tem de fato é que tudo estatelou-se na contramão do Judiciário e da Delegacia de Mulheres de Barueri, instâncias que reconhecem participação ativa de Marta Gomes e Ana Banana nas relações denunciadas pelo MP num inquérito de mão única, tão frágil quanto uma gota de orvalho, e exclusivamente direcionado a Saul Klein. 

PROVAS PARA QUÊ 

O Caso Saul Klein já é conhecido o suficiente para provar que o sensacionalismo da mídia, especialmente da Velha Imprensa (e os braços digitais que detém) não é um ponto fora da curva do jornalismo brasileiro.  Mais que isso: é a própria curva de baixa responsabilidade.   

Mais ainda quando militantes feministas, também justiceiras feministas, se arvoram donas da verdade e contaminam o ambiente de informação. Provas? Que se danem. Devagar, devagar, vários casos semelhantes vão perdendo empuxo. 

CONTRADITÓRIO NEGADO  

O que me levou a revelar aos leitores o outro lado do documentário do Caso Saul Klein é a confirmação de que o outro lado do Caso Saul Klein, o lado do contraditório, não tem o menor valor informativo. Mesmo que quem esteja do outro lado seja um jornalista que se colocou à disposição de uma bateria de perguntas numa entrevista mais que relevante quanto a aspectos vitais envolvendo o acusado.  

Para encurtar a distância entre o que se passou com este jornalista nesse período de cinco meses de tratativas, nos contatos com os responsáveis pela produção do documentário, nada melhor que a reprodução da mensagem (uma entre várias) que enviei à direção do audiovisual para que se desse o devido encaminhamento contraditório. Vejam os pontos destacados daquele texto informal que repassei à direção do audiovisual do UOL em abril último:  

PRIMEIRO PONTO  

A entrevista feita comigo, que durou com todos os intervalos e acertos exatamente 1h20 minutos, foi um trabalho fabuloso no sentido jornalístico. Fui sabatinado como qualquer um deve ser. Sem dar o menor espaço a lantejoulas. Respondi a todas as questões sem me sentir minimamente incomodado. Faria o mesmo trabalho se me fosse dado a responsabilidade de apurar o caso.  

SEGUNDO PONTO  

A edição da entrevista em forma de documentário, em audiovisual, foi um desastre completo no que diz respeito à minha entrevista. Houve série de equívocos na transição do conteúdo-matriz e o resultado em forma de documentário.  

TERCEIRO PONTO  

Uma das questões mais lamentáveis foi um desacordo recorrente entre a literalidade e a contextualização de minhas declarações e os cortes efetivados em forma de edição.   

Um exemplo: entre uma frase minha relativa ao tratamento que o Saul dispensa às meninas que vão à casa dele e o que foi apresentado como documentário há enorme vácuo que gerou interpretações ofensivas nas redes sociais.   

Me referi especificamente às vezes em que, na casa do Sul, uma vez por semana, no período de março de 2019 e outubro de 2021, sempre observei a atenção cuidadosa e carinhosa do anfitrião, bem como a felicidade das meninas. Até porque, jamais frequentei a casa do Saul antes desse período – ou seja, não vivi aqueles anos em que o Saul recebia as mulheres.   

Minha referência na gravação prendia-se às vezes que vi as meninas. O que apareceu no documentário, como vício informativo, foi uma sequência de imagens que capturaram equipamentos médicos utilizados pelo Saul e seus dois profissionais de saúde para cuidar das meninas. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Sugere-se, na edição, um ambiente de abusos que contava com minha anuência ou mesmo participação.  

QUARTO PONTO  

Sempre deixei claro na entrevista que o Saul Klein foi sequestrado por duas mulheres durante os anos em que viveu as agruras de uma doença cruel como a depressão. E que essas duas mulheres (Ana Paula no campo de batalha e Marta Gomes no campo estratégico) praticamente o isolaram do campo externo.  

Até que chegou o dia em que, alertado, Saul resolveu romper com elas, fonte de várias ações trabalhistas, civis e criminais. Enfatizei durante toda a entrevista a condição de vítima do Saul, até prova em contrário. Esse posicionamento jamais foi considerado no documentário na dimensão recomendada.  

QUINTO PONTO  

Exaustivamente mencionei a expressão “até prova em contrário” como espécie de frase final, peremptória, de que a denúncia aberta pelo Ministério Público Estadual não se sustentava de pé exatamente porque não só não dispunha de provas materiais como, também, porque a testemunha central e navegadora de águas turvas, Ana Banana, é alguém inconfiável sob o ponto de vista cognitivo.  

Tanto que no próprio inquérito do MP, Ana Banana faz um relato claríssimo de pessoa problemática, entregue aos cuidados de psicólogos e psiquiatras. A glorificação de Ana Banana e a preservação de Marta Gomes são vieses do documentário que contrastam com meu depoimento ignorado.  

SEXTO PONTO  

O documentário sugere subliminarmente que participei de alguma das noitadas de namoros do Saul Klein.   

Minha relação com o Saul não era especificamente apenas de amizade. Frequentei a casa dele durante 30 meses como espécie de consultor, sobreposto inclusive à amizade.   

Sem entrar em detalhes, organizei uma parte bastante representativa de assessoria para o Saul Klein em várias especialidades. Colocar Daniel José de Lima como amigo do Saul Klein está correto. Faltou completar com o Daniel Lima, jornalista que atuou como espécie de construtor preliminar das atividades do Saul Klein, até que ele passou a contar com outros colaboradores em ações específicas que a demanda exigia e das quais raramente participei.  

SÉTIMO PONTO  

Saul Klein rompeu relações comigo como amigo e como jornalista porque caiu na lábia de um assessor de meia tigela que tem ojeriza à Imprensa. Desde novembro do ano passado não conversamos mais. Logo após tomar conhecimento de que fui entrevistado pelo UOL.   

Não abro mão de minha independência profissional em hipótese alguma. Havia redigido mais de três dezenas de textos do Caso Saul Klein e jamais deixaria de atender ao pedido do UOL para uma entrevista destinada ao documentário.   

O assessor que não entende bulhufas de comunicação e, mais que isso, tem horror a jornalista, fez a cabeça do Saul. Não aceitei as condições impostas, dei a entrevista e, mesmo com os equívocos apresentados pelo documentário, não me arrependo. Sabia de cor e salteado que correria riscos, não pela entrevista em si, mas  pela trajetória até o formato de documentário.  

Saul Klein tem motivos de sobra para desconfiar da mídia, dado o tratamento não só no caso que o envolve diretamente, mas também do pai, Samuel Klein.   

Ele tem todo o direito de não dar entrevista, de recomendar aos colaboradores que não deem entrevista e também aos amigos do peito para não darem entrevista. Tanto quanto tenho direito absoluto de não o atender, por considerar a medida arbitrária.   

Quem dita meu caminho profissional sou eu. Faltaram testemunhas do Saul Klein no documentário. Não interessa qual o tratamento que seria dado a elas, o importante é que falassem. Mas essa opinião é do profissional de jornalismo. O assessor jurídico do Saul Klein só não é uma besta quadrada porque ainda não lhe entregaram o diploma.  

OITAVO PONTO  

Quando me dispus a dar a entrevista ao UOL tinha um sentimento duplo, de confiança e de desconfiança. Confiança de que questões dirigidas a mim seguiriam ritual de profissionalismo dos entrevistadores. Desconfiança de que no meio do caminho poderia haver distorções.   

O que lamento não é o fato de que os 80 minutos da entrevista tenham sido traduzidos, no documentário, em escassos segundos.   

Conheço o que é edição. Fui requisitado ao documentário do Caso Celso Daniel, participei de gravação de mais de oito horas e muitos dos mais de 40 entrevistados também passaram por algo semelhante.   

Não houve queixa alguma porque se contemplaram os dois lados da questão. Quem matou Celso Daniel é um produto de alto profissionalismo do Estúdio Escarlate.   

Não posso dizer o mesmo do Caso Saul Klein nem da UOL, nem da CNN Brasil e muito menos do Fantástico. Todos deram tratamento desigual a uma situação que está longe de confirmar-se delituosa em termos de autoria masculina, como se faz, conforme já registrei em vários textos, partindo de posicionamentos oficiais do Judiciário e também de depoimentos ao Ministério Público e à Delegacia da Mulher.   

É um direito, mesmo que não reconhecido como ético, partir para a criminalização de Saul Klein. O que não se pode é utilizar depoimentos como o que expus sem os devidos cuidados e que comprometem inteiramente o conjunto da obra de respostas que dei aos entrevistadores, profissionais que se mostraram corretíssimos, inclusive ao cumprir o trato de que disporia da entrevista em cópia de áudio, material, aliás, que subsidia essas avaliações, em confronto, claro, com o documentário em questão. 

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