Sociedade

Uma vez Borralheira,
sempre Borralheira (6)

  DANIEL LIMA - 25/05/2022

GRANDE ABC – Estava com a intenção deliberada, deliberadíssima, de sair na porrada com o Estado de São Paulo. Até insinuei agora mesmo que ia partir com tudo contra o Estado mais rico da Federação. Mas pensei um pouquinho e acho melhor dar uma calibrada na munição. Falar com o fígado não é o meu estilo. Acho que vocês estão me contaminando.  

DIADEMA – Como assim, Grande ABC? Não vá dizer que está dando mole para essa turma de tucanos que há três décadas comanda o Estado? Estou engatilhada para uma artilharia pesada e você acha que é melhor contemporizar? 

GRANDE ABC – Calma, Diadema. Não coloque mais fogo no palheiro. Precisamos adotar certos cuidados diplomáticos. 

MAUÁ – Como ter certos cuidados diplomáticos, Grande ABC? Sou obrigado a concordar com Diadema. Não podemos dar moleza a ninguém que nos atrapalha.  

RIO GRANDE DA SERRA – Acho bom ficar quietinho aqui no meu lugar porque qualquer coisa que o Estado de São Paulo me ofereça e entregue é muita coisa para quem é tão pequenininha e deserdada. 

RIBEIRÃO PIRES – Acho a mesma coisa. Até porque, como você sabe, se formos depender dos nossos irmãozinhos de araque, morremos à mingua. Eles só nos levam em contas quando lhes interessam. 

SANTO ANDRÉ – Acho que devemos ter ponderação sim. Meu povo é mais moderado que o de Diadema, Mauá e mesmo que o de São Bernardo. 

SÃO BERNARDO – Santo André não vive sem me chamar à atenção.  Esse sentimento de inferioridade regional é latente em tudo. Nada mais natural, mas abominável, não é verdade? Quem já foi a capital da região e hoje não passa de um endereço decadente tem mesmo que mostrar as garras de inconformismo. Cuide de sua vida, Santo André.  

SANTO ANDRÉ – Não venha com esse papo furado, irmão indigesto. Decadência por decadência você é muito mais decadente do que eu. Basta olhar os números deste século. Você está em permanente degringolada. 

SÃO BERNARDO – Posso até estar caindo ladeira abaixo, mas sigo muito mais importante economicamente que você. Politicamente nem se fale. Sua decadência vem do século passado.  

GRANDE ABC – Mais uma vez estamos mostrando o quando somos divididos e atrasados. Acho melhor parar com essas bobagens provincianas de tentar provar quem é o maior, quem é o melhor. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Até porque, caro Grande ABC, quem é o melhor e o maior nessas redondezas metropolitanas sou eu, única, indivisível, a Cinderela que toda Gata Borralheira gostaria de ser. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Vamos retomar o fio da meada, Grande ABC. Afinal, você insinuou que iria cair de pau em cima de mim e decidiu recuar. Achei ótimo. Minha réplica seria dura e certeira. Se tem algo de que não gosto é a permanente tentativa de me explorarem politicamente, atribuindo a mim as fraquezas de todos vocês.  

GRANDE ABC – Calma, Estado de São Paulo, calma. Sei que você tem a cartucheira cheia para atingir os sete anões. Reconheço nossa pequenez institucional. Por isso que depois de um inicial arroubo, decidi pensar melhor. E reconheço que, tanto no caso de nossa relação com Brasília, também somos a origem dos problemas que temos no Estado de São Paulo.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Assim está melhor, está melhor. 

GRANDE ABC – Pretendia dizer com certa amargura e raiva que você, Estado de São Paulo, ajudou muito a nos afundar economicamente quando incentivou a guerra fiscal. Perdemos centenas de empreendimentos consolidados e outros que poderíamos reforçar o que tínhamos. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Continue, Grande ABC, continue. 

GRANDE ABC – Então, como estava dizendo, perdemos muito de nossa musculara industrial para o Interior do Estado desde que se incentivou a prática de guerra fiscal. Mas isso não pode ser desculpa. O capital vai para onde é mais bem recebido, para onde possa ter competitividade. E nós, reconhecemos Estado de São Paulo, há muito deixamos de ser competitivos. Fazemos de tudo ao não fazer nada para nos inserir no jogo democrático de investimentos. Dormimos nos louros das vitórias do passado que passou.  

ESTADO DE SÃO PAULO – É esse tipo de autocritica que gosto de ouvir, Grande ABC. Tem gente aqui nessa mesa que gosta de transferir responsabilidades. Mas é preciso entender que são mais de 600 municípios sob minha jurisdição legal e política. Não posso transigir. Está certo que são quase dois milhões de eleitores a cada temporada, mas mesmo assim essa massa de votos não me comove. Como tucano da gema, sei que por mais que faço a produtividade do voto no Grande ABC é sempre baixa. 

GRANDE ABC – Como assim, Estado de São Paulo? 

SÃO BERNARDO – Não entendi. 

SANTO ANDRÉ – Nem eu. 

RIO GRANDE DA SERRA – Imaginem eu, então? 

MAUÁ – Acho que captei a mensagem. 

DIADEMA – Eu a entendi perfeitamente.  

SÃO CAETANO – Não tenho dúvida sobre isso. 

RIBEIRÃO PIRES – Também não. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Viu como vocês são um tapete de diversidade avaliativa que qualquer um pode puxar e deixar todos na mão? Vou explicar o que é produtividade de votos. 

GRANDE ABC – Se a gente levar esse tema para um ambiente acadêmico, ou mesmo no que temos aqui de pior, que é o Clube dos Prefeitos, certamente seria tese de amplos debates. Essa turma gosta de perder tempo com bobagens. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Você pode explicar o que é esse tal de Clube dos Prefeitos? 

GRANDE ABC – Claro que sim, Estado de São Paulo, mas antes disso queremos que você trace as linhas do que é produtividade de voto. Deixe o Clube dos Prefeitos de lado por enquanto. A turma de anões aqui presente vai se incumbir de dar as respostas. Eles são o Clube dos Prefeitos. Pode chamar de Clube do Nada, ou de Clube do Quase Nada que é a mesma coisa.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Vou ser franco. Que adianta vocês somados, mas divididos, terem dois milhões de votos, como terão este ano nas disputas para o Palácio dos Bandeirantes, onde tenho minha residência, se, quando for feito o balanço geral de todos os concorrentes, o que vai sobrar para o vencedor, que sempre fomos nós, tucanos, a diferença regional é estreita?  

GRANDE ABC – Como assim, Estado de São Paulo? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Basta pegar o mapa eleitoral de disputas anteriores e observar atentamente. A diferença percentual de votos válidos de minhas vitórias é sempre muito menor aqui que a mesma correlação de outras regiões menos politizadas, vamos dizer assim. A soma de pequenos e médios municípios menos influenciados pela metropolização somada às características próprias que vocês vivem é sempre maior do que o que encontramos aqui. 

SÃO BERNARDO – Então isso é produtividade do voto? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Exatamente. Nós tucanos sabemos qual é o saldo positivo ou negativo de votos que temos em São Bernardo, por exemplo, já que você meteu a colher no assunto. São Bernardo, você sabe o quanto é dividida entre direita e esquerda, tucanos e petistas no passado. Hoje, com a turma do Bolsonaro na parada, com a direita para valer tendo espaço, imagine o quanto vocês, tucanos e petistas, vão perder de produtividade. O voto de vocês vai valer menos ainda.  

SANTO ANDRÉ – Então estou valendo mais em produtividade de votos sob o olhar não-esquerdista, porque aqui a turma do PT está morta e enterrada. 

SÃO BERNARDO – Deixe de bobagem, Santo André. Todo mundo sabe que está tudo junto e misturado em suas terras. 

GRANDE ABC – Não vamos sair do foco do voto e da produtividade do voto. Confesso, sinceramente, que jamais havia pensado nisso. Ou seja: para quem mora no Palácio dos Bandeirantes, dissecar o voto é uma prática pragmática, por assim dizer. Não se dá valor absoluto ao volume geral do eleitorado, mas sobretudo ao valor líquido do eleitorado em termos regionalizados.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Matou a pau, Grande ABC. É isso mesmo.  

DIADEMA – Está mais que explicado por que sou desprezada pelo Palácio do Bandeirantes. 

GRANDE ABC – Caro Estado de São Paulo, o desabafo de Diadema me leva a um questionamento: é justo que se discriminem recursos por conta da cor do eleitorado? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Não é questão de justiça ou não, é questão de praticidade política. Até porque, a recíproca é verdadeira. Os avermelhados fizeram a mesma coisa quando estavam no comando do Palácio da Alvorada. É assim que funciona a política. Onde há clareza de que as cores nos favorecem, a gente vai com tudo. Onde há dúvidas, a gente coloca o pé no freio. 

SANTO ANDRÉ – Me desculpe, caro Estado de São Paulo, mas isso não é uma norma geral. Tanto é verdade que sou mais azul que São Bernardo, que mistura o azul e o vermelho, e nos últimos anos recebi muito menos recursos para obras do que meu vizinho. 

SÃO BERNARDO – Quer que eu responda, Estado de São Paulo. Se quiser vou para cima de Santo André? 

GRANDE ABC – Segure as pontas, São Bernardo. Deixe o Estado de São Paulo responder. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Olha, Santo André, o caso mais recente de investimentos tem tudo a ver com a amizade do prefeito de São Bernardo com o governador do Estado. É uma relação antiga, de fidelidade e parceria. Algo como no governo anterior de São Bernardo, entre o prefeito Luiz Marinho e o presidente Lula da Silva. A diferença, é bom que se diga, é que o governador tucano não deixou o prefeito de São Bernardo na mão. Não houve descarrilamento em forma de Operação Lava Jato e incompetência da sucessora do Lula que culminassem na quebra do País e dos investimentos programados. 

SÃO BERNARDO – Gostei, Estado de São Paulo. Gostei mesmo. Talvez não respondesse com tamanha sabedoria. Mas foi ótimo que você tenha falado, porque me poupou de dar explicações a um ressentido que não se enxerga e que vive como se o tempo não tivesse passado. Acorda, Santo André. 

GRANDE ABC – Caro Estado de São Paulo: você acha que a questão da produtividade do voto, que também abarca seletividade do voto de acordo com determinadas conveniências, está esgotada? Já podemos mudar de assunto? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Ainda não, Grande ABC. 

DIADEMA – Esse Estado de São Paulo resolveu tomar conta da reunião. Isso é campanha eleitoral fora do tempo. Vou acionar minha equipe jurídica. 

SÃO BERNARDO – Sossega o facho vizinha enxerida. Você gosta de tumultuar. 

SANTO ANDRÉ – Nessa estou com você, São Bernardo. 

SÃO BERNARDO – Só faltava estar contra para assinar um atestado de burrice. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Deixe falar, deixe falar. O fato é que também tenho outro cálculo eleitoral que preciso considerar a cada disputa. A coincidência de eleições para a presidência da República sempre facilitou a vida de quem ocupa o Palácio dos Bandeirantes. Somos menos sujeitos à acareação social, ou seja, a questionamentos dos eleitores. O desgaste de quem comanda o Estado é inferior ao de quem está na cúpula federal.  

GRANDE ABC – Mas os tempos são outros, a situação está mudando, mas vamos falar disso mais adiante. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Sei que você, Grande ABC, deve estar se referindo às mídias sociais. É verdade que houve mudanças, mas, mesmo assim, a carga é mais pesada no ambiente federal. De qualquer modo, mesmo com o vento virando, ou se ampliando, somos, como parte da Federação, menos suscetível às batalhas campais pelo voto. Isso sempre facilitou a nossa vida. Nossa cor azul predomina faz muito tempo.  

GRANDE ABC – Insisto em deixar esse tópico para mais adiante. Temos uma agenda temática que vai abordar minuciosamente as redes sociais. 

DIADEMA -- Aí o bicho pega. 

SÃO BERNARDO – Principalmente na esquerda. 

MAUÁ – Sou menos avermelhada que Diadema, mas o bicho pega também na direita. 

RIBEIRÃO PIRES – Acho que os dois tem razão. 

RIO GRANDE DA SERRA – Também acho. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Já que vocês gostam de falar de cores, gostaria de saber como cada um dos anões se avalia cromaticamente, ou seja, no espectro político-ideológico. 

SÃO CAETANO --- Sou Azulão de cabo a rabo. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Não estou falando de futebol, São Caetano. 

SÃO CAETANO – Nem eu. Sou Azulão no sentido que você quer saber. Azulão desde sempre. 

SANTO ANDRÉ – Sou Azulado nos últimos anos, mas já fui Vermelhinho nos tempos do Celso Daniel. 

SÃO BERNARDO -- Sou Azulinho nos últimos anos, já fui Vermelhinho depois de ser Azulado. Minha história é repleta de cores e tons variáveis nos tempos. 

DIADEMA – Sou Vermelhão como ninguém aqui na região. Dei uma azuladinha durante oito anos, mas voltei a ser o que meus cromossomos mandam. 

MAUÁ – Sou obrigado a concordar com Diadema, de que é o Vermelhão da região. Sou Vermelhinho que já foi Azulado.  

RIBEIRÃO PIRES – Sou Azuladinho, uma espécie de miniatura de Santo André. 

RIO GRANDE DA SERRA – Sou Avermelhado, ou seja, nem Vermelhão como Diadema nem Vermelhinho como Mauá. Já fui Azulinho também.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Gostei do painel. Gostei muito. Ficou mais didático do que a identificação anterior que dispensou cores.  

GRANDE ABC – Somos quase que um arco-íris, Estado de São Paulo. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Ninguém me perguntou, mas estou mais próximo do Azulado de Santo André do que para o Azulinho de São Bernardo. Sou Azuladão.  

ESTADO DE SÃO PAULO -- Para complementar a questão de produtividade de voto, é claro que as regiões metropolitanas da Capital e do Interior são mais permeáveis à ideologia, ao combate, às reclamações, às demandas, porque sofrem mais com as sacolejadas macroeconômicas e, agora, também pandêmicas. Por isso os investimentos precisam ser calculadamente precisos. Não investir é dar arma aos adversários, mas investir demais também provoca perdas produtivas. Temos de fazer o mínimo necessário, não o máximo imprescindível, porque o retorno é sempre aquém no saldo líquido de votos. E é isso que interessa.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Peraí, Estado de São Paulo. Falta você se identificar cromaticamente. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Sou Azuladaço.  

DIADEMA – A sua farra vai acabar, Estado de São Paulo. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Como assim, rebelde sem causa? 

DIADEMA – Rebelde com muita causa, Estado de São Paulo. Sua festa vai acabar porque agora em outubro você vai ter de se vestir de Vermelhinho. Não precisa ser Vermelhão como eu. Vermelhinho já serve. 

SÃO BERNARDO – Não estou entendendo, vizinha indigesta. 

DIADEMA – Se bobear sobra para você também, vizinha metida a besta. 

GRANDE ABC – Vamos parar de papagaiada. Explique o que quer dizer, Diadema? 

DIADEMA – Ora, todo mundo sabe que o reinado conservador dos tucanos já era no Estado de São Paulo. É questão de tempo. Duvido que o Estado prefira ficar em alguma cor que lembre o amarelo. Vai ficar mais para o vermelho. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Você, Diadema, está querendo dizer que o candidato do PT vai vencer o candidato do PSDB e também o candidato do presidente da República? 

DIADEMA – Adivinhão, é isso mesmo. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Prefiro o amarelo do que o vermelho. Não abro mão disso. Até porque o amarelo me ajudou na última eleição. Fez de mim o vencedor. Mantive-me numa das tonalidades de amarelo. Agora posso amarelar sem problema algum. Avermelhar, não. 

DIADEMA – Você vai ver.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Então vamos pegar a opinião da mesa? Quem acha que eu vou ganhar algum tom de vermelho que se manifeste. 

DIADEMA – Mantenho minha posição. 

SÃO BERNARDO – Tenho cá minhas dúvidas. 

SÃO CAETANO – Jamais vezes jamais mil vezes. O Estado é meu retrato mal-acabado. 

SANTO ANDRÉ – Sem possibilidade alguma.   

MAUÁ – Acho que pode avermelhar sim. 

RIBEIRÃO PIRES – Deus nos livre, mas que há risco, não tenho dúvida. 

RIO GRANDE DA SERRA – Que ninguém me critique, mas acho que finalmente o Estado de São Paulo vai ganhar um tom revolucionário de vermelho. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Levante os braços quem acha que vou continuar com tom de azul? Ninguém? Traidores. 

SÃO CAETANO – Fazer o quê, né Estado de São Paulo? É a vida com suas reviravoltas. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Agora se manifestem sobre a possibilidade de eu virar alguma coisa que lembre o amarelo. 

SÃO CAETANO – Estou sentindo cheiro do Tarcísio. 

SANTO ANDRÉ – Talvez aqui dê isso mesmo. 

SÃO BERNARDO – Não descreio também, mas ainda torço pelo tom de azul. 

DIADEMA – Nem de longe vou mudar de cor. Posso mudar de tom de cor, mas de cor, não. 

MAUÁ – Sou uma Diadema menos convicta. 

RIBEIRÃO PIRES – Tarcísio, Tarcísio, acho que vão me pintar de amarelo, qualquer amarelo. 

RIO GRANDE DA SERRA – Fora de cogitação.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Acho que já chegamos ao limite de discutir política sob o ângulo cromático-ideológico. Dei uma forçada na barra para extrair o máximo possível dessa agenda porque queria retirar todas as dúvidas sobre o que vocês são mesmo no painel de controle que temos no Palácio dos Bandeirantes para monitorar nosso apoio financeiro em forma de obras e serviços nos anos eleitorais.  

DIADEMA – Isso é clientelismo, Estado de São Paulo. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Nada diferente do que vocês fizeram o tempo todo no comando do País por quase uma década e meia. Sem falar nas lambanças éticas e morais. 

DIADEMA – Essa não, Estado de São Paulo. Se formos debater essas lambanças acho que você também não ficará bem.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Tem razão, Diadema. Ainda mais agora, em ano eleitoral, com um nosso ex-super-super-governador se juntado ao seu presidente eterno, seria um tiro no pé que favoreceria o time de amarelo. Não vamos cometer essa bobagem. 

DIADEMA – Espere aí: você mesmo acabou de dizer que não quer ficar vermelho em qualquer tom, e agora vem falar em juntarmos interesses? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Perdoe-me, Diadema. Às vezes me deixo levar por agrupamentos que me compõem. O ex-governador que virou vice do Lula faz parte de uma banda envelhecida que a gente pensou já ter descartada, mas que ainda tem votos. Resta saber se os votos que ainda tem somados aos votos do pessoal de vermelho vão ser votos suficientes para vencer no meu território. Minha população é conservadora, principalmente no Interior do Estado. Acho que não vai dar para os vermelhos chegarem aonde estou faz três décadas.  

DIADEMA – Então você não nega que tem uma parte dos azuis que querem o vermelho no Estado. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Claro que não nego. Quem segura a vaidade, os interesses e os segredos humanos? Até porque, cá entre nós, nós jamais fomos inimigos de verdade. Fomos cordiais adversários.  

SANTO ANDRÉ – Aqui também tenho uma boa relação com o pessoal de vermelho. 

SÃO BERNARDO – Aqui não tem conversa. Mas que andamos de mãos dadas quando interessou a ambas as partes, disso não tenho dúvidas. Escândalos no Estado e na União foram devidamente abafados ou controlados até onde foi possível. Segurar a Lava Jato não deu jeito.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Está vendo, Diadema, como não vale a pena a gente ficar se engalfinhando enquanto os demais nadam de braçadas? Os amarelos só estão aí porque as pontes que nos uniam foram explodidas pelo pessoal da Lava Jato. Com a estreita colaboração da desastrosa Dilma Rousseff. Acho que aprendemos a lição. Combater corrupção tem limites. 

DIADEMA – Ainda bem que o Grande ABC não convidou ninguém de amarelo para essa nossa reunião. Eles iriam tumultuar o ambiente.  

GRANDE ABC – Não convidei porque eles não têm representatividade na região. Como são recentes, como apareceram agora, ainda estão submetidos a uma hierarquia de ocupação de espaço que flutua entre os vermelhos e os azuis. Se nas eleições que estão chegando os amarelos derem as caras com clareza, aí não vai ter como não os convidar ao nosso próximo encontro. O Tarcísio é o elemento-chave dessa operação. Se ele for para o segundo turno e ganhar em uma ou outra cidade daqui os amarelos vão estar na mesa no próximo encontro.  

MAUÁ – Por falar nisso, Grande ABC, quando vai ser o próximo encontro? 

GRANDE ABC – Calma, Mauá. Este nem terminou. Aliás, falta muito. Tenho na pauta uma série de questões em aberto. Antes de terminar essa nossa reunião vou estabelecer um prazo para um novo encontro. Quem sabe possa ser anual? 

SÃO BERNARDO – Acho a ideia interessante. Não podemos esperar 20 anos como esperamos. 

DIADEMA – Também acho interessante que seja anual. 

RIO GRANDE DA SERRA – Topo o que decidirem. 

RIBEIRÃO PIRES – Eu também. 

SANTO ANDRÉ – Nada contra.  

SÃO CAETANO—Para mim, tanto faz. Não vou mudar nada mesmo. E nada que mudarem por aí vai nos afetar. Somos autossuficientes.  

GRANDE ABC – Então está combinado. Vamos para o almoço, porque ninguém é de ferro. E se preparem porque vamos discutir as mídias sociais assim que voltarmos. 

ESTADO DE SÃO PAULO – O bicho vai pegar. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Que pegue. 

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