Sociedade

Santo André disputa mesmo é o
título de Capital da Corrupção

  DANIEL LIMA - 16/01/2013

Alguém precisa dizer ao ex-vereador Paulinho Serra, hoje secretário municipal de Obras, que a Santo André Capital do Grande ABC, como ele propaga em reuniões ao fazer coro a outros triunfalistas, há muito deixou de existir. No máximo, e isso não é uma certeza porque a concorrência é forte, Santo André seria a Capital da Corrupção da Província do Grande ABC. Sabe bem o ex-tucano que está apenas de passagem pela Administração Carlos Grana o quanto Santo André empobreceu ao longo de décadas. E que por isso mesmo faz jus à adaptação de uma antiga máxima -- em casa que falta pão, todos discutem, ninguém tem razão e o que sobra é a corrupção.

 

Santo André precisa perder essa mania idiota de acreditar que vive num País das Maravilhas. Nosso território é outro. É Província do Grande ABC mesmo, como reconhece a maioria dos formadores de opinião que integram o Conselho Editorial desta revista digital. Esse reconhecimento não é pouca coisa, porque se sabe o quanto são discriminados todos aqueles que ousam botar o dedo nas feridas regionais. 

 

Paulinho Serra é um dos quadros sobre os quais parte da sociedade dos incluídos sempre botou fé como possível alternativa de gestão pública de qualidade, de responsabilidade. Entretanto, as reviravoltas na carreira o conduzem à mesmice da política de oportunidade, ou de oportunismo.  Ao entregar-se à Administração Carlos Grana, flagrantemente conciliadora no sentido mais pérfido do termo, Paulinho Serra cedeu aos encantos do imediatismo, embora tenha os olhos e a mente postos em solavancos que podem atingir os petistas a partir do governo federal e, com isso, abrir possibilidades a rupturas igualmente oportunistas, ou de oportunidade, dos aliados.

 

Tanto Paulinho Serra quanto Raimundo Salles, que concorreu à Prefeitura e em seguida jogou-se nos braços dos petistas, correm na mesma raia estratégica de juntar-se aos ganhadores enquanto der pé na lagoa da ocasião. Eles fazem de conta que viraram petistas, dedicam-se à Administração Carlos Grana como aliados, mas cavoucam caminhos outros. Basta a biruta macroeconômica virar com seus efeitos deletérios sobre os bolsos dos eleitores para saltarem em terra firme.

 

Carlos Grana sabe disso porque não é bobo nem nada, mas como é fundamentalista no otimismo de que durará para sempre o suposto bem federal petista, vai em frente nas combinações partidárias que supostamente o fortalecem junto à comunidade.

 

Guerra escamoteada

 

O que se nota entre os dois mais notórios secretários da Administração Grana é uma guerra surda por espaços nos jornais. Daí as declarações recheadas de bobagens. Raimundo Salles e Paulinho Serra disputam praticamente o mesmo espaço do eleitorado e do leitorado, ou seja, a classe média mais conservadora, sobre a qual o PT, nem a pau, consegue penetrar. Pensa que penetra, é verdade, porque saiu a cooptar alguns de seus integrantes supostamente mais expressivos. Mal sabem Grana e seus partidários petistas que essa turma representa muito pouco do volume expressivamente anônimo dos classes médias de Santo André. Todos eles vendem a ideia de que são íntimos dos moradores mais antigos, dos moradores mais escolarizados, dos moradores economicamente mais densos, mas de fato precisam ralar muito para obterem frações de votos para confirmarem algum grau de veracidade das informações. Tanto que se dão mal a cada eleição porque eles próprios se deixam engabelar pelas ilusões que constroem.

 

Exatamente por isso não fica bem para Paulinho Serra e para ninguém com juízo no lugar esse negócio de propagar que Santo André é Capital do Grande ABC. Já foi e faz tempo. Agora é apenas uma assombração econômica e social, conforme estamos cansados de provar nestas páginas digitais. Se quem conta um conto aumenta um ponto, no caso do triunfalismo do viés de Paulinho Serra talvez a melhor conclusão seja dizer que quem cria definições pautadas pelo passado, enreda-se na bobagem e perde o contato com a realidade.

 

Ilusionismo mascarado

 

O que Paulinho Serra, Raimundo Salles e tantos outros que ocupam espaços na mídia regional estão a promover é uma extensão do projeto de ilusionismo retórico que tem o prefeito Carlos Grana como especialista, sindicalista que sempre lidou com um público ouvinte que se deixa levar pela emoção. Carlos Grana encontrou no ex-metalúrgico Lula da Silva professor emérito, embora as circunstâncias de Poder Executivo que os envolvem sejam completamente distintas.

 

Paulinho Serra e Raimundo Salles, entre aqueles que mais aparecem para falar de Administração Pública em Santo André, não fazem mais que proselitismo. É verdade que procuram dar materialidade às ações que começam a empreender em suas respectivas secretarias e o fazem sustentados por fatos, na maioria dos casos, mas o enveredamento pelo campo da fantasia é latente. Trombeteiam ações tópicas como exemplares estruturais de uma reviravolta histórica do Município.

 

A Santo André fortemente litigante pelo título de Capital da Corrupção da Província do Grande ABC tem sido substituída na mídia por uma torrente de pequenas ideias e ações que não farão grande diferença na reta de chegada de resultados administrativos, quando se sabe que a Economia do Município sofre há muitos anos. Tudo com a premissa de lançar uma cortina de fumaça sobre os escombros de delinquências administrativas. O discurso de moralidade e ética públicas ruiu na casa da sogra petista; por isso a ordem é derivar as mensagens ao campo administrativo e gerencial.

 

Por essas e por outras é melhor que, assim como Paulinho Serra, outros protagonistas da vida pública de Santo André não se deem ao exagero de cultivar uma imagem vitoriosa de um Município que, bem sabem todos, ou deveriam saber, está muito distante dos fatos. Até porque, dá-se a impressão de que um dos preços a ser pago pela coalizão partidária que estabeleceu um novo modus operandi de gestão pública local é subscrever um discurso de ufanismo municipalista que supostamente seria a chave de ignição de um processo de marketing de valorização da autoestima da população. Ou seja, conversa boa para boi dormir.

 

Reafirmo a desconfiança de que Santo André possa ser a Capital da Corrupção da Província do Grande ABC porque há a sustentar essa projeção empírica uma série de informações econômicas, imbricamentos políticos, conjunções financeiras, sarapatéis partidários e tudo o mais. São vários os núcleos mobilizados a um encontro de águas sujas. Há um consenso em favor da trambicagem escamoteada pela presteza administrativa. Tudo bem diferente, por exemplo, do que ocorre em São Bernardo, onde as intervenções são mais seletivas -- embora seus protagonistas não deixem escapar ares de novos ricos.

 

Santo André é especialmente múltipla no aperfeiçoamento de uma metodologia corrosiva que vem de longe, mas que, ultimamente, em face de novas conjecturas, decidiu invadir a área sem medo de sofrer penalidades máximas.

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