AUMENTA O DESAFIO AO
PREFEITO MARCELO LIMA

O decepcionante desempenho do mercado de trabalho formal de São Bernardo em maio, divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho, aumentou o tamanho da encrenca propagada quase sem restrições: os 100 mil empregos projetados pela Administração do prefeito Marcelo Lima avançam celeremente para um desenlace vexatório. O vatapá triunfalista do secretário Rafael Demarchi segue a provocar desarranjos mensais.
O saldo médio mensal inicialmente de 2.083 contratações líquidas em 48 meses para se chegar a 100 mil passou para 2.237 nos próximos 45. A tendência é a subida aumentar ainda mais. São Bernardo somou saldo líquido de apenas 80 das 2.000 novas vagas na região em maio. Um tiquinho de nada para o tamanho do Município e o surto destemperado de 100 mil vagas.
O secretário Rafael Demarchi prometeu recentemente 45 mil empregos com a instalação de dois centros de distribuição de produtos, os chamados condomínios logísticos. Cada emprego desse setor não vale metade do valor agregado do emprego industrial que segue fugidio não só em São Bernardo, mas no Grande ABC como um todo. Tanto que no balanço de maio houve déficit de 50 postos de trabalho no setor.
NÚMERO EXTRAVAGANTE
O empregômetro em São Bernardo, dentro de um Grande ABC igualmente complexo, será persistentemente analisado, entre outras razões porque informação é algo sagrado. Sobretudo quanto envolve Economia, que gera responsabilidade e expectativas de decidem o futuro de muita gente.
Os 100 mil empregos formais prometidos pelo secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo equivaleriam a 10 milhões de novos postos de trabalho caso o ministro Luiz Marinho incorporasse o espírito triunfalista de um agente público despreparado para o cargo que deveria ser carro-chefe de Marcelo Lima. A média nacional de saldo de empregos, nos melhores anos do País, mal passou de dois milhões de vagas.
Não custa lembrar que São Bernardo é a cidadela regional mais duramente impactada durante os anos de chumbo de Dilma Rousseff – sem contar os anos desastrosos de Fernando Henrique Cardoso. São Bernardo perdeu 30% do PIB per capita e milhares de empregos entre 2014 e 2016. E está longe de se recuperar, mesmo com avanços nos anos seguintes.
MISSÃO SÉRIA
Deixar passar batida a barbeiragem populista do secretário Rafael Demarchi, com apoio do prefeito Marcelo Lima, é flertar com a incompetência sistêmica. O secretário escolhido pelo prefeito por motivação política (como na maioria dos casos no Grande ABC desde 1997, quando foram criadas secretarias do setor) industrializa declarações que conflitam diretamente com a realidade dos fatos.
Acompanhar a marcha da contagem do empregômetro é a sinalização de que o jornalismo profissional não pode prescindir de cuidados que interferem diretamente na vida dos contribuintes e da cidadania. Informação é um bem de consumo que estimula decisões pessoais, profissionais e corporativas. A adulteração de fatos e de perspectivas por ignorância ou má-fé é um mecanismo perverso que os caçadores de mentiras do Judiciário estão longe de criminalizar.
A contabilidade de um desastre anunciado por CapitalSocial não requer genialidade. É uma conta simples que qualquer aluno do Ensino Fundamental tiraria de letra. Não custa nada repetir: para chegar a um saldo líquido de 100 mil empregos formais em quatro anos de mandato, Marcelo Lima teria de gerar ,em média, a cada mês, 2.083 novas carteiras assinadas.
Entretanto, nos primeiros cinco meses já escrutinados, São Bernardo registra saldo positivo de 3.804 postos de trabalho, ou média de 761 a cada mês. Com isso, o buraco de 96.196 carteiras assinadas terá de ser preenchido nos 45 meses restantes. Dessa forma, a média mensal de contratações deverá chegar a 2.237. Portanto, mais que as 2.083 do primeiro mês de gestão de Marcelo Lima.
DADOS RELEVANTES
Estudamos a fundo o mercado de trabalho do Grande ABC ao longo de décadas. Em nenhuma situação, mesmo nos anos dourados do segundo mandato de Lula da Silva, houve sequer números próximos de média mensal de saldo de contratações que, ao fim de quatro anos, representasse saldo tão extraordinário quanto o anunciado pelo secretário Rafael Demarchi. Trata-se, portanto, fundamentalmente, de uma barbaridade que contou com o aval do prefeito Marcelo Lima.
Dar importância aos dados do mercado de trabalho formal é essencial à compreensão do que se passa na Economia do Grande ABC. Há causas e efeitos do balanço de trabalhadores com carteira assinada que antecipam ou complementam quadros de ascensão ou derrocada do Desenvolvimento Econômico da região.
Durante os anos 1990, quando o Grande ABC conheceu a mais longa crise econômica da história, foram decepados mais de 100 mil empregos industriais. Durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002, foram 85 mil carteiras industriais eliminadas.
NÚMEROS DA REGIÃO
A reposição em números mais modestos de empregos em outros setores, especialmente de serviços, não representou outra coisa senão leve redução dos impactos sociais. As atividades de serviços pagam salários em média 30% abaixo do setor industrial e não oferecem o agregado de valores tangíveis e intangíveis que possibilitam ganhos em escala.
Para se ter ideia mais precisa da bobagem cometida pelo secretário Rafael Demarchi, a situação é a seguinte: para chegar a 100 mil empregos formais de saldo após quatro anos de mandato, Marcelo Lima deveria ser prefeito de uma cidade chamada Grande ABC, que reúne os sete municípios, não apenas São Bernardo, responsável por 37% do PIB regional.
O Grande ABC como um todo acumulou nos últimos 12 meses o saldo líquido de 24.414 novas carteiras de trabalho assinada. O problema é que São Bernardo conta com saldo de apenas 6.881. Esse resultado estabelece como média mensal, nos mesmos 12 meses, de apenas 573 contratações líquidas. Muito abaixo, portanto, das 2.237 necessárias nos próximos 45 meses. Seria necessário quadruplicar a média mensal de contratações líquidas dos últimos 12 meses para, nos próximos 45 meses, chegar-se à consagração de Rafael Demarchi como visionário.
Segundo o boletim expedido pela Agência de Desenvolvimento do Grande ABC, que acompanha mensalmente os dados do Ministério do Trabalho, o estoque de trabalhadores formais da região chegou a 834.395 com o acréscimo de 2.000 contratações em maio. O setor industrial conta com 189.027 carteiras assinadas, ou 22,65% do total. Essa média tem-se mantido nos últimos anos, mas era muito maior no começo do século, com 40 de cada grupo de 100 trabalhadores industriais.
O setor de serviços, dominante no mercado de trabalho brasileiro, conta com 432.422 trabalhadores formais no Grande ABC, ou 51,82% dos trabalhadores. O comércio registra 163.923 trabalhadores, ou 19,64% do total. As demais atividades (agropecuária e construção) completam a grade de trabalhadores.
TOM DE CAUTELA
Na edição de hoje, o jornal Valor Econômico registra tom de cautela ao analisar o comportamento do emprego formal no Brasil, sempre sujeito a interpretações multifacetadas, especialmente quando partidarismos entram em campo. O Brasil registrou 148.992 vagas com carteira assinada. A estimativa mediana de instituições consultadas pelo jornal era de 171.841 mil vagas. No acumulado de janeiro a maio, a economia brasileira criou 1,05 milhão de vagas, com queda de 4,9% ante o mesmo período de 2024.
O jornal ouviu a pesquisadora Janaína Feijó, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre). “Ela chamou a atenção para o desempenho do setor de serviços, que emprega a maior parcela da população brasileira. Nos primeiros cinco meses do ano, volume de vagas criadas sofreu contração de 10,7% -- ou 77 mil empregos a menos que o registrado em igual período de 2024. “Esse desempenho pode ser associado à elevação dos juros que temos visto desde o segundo semestre do ano passado. O mercado formal como um todo também recebeu ajuda da colheita da safra nos primeiros meses do ano, mas é uma ajuda que não vai mais existir daqui para a frente” – disse Janaína.
PERSPECTIVA REGIONAL
Ainda segundo o Valor Econômico, a pesquisadora acredita que o Caged pode estar sinalizando que o esfriamento do mercado de trabalho está mais próximo no horizonte do que se imagina. “Todos sabem que essa desaceleração deve ocorrer em algum momento, a pergunta é qual será a velocidade. O dado de maio eleva a chance de isso ocorrer já no terceiro trimestre, não apenas no fim do ano, como se especula”.
A perspectiva de que a temperatura do mercado de trabalho no Grande ABC vai tornar ainda mais decepcionante a projeção do secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo não tem margem de erro.
O que o Grande ABC viverá nos próximos tempos vai ser mais uma etapa de rebaixamento da média de contratações. Sem a maquinaria de aquecimento do setor industrial, tudo se torna mais problemático. Assessorias de imprensa dos prefeitos da região movem-se para lubrificar as engrenagens de conveniências interpretativas, mas o balanço regional quando visto ao longo dos tempos não é nada animador.
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