Sociedade

RANKING DE QUALIDADE DE
VIDA: SANTO ANDRÉ SOFRE

  DANIEL LIMA - 30/05/2025

Saiu mais um ranking de respeito e que por ser de respeito precisa ser avaliado com todo o cuidado e atenção pelos administradores públicos do Grande ABC. O resultado do mapeamento de Qualidade de Vida dos Municípios Brasileiros, oficialmente chamado de Índice de Progresso Social (IPS), desenvolvido pelo Social Progress Imperative, é mais um chute na canela do triunfalismo de Santo André.

Afinal, as manchetes de papel e também as manchetes digitais que transformam varejismo de baixo valor agregado e populismo eleitoreiro em Desenvolvimento Econômico e Social não resistem aos fatos e a indicadores qualificados.

POSIÇÃO 358

Santo André ocupa a posição 358 no ranking nacional do Índice de Progresso Social. Classificação muito abaixo de São Caetano, que está na posição 46, de São Bernardo, na posição 49. E também de Diadema, na posição 325.

O ranqueamento envolve 57 indicadores sociais e ambientais. O relatório mostra que, apesar de avanços graduais, os desafios para garantir qualidade de vida à população permanecem grandes e desiguais no País.

Na disputa direta entre os três mais tradicionais municípios da região (os demais serão analisados em outra edição), São Caetano predominou internamente ao liderar nove dos 12 componentes que integram as três dimensões centrais da metodologia do IPS. Santo André ficou em primeiro em dois e São Bernardo em um componente. O IPS médio de São Caetano é de 68,38 pontos. São Bernardo somou 68,34 e Santo André 65,49.

SÃO CAETANO LIDERA

A liderança regional de São Caetano se deu em dois dos três macroindicadores:  Necessidades Humanas Básicas e Fundamentos do Bem- Estar. São Bernardo chegou em primeiro em Oportunidades.

Na edição da próxima segunda-feira, CapitalSocial esmiuçará inteiramente o Campeonato Brasileiro de Qualidade de Vida, como também poderia ser chamado o Índice de Progresso Social. 

A coordenação do macroindicador explica que, diferentemente de índices econômicos como o PIB (Produto Interno Bruto) e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o IPS mede diretamente resultados sociais e ambientais, funcionando como bússola para gestores públicos, investidores sociais e organizações da sociedade civil.  Um comunicado distribuído pela organização do índice procura mostrar o significado dos dados. 

“O IPS permite visualizar desigualdades que não são explicadas apenas por indicadores econômicos. Municípios com PIB semelhante apresentam, muitas vezes, desempenhos muito distintos no índice, o que reforça a importância de políticas públicas voltadas ao bem-estar social de forma integrada. Com o IPS, é possível identificar onde as políticas públicas estão funcionando e onde é necessário intervir com mais urgência. O indicador transforma dados complexos em um retrato claro e comparável entre municípios e Estados”, afirma Melissa Wilm, coordenadora do IPS Brasil. 

GRUPO DE ESPECIALISTAS 

O Índice de Progresso Social foi definido por um grupo de especialistas acadêmicos e sintetizado como “a capacidade da sociedade em satisfazer as necessidades humanas básicas, estabelecer as estruturas que garantam qualidade de vida aos cidadãos e dar oportunidades para que todos os indivíduos possam atingir seu potencial máximo”. 

A partir desse conceito, o IPS Brasil foiformulado com base em 57 indicadores divididos em três dimensões: Necessidades Humanas Básicas; Fundamentos do Bem-Estar e Oportunidades. 

TRÊS DIMENSÕES 

A primeira dimensão, Necessidades Humanas Básicas, avalia se um País e/ou região tem condições de prover as necessidades essenciais de sua população. Essa dimensão mede se as pessoas têm comida suficiente, se estão recebendo cuidados médicos básicos, se possuem acesso à água potável, se têm acesso adequado à habitação com serviços básicos e se estão seguras e protegidas.

A segunda dimensão, Fundamentos do Bem-Estar, mede se uma população possui acesso à Educação Básica de qualidade e à comunicação e se tem condições de viver com saúde, bem-estar e qualidade de vida. Essa dimensão também avalia se a sociedade consegue viver de forma ambientalmente sustentável e se está garantindo a existência dos recursos naturais (floresta, água) para as gerações futuras.

A terceira dimensão, Oportunidades, mede o grau em que uma sociedade é livre de restrições sobre os seus próprios direitos e os seus indivíduos são capazes de tomar suas próprias decisões e se existem preconceitos e hostilidades que impedem os indivíduos de atingirem pleno potencial.

57 INDICADORES

Para calcular o IPS Brasil 2025, foram utilizados 57 indicadores. Todos provenientes de fontes oficiais e de institutos de pesquisa como o Ministério da Saúde, Ministério da Cidadania, Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), Instituto Nacional de Estudos e pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mapbiomas, Anatel, CadÚnico, entre outras.

A escolha dos indicadores para cada componente segue critérios rigorosos de acordo com a metodologia global do IPS.

Cada indicador passa por processo rigoroso na análise estatística, desde a validação da qualidade e confiabilidade do dado, até a normalização (para que os dados sejam comparáveis). As análises Kaiser Meyer-Olkin (KMO) e Alfa de Cronbach foram utilizadas para verificar a validade e confiabilidade da Análise de Componentes Principais (ACP).

FLEXIBILIDADE 

Uma vantagem do IPS apontada pelos organizadores sobre outros índices sociais é a flexibilidade para adoção de novos indicadores caso seja necessário. Por exemplo: um indicador pode perder a relevância e ser substituído por outro mais apropriado na edição seguinte do IPS. E, havendo disponibilidade histórica de um novo indicador no IPS também pode ser calculado de forma retroativa, o que possibilita comparação temporal. Dessa forma, o índice estará sempre atualizado para medir o progresso social -- afirma a direção. 

Desde a última edição do IPS Brasil em 2024, cinco indicadores foram incluídos na estrutura (Consumo de Alimentos Ultraprocessados – Sisvan, Resposta a Processos Previdenciários – CNJ, Resposta a Processos Familiares – CNJ, Índice de Vulnerabilidade das Famílias do Cadastro Único – CadÚnico, e Famílias em Situação de Rua – CadÚnico) e 1 foi excluído (Trabalho Infantil - CadÚnico). 

CONSTRUÇÃO DO ÍNDICE

O índice varia de 0 (pior) a 100 (melhor) e corresponde à média simples dos resultados do IPS das três dimensões. A nota de cada dimensão, por sua vez, é a média simples dos resultados de cada componente. E, por fim, os resultados dos componentes são gerados a partir de pesos obtidos entre os indicadores. 

Desenvolvido em parceria entre o Imazon, Fundação Avina, iniciativa Amazônia 2030, Anattá, Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Social Progress Imperative, o IPS Brasil é baseado exclusivamente em dados públicos e atualizado anualmente. A ferramenta permite acompanhar tendências e medir a efetividade de políticas públicas em tempo real. 

A construção do IPS Brasil 2025 seguiu metodologia rigorosa baseada no padrão internacional do índice. A escolha dos 57 indicadores usados no cálculo obedece a critérios como relevância social ou ambiental, foco em resultados, uso de dados públicos e confiáveis, atualizados e disponíveis para, pelo menos, 95% dos municípios do país. 

Cada dado passa por modelagem estatística detalhada, que inclui normalização, verificação de qualidade, definição de valores de referência e aplicação de pesos definidos por Análise de Componentes Principais (ACP). 

RESULTADO FINAL 

O resultado final é um índice que varia de zero (pior cenário) a 100 (melhor cenário), refletindo a média simples dos desempenhos nas três dimensões do progresso social. As fontes utilizadas vão de bases consolidadas como DataSUS, CadÚnico e Anatel até iniciativas como o MapBiomas e o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde. 

A edição 2025 traz uma atualização importante no seu conjunto de dados: foram incluídos novos indicadores que enriquecem o diagnóstico territorial: Consumo de Alimentos Ultraprocessados, Resposta ao Benefício Previdenciário, Resposta a Processos Familiares, Índice de Vulnerabilidade das Famílias e Famílias em Situação de Rua. 

PRINCIPAIS RESULTADOS 

O índice nacional de 2025 aponta uma pontuação média de 61,96 (numa escala de 0 a 100). A melhor avaliação ficou com a dimensão Necessidades Humanas Básicas, com média 74,79, seguida de Fundamentos do Bem-Estar (65,02). Já a dimensão Oportunidades, que mede inclusão social, acesso à educação superior e respeito a direitos, teve o pior desempenho: 46,07. 

“Apesar de alguns avanços, os dados mostram que o Brasil ainda falha em garantir oportunidades iguais para todos, especialmente para os mais vulneráveis”, afirma Beto Veríssimo, coordenador do IPS Brasil. 

Entre os componentes do índice, Moradia obteve a maior média nacional (87,74), enquanto Direitos Individuais (32,41), Educação Superior (47,39) e Inclusão Social (47,21) ficaram entre os mais baixos. Os piores indicadores estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste, com destaque negativo para o componente Qualidade do Meio Ambiente na Amazônia Legal, impactado pelo desmatamento e emissões de gases de efeito estufa. 

CONTRADIÇÕES 

Curiosamente, o relatório também aponta que regiões mais desenvolvidas economicamente, como Sul e Sudeste, apresentam fragilidades em Saúde e Bem-Estar, com altas taxas de obesidade, suicídios e consumo de alimentos ultraprocessados.  

Pelo segundo ano consecutivo, o pequeno município de Gavião Peixoto, localizado no interior de São Paulo, recebeu a melhor classificação do Brasil com a nota de 73,26 em uma escala que vai de 0 a 100. A segunda colocação ficou com Gabriel Monteiro (SP) , seguido de Jundiaí (SP). Dos 10 municípios mais bem colocados,  sete são paulistas. 

O IPS também avalia o desempenho médio dos Estados brasileiros. São Paulo, Santa Catarina e Paraná foram os mais bem colocados. Na outra ponta, Pará, Maranhão e Amapá apresentaram os piores resultados, evidenciando as desigualdades estruturais e históricas da Amazônia Legal. 

DETALHAMENTOS 

Conforme nota oficial dos organizadores, no site do IPS Brasil, é possível analisar o perfil detalhado de todos os municípios, identificando em quais áreas cada um se destaca e onde há necessidade de melhorias. A plataforma também permite comparar municípios que estão na mesma faixa de PIB per capita, área e população, oferecendo uma ferramenta poderosa para gestores públicos, investidores sociais e a sociedade em geral entenderem melhor as dinâmicas de desenvolvimento local e planejarem ações mais eficazes para promover o progresso social e ambiental.  

MELHORES E PIORES 

O IPS Brasil 2025 revelou uma desigualdade na distribuição do progresso social entre os municípios do país. O ranking dos 20 municípios com os melhores e piores desempenhos expõe um contraste entre o Norte, especialmente a região da Amazônia Legal — que concentra a maior parte dos municípios com pior avaliação—, e o Sudeste, onde estão localizados os municípios com os maiores índices. 

De modo geral, as capitais brasileiras apresentaram desempenho relativamente melhor no IPS, com exceção de Maceió (AL), Porto Velho (RO) e Macapá (AP), que registraram notas mais baixas. Entre as capitais com melhores resultados, destacam-se Curitiba, Campo Grande, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte. 

IPS BRASIL 

No ranking dos Estados do IPS Brasil 2025, o Distrito Federal, São Paulo e Santa Catarina lideram com as melhores notas. Na outra ponta, os piores desempenhos se concentram na Amazônia Legal, com Acre, Maranhão e Pará ocupando, respectivamente, as últimas posições — um retrato das desigualdades regionais que ainda marcam o país. 

A produção do IPS Brasil 2025 contou com apoio técnico e institucional de ampla rede de instituições comprometidas com o desenvolvimento sustentável do País. Contribuíram para a edição Centro de Empreendedorismo da Amazônia (CEA), Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Eneva, especialistas independentes, Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Hydro, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto Floresta Viva, Instituto Igarapé, Instituto Itaúsa, Instituto Soberania e Clima (iCS), MapBiomas Brasil, Ministério Público Federal (MPF), Not Another Boring Company, O Mundo que Queremos, Projeto Saúde e Alegria, Social Progress Imperative, Universidade de São Paulo (USP) e Vale.

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