COMO TRATAR MORTOS
QUE SEGUEM VIVENDO?

Mortos que seguem vivendo são mortos que morreram, mas continuam vivos. A redundância aparentemente estúpida é só uma maneira que encontrei para me referir aos mortos que se foram e deixaram ativos e passivos sociais. São mortos que de alguma forma exerceram influência pública e que, portanto, estão fora da espiral de viver e morrer no sentido convencional da expressão.
Tenho conflito íntimo quando trato dessa questão ou quando penso em tratar essa questão. Mais que conflito, trata-se mesmo de um choque de espiritualidade.
Meu lado pessoal, de Daniel José de Lima, pensa exatamente o oposto do lado profissional de Daniel Lima. Há entre mim e mim uma barreira que estabeleci como modo de vida saudável, senão encerro a carreira profissional ou peço ingresso em algum manicômio.
A espiritualidade pessoal e a imposição profissional não são elementos conciliatórios. É preciso relativizá-los sem sacrificar a ética e a coerência. Jornalismo tem preço a pagar. Imponho a mim a substituição da emotividade pessoal e, mais que isso, o completo alheamento à vida alheia, pela racionalidade profissional intrinsicamente metida a escarafunchar a atividade de quem responde por qualquer fração de interferência social.
CASO LUIZ TORTORELLO
Viram a situação em que vivo? Meu lado pessoal, repito, não tem nada a ver com qualquer personagem de combatividade intrínseca ao jornalismo. Digo brincando – e alguns levam a sério ao devolverem uma sentença sarcástica – que tenho dupla personalidade. A primeira não quer saber a Hora do Brasil. A segunda procura o tempo todo o que se passa no Brasil, sempre sob o ângulo da regionalidade.
Vou dar um exemplo que provavelmente encurte essa complexidade de viver uma vida de um jeito e viver a outra vida de outro jeito, daí ter feito a indagação sobre o que fazer com mortos que já morreram biologicamente mas estão presentes como agentes em intersecções temporais breves ou longas.
Recentemente, recebi um convite para contribuir com observações sobre a vida do politico que marcou a história de São Caetano de forma indelével. Luiz Tortorello é mesmo uma das figuras mais emblemáticas da história da região, entre outras razões porque combinava autoritarismo que também pode ser tratado como personalismo latente e agudo com fina sensibilidade de decifrar o DNA da cidade mais enigmática da região, no caso São Caetano.
ESTRAGA-PRAZER
A biografia autorizada de Luiz Tortorello, lançada recentemente, deveria contar com participação sei lá de que tamanho e importância deste jornalista. Pequei com o responsável por aquele projeto editorial, o professor universitário Edgar Nóbrega. Não lhe entreguei o texto que não prometi incisivamente, mas também não rejeitei enfaticamente. Deixei no ar a resposta, mas acho que a dúvida, por assim dizer, bandeava mais à provação do que à rejeição.
Como não tive oportunidade de explicar a Edgar Nóbrega a razão da ausência na obra, o faço agora, aproveitando carona nesse texto. Só não fiz mal-traçadas linhas sobre Luiz Tortorello porque não pretendia ferir o espírito conciliador, proclamador, congraçador e tudo que o valha nesse sentido do homenageado que estaria impresso em livro. Não seria um estraga-prazer.
Já imaginaram minha presença no lançamento da obra – e fui convidado para tanto – e observar olhares estranhos dos familiares por conta de escrever alguns senões que sempre escrevi quando Tortorello vivia, mas que, morto e agora homenageado, caberia como insana inescrupulosidade humana?
Agora pergunto aos leitores, para justificar tudo que está acima: como vou escrever qualquer coisa sobre Luiz Tortorello se ao mesmo tempo em que lhe prestaria respeito pela lucidez com que dirigiu São Caetano, opusesse seu descaso deliberado ao Clube dos Prefeitos? Mais ainda: seus embates nos bastidores com o contemporâneo Celso Daniel?
MAIS APONTAMENTOS
Repararam que nesse caso específico pude de alguma forma, acredito, me sair bem o suficiente para não criar constrangimento? Não seria justo se atendesse ao pedido de Edgar Nóbrega e produzisse um texto lateralmente crítico a Luiz Tortorello. A obra não era de minha autoria e responsabilidade. Me sentiria um invasor desalmado.
Lembrar que Luiz Tortorello era opositor regionalmente diplomático de Celso Daniel, porque disputava com Celso Daniel a primazia de liderança maior no Grande ABC, como se outros prefeitos daquela jornada de 1997 a 2000 não o fossem também, é uma ação compulsória que reafirmo nesse texto.
Mas esse texto não é um texto de um livro em louvação mais que justa ao prefeito que fez de São Caetano uma saída emergencial no campo econômico, ao abrir as portas à guerra fiscal no setor de serviços, à moda de Barueri, e deu um drible da vaca em Celso Daniel, que pretendia que o modelo de uso do ISS fosse gerado coletivamente por todos os municípios da região num grande acordão em que todos saíram ganhando.
CASO AIDAN RAVIN
Um dos mortos da região que mais me incomodam como presença vivíssima por causa do passivo e do ativo que deixou chama-se Aidan Ravin. Não conheci ninguém tão exuberante como colecionador de empatia. Não à toa saiu da condição de vereador a prefeito num passe de mágica. Era um destruidor da concorrência. Bastava sair às ruas. Nas feiras-livres, por exemplo, era arrasador.
O problema todo é que todos sabem que Aidan Ravin morreu biologicamente na esteira da Covid-19 tendo mais que um passivo social a incomodar Santo André, porque se mostrou um prefeito de baixa produtividade, como tantos outros aliás.
O que atormenta a atuação desse jornalista no caso de Aidan Ravin é exatamente o passado criminal, que custou a ele duas dezenas de anos de reclusão em sentença de Primeira Instância.
Essa é a primeira vez que faço essa citação da vida pública de Aidan Ravin amplamente divulgada pela mídia. Convenhamos também que é uma obrigação profissional, desde que sustentada por motivação exclusivamente profissional. E o é nesse caso porque estou relatando o drama pessoal e profissional que exponho aos leitores como um desafio de autocontrole nos dois campos de vida.
Fiquei imaginando nos últimos dias o que escreveria sobre essa espécie de catarse pessoal porque os mortos que ainda vivem ao mesmo tempo em que não podem ser banalizados no que deixaram de passivos evidentes e documentais, também não podem ser esquecidos em situações especificas.
IRMÃO DETRATOR
Foi o prefeito Aidan Ravin vivo que me faz mencionar o prefeito Aidan Ravin morto o motivo ter escolhido a vida depois da morte entre mais de 20 temas que aguardam na fila por análise nesta revista digital.
Aliás, de fato não foi apenas Aidan Ravin. Luiz Tortorello na situação que descrevi acima surgiu, de fato, primeiro, porque devia uma explicação ao sempre gentil e atencioso Edgar Nóbrega. Aidan Ravin acelerou esse acerto de contas.
E por que afinal resolvi citar o caso de Aidan Ravin? Ora, porque há um membro familiar, que atuou ao lado dele quando prefeito, cujo esporte preferido é atacar este jornalista. Meu agressor frequente estaria seguindo um acordo com terceiros em troca de vantagens. Se não for o caso e se outro caso o for, será a mesma coisa. Calúnia e difamação, eis a questão.
O nascedouro desta abordagem de hoje poderia suscitar críticas dos leitores a este jornalista. Esses leitores me avaliariam como suscetível a futricas. Mortal como qualquer um, tenho o direito sagrado ao livre-arbítrio. A mim o irmão de Aidan Ravin não faz cócegas. Aliás, faz sim: sua reputação é tão respeitável que se eventualmente eu decidir escrever a maior bobagem sobre qualquer coisa e ele aparecer no grupo de um aplicativo com a maledicência de sempre, todos vão dar aval ao meu texto.
O mais intrigante no caso do irmão antípoda da alegria irradiante do ex-prefeito, é que ele, o irmão, renegou recentemente o próprio irmão. A repetição é proposital para escandalizar o leitor. Próximo ao grupo que comanda o Paço Municipal de Santo André, o irmão de Aidan Ravin está a serviço de uma causa e se no meio do caminho o próprio irmão aparecer no enredo, vai negar a verdade dos fatos.
E qual foi a verdade dos fatos que o irmão de Aidan Ravin agiu contra Aidan Ravin como Caim diante de Abel? Escrevi com base em documentos, em fatos, em notícias de várias publicações, que o autor do conceito e da aplicação de medidas práticas do chamado Poupatempo da Saúde foi exatamente Aidan Ravin, logo no começo do mandado iniciado em 2009.
A Administração de Paulinho Serra, com a ajuda da mídia, simplesmente omite essa informação, batizando como de autoria própria o Poupatempo da Saúde instalado no Shopping Atrium. O irmão de Aidan Ravin que participou informalmente da gestão de Aidan Ravin nega o próprio irmão noticiado à exaustão como autor da iniciativa. Tudo para ficar com os poderosos de plantão.
Repito: há abundância de provas, de documentos, de noticiários, inclusive de veículos fora da região, que creditam e confirmam Aidan Ravin como agente da iniciativa de criação do Poupatempo da Saúde. Nada que surpreenda. Aidan Ravin era médico. O beneficiário de uma fraude nominal, o agora prefeito Gilvan Júnior, provavelmente nem saberia a utilidade de um bisturi, ou mesmo a existência de bisturi, quando Aidan Ravin efetivou a medida.
CAIM ATACA DE NOVO
Como pode o próprio irmão sabedor da verdade manifestar-se na Internet contra um jornalista que comprova a autoria da marca e do conceito de Poupatempo da Saúde ao então prefeito de Santo André? Um Caim redivido, claro.
Uma outra ladainha do irmão de Aidan Ravin está na insistência com características de senilidade ao dar versão totalmente infundada sobre os resultados de pesquisas eleitorais que atribuíam ao petista Vanderlei Siraque vitória iminente na disputa pela Prefeitura de Santo André, em 2008. Não havia um único instituto de pesquisa a 10 dias da disputa que colocasse em dúvida a vitória do petista, vencedor no primeiro turno por pouco mais de 49% dos votos. Ou seja: faltou menos de 1% para fechar a eleição.
Também o noticiário daqueles dias está disponível. A reviravolta nos últimos dias daquela disputa, em texto explicativo que publiquei na revista de papel LivreMercado após a eleição, expõe detalhadamente a surpreendente reviravolta.
O irmão da Aidan Ravin insiste em enxergar fantasmas e ataca continuadamente este jornalista. Ele, o irmão de Aidan Ravin, muito conhecido na praça, é meu atestado de credibilidade.
PROCURE E NÃO ACHE
Sei que o irmão de Aidan Ravin vai se achar o máximo ao ganhar um minuto de fama neste espaço do melhor jornalismo regional do País. Aliás, sobre isso, agora deu de questionar uma verdade histórica e inquestionável. Indaga o intrépido irmão de Aidan Ravin sobre a organização responsável pela qualificação editorial que repito constantemente. Qual teria sido o prêmio que ganhei nesse sentido, diz o irmão de Aidan Ravin.
O irmão de Aidan Ravin, que não sai em forma digital dos corredores e dos gabinetes da Prefeitura de Santo André, acredita que bastaria um certificado ou algo parecido, como tantos gestores públicos compram, para comprovar o que chama de empáfia deste jornalista.
Minha sugestão é que fale com seus protetores e vasculhe a mídia regional deste País. Se encontrarem algo que faça cócegas a esta publicação que soma 35 anos de reformismo editorial, encerro minha carreira.
Talvez um dos grandes erros de quem como jornalista tem tanta experiência foi se deixar levar por intervenções mal-ajambradas de um detrator. Tenho uma fila de temáticas para cuidar nesse espaço. Entretanto, acho que faço bem em colocar a morte dos que morreram e a morte dos que vivem por conta do que fizeram na vida pública.
PASSADO INDESCARTÁVEL
Afinal, é uma oportunidade de mostrar aos leitores em geral que minha atividade se defronta também com gente da espécie do irmão de Aidan Ravin. É claro que ele, irmão de Aidan Ravin, não está na minha lista de transmissão. Faz parte de um grupo no qual é uma voz isolada de idiotia com que se manifesta também sobre outras questões.
Para completar, e retomar o fulcro da questão de mortos e mortos-vivos, talvez por pensar tanto nesse embaralhamento de sentimentos e ações tenha chegado à melhor conclusão: independentemente de morto ou vivo, ou de morto e vivo, o que deve definir pautas desafiadoras como essa é ter o passado publicado como fonte eterna de pautas necessárias.
Afinal, não se pode simplesmente jogar na lata do lixo do comodismo ou da covardia tudo que no passado virou informação e análise, sob pena de ao longo do tempo os arquivos virarem inutilidades. Essa possibilidade é o que mais refuto.
Afinal, mesmo depois de morto vou continuar vivo. Alguém vai cuidar de lembrar quando necessário o que andavam declarando agentes públicos sobre problemas da região que estou cansado de escrever. Meu fantasma será permanente. Desmascaramentos (e consagrações, evidentemente) de terceiros seriam o melhor presente para um morto-vivo.
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