QUANTO É PAULINHO
SERRA VEZES SETE?
DANIEL LIMA - 28/01/2025
Sei que você ficou encafifado com a manchetíssima de hoje. Afinal, do que se trata “Quanto é Paulinho Serra vezes sete?”. Por restrição editorial, ou seja, porque o espaço para o título é limitado, padronizado, há um sujeito oculto na manchetíssima aí em cima.
Se houvesse mais alguns caracteres à disposição na linha de cima e na linha de baixo, o título seria claríssimo: “Quanto é Paulinho Serra vezes sete Paulinhos Serra?”. Creio que você entendeu agora, embora o enunciado inicial e mantido pressuponha não um sujeito oculto em desarmonia com um sujeito evidente, mas dois sujeitos identificáveis.
Agora parto para a conclusão do enunciado da manchetíssima. Não é preciso fazer muita conta porque uma coisa vezes sete vezes a mesma coisa não dá outra coisa que não sete vezes a coisa. Ou estou enganado? É a mesma coisa no caso de Paulinho Serra vezes sete Paulinhos Serra. São sete Paulinhos Serra. Ou estou enganado? A gente aprende no Ensino Fundamental, antigo Primário, que sete vezes um é sete. Então, sete vezes Paulinho Serra totalizam sete Paulinhos Serra. Combinado?
Você pode estar me abominando por essa aula de atrapalhada matemática, mas espere um pouco que você vai entender que tudo isso tem um forte motivo. Emblemático motivo.
PERSONALIZAÇÃO
Não me chame de Rolando Lero, por gentileza. Todos sabem que meus textos são personalizados. Qualquer analfabeto de pai e mãe escreve hoje nos jornais. Escrever nos jornais para quem sai de faculdade ou mesmo quem passa anos numa redação de gente incompetente não vai mudar nada. Continuará sendo analfabeto. E quando me refiro a analfabetismo é no sentido jornalístico de ser. Nada além disso. O que é muito, quando se trata de jornalismo. Jornalismo fastfoodiano é preferência nacional dos simplistas que se pretendem professores de jornalismo nas redes sociais. São idiotas juramentados que se pensam espertos.
Matéria publicada sem arte e traços de personalidade pessoal é matéria comum nos jornais sem alma. Desde sempre me opus a fórmula feita. Houve quem, analfabeto de pai e mãe, tentasse mudar o rumo e o prumo. Se deu mal. A revista LivreMercado, antecessora de CapitalSocial, que dividi e multipliquei com muitos jornalistas, contava com profissionais de personalidade. Eles transformavam pedra bruta de informação em ouro. Vasculhem no Brasil inteiro, fora das capitais, e não encontrarão em lugar algum algo semelhante.
Não vou revelar o nome do leitor que me disse não faz muito tempo o que provavelmente muitos outros pensam. Ele, o leitor, disse exatamente o seguinte: “Pode haver mil reportagens, nada me fará deixar de apontar qual é a sua”. E assim temos muitos exemplos na praça nacional. Eu os consumo até o caroço.
Há também muitos que escrevem de forma mais clássica. Nesses casos, os conteúdos seguram a audiência. No fundo, nada resiste à informação qualificada, confiável, com estilo ou discretamente produzida. O mundo da escrita, assim como do futebol e de tantas outras áreas, comporta diversidade. Comporta e valoriza.
SETE A ZERO COLORIDO
Bom, chega de embromação e vamos ao finalmente. Do que se trata, então, a equação aí na manchetíssima, de Paulinho Serra vezes sete vezes Paulinho Serra? Trata-se do seguinte: em praticamente toda a mídia regional, a ordem dada e cumprida é a que se segue: queremos somente noticiário positivo de prefeitos e de secretários. Nada que os coloque em dificuldade. Não faltarão reciprocidades.
Queremos, dizem eles, pautas positivas para encher a bola dos prefeitos sem parar. É sete a zero sem dar moleza aos opositores. Noticiário sempre cor-de-rosa. Somente pontos positivos da Administração. E pau nos que saírem em desacordo com nossos interesses. Nossos interesses são supremos.
Mais que isso: vamos encher a bola do Consórcio de Prefeitos todos os dias. Vamos endeusar a instituição. Vamos fazer do Consorcio o suprassumo do sucesso regional. E vai por aí afora.
Como toda a unanimidade tende a ser burra, o tempo haverá de provar que não é assim que a banda do jornalismo comprometido com a sociedade deve tocar. É preciso cobrança, contraditório, valorizar o que é bom e esculhambar, no bom sentido, o que é ruim. Nada além nem aquém disso.
SECOS E MOLHADOS
Não sou adepto do radicalismo de que imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados, como dizia Millôr Fernandes. Acho que não é assim. Tanto quanto não é uma divisão territorial do bem e do mal, de acordo com preferencias de variantes mais que conhecidas. Sempre haverá espaço à competência.
Introduzi no Prêmio Desempenho uma categoria voltada aos cases públicos. Foi um estrondo. Basta procurar bons exemplos para achar. Um exemplo de programa público que, noves fora o vetor político, foi um achado? O Moeda Verde da secretária que virou deputada, Carolina Serra, em Santo André. Mesmo que seja uma cópia adaptada dos programas de Celso Daniel, o Moeda Verde colocou o ovo do assistencialismo de pé de maneira propositiva.
Também faz parte do recém-lançado manual de unanimidade burra abrir uma brecha de crítica aqui e ali para disfarçar a unanimidade burra. Uma matéria negativa aqui, minimizada na diagramação de modo que o leitor não dê a devida importância, pode ajudar a transmitir a ideia de que há senso crítico em ação. Só não é possível exagerar na concessão à exceção de despistes.
ERRO DEMARCHIANO
Um erro de calibre também pode jogar a água da bacia da suposta neutralidade junto com a criança da fragilidade do entrevistado. Foi exatamente isso que ocorreu com o secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, o metre Rafael Demarchi, e a coleção de bobagens que jogou o prefeito Marcelo Lima às profundezas do Ranking de Mentiras e Meias Verdades.
Embora tudo esteja acertadíssimo para que os prefeitos virem heróis acima do bem ou do mal, ou melhor, virem deuses da competência, o mais importante nessa altura do campeonato é que, a partir de hoje, quando o Clube dos Prefeitos vai dar posse surpreendente ao prefeito Marcelo Lima (é brincadeirinha esse “surpreendente”, claro) a vaca vai atolar no brejo do exagero combinado. O Clube dos Prefeitos, o tal Consórcio Intermunicipal, vai ser a estrela da companhia midiática regional a partir de agora.
O Clube dos Prefeitos está tão desesperado por vender a imagem de que será o Clube dos Prefeitos do Paulinho Serra vezes sete que até mesmo a recusa diplomática do prefeito de São Caetano, Tite Campanella, está sendo tratada eufemisticamente de “assistente”.
SÍNDROME EMANCIPACIONISTA
De fato, Tite Campanella, com a síndrome de emancipacionismo, foi tão pressionado a voltar ao Clube dos Prefeitos que deu uma ajeitada de evitar que o velho Anacleto Campanella se revolva no túmulo. Voltar Tite não volta, ou seja, voltar São Caetano não volta, mas vai como espécie de convidado para sentir o terreno e, quem sabe, passe a perna no velho pai em seguida.
A cláusula ocasional com direito a esticamento no tempo é que o Clube dos Prefeitos seja uma réplica dos oito anos de Paulinho Serra à frente de Santo André. Só valem aplausos, mistificações, fanfarras comemorativas a sucessos mais que suspeitos.
Há quem não teria gostado da ideia. Dizem que até o prefeito Marcelo Lima não estaria disposto a tantas lantejoulas, mas o bom senso recomenda que é melhor esperar para ver se Marcelo Lima não estaria apenas participando de uma farsa de resistência. Marcelo Lima tem olhos postos no futuro. Já começou a disputar a reeleição. O marqueteiro dele é de primeira linha motivacional. Lembra o marqueteiro de Paulinho Serra.
FERTILIDADE PERSEGUIDA
Como cansei de apontar aos longo dos anos nesta publicação (com provas cada vez mais cabais de que Paulinho Serra se tornou um perfumista que nem de longe compreenderia o que é reformismo), corremos para valer o risco de que teremos a extensão da Prefeitura de Santo André como vitrine de conquistas que não resistem a uma lufada de inteligência em qualquer contraditório de resistência.
Sei bem quem são os arquitetos de um Clube dos Prefeitos ressurreto, maravilhoso, prospectivo. Há marqueteiros profissionais por trás das cortinas a ditar o ritmo da valsa da engabelação geral. Marqueteiros de festanças sem sustância são demolidores. Eles sabem como conquistar a plateia de incautos.
Repito: a gestão de Paulinho Serra é prova disso. Eles, os marqueteiros, vendem a mãe. E não entregam. Para tanto, valem-se de uma buraco enorme de baixíssimo grau de cidadania municipal e regional: os eleitores estão dominados pelas maquininhas portáteis diabólicas que trazem para cá e fazem daqui elementos de cultura da polarização nacional. As questões locais de todos os quadrantes temáticos pouco valem. Até porque, o varejismo de Paulinho Serra se mostrou eficiente. Fez do sucessor réplica escarrada, inclusive envelhecida no discurso.
O Clube dos Prefeitos de unanimidade burra impossível com Orlando Morando e José Auricchio Júnior nos últimos oito anos, porque eles se rebelaram contra a partitura de comando imperialista, será o Clube dos Prefeitos de Paulinho Serra e outras cinco réplicas. Tite Campanella resistirá até quando? O medo de perder espaço na mídia como exemplo de bom prefeito o leva ao tormento de estar entre a cruz e a espada, vigiadíssimo pelo pai Anacleto Campanella, libertador de São Caetano, a única divisão da antiga Santo André da Borda do Campo que se deu bem com os movimentos separatistas.
Leia mais matérias desta seção:
27/01/2025 VAMOS LÁ MARCELO, APROVE O CONSELHO!
24/01/2025 DETROIT À BRASILEIRA É DESAFIO GERAL (4)
17/01/2025 TITE SABOTADOR? TITE COERENTE!
16/01/2025 QUAL MARCELO LIMA TERÁ O CLUBE DOS PREFEITOS?
15/01/2025 DETROIT À BRASILEIRA É DESAFIO GERAL (3)
14/01/2025 BANCADA DO ABC, UMA FARSA DESATIVADA?
08/01/2025 DETROIT À BRASILEIRA É DESAFIO GERAL (2)
07/01/2025 CLUBE DOS PREFEITOS: PROPOSTAS ABUNDAM
06/01/2025 DETROIT À BRASILEIRA É DESAFIO GERAL (1)
488 matérias | página 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49