Regionalidade

SENHORES PREFEITOS:
CHEGA DE LENGALENGA

  DANIEL LIMA - 20/12/2024

Esta é uma Carta Aberta aos senhores prefeitos que vão assumir as sete prefeituras do Grande ABC em janeiro próximo. Apenas dois dos senhores foram reeleitos em outubro do ano passado. Há, portanto, cinco novidades.  Sugiro que os senhores se preparem porque vão assumir uma bucha de canhão. Não cometam a besteira de cair no conto do vigário de que ao invés de bucha de canhão os senhores encontrarão um mar de rosas.

O que se segue é o que chamaria de manual prático para não se sentirem injustiçados pelo jornalismo profissional mais independente da região. Estamos ao lado dos senhores numa nova trajetória da regionalidade. Não nos decepcionem. 

Podem chamar esta Carta Aberta do que quiserem. Estamos cansados de lengalengas triunfalistas. Por isso, esperamos que alterem o rumo dos acontecimentos. Torcemos por todos vocês, porque torcemos por todos nós.

Só não queiram nem exijam nem insinuem nem pressionem algo que não é nossa missão. Não vamos mentir nem distorcer os fatos. Tampouco vamos nos aquietar diante de todo tipo de malabarismos de marketing de efeitos especiais que poderia ser acionado novamente, nessa corrente de felicidade de araque.  

FRACASSO CONTINUADO

Exporemos, senhores prefeitos, o que é uma prática aperfeiçoada ao longo de três décadas e meia de CapitalSocial, publicação sucessora da revista de papel LivreMercado, criada por este jornalista em março de 1990. Ou seja: regionalidade faz parte de nosso léxico profissional meses antes da criação do Clube dos Prefeitos, o Consórcio de Prefeitos. 

Essa Carta Aberta é direcionada tanto ao prefeito que dirige uma prefeitura da região quanto ao prefeito que participa do Clube dos Prefeitos. Não há como deixar de juntar esses dois corpos institucionais. A separação existe abusivamente na história do Clube dos Prefeitos, fundado sob a liderança de Celso Daniel, prefeito dos prefeitos de todos os tempos.  

Raramente a instituição caminhou unificada entre os prefeitos. E jamais deu continuidade às políticas públicas anunciadas. Não será com a industrialização agora coletiva de eventual marketing promocional que os senhores nos convencerão de que estão decididos a mudar.

Vamos fazer a curadoria que se faz necessária. Os senhores devem fazer escolhas. Há piratas na praça que falam do Clube dos Prefeitos da boca do oportunismo para fora. Só se lembram da instituição quando enxergam vantagens pela frente.  

MELHOR COLABORAÇÃO

Nenhum dos senhores prefeitos tem um quarto da vivência teórica e prática da regionalidade deste jornalista. Isso não é empáfia. É realidade histórica. Nenhum dos senhores suportaria 10 questionamentos sobre regionalidade. Isso não é desonra. Não é demérito. É apenas ignorância. No bom sentido da palavra. 

Por isso, não custa nada aprender com quem sabe. Garanto que, supostamente, não vou desaprender com os senhores. Sinto no ar o cheiro de uma brilhantina de manipulação sobre o que seria o Consórcio de Prefeitos a partir de janeiro. Não se deixem cair na tentação de ilusionistas de sempre.

Acho que os senhores deveriam me agradecer por estar disposto a colaborar da melhor maneira possível. E colaborar da melhor maneira possível é não me dobrar às conveniências inconvenientes ao futuro da região.  

Talvez os senhores prefeitos não tenham nem ideia do quanto o Clube dos Prefeitos (ou Consórcio de Prefeitos, na denominação oficial) está no acervo desta publicação de 35 anos de circulação. “Clube dos Prefeitos” aparece em 910 textos distintos, quer como instituição protagonista de análises ou como figurante. “Consórcio de Prefeitos”, denominação nem sempre utilizada, consta de 560 artigos, não necessariamente sobressalentes a “Clube dos Prefeitos”.

VÁCUO PARTICIPATIVO

Os senhores, certamente, até outro dia mal sabiam o significado prático, histórico, de Consórcio de Prefeitos. Por isso, a sugestão é que não caiam no conto de vigaristas de que basta um toque mágico e tudo se transformará. A regionalidade do Grande ABC é uma obra de arte complexa que jamais passou dos primeiros toques de efetividade.

Querem um exemplo, um exemplo apenas, entre centenas que poderiam ser mencionados? Vejam se existe algum apontamento, apenas um apontamento, nos anais vazios da instituição, que se refiram à maior catástrofe econômica do Grande ABC em todos os tempos. Que catástrofe?

É possível que alguns dos senhores saibam, desde que tenham acompanhado esta publicação. Estamos falando da perda do PIB (Produto Interno  Bruto) de 22% durante os anos de 2015-2016, por conta do desastre presidencial de Dilma Rousseff. A perda média brasileira não passou de 7%. Somos o resto do toco da competitividade nacional.

E o que houve, também, durante os oito anos de Fernando Henrique Cardoso no tecido industrial da região, principalmente das pequenas empresas? Duvido que os senhores saibam. É disso que estamos falando quando apontamos a necessidade de armazenar conhecimento para tomar decisões. Não repitam os erros dos antecessores. Nem as omissões. Nem as discriminações. Nem as falsidades estatísticas. 

200 INDICADORES

Os senhores prefeitos que assumem no próximo dia primeiro de janeiro precisam entender que CapitalSocial não tem apenas lastro histórico como única fonte confiável, crítica, contínua e minuciosa do andar da carruagem do Desenvolvimento Econômico e Social do Grande ABC.

É preciso ser analfabeto de pai e de mãe no campo institucional para desconhecer essa realidade. Os acervos estão aí como prova. São inúmeros estudos que realizamos individualmente nos últimos 18 anos e coletivamente, com a equipe de LivreMercado, anteriormente, durante 19 anos seguidos.

O diversificado tabuleiro de indicadores e macroindicadores sobre os quais nos debruçamos há dezenas de temporadas é o farol que ilumina o extenso campo econômico e social de interesse coletivo dos moradores da região. São perto de 200 indicadores, desdobrados de uma matriz de quase duas dezenas de macroindicadores.

Marcadores temáticos são estacas que mantêm o equilíbrio interpretativo essencial à credibilidade construída por nosso jornalismo. A plataforma de reputação de CapitalSocial é espécie de cláusula pétrea da qual lançamos mão permanentemente para evitar, mesmo por descuido, descaminhos circunstanciais.

As pressões que organismos públicos em geral, e municipais exercem sobre a mídia exigem cuidados extremos como os que sempre impusemos à frente de CapitalSocial e anteriormente de LivreMercado.

FIM DA TRAJETÓRIA?

O lobby chega a ser quase opressivo. Transformar jornalismo em assessoria de imprensa é um derivativo acentuado nos últimos tempos. A oficialização da informação geralmente bajulativa, acrítica,  domina a cena regional.

Os poderosos de plantão repudiam quem não faz parte da patota de um positivismo doutrinado, encomendado e incensado para ludibriar a boa-fé e anestesiar o contraditório. Esperamos que os senhores não estiquem essa corda de opressão. Essa corda não cola mais. 

Acreditamos que os senhores prefeitos, sejam os dois reeleitos, sejam os cinco eleitos, não darão continuidade a esse desenho lógico de imposição ao servilismo que,  no fundo,  é contraproducente a todos. Afinal, como não ser contraproducente quando se verifica  que um festival de aprovação por aprovação de tudo que se faz tem como raiz o despudor de interditar espaço a ponderações, correções e acertos de políticas públicas?

Sejam como prefeitos municipais ou como prefeitos dentro do Clube dos Prefeitos o avesso da perspectiva de que, como novos mandatários,  repetiriam o ritual dos antecessores.

ENTREGUISMO INFORMATIVO

A continuidade de políticas de comunicação que demonizam alertas e correções de rota é uma previsão que de tão lógica deveria ser chamada de percepção a ser confirmada. E o seria porque ao menos haverá mais uma vez uma ovelha desgarrada do rebanho bovinamente doutrinado à pactuação de  falsa harmonia. 

A dissidência é mais que justificável. Afinal, o Grande ABC em crise econômica e social permanente há mais de três décadas não é um bom exemplo de que a prática do entreguismo informativo se consagraria como sucesso estratégico. Distante disso. 

Por essas e outras, o monitoramento dos senhores prefeitos nos paços municipais e sobretudo no Clube dos Prefeitos é questão de responsabilidade social. Mais que isso: na medida em que se exercita o direito sagrado de informar sem deformar, uma publicação se converte também em agente de reconhecimento meritocrático, porque vai consagrar a boa política pública e vai execrar fantasias e efeitos especiais de políticos que têm em peças de marketing populista a essência do mandato.  

EXPECTATIVA SOCIAL

Dessa forma, portanto, cada prefeito dos sete prefeitos que vão integrar o Clube dos Prefeitos, ou cada prefeito que é prefeito apenas prefeito e sempre prefeito nos municípios que o elegeu, terá a oportunidade de se desvencilhar da imagem comum dos homens públicos vistos pela sociedade como peças descartáveis de qualquer iniciativa que procure dar respostas às demandas. 

O que estamos reiterando nesta Carta Aberta que deve ser vista como uma peça de respeito aos senhores prefeitos que não pretendem outra coisa senão atender às expectativas da sociedade é que não refugaremos o bom combate.

Modelo de prefeito ostensivamente mentiroso como tivemos nestas últimas duas temporadas na região, não terá folga. Nem pode. A procrastinação da realidade municipal e regional é um desserviço aos consumidores de informação que também são contribuintes e eleitores, além de cidadãos. Tratá-los como esse mentiroso de plantão de oito anos o fez, é um genocídio informativo.

Decidimos criar um ranking em que mentiras e meias-verdades vão ser sistematicamente acionadas como provas provadas contra quem estiver saindo da linha ética e moral. Continuaremos a tratar os municípios da região e a região como um toco com responsabilidade social.

MENTIRA CASTIGADA

A mentira deliberada é irmã gêmea de meias-verdades. São frutos da mesma árvore de desrespeito e de desdém aos leitores e eleitores. Por isso não podem ser relativizadas como prática de marketing. 

A contagem de pontos que determinará uma hierarquia de abusos será acionada durante períodos específicos nos próximos quatro anos. Repetiremos, com nova fórmula, o que realizamos durante quatro anos -- entre 2012 e 2016  -- quando criamos o Observatório de Promessas e Lorotas. Naquele período, contemplamos os infratores, por dizer assim, com base nas promessas de obras e serviços que se provaram frustrantes. Agora partimos da premissa de que, mais importante que os elementos determinantes da primeira versão, é seguir atentamente os passos de declarações incompatíveis com os fatos. 

A diferença entre mentira e meia-verdade nem sempre é tênue como pode parecer, tampouco imperceptível.  Adotaremos medidas que não deixarão pedra de dúvida sobre pedra de dúvida.  

FUNDAMENTAÇÃO

Um exemplo: prefeito que em declaração à imprensa disser o que todo mundo sabe que se trata de mentira no relacionamento com o Legislativo terá adicionado 50 pontos no ranking, correspondente a uma mentira. O que diria um prefeito sobre o Legislativo que afronta a realidade dos fatos? Que não tem influência nenhuma nas definições dos parlamentares, porque se trata de instância com ampla liberdade de escolhas. 

Difundir inverdades mais que sabidas e consagradas representa um grave delito ético de um chefe de Executivo. Não faltam muitos exemplos que desfilaram impunes durante os últimos oito anos na região. E que a partir de janeiro vão ser desmascarados.

Então, para que não haja dúvidas sobre o que vem logo aí na frente, CapitalSocial tanto exporá chefes de Executivos que manipularem informações como também os colocará em compartimento apropriado à medição do quanto estão preocupados com a qualidade fática das informações. 

Convém lembrar que os indicadores utilizados por CapitalSocial ao longo dos anos vão além do aspecto primário. Ou seja: comportam desdobramentos que tanto os completam na individualidade quanto na diversidade. Daí se chega a duas centenas de quesitos exploráveis à consumação de um trabalho investigativo em defesa da sociedade. 

Um exemplo: O PIB é um imenso guarda-chuva que detecta, também, realidades setoriais como indústria, comércio, serviços privados e serviços públicos, além da dimensão por habitante.

Vejam os principais  macroindicadores que vão balizar os próximos prefeitos do Grande ABC: 

1. PIB -- Produto Interno Bruto.

2. PIB de Consumo. 

3. IPTU—Imposto Predial e Territorial Urbano.

4. ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.

5. ITBI – Imposto de Transmissão de Bens Intervivos.

6. IPVA – Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores.

7. Valor Adicionado.

8. Mercado de Trabalho.

9. Indústria Automobilística.

10. Mercado imobiliário.

11. Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros.

12. REF – Ranking de Equilíbrio da Folha.

13. IFGF – Índice Firjan de Gestão Fiscal.

14. IFGM – Índice Firjan de Gestão Municipal.

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