Regionalidade

Dia da Regionalidade não
passa de Dia da Mentira

  DANIEL LIMA - 19/12/2023

Fosse o extinto Grande ABC, mais do que nunca ABC Paulista, digno de alguma coisa de útil que guardasse relação com os conceitos de Regionalidade, a data de hoje, 19 de dezembro, deveria merecer muita comemoração. Guardem os aplausos. Prefiram aquele prefixo musical dedicado aos mortos. Ou melhor: não façam isso, porque os mortos, quaisquer que sejamos mortos, não mereceriam tamanho desprestígio.

O Dia da Regionalidade não passa mesmo do Dia da Mentira Institucional da região. A mentira de que somos integrados, de que somos uma região. Fosse isso, Dilma Rousseff não teria feito o que fez ao derrubar nosso PIB. 

E Fernando Henrique Cardoso, no segundo mandato encerrado em 2002, teria sido devidamente penalizado além das urnas que o tornaram quase insignificante na região. Um e outro – com intervalo de quatro anos de eficiência do governo Lula da Silva, depois desgarrado com gastança sem parar – ajudaram a afundar a economia da região enquanto os músicos do Titanic regional produziam sons silenciosos de covardia. 

PRIMEIRO DE ABRIL

Afinal, são 33 anos desde a fundação do Clube dos Prefeitos, oficialmente Consórcio Intermunicipal dos Municípios do Grande ABC. Uma fraude. Celso Daniel, o criador da instituição, deve estar revolto no túmulo. 

Ao invés do Dia da Regionalidade, que propusemos ainda outro dia aqui como uma fórmula mágica para tocar a consciência de quem agora está metendo a mão nessa armadilha, o que temos de fato e por razões históricas é o Dia da Mentira. O Clube dos Prefeitos é nosso Primeiro de Abril institucional. 

Pior que o fato histórico, com breves licenças poéticas de alguma produtividade circunstancial, principalmente quando Celso Daniel ainda vivia, é que o Clube dos Prefeitos se tornou, nos últimos anos, em refúgio do que existe de mais lamentável na gestão pública. 

Ao divisionismo regional no campo administrativo, que congela as relações de integração, sobreveio o jogo político-partidário com a chegada ao poder regional do prefeito Paulinho Serra. Inovamos em atrevimento destinado à degradação institucional.

EMPODERAMENTO 

O titular do Paço Municipal de Santo André fez do Clube dos Prefeitos algo que os antecessores tomaram o cuidado de não exagerar. Paulinho Serra tornou a entidade um pedaço das relações municipalistas com a intenção de se fortalecer politicamente além do território regional. A regionalidade virou apenas pretexto ao empoderamento político-partidário.

Numa breve citação, Paulinho Serra colocou tanto no Clube dos Prefeitos quanto na direção da Agência de Desenvolvimento Econômico, braço supostamente técnico da entidade, gente ligada ao setor público, inclusive da Capital, que não tem a menor ideia do que significa regionalismo. Se dissessem a eles, os beneficiários, que regionalismo é uma fruta tropical, eles acreditariam.

Para o leitor ter uma vaga ideia do que significa o Clube dos Prefeitos na estrutura editorial de CapitalSocial, basta lembrar que há 856 análises nos arquivos (praticamente 10% do total) que de forma direta ou indireta fazem referência à instituição. 

Nada surpreendente, claro. Regionalidade é nossa especialidade. Entenda-se Regionalidade como valor abrangente, um guarda-chuva que comporta temáticas múltiplas com valores complementares indissociáveis. 

PROVAS DO CRIME 

Encontrei uma maneira de reproduzir algo que poderia ser chamado de síntese editorial de CapitalSocial à atuação de mais de três décadas daquela instituição. A primeira data de 2005 (material publicado originalmente na coluna que mantinha no Diário do Grande ABC, quando estava Diretor de Redação), a segunda é de 2010 e a terceira de 2021. São três provas concretas, entre muitas, de um crime seriado. O Clube dos Prefeitos é o cemitério da individualidade produtiva de muitos que se perderam num coletivismo enviesado e desconexo. 

Reproduzi-las é uma forma de evitar redundâncias e ao mesmo tempo imantar de credibilidade e sustentabilidade ética a linha editorial que adotamos ao longo de 33 anos desta publicação – lançada em março de 1990, ante dezembro do mesmo ano do Clube dos Prefeitos.

Os três textos que seguem adiante são uma amostra do que o Clube dos Prefeitos significa de fato e para valer como organização regional. Tomara que as autoridades públicas, principalmente, se mantenham em silêncio constrangido e envergonhado diante dessa obra-prima de ineficiência, oportunismo e politiquismo. 

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