Economia

VEJA QUATRO DESAFIOS
AOS NOVOS PREFEITOS

  DANIEL LIMA - 11/12/2024

Pretendia utilizar uma expressão bíblica para tentar retratar os desafios suplementares que exigirão muito mais do que os prefeitos eleitos no Grande ABC imaginam. Entretanto, preferi me conter. Iria colocar na manchetíssima de hoje, aí em cima, algo referente aos quatro cavaleiros do apocalipse. Não seria a primeira vez.

Ponderei que seria um exagero dar essa dimensão e essa profundidade ao que vou revelar em seguida. Revelar em seguida é força de expressão. Já mencionei ou mesmo fiz alguma abordagem a respeito disso de forma esparsa.  

São quatro os pontos suplementares aos passivos tangíveis e intangíveis já consolidados no Grande ABC e que atazanam a vida dos prefeitos e de todo o mundo. Não que outros deixem de existir. Tratar do que vou alinhavar é questão crucial para que os cinco prefeitos eleitos e os dois prefeitos reeleitos não repitam a turma que está saindo e tantas outras turmas semelhantes que há muito saíram dos respectivos paços municipais.

Quais são, afinal, esses quatro pontos cardeais de dificuldades ou mesmo de desafios sobrepostos, os quais Gilvan Júnior, Tite Campanella, Marcelo Lima, Taka Yamauchi, Marcelo Oliveira, Guto Volpi e Akira Auriani têm obrigação funcional e institucional de atacar?

CAVALEIROS DO APOCALIPSE

Antes de revelar faço uma pausa que me incomodou à medida que comecei a escrever. Afinal, se os quatro obstáculos sobre os quais vou escrever não podem ser classificados como Cavaleiros do Apocalipse da região, porque o passado presente no presente cristalizou déficits  praticamente incontornáveis, quais seriam, afinal, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse do Grande ABC ao longo da história, cujas repercussões gerais não cessam?

Repito: quais são os Quatro Cavaleiros do Apocalipse do Grande ABC ao longo da história, entre tantos fatores e fatos que marcaram a história regional?

Já escrevi sobre isso também, especificando-os. Não vou recorrer ao acervo desta revista digital. Os quatro cavaleiros do Apocalipse da região são irrefutáveis, embora possam sofrer variações avaliativas com eventuais substituições entre causa e efeito.  

Fui pego de surpresa por mim mesmo ao dar de cara com a provocação de relembrar e hierarquizar as derrocadas do Grande ABC, mas aceito o autodesafio e exponho os pontos viscerais à transformação de uma região próspera em uma região complexa, sem perspectivas de recuperação nas próximas décadas. Vamos lá então?

a) Emancipação dos municípios.

b) Movimento Sindical.

c) Governo Fernando Henrique Cardoso.

d) Construção do Rodoanel Mário Covas. 

 

QUATRO DESAFIOS

Como já escrevi toneladas de análises sobre esses quatro pontos, todos com raízes estruturantes que geraram estocadas complementares e só aparentemente desconectadas entre si, vamos então ao que interessa hoje.

Afinal, quais são os quatro maiores desafios à nova leva de prefeitos que assumem em janeiro e pretendem fazer do Clube dos Prefeitos algo que jamais se viu na história, ou seja, um ataque coordenado, meticuloso, engenhoso e transformador da gestão pública do Grande ABC?

1) Detectar e criar condições técnico-logísticas para superar novos danos econômicos e sociais com a chegada próxima do trecho norte do Rodoanel, de Guarulhos e vizinhança.

2) Analisar detidamente os danos provocados pela serpentina do BRT, sistema de transporte que vai colocar principalmente São Bernardo como quintal da Capital. O BRT foi anunciado durante muito tempo como monotrilho, que alguns insistiram em chamar de metrô, como se maria-fumaça fosse trem-bala.

3) Acompanhar atentamente e influenciar para valer tudo que se referir à chegada do metrô na região, vindo que se pretende que venha da Lapa, na Capital.

4) A eletrificação de veículos, especialidade de chineses bons de bico e ruins de relações trabalhistas. 

 

AÇÃO COLETIVA 

É possível que um ou outro prefeito entre os prefeitos do Clube dos Prefeitos que vai atuar a partir de primeiro de janeiro entenda que há entre esses pontos um ou outro que não deveria ser contabilizado como responsabilidade do coletivo. Seria estupidez. O barco de complicações afeta a todos e a tudo. 

O Rodoanel Norte vai ser mais uma pancada fortíssima na economia do Grande ABC. Afinal, vai-se fechar literalmente o círculo de 180 quilômetros desenhado para tornar a mobilidade metropolitana nova concepção em competitividade econômica. O Rodoanel Oeste, o Rodoanel Sul e o Rodoanel Leste já provaram com dados o quanto o Grande ABC perdeu neste século. Fomos ultrapassados pelo Grande Oeste (Barueri, Osasco) e pelo Grande Norte (Guarulhos, Mogi das Cruzes) desde que o Rodoanel virou realidade. O tramo Norte dará de vez àquela região da Grande São Paulo o poderio de nos sufocar ainda mais. Quem sabe o valor logístico em competitividade sabe o quanto estamos no acostamento.

O sistema BRT e o Metrô que vai demorar para chegar mas vai chegar escancaram as fragilidades de comércios e serviços do Grande ABC, quando comparados aos da Capital incomparável. Vamos ver consumidores em geral bandearem-se de vez rumo à Cinderela. Estudos preliminares já indicam essa projeção como irreversível.

O que podemos é minimizar os estragos. E isso exige muito trabalho. Não se deve esquecer para levar a sério essa conjectura de perdas que o Grande ABC ocupa a Segunda Divisão metropolitana em qualidade e diversidade de produtos e serviços. A Capital, frondosa capital, ganha fácil essa competição. Celso Daniel já advertia sobre isso.

Quanto ao setor automotivo, os chineses que não são bobos nem nada estão comendo as montadoras tradicionais pelas beiradas no mundo inteiro, a ponto de despertarem  reações  tarifárias restritivas de europeus e de norte-americanos.

NO CAMPO DE JOGO

Os chineses já chegaram ao Brasil, especialmente a BYD, instalando-se em Camaçari, na Bahia, onde a Ford frechou as portas. Os chineses somam a cada nova temporada mais e mais densidade na venda de veículos eletrificados. Com a fábrica na Bahia, movida a benefícios fiscais do governo federal de Lula da Silva, está dado o último lance de uma preliminar cujo jogo principal será explosivo principalmente às montadoras mais tradicionais – todas com unidades no Grande ABC.

É inerente à eletrificação a redução drástica do parque automotivo de autopeças. Milhares de itens desaparecerão das linhas de montagem. Haverá uma hecatombe. Autopeças que sobraram na região após a catástrofe discriminatória do governo Fernando Henrique Cardoso vão ser implodidas.

O que leio nos jornais em forma de assessoria de imprensa sobre o que o Clube dos Prefeitos pretende fazer na próxima temporada só aumenta a preocupação de quem sabe até mesmo por repetição de fracassos que a pauta além de inadequada a esses novos tempos também se converterá em novas promessas vazias.

Pior que se chegar à conclusão preliminar de que o Clube dos Prefeitos não conta com assessoria técnica compatível com os desafios postos, é intuir que essa deficiência congênita da instituição, mais política do que técnica, prevalecerá como fonte de desperdício de tempo, de dinheiro e de paciência.

Ainda não consegui detectar entre os novos prefeitos eleitos quem poderia empreender uma reviravolta pragmática no destino do Clube dos Prefeitos a ponto de se colocarem em prática medidas que rompam com o conservadorismo de iniciativas que só geram expectativas e consolidam decepções.

MUITO A MOSTRAR

O prefeito Marcelo Lima, de São Bernardo, por força de comandar a capital econômica da região, é minha esperança de que possa conciliar pacifismo institucional e reformismo técnico-operacional do Clube dos Prefeitos. O casarão assombrado em Santo André agradeceria.

Entretanto, a escalação de Rafael Demarchi, sem lastro comprovado mesmo que teórico para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, é uma ducha fria nas expectativas mais comedidas.

Tomara que Rafael Demarchi seja uma grande surpresa, uma espécie de Memphis da gestão de Marcelo Lima. Ou seja: alguém que seja tão inspirador a ponto de fazer com que toda a máquina se transforme num coletivo de empreendedorismo, qualquer que seja a área de atuação do secretariado nomeado aos poucos. Temo que Memphis seja apenas um, sem permitir analogias.

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