Imprensa

Diário: Plano Real que
durou nove meses (20)

  DANIEL LIMA - 01/10/2024

Seguimos com esta série que resgata o Planejamento Estratégico  Editorial aplicado à frente do Diário do Grande ABC durante nove meses, entre 2004 e 2005. Um Plano Real interrompido. Ainda estamos na fase preliminar, quando ocupei o cargo de Ombudsman do jornal, antecedendo, portanto, a posse como Diretor de Redação.

Especialidade, especialidade, especialidade. Bati forte nessa tecla no capítulo que tratou de produtividade e qualidade do Planejamento Estratégico Editorial. O que os leitores vão encontrar em seguida é a edição de número 18 da newsletter OmbudsmanDiário. Era 29 de junho de 2004. Foram produzidas no total 32 edições, até que, finalmente, assumisse a direção do jornal. 

Naquela edição, os leitores vão entender o significado de especialidade no jornalismo. E vão compreender a diferença entre aquela que deveria ser uma revolução conceitual no Diário do Grande ABC (e que apliquei durante duas décadas à frente da revista LivreMercado) e o que a publicação, entre tantas, oferece aos leitores. 

Em seguida, revelo o conteúdo da 19ª edição da newsletter OmbudsmanDiário. Estávamos em 29 de junho de 2004. A reunia série de questões de um Grande ABC que fervia. O Santo André se preparava para enfrentar o Flamengo no Maracanã na decisão do título da Copa do Brasil. Uma jornada inesquecível. O caso Celso Daniel fervilhava. A UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) seguia sendo engendrada fora da lógica pretendida por quem esperava e espera por turbinada econômica da região. 

Assuntos sobravam. Enriqueciam a edição do instrumento de comunicação interno que criei como primeiro ombudsman do Diário do Grande ABC. 

 EDIÇÃO NÚMERO 18

Seguimos com mais um capítulo referente ao Planejamento Estratégico Editorial que preparamos para o Diário do Grande e que, como se sabe, baliza nosso trabalho como Ombudsman. 

ESPECIALIZAÇÃO 

É uma jornada longa, complexa, trabalhosa, mas precisa ser iniciada o quanto antes. Estamos nos referindo à constituição de quadros profissionais de redação que serão especialistas nas mais diferentes matérias. O jornalismo mais contemporâneo exige que os profissionais conheçam tanto as técnicas de interlocução com os leitores como uma bateria de questões específicas relatadas pelas fontes de informação. Não podemos ser simples repositórios de declarações. Tratamos dessa questão, com profundidade, no livro "Meias Verdades". É epidêmico o grau de manipulação de informações. Principalmente nos jornais diários, formulados pela mesmice de reproduzir declarações acriticamente. Não se trata de obstar esse caminho necessariamente pela estrada da opinião, mas pela avenida da interpretação e, principalmente, por um feixe de dados de valor agregado. Aos leitores não se pode atribuir o rótulo de ignorantes. Costumamos dizer que nos compete como profissionais de comunicação muito mais que servir o almoço de informações -- temos de digeri-las, metabolizá-las, facilitando o entendimento do leitor.  

Poderíamos desfraldar uma série de exemplos de situações em que se manifestam tergiversações descaradas do princípio de bem informar, mas o melhor mesmo é recorrer a "Meias Verdades". A essência do esgarçamento informativo qualificado está plantada na aridez de conhecimentos dos profissionais de comunicação. A saída é setorizá-los e fazê-los mergulhar fundo nos arquivos, nos livros, enfim, em toda a literatura possível de ser utilizada a qualquer instante.  

Um exemplo do que a falta de especialista é capaz de provocar está na área de saúde. A ideia de que um determinado Município está extraordinariamente mais suscetível à demanda de serviços sociais geralmente não corresponde à realidade porque, afinal, é generalizado o descompasso entre a massa de desafortunados que precisam recorrer ao sistema público e a ilha de incluídos que resistiram à onda de desemprego e da perda das chamadas conquistas históricas, especialmente do setor metalúrgico da região. 

As pequenas e médias empresas industriais -- como mostrou LivreMercado em recente entrevista com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra -- praticamente desativaram o ferramental de proteção social constitucionalmente de responsabilidade do Estado. Esse vácuo forçosamente passou a ser preenchido pelo setor público.  

Ainda sobre esse aspecto, recentemente à frente do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos) pudemos comprovar que os investimentos na área de saúde pública no Grande ABC estão longe do imaginado, resultante do noticiário do jornal. A rica São Caetano é a que menos investe por habitante no setor -- ao contrário do que aplica na educação, cujos valores são os maiores do Grande ABC. 

E não se deve correlacionar o baixo valor despendido por São Caetano apenas e exclusivamente ao perfil socioeconômico da população. Há informações que denunciam, sim, o baixo rendimento do Município nesse quesito. 

Para quem mora em São Caetano e não está gravitacionalmente contaminado pelo ufanismo oficial, a área de saúde é um buraco imenso que precisa de reparos. Os dados do IEME comprovam essa verdade. Não só os dados do IEME, mas o próprio ranking do IDHM, que mede a qualidade de vida dos municípios -- São Caetano tem a menor das três médias (as outras são relativas às áreas de educação e renda) exatamente no critério de longevidade.  

Esse é apenas um exemplo que pinçamos para justificar e enfatizar a importância de especialistas editoriais. Trata-se de realidade comum nos principais jornais do Primeiro Mundo, mas uma exceção à regra no mercado brasileiro quando se trata de questões relativas à cidadania. 

Temos sim especialistas em coberturas esportivas, políticas, policiais, econômicas, mas, mesmo assim, com elevada fragilidade informativa. São mais setoristas que especialistas. Profissionais sobre os quais os especialistas do outro lado do balcão -- as fontes de informação -- geralmente deitam e rolam interesses específicos. A máxima de que jornalista tem apenas de reportar contribui imensamente para que os vieses se ramifiquem insidiosamente. As publicações não contam com mecanismos de segurança contra impostores porque em larga escala não estão preparadas para a contra-argumentação.  

Entregar às páginas opinativas dos editoriais a incumbência de eventualmente neutralizar ou reposicionar os efeitos maléficos e distorcivos de fontes de informação viciadas é um comodismo que se instaurou nas redações. O que mais se verifica, também nesses casos, é a complementaridade de disparates porque os editorialistas, cada vez mais próximos do cotidiano das redações, apenas pasteurizam e retroalimentam as informações anteriormente formuladas. 

Não bastasse isso, é importante ressaltar que, por mais importantes e procedentes que sejam os editoriais, pesquisas comprovam que se trata de espaços lamentavelmente consultados em proporção bastante inferior ao do noticiário convencional. Ou seja: informações equivocadas que tenham ocupado o corpo da publicação dedicada ao noticiário geralmente se consolidam como verdadeiras e irrebatíveis. O aval do editorial é a força suprema dos veículos. Para o bem e para o mal.  

A formação de especialistas é um processo longo e persistente que não se esgota em alguns pares de ano. É uma jornada intensa. Mas bastante compensadora. Os especialistas são uma cabeça-de-obra disputadíssima no mercado de trabalho porque, além da segurança da informação correta, oferecem a contrapartida de alta produtividade. Sim, alta produtividade. 

Coloque numa disputa por produtividade um especialista que conheça a fundo a área de saúde, suas fontes, dados estatísticos, comparativos, essas coisas, e um faz-tudo ou quase tudo que, perambulando por assuntos diversos, se vê a cada jornada imerso num determinado assunto.  

É o mesmo que comparar um mecânico especializado em motores de caminhão e um mecânico escalado um dia para consertar pneus, outro dia para atuar como ajudante de carregamento, num terceiro como mecânico de fato, num quarto como motorista, num quinto com engraxador. O melhor mecânico será aquele que dominar as técnicas de sua atividade e, suplementarmente, atuar em ações-afins que agreguem valor à função principal. 

O melhor jornalista será aquele que dominar integralmente sua especialidade e jamais se descuidar dos assuntos correlatos. Ganha-se, repito, tempo e um significativo progresso profissional. A especialização não exclui a multiplicação de conhecimentos. Pelo contrário: a notabilidade no específico é um atributo de quem reconhece a importância do periférico afim.  

 EDIÇÃO NÚMERO 19

Vamos em frente com mais uma edição desta newsletter. Nossa expectativa é de que os conceitos que repassamos diariamente sejam democratizados entre colaboradores da redação, em vez de ficarem aquartelados entre os editores, diretores e acionistas. A difusão de vários dos aspectos que tratamos nesse espaço é fase importantíssima à constituição de um novo jornal. Estamos acrescentando nosso tijolinho nessa newsletter que, certamente, se somará a outros que eventualmente estão sendo aplicados internamente.

Enfatizamos nesta edição a cobertura do Diário, do Estadão e da Folha ao caso Celso Daniel. Os três veículos perderam a percepção da importância do julgamento de hoje no Tribunal de Justiça de São Paulo. Perderam não: ainda não lhes caíram as fichas de avaliar o caso além do terreno criminal. 

PRIMEIRA PÁGINA (I)

A primeira página da edição de segunda-feira puxou bem a manchete principal "Definidos candidatos em 6 cidades", mas não soube explorar o título relativo à entrevista de William Dib. Optou-se por "Dib não vai atacar Lula na campanha eleitoral", quando a manchete da página interna coloca o prefeito de São Bernardo em posição crítica ao governo federal na liberação de verbas. É indispensável que haja sincronia entre a chamada de primeira página e a sacada do título interno.

A chamada do jogo decisivo entre Santo André e Flamengo num quadro em que o destaque é a vitória do Palmeiras, inclusive com foto no alto de página, está corretíssima.

PRIMEIRA PÁGINA (II)

Muito boa a primeira página desta terça-feira, inclusive com o quadro colorido de chamada do jogo decisivo de amanhã entre Santo André e Flamengo. O texto está emocionante. Não devemos ter vergonha de assumir nossa regionalidade esportiva. Só não podemos fraudar os leitores com patriotismo tipo Galvão Bueno. Ou seja: o jogo de amanhã precisa ser visto e analisado com sabedoria, mas nada nos impedirá de vibrar intensamente.

Faço apenas um reparo à chamada excessivamente discreta de um assunto que exige máxima atenção: segurança pública. A chamada poderia ser muito mais explícita.

A chamada sobre o IPTU em Mauá é desnecessária, porque se amplificou além da conta a importância do assunto, que comento em nota específica.

CELSO DANIEL (I)

Estadão publicou matéria sobre o julgamento previsto para hoje no Tribunal de Justiça de São Paulo com evidente viés condenatório aos denunciados de Santo André. O título: "Com medo da prisão, Klinger faz apelo ao TJ". Não surpreende a postura do centenário jornal paulistano, desde o início do caso -- inclusive alimentado por facções políticas da região -- francamente favorável à avalanche do Ministério Público Estadual. Como se sabe, o Estadão mantém linha editorial de oposição aos governos petistas. Por isso, o juízo de valor que dedica ao caso é sensivelmente contaminado pelo conservadorismo.

CELSO DANIEL (II)

Folha de S. Paulo, ao contrário do Estadão, coloca a notícia do julgamento dos envolvidos de Santo André em posição graficamente menos importante, com conteúdo editorial mais equilibrado e com título ("TJ julga hoje se prende empresários") em quatro colunas. A matéria é mais ajuizada, mais explicativa, mais sensata. Não descamba para ilações condenatórias e ouviu com atenção os argumentos dos advogados de defesa.

CELSO DANIEL (III)

Numa operação tosca, nosso jornal atira para algo pouco significativo em termos editoriais a matéria relativa ao julgamento de Klinger Sousa e demais supostos participantes de esquema de propina. O título "TJ deve decidir hoje prisão de vereador" está subestimado em relação à importância do assunto. O jornal preferiu abrir a página com novidade ("MP enviou CPI da Propina à polícia") que está vinculada ao julgamento. O peso e a compreensão seriam maiores se os dois pontos -- a CPI e o julgamento -- ocupassem o eixo da matéria. A omissão dos nomes dos envolvidos no julgamento, exceto do vereador Klinger Sousa, é bobagem editorial. Tanto quanto foram as bobagens anteriores ao longo do caso, quando o jornal exibiu fotos dos envolvidos com legendas maliciosamente condenatórias, no melhor estilo Estadão.

CELSO DANIEL (IV)

Principalmente nosso jornal, já que o caso reúne protagonistas com atuação em Santo André, poderia ter feito exposição mais detalhada e ousada do julgamento de hoje. Por que o jornal não procurou caracterizar como fundamentada ou não a justificativa da anunciada prisão preventiva dos envolvidos? Por que não mostrou o que todos eles fizeram nos dois últimos anos para consubstanciar ou refutar a argumentação do Ministério Público Estadual? Será que Klinger, Ronan Maria Pinto e demais arrolados são realmente perigosos a ponto de, antes que o inquérito seja concluído pela Polícia, eventualmente perderem a liberdade?

Considerando-se que o julgamento foi interrompido há uma semana, porque um dos juízes solicitou vistas do processo, o jornal dispôs de tempo suficiente para preparar reportagem elucidativa sobre o viés de periculosidade arguido pelos promotores. Mais uma vez o jornal se caracteriza pelo burocratismo de cobertura, seguindo, nesse caso, o perfil dos demais veículos de comunicação.

Também faltou vasculhar mais de perto a série de argumentações que os advogados dos indiciados poderiam transmitir para justificar a defesa de seus clientes. Enfim, há evidente distanciamento entre o jornal e as fontes de informação dos acusados, contrariamente, portanto, ao que ocorre quando se trata de relações com o Ministério Público Estadual instalado em Santo André.

CELSO DANIEL (V)

O principal enfoque da matéria sobre o julgamento dos supostos protagonistas de propinas em Santo André está na possibilidade de o Ministério Público Estadual cair do cavalo no Supremo Tribunal Federal, onde lhe seria retirado um acréscimo de atribuição negado pela Constituição, ou seja, o envolvimento em inquéritos criminais. Esse é o ponto nevrálgico do caso, mas, lamentavelmente, nenhum jornal conseguiu entender. Nada surpreendente, porque temos setoristas policiais, não especialistas criminais. Fossem especialistas, esses profissionais poderiam simplesmente contar com fontes de sustentação para preparar textos muito mais qualificados. A disputa pelas prerrogativas do MP vai muito além do campo criminal, como se sabe.

ELEIÇÕES PAULISTANAS (I)

Sob o título "Ibope confirma liderança isolada de Serra em SP", jornal Valor Econômico mostra hoje como é possível ir além dos números: entrevistou dois especialistas para destrinchar o fenômeno Paulo Maluf que, depois de apanhar seguidamente do Ministério Público, consegue manter-se entre os candidatíssimos ao Palácio das Indústrias. Por analogia, precisamos descobrir eventuais especialistas eleitorais no Grande ABC para torná-los partes importantes de repercussões numérico-eleitorais.

ELEIÇÕES PAULISTANAS (II)

O Estadão divulgou dados do Ibope para as eleições em São Paulo e seguiu o velho e desgastado figurino de ouvir fontes partidárias. Naturalmente suspeitas na interpretação, embora não descartáveis de edição.

EMPREGO METROPOLITANO (I)

Nosso jornal melhorou o foco na divulgação dos níveis de desemprego na Grande São Paulo detectados pelo Dieese: ouviu fontes além das divulgadoras dos números. Muito bom mesmo.

EMPREGO METROPOLITANO (II)

Pena que nosso jornal tenha se esquecido de agregar outros indicadores na notícia, como os dados de ontem levantados com exclusividade no Ministério do Trabalho e mesmo do IBGE, divulgados anteriormente pelos jornais. O cruzamento dessas informações dá mais apetrechamento informativo.

EMPREGO METROPOLITANO (III)

O deputado federal Luizinho Carlos da Silva (por que só ele?) deu entrevista ao jornal sobre a queda do desemprego na Grande São Paulo e no Grande ABC e, em grande fase de ufanismo partidário, fez declarações impressionantes. A principal e irresistível: "Geramos 826.700 empregos neste ano. Em várias regiões do país, já existe falta de mão-de-obra". Uma pena que o jornal não se intrometa em defesa dos leitores com interpretação madura na questão do emprego. Como, por exemplo, a necessidade de o País gerar 1,5 milhão de postos de trabalho por ano.

EMPREGO METROPOLITANO (IV)

O Estadão também divulgou a pesquisa do Dieese e, se não foi superado pelo nosso jornal ao não ouvir outras fontes além das oficiais, ganhou ao acrescentar, em matéria auxiliar, os dados publicados anteriormente sobre os estudos do IBGE.

MERCADO IMOBILIÁRIO

Está muito confusa a matéria "Lei beneficia mercado imobiliário", à página 5 de Polícia Grande ABC/Nacional. O ponto mais importante, que é a alteração no Eixo Tamanduatehy, não conseguiu ter o alcance necessário. O que se depreende do material é que a Prefeitura de Santo André está alterando a joia da coroa deixada pelo prefeito Celso Daniel. Conviria uma reportagem mais elucidativa sobre o assunto. Por que o Eixo Tamanduatehy anunciado como a redenção urbanística e econômica de Santo André passará por cirurgia legislativa? Em vez de repercutir apenas com vereadores o projeto de lei enviado ao Legislativo, conviria ouvir profissionais de arquitetura e urbanismo que participaram ou ainda participam do Eixo Tamanduatehy. Ou o próprio secretário.

CUSTOS LEGISLATIVOS

Poderiam ter sido editadas à mesma página as matérias "Falta de quórum prejudica a votação da PEC dos vereadores", à página 6 de Nacional, e "TJ extingue ação por nepotismo contra vereadores de Diadema", à página 2 de Política Grande ABC. O distanciamento prejudica a visão sistêmica que os leitores valorizam num jornal. A matéria sobre a PEC poderia abrir a página 2, substituindo o texto longo e cansativo de "Veto de Dias a projeto sobre IPTU será votado pela Câmara de Mauá". A matéria sobre a questão do IPTU em Mauá é claramente conflitante com a distribuição dos poderes e, portanto, não mereceria tanto destaque. Se houvesse interpretação em contrário, aí sim a notícia deveria ser levada a destaque de página.

RODOANEL 

O Estadão puxou o núcleo de interpretação da matéria do Rodoanel para a previsão de cobrança de pedágio, enquanto nosso jornal preferiu o ramal da viabilidade ambiental. Interessante que nenhum dos dois jornais tratou do assunto destacado pelo outro, ou seja, o pedágio foi esquecido pelo Diário e o meio ambiente pelo Estadão. Como se trata de cobertura de seminário, não consigo entender o distanciamento de enfoque. Acho que nosso jornal, embora com padrão de texto bastante inferior, foi mais certeiro no tiro.

Pena que o jornal insista em desprezar o banco de dados. Diferentemente do Estadão, não agregamos informações complementares à cobertura, como os custos previstos para o eixo sul que supostamente beneficiaria o Grande ABC. Sem dúvida, a matéria poderia ter sido levada ao topo da página, desde que, evidentemente, comportasse melhor acabamento informativo. A arte que explicita o traçado do Rodoanel é boa pedida porque aproxima o leitor do texto. Mais um motivo para o texto fugir da superficialidade.

CAMPEONATO BRASILEIRO

A Folha de S. Paulo mostra, mais uma vez, o quanto sabe trabalhar estatísticas nas competições nacionais. Sob o título "Bola na mão do goleiro vale mais do que na rede", o jornal paulistano explica que no Campeonato Brasileiro desta temporada mais vale uma bola na mão do goleiro ou no bico da chuteira de um zagueiro do que nos pés dos atacantes. Ou seja: a uma rodada de completar um quarto de partidas, o campeonato é liderado pelas equipes mais eficientes na defesa. Diferentemente do ano passado. Bela sacada.

COPA DO BRASIL

Nosso jornal deu boa cobertura à final da Copa do Brasil nesta quarta-feira, mas despreza a memória do torcedor ao destacar que o árbitro da decisão, Carlos Eugênio Simon, será o mesmo que apitou a decisão entre Corinthians e Brasiliense, em 2002. Onde está o erro? Enquanto nosso jornal registra o fato de que o técnico Péricles Chamusca dirigia o Brasiliense, que foi prejudicado naquela decisão, a Folha vai mais fundo e registra os dois supostos erros da arbitragem daquele jogo. Nosso jornal preferiu a generalidade da lembrança, sem a consistência da explicação. Enquanto a Folha reservou um texto auxiliar, com destaque gráfico, para explicar a importância da ênfase dada à escolha de Simon, o Diário puxou muito bem como manchete de caderno, mas fracassou na justificativa do próprio destaque. Quando se escreve, é indispensável imaginar que os leitores não têm memória.

CRIMINALIDADE

Governo Geraldo Alckmin anuncia reforço na área de segurança pública em vários pontos, principalmente na zona leste da Capital e no Grande ABC. Mais uma vez o jornal deu a matéria de forma burocrática, sem avançar nos indicadores históricos. O IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos) apresenta ranking da criminalidade que define com precisão até que ponto somos vulneráveis como geografia abandonada ou malnutrida pelo governo do Estado. Com consistência, a matéria poderia ter muito mais destaque. Será que o banco de dados do jornal tem algum bicho-papão? Segurança pública faz parte da cesta básica de preocupações dos leitores. Conviria acertar melhor as baterias.

FLORENCE ESTELAR

A página que abre o caderno de Cultura & Lazer destaca mais uma qualificação regional: a Orquestra Sinfônica de Santo André, do maestro Flávio Florence, exibe-se esta noite na Sala São Paulo. Gata Borralheira que se transforma em Cinderela.

UFABC FRAGILIZADA (I)

Mais crítica, mais sintonizada com os fatos, a matéria "Definição do perfil da universidade segue a passos de tartaruga", na abertura do caderno Setecidades, revela sem surpresa o ponto de estrangulamento institucional que atinge a constituição da Universidade Federal do Grande ABC. Poucos representantes empresariais estiveram no Consórcio de Prefeitos. Há motivos de sobra -- entre os quais o próprio isolamento do Consórcio de Prefeitos ao longo dos anos, distanciando-se da comunidade. Além, evidentemente, da imobilidade de representações econômicas, destituídas em larga escala de verdadeiros líderes. A ausência de representantes do Polo Petroquímico e a presença de apenas alguns dirigentes do setor automotivo provavelmente são uma resposta à incompetência nas medidas de costura do perfil da UFABC. Nossas supostas lideranças sociais, políticas, econômicas e culturais são ótimas -- para aparecer nas colunas sociais dos jornais.

UFABC FRAGILIZADA (II)

Na edição de segunda-feira o jornal publicou repercussão da entrevista de domingo com Luizinho Carlos da Silva sobre a Universidade Federal do Grande ABC. Sob o título "Iniciativa de Luizinho sobre universidade divide opiniões", a matéria peca porque apresenta abertura genérica, sem impacto, quando poderia enveredar por algo como o que acentuou o ex-prefeito José Augusto da Silva Ramos, de que o líder do governo pretende se tornar o pai da criança. Mas, de fato, o que deveria ter dado suporte ao texto seria uma pergunta básica: "O que você acha do fato de o deputado federal Luizinho Carlos da Silva ter afirmado ao Diário que o projeto da UFABC já está no governo, enquanto há articulações locais para definir o perfil da instituição?".

UFABC FRAGILIZADA (III)

Acertou em cheio o editorial da edição de segunda-feira quando analisou a participação estrelíssima de Luizinho Carlos da Silva na entrevista concedida ao jornal. Com isso, corrigiu parcialmente o conteúdo da entrevista absolutamente acrítico e permissivo ao desfilar a grandiloquência do deputado.

ELEIÇÕES (I)

Nosso jornal apresentou na edição de segunda-feira texto compacto, mas importante sobre as andanças eleitorais preliminares na região. Sob o título "Região define cenário das eleições", é possível encontrar o mapa da mina do entendimento das definições partidárias.

ELEIÕES 2004 (II)

Também na edição de ontem uma boa entrevista com o prefeito William Dib. O título "Dib critica Planalto que segura verbas" está correto. O espaço à réplica de Vicentinho afigura-se democrático, mas a questão do investimento dos alemães supostamente catequizados pelo deputado federal ainda está num ponto de obscuridade que o jornal precisa clarear. Será que é tão difícil assim conseguir a confirmação de que São Bernardo ganhará um frigorífico de porte?

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