Imprensa

Diário: Plano Real que
durou nove meses (19)

  DANIEL LIMA - 27/09/2024

Juntamos nessa recuperação dos textos da newsletters OmbudsmanDiário duas edições sequenciais de junho de 2004. Edições que, por sua vez, davam prosseguimento àquela ferramenta interna que precedeu minha posse como diretor de Redação do Diário do Grande ABC e o Plano Estratégico Editorial.

A edição de número 16 da newsletter OmbudsmanDiário, mostra a preocupação com a formação de talentos. Faço breve menção à origem da proposta que integrava o Planejamento Editorial Estratégico que organizei para o jornal contar com um farol a iluminar o futuro de uma reestruturação que se tornava urgente.

Quase duas décadas antes, no mesmo Diário do Grande ABC, criei uma improvisada, mas produtiva, escolinha de profissionais recém-formados principalmente na Metodista de São Bernardo. A edição seguinte é de 28 de junho. 

 EDIÇÃO NÚMERO 16 

A exemplo do que organizamos entre 1982 e 1983, quando ocupamos posto equivalente ao de chefe de redação, embora a nomenclatura fosse de coordenador de produção, vamos introduzir um mecanismo de seleção e preparação de recém-formados para, mediante necessidades, contratá-los para substituir ou eventualmente reforçar nosso quadro de redação.

Naquela época chamamos de escolinha o que veio a se consolidar como virtuosíssimo modelo de reposição e contratação de jovens valores. A importância dessa iniciativa vai muito além do que alguns supõem restrita a interesses financeiros. Aliás, o viés financeiro é apenas uma fração do conjunto de vantagens da introdução desse processo de depuração e uniformização de recursos humanos da área editorial.

Pesa muito mais em qualquer equação que se desenhe a perspectiva de que essa turma de jovens poderá ter acesso aos quadros de redação sem sofrer impactos emocionais e técnicos que tanto comprometem a qualidade do produto final, isto é, da informação consumida pelos leitores.

É enorme a diferença entre o rendimento de um jovem recém-formado e contratado para atuar numa redação sem referenciais da cultura editorial da publicação e um jovem recrutado tendo como base a preparação numa espécie de vestibular. Produtividade é o verbete que, no fim da linha de avaliação, definirá a diferença entre um modelo e outro.

Afastar qualquer possibilidade de ruídos no circuito de informações que devem chegar aos leitores é o pressuposto de, também na seleção e no aproveitamento de jovens talentos, atingir respeitabilidade editorial.

A preparação permanente, sistemática e programática de jovens que ocuparão parte do universo da redação é condição imprescindível à estabilidade do departamento. Não se pode descartar a oxigenação da juventude em qualquer ambiente corporativo, sob o risco de enferrujar a engrenagem. Entretanto, a simples escalação de recém-formados sem o devido preparo técnico, emocional e cultural se revestiria de tiro no próprio pé.

Afinal, a contratação pura e simples de novos valores, atirados às feras de um produto que desconhecem, eleva as possibilidades de destruição da autoestima pessoal e, principalmente, submete o profissional recém-chegado a uma sequência de improdutividades que desarticulam o produto final.

E, nesse ponto, mais uma vez, vale a pena enfatizar: o consumidor de informação não pode ser apanhado no contrapé pelo efeito-tobogã de abordagens editoriais desconectados dos valores exaustivamente enfatizados.

Não se pode nem ao menos conjecturar que jovens eventualmente talentosos sejam escalados para produzir em nome de um jornal quase cinquentenário sem que estejam adequadamente entronizados nos conceitos técnicos e culturais da publicação. 

O produto que vai às bancas e aos endereços domiciliares e empresariais tem de ser observado sob o mesmo rigor de algo como um laticínio de marca respeitável exposto cuidadosamente na gôndola de um supermercado, de um veículo zero quilômetro que ajuda a compor o ambiente de uma concessionária, de um elenco de estrelas que se confunde com a logomarca de uma empresa de comunicação.

Uma publicação que comete erros grosseiros ou omissões incontornáveis sofre fortes arranhões de credibilidade.   

 EDIÇÃO NÚMERO 17 

Deixo para amanhã a análise da edição de hoje do Diário porque, mais uma vez, há insumos transbordantes das edições de sábado e de domingo. Escrevi esta newsletter ontem à noite em meu escritório doméstico, logo depois de acompanhar mais uma derrota do Corinthians no Campeonato Brasileiro. Como se vê, não é um chute nos fundilhos de uma de minhas paixões que me tira a vontade de fazer jornalismo.  

Os resultados das observações que faço não são nada satisfatórios porque há problemas de texto, de edição, de abordagem, de primeira página. Nada, evidentemente, que seja detectado por leigos, mas que para quem faz jornal tem significado muito especial, porque pode estabelecer a diferença entre credibilidade e indiferença, sucesso e fracasso de uma edição.  

Se tivesse que centrar fogo numa cobertura que deixou a desejar acima da média, não tenho dúvida de apontar o caso Celso Daniel publicado na edição de domingo. O que se apresentou como uma grande oportunidade de marcar um golaço editorial não passou de finalização convencional. 

PRIMEIRA PÁGINA (I) 

A primeira página de domingo poderia ter reservado espaço nobre para a vitória do Santo André contra o Londrina, na tarde de sábado no Estádio Bruno Daniel. Uma chamada com foto no alto da página, em vez da gelidez do flagrante de alongamento, teria sido muito mais impactante para os leitores. O momento em que vive o Santo André, às vésperas da decisão da Copa do Brasil, combinado com a corrida contra o rebaixamento e a eventual classificação entre os oito finalistas no Campeonato Brasileiro da Série B, mereceria mais atenção do jornal.  

O futebol profissional da região precisa de incentivo editorial para se fortalecer. Se em situações discretas essa verdade já deveria pontificar, imagine então em circunstâncias tão especiais. Regionalismo combina com emocionalismo. No lugar certo. Na hora certa. Com racionalidade. Foi assim que construímos, no passado, com nossa equipe, o período mais extraordinário do futebol profissional da região -- em termos de participação popular. E sem perder o espírito crítico. 

PRIMEIRA PÁGINA (II) 

A manchete da capa de domingo ("Líder do PT acelera universidade e Polo") vai na onda do personalismo do deputado federal Luizinho Carlos da Silva e aumenta a desconfiança geral de que o PT está centralizando tudo o que se refere à UFABC (Universidade Federal do Grande ABC). Nada pior para inviabilizar a participação construtivista de variados setores da comunidade regional. Será que faz parte dos objetivos do jornal uma guinada geral em relação a um partido político ou se trata mesmo de incapacidade de gerenciar assunto tão importante para o futuro do Grande ABC? Escrevo sobre a entrevista em nota específica.  

PRIMEIRA PÁGINA (III) 

A primeira página da edição de sábado maltrata o Santo André, ao não lhe reservar chamada maior e inclusive com foto de treinamento, de concentração, de qualquer coisa, principalmente porque o grupo está sendo muito assediado pela mídia nacional por causa da decisão da Copa do Brasil contra o Flamengo. A foto gigante do portal do complexo industrial Cerâmica São Caetano reúne tanta beleza artística quanto frieza jornalística. Faltou gente no flagrante e, mais que isso, uma sólida informação que transladasse o assunto para o terreno da materialidade, não de nova promessa. Escrevo sobre o assunto em nota específica.  

PRIMEIRA PÁGINA (IV) 

A manchete de primeira página de sábado ("Emprego formal cresce na região") vai ao encontro da regionalidade pretendida, mas não atende a todos os requisitos de abordagem integrada. Explico a questão em nota específica. 

PRIMEIRA PÁGINA (V) 

Escrevo em nota específica sobre o tratamento equivocado dado ao erro do Ministério Público de Santo André no caso que envolve o ex-vice-prefeito José Cicote. Considerando-se aqueles argumentos, não resta dúvida de que esta sim deveria ser a manchete principal de primeira página da edição de domingo.  

CASO CELSO DANIEL (I) 

A matéria de sábado "Blat defende direito de investigação de promotores" mostra-se mais uma vez parcial -- e sempre favorável ao Ministério Público. Trata-se do debate no Legislativo de Mauá voltado à participação do MP em investigações criminais, que, como se sabe, deverá ser apreciada em agosto pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A defesa de investigações por um promotor público é tão óbvia quanto a oposição, entre outros, de delegados de polícia. Pena que eles, os delegados, só apareçam no terceiro parágrafo do texto, longe da vitrine do título, da abertura do texto e, também, da foto do promotor Blat.  

Como o assunto tem tudo a ver com o caso Celso Daniel, e como o caso Celso Daniel é insepulto, mereceria cobertura muito maior e mais democrática. A citação no último parágrafo do questionamento às investigações do MPE incrustado em Santo André tem declaração de Carlos Blat como algo impressionantemente descartado pela reportagem. Disse ele: "A investigação é responsável e não existe fundo político. Por causa das investigações, os promotores sofrem represálias". Que tipo de represálias, cara pálida, se praticamente toda a mídia dá ampla cobertura a tudo o que os promotores declaram?  

CASO CELSO DANIEL (II) 

O jornal abordou de forma pouco correta a matéria "Cicote desmente teor dos depoimentos dados ao MP". A julgar pelas informações contidas no texto assinado por Danilo Angrimani e que, verdade seja dita, poderia ser mais contundente, o título da matéria seria mais ou menos nos seguintes termos: "MP altera depoimento de Cicote para incriminar Sérgio Gomes".  

Qualquer ilação em sentido oposto poderá ser interpretada como manipulação desavergonhada. Levando-se em conta que o assunto foi fartamente explorado pela imprensa (faltou texto auxiliar sobre a repercussão da informação do MP naquela oportunidade), o erro é gravíssimo e não pode ser simplificadamente amenizado com uma frase residual do promotor Amaro José Thomé Filho. Vejam só: o promotor afirmou que o contexto do depoimento de Cicote indicava que o ex-vice-prefeito estaria dizendo que Dionísio havia sido segurança de Celso Daniel: "Pode ser que a redação tenha ficado ruim" -- disse o promotor. O caso não seria mais grave do que estruturalmente é se o aditamento incorreto do depoimento de José Cicote não fosse feito uma semana antes da decretação da prisão de Sérgio Gomes da Silva -- informação omitida pela reportagem que registrou a data sem contextualizá-la temporalmente. 

Lembrou bem o jornalista (finalmente!) que o Supremo Tribunal Federal se prepara para, em agosto, analisar a constitucionalidade da participação do MP em inquéritos criminais. Pena que tenha se esquecido de incluir na matéria principal (só o fez num texto auxiliar no pé da página) que Sérgio Gomes da Silva está preso há sete meses por decisão do MPE, mas foi inocentado pela Polícia Civil e pela Polícia Federal.  

O caso Celso Daniel está longe de terminar. Há intrincadíssimos interesses políticos a permear vários pontos. Inclusive o julgamento dos supostos envolvidos nas supostas propinas na administração Celso Daniel, marcado para amanhã. O jornal precisa ficar mais atento. Ao sair na frente no caso envolvendo o ex-vice-prefeito José Cicote, o jornal dá um drible nos adversários, mas poderia ter feito com mais qualidade. A linguagem utilizada na edição de domingo não combina com a característica factual do caso. Acima de tudo o texto deveria ter contundência informativa, indo direto ao assunto. E o direto ao assunto está claro: o Ministério Público Estadual incorreu em falha grave ao apurar um dos pontos mais relevantes do caso e, com isso, agravou a denúncia contra Sérgio Gomes da Silva.  

Só para recordar, no dia 5 de dezembro de 2003 (uma semana antes da prisão preventiva de Sérgio Gomes da Silva), o Diário deu a seguinte manchete à página 5 de Política Grande ABC: "Para MP, preso foi o contato entre empresário e bando que matou Celso". O texto, assinado pelo mesmo Danilo Angrimani, afirma: 

O sequestrador Dionísio de Aquino Severo era o elo entre o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, e a quadrilha de Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro, que executou e matou o prefeito Celso Daniel, de acordo com investigações dos promotores do Gaerco (Grupo de Atuação Regional Especial para a Prevenção e Repressão do Crime Organizado). Segundo uma fonte que teve acesso ao processo da Promotoria, foi Dionísio quem planejou e organizou a simulação do sequestro do prefeito (...). A ideia dos criminosos era fazer uma ação teatral para a opinião pública e a polícia imaginarem que se tratava de um crime comum. Sempre de acordo com essa fonte, Dionísio e Gomes da Silva conheceram-se por volta de 1988, durante o primeiro mandato de Celso Daniel (...). O ex-vice-prefeito José Cicote confirmou ao Diário que se lembrava de Dionísio: "Eu o reconheci por fotografia. Cheguei a vê-lo algumas vezes na Prefeitura. Isso foi em 1988. Não sei dizer se ele trabalhou lá. Não cheguei a fazer amizade com ele, mas ele aparecia por lá sim".  

Parece evidente que a importância do relato adulterado de José Cicote é muito maior do que se imagina.  

DESENVOLVIMENTO ECONOMICO

Laranjal Paulista, cidade de 24 mil habitantes, não precisa de universidade pública para se virar em busca de equilíbrio social e econômico: está-se tornando respeitado polo de bonecas. Não uma Avenida Industrial de Santo André, como alguns podem sugerir. Bonecas de verdade. Leitura obrigatória para quem quer entender eventuais alternativas para o futuro do Grande ABC. Está no Estadão de domingo. 

METROPOLIZAÇÃO (I) 

Num dos capítulos de Complexo de Gata Borralheira, livro que lancei em 16 de abril de 2002, destaco o fato de que a demografia de exclusão social da Capital transborda para bairros periféricos e atinge, também, a periferia do Grande ABC. Na edição de domingo a Folha de S. Paulo destacou em matéria de capa de FolhaCotidiano, sob o título "SP cresce 6 vezes mais em fronteiras urbanas", um estudo sobre o assunto, com dados atualizados. Uma matéria sobre o caos metropolitano de que sistematicamente temos tratado em nossos artigos. Aguardem a Reportagem de Capa de LivreMercado de julho, quando três jornalistas, André Marcel de Lima, Vera Guazzelli e Walter Venturini, analisam painéis da Urbis, evento maltratado pelo jornal. Tudo isso faz parte de nosso Plano Estratégico Editorial. 

METROPOLIZAÇÃO (II) 

O excelente jornalista Gilberto Dimenstein, da Folha de S. Paulo, cai cada vez mais na real da realidade da Capital e da metrópole. Quando retornou de Nova York, onde esteve por alguns anos, Dimenstein desfilava textos otimistas com relação ao pedaço paulistano e metropolitano. Contrariamente, já desfiávamos corolário de inquietações. Aos poucos ele vai-se dobrando à realidade. "Quem vai salvar São Paulo?", artigo que assinou ontem na Folha, reforça uma tendência que para nós está consolidada. 

PLANO REAL 10 ANOS (I) 

A Folha de S. Paulo, para variar, saiu na frente com análises sobre os 10 anos do Plano Real. Assumiu para si o controle da informação básica e, em seguida, saiu a campo para ouvir protagonistas dessa empreitada que acabou com a inflação e com os empregos. 

PLANO REAL 10 ANOS (II) 

O nosso jornal, para variar, se mostrou despreparado para analisar o programa econômico que mudou a realidade do Brasil nos primeiros anos pós-implantação e nos meteu de novo na barafunda nos anos seguintes. Infelizmente, o jornal não conta com articulistas capazes de entender o que aconteceu após o plano, especificamente no Grande ABC. Por isso, além da cobertura reticente, delega a terceiros, só a terceiros, eventuais incursões. Sempre com linguagem conservadora. Além disso, está evidente que se tratou de material feito às pressas. Para variar. Com o banco de horas a estiolar o sentido de equipe, fica mesmo difícil fugir das enrascadas editoriais.  

VICENTINHO CANDIDATO

A matéria de domingo sobre a candidatura de Vicentinho Paulo da Silva à Prefeitura de São Bernardo ("Vicentinho segue Lula e fala em esperança na disputa pela Prefeitura") oferece muito pouco sobre as principais queixas do candidato em relação ao governo municipal atual. "A população precisa ser informada. Não queremos fazer uma política de desqualificação do adversário, mas vamos esclarecer tudo o que acontece" -- afirmou Tunico, segundo publicou o jornal. Tunico, no caso, é Tunico Vieira, candidato a vice na chapa de Vicentinho. O que pergunto é o seguinte: do que se trata o "tudo" que a população precisa saber e o que diz o prefeito William Dib a respeito desse mesmo "tudo"? A impressão que ficou é de que houve censura às queixas da chapa oposicionista.  

OPOSIÇÃO A TORTORELLO

Comentário semelhante vale para as queixas de oposicionistas de São Caetano contra o prefeito Luiz Tortorello, as quais estão superficialmente instaladas na página 4 de Política Grande ABC de domingo, num texto auxiliar da matéria principal "PT de S. Caetano escolhe médico para vice-prefeito". Vejam só o trecho final do texto complementar sob o título "PFL e PL criticam Tortorello durante convenção": "Vários foram os momentos que os políticos definiram esta eleição como um momento de libertação. Fábio Palácio fez paralelo à emancipação: Hoje a gente abre uma nova luta contra o reinado para tirar dele e devolver ao povo de São Caetano". 

Não valeria a pena o jornal desvendar o reinado de Tortorello segundo seus oposicionistas, reservando o direito de réplica do prefeito? O tratamento que o jornal deu a Tortorello ao longo de oito anos de mandatos foi prevalecentemente favorável, embora o administrador seja um fracasso na área econômica. Como temos provado na revista LivreMercado.  

ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Já passou da hora de o jornal preparar uma força-tarefa especial para atuar nas eleições municipais tendo como foco específico o Grande ABC. Esperamos que a cobertura fuja do trivial, das promessas, das ofensas.  

INFORMEDIÁRIO

Parece que se está tornando tendência algo que poderia ser apenas excepcional: há celebridades locais que pautam coberturas do Informediário só porque participam de festas paulistanas. São sempre os mesmos. E sempre em detrimento de encontros na região, de cunho social e econômico. Complexo de Gata Borralheira é isso aí! 

CONSELHO EDITORIAL  

Ratificou-se na edição de domingo que o Conselho do Leitor, espaço supostamente destinado a um conjunto de leitores privilegiados para criticar publicamente a redação, transformou-se em palanque do editor-chefe. Insisto em dizer que a contribuição dos leitores deveria ser reservada a encontros privados. Primeiro, pouparia a redação de avaliações muitas vezes desprovidas de qualificação -- mesmo as que eventualmente enobrecem determinadas matérias. Segundo, porque economizaria papel. 

Um terceiro componente poderia ser citado -- não há espaço para salvadores da pátria quando se trata de trabalho em equipe. Ou o time todo joga com o mesmo objetivo, ou todos dançam.  

PERSONAGENS DISPERSOS (I) 

Os três artistas destacados na edição de domingo do nosso jornal foram estruturalmente muito mal aproveitados. Distribuídos em duas páginas de Cultura & Lazer, Moisés Patrício, José Lopes da Silva e Juscelon Bispo dos Reis não contaram com aquilo que no meio jornalístico se chama lide, ou seja, uma matéria de abertura que os colocasse, igualmente, em primeiro plano, resumindo seus dotes artísticos. Separados, perderam a consistência. O texto deveria ser único, independentemente se produzido por diferentes profissionais. A amarração permitiria uma edição sistêmica, harmoniosa, valorizadora dos entrevistados.  

PERSONAGENS DISPERSOS (II) 

A mesma avaliação, alterando-se apenas os personagens e a editoria, vale para o caso de Setecidades que traçou o perfil de duas estrelas na luta contra as drogas, o professor Ricardo Galhardo e o Cabo Dias. Também faltaram estatísticas sobre o problema, fartas no banco de dados. Enquanto não se firmar a cultura de consultar os arquivos eletrônicos ou não, as matérias sempre deixarão a desejar. Por mais bem sacadas que sejam. Como foi o caso desses dois profissionais. A qualidade das fotos das duas páginas está ótima. Aliás, para variar, as fotografias do jornal sempre estão na linha de frente. Pena que, quando da impressão em preto e branco, deixem muito a desejar.  

EDITORIAL

É difícil, em função de um passado de omissão descarada, quando não de protecionismo, o jornal assumir a desindustrialização do Grande ABC. O editorial de sábado ("Na contramão") refere-se ao assunto na esteira da notícia de que uma nova empresa, agora de Diadema, anunciou disposição de trocar a região por outro Município -- no caso, Guarulhos, na Grande São Paulo. O lado positivo é que o jornal não cometerá mais a loucura de negar o inegável. 

ENTREVISTA (I) 

Pesadíssima e pouco interessante a entrevista da edição de sábado com Frei Chico, irmão de Lula da Silva. Sob o título 

"Lula tem de mandar, diz Frei Chico", o bate-bola se mostrou enfadonho como o jogo do Corinthians ontem no Sul. Não é a primeira nem a última vez que o nosso jornal se excede em texto e escasseia em arejamento gráfico nas entrevistas. Para um produto que no dia seguinte se torna velho, é indispensável usar mais janelas para dar o devido respiro. Mas, independentemente disso, o texto é cansativo. Faltou dimensionar a importância de uma entrevista com alguém que pode ser irmão do presidente mas, neste momento, não protagoniza nada que merecesse tanto espaço.  

ENTREVISTA (II) 

Valem para a entrevista com o ministro Patrus Ananias observações semelhantes às direcionadas à entrevista com Frei Chico. Excesso de texto para um produto tão vulnerável ao tempo. A impressão que se passa é de que o mais importante é fechar a página. 

ENTREVISTA (III) 

A entrevista de domingo com Luizinho Carlos da Silva, deputado federal e líder do governo na Câmara, só faltou incluir uma bandeirola vermelha do PT como logomarca. De um proselitismo político-partidário horripilante, o entrevistado deitou e rolou o tempo todo, tomando conta do jogo. Vou escrever sobre o assunto (evidentemente sem críticas ao jornal) no Capital Social Online, de forma a tornar mais fundamentada a avaliação do material publicado, e, principalmente, as incoerências do deputado em questão. Que falou o tempo todo na primeira pessoa do singular. Só fala na primeira pessoa do singular quando se trata de assunto coletivo quem está deslumbrado demais ou quando a entrevista é pouco crítica.  

EMPREGO FORMAL

O  jornal começa a se preocupar em dar acompanhamento ao andar da carruagem do emprego formal, com base em indicadores do Ministério do Trabalho e Emprego. Falta contextualizar os dados em relação aos principais municípios industriais do Estado, como fazemos na Editora Livre Mercado e no Capital Social Online há muito tempo. Não somos uma ilha. Regionalidade com visão metropolitana, eis nosso negócio.  

FRANQUIA DÁ NO PÉ

A notícia publicada na edição de sábado ("Franquia de São Caetano fecha as portas e dispensa 30 funcionários") merece desdobramento. Uma entrevista com os proprietários, com eventual comissão de desempregados, com advogados, com quem aparecer de representativo, eis a proposta.  

PRIMEIRO PLANO  

A utilização do Primeiro Plano como espaço de notícia de impacto, não de notas, corrompe o conceito da coluna. A informação de que a Valeo Cibié Service deixará Diadema foi enquadrada no espaço do Primeiro Plano quando deveria se juntar à notícia sobre o fechamento da franquia em São Caetano e, com isso, ganhar o alto da página, com vida própria. Muito melhor que a matéria utilizada como destaque da página de Economia de sábado ("Metalúrgicos vão a Ribeirão para discutir a reforma sindical"). Houve evidente inversão de valores. 

POLO TECNOLÓGICO

Burocraticamente, o jornal publicou na edição de sábado, capa de Economia, a matéria "São Caetano oficializa projeto para criar o Centro Cerâmica". Essa é uma novela que já completou três anos e está muito mal explicada. Não se tem um parágrafo sequer sobre um fato absolutamente indescartável: com o fim da guerra fiscal na área de serviços, atividade sobre a qual a Prefeitura de São Caetano deitou e rolou armamentos, o projeto anunciado com pompa e circunstância sofreu duro golpe. Há evidente jogo político a permear o assunto, com promessas que jamais serão cumpridas.  

É impressionante como o jornal se deixa cair em contos da carochinha. Qualquer assessoria de Imprensa mais esperta, qualquer político mais vivo, qualquer dirigente empresarial mais avançadinho faz do jornal massa de manobra. Só no final do texto o jornal se refere ao fato de o chamado Polo Tecnológico ter sido anunciado há três anos. O que deveria ser atenuante à nova barrigada conceitual torna-se agravante. 

CELEBRIDADE 

É imperdoável que um jornal que aos domingos publica suplemento de TV e que, como tantos outros, apresenta o resumo dos capítulos que os telespectadores acompanharão durante a semana, não se tenha dado ao trabalho de publicar na edição de sábado (e tampouco na de domingo) o que os jornais de qualidade mínima deram sem perda de tempo: o desenlace do último capítulo de Celebridade, principalmente a identidade do assassino (no caso assassina) de Lineu. A Folha de S. Paulo e o Estadão acompanharam o último capítulo e publicaram a informação no sábado. A Folha com mais destaque.  

Um capítulo com 63% de audiência na Grande São Paulo mereceria a atenção dos consumidores de informação. Principalmente porque chamamos neste espaço a atenção para o assunto no dia anterior, quando nos referimos às matérias de apresentação do último capítulo publicadas por Estadão e Folha. Seria incompetência, desinteresse ou provocação? A audiência registrada é superior à de final de Campeonato Brasileiro. Não preciso relacionar notícias menos importantes que foram publicadas pelo jornal.

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