Imprensa

Diário: Plano Real que
durou nove meses (15)

  DANIEL LIMA - 18/09/2024

Dias 21 e 22 de junho de 2004, ainda fora do comando da Redação do Diário do Grande ABC, continuava a atuar como ombudsman, ombudsman oficial, o primeiro e único da história da publicação. Uma experiência repetida em meados da última década deste século.

Vou reproduzir agora duas edições da newsletters OmbudsmanDiário, estratégia que criei para me aproximar tecnicamente dos jornalistas enquanto a confusão entre os acionistas seguia no Judiciário.

Os leitores interessados na história do jornalismo da região e, também, no próprio Grande ABC, porque é disso que estamos tratando, não podem perder mais uma oportunidade de acompanhar esse novo capítulo. Não custa nada comparar o que vivíamos há  20 anos desse Plano Real do Diário do Grande ABC que deu com os burros nágua, e o que temos hoje como insumos jornalísticos daquela empresa. 

EDIÇÃO NÚMERO SETE 

Tem o presente documento o compromisso de delinear conceitos e programas que pautarão nossa atividade na condução operacional, técnica, orçamentária e gestora dos departamentos editoriais do Diário do Grande ABC. Esse material está sujeito a novas incursões do autor, seja por meio de supressões, seja por emendas, dada a possibilidade de a experiência prática no front se comprovar além ou aquém das expectativas aqui traçadas.

Antecipadamente, podemos afirmar que há enormes probabilidades de as afirmativas aqui impressas estarem subestimadas. O produto editorial da companhia navega nas águas rebeldes de evidente inadequação ao contexto socioeconômico em que vivem os sete municípios do Grande ABC -- Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra -- distribuídos em espaço metropolitano extraordinariamente ebulitivo e transformador.

Poucos agentes regionais se aperceberam de que o Grande ABC de 2,4 milhões de habitantes e o quarto potencial de consumo do País vive a mais intrigante metamorfose da história, cinco décadas depois de a indústria automotiva aqui se instalar e revirar de ponta-cabeça os cromossomos de uma região então acanhada economicamente. Que perdemos riqueza industrial e ganhamos migalhas de comércio e serviços, todo mundo sabe ou deveria saber. Quase ninguém percebeu, entretanto, que a transposição do Grande ABC industrial para o Grande ABC de serviços alterou o comportamento sociológico da comunidade local.

Vivemos já há alguns pares de anos imensa febre de empreendedorismo de diversos matizes para tentar sufocar os estragos da desindustrialização e o surgimento de imensas ilhas de exclusão social. Nenhuma outra região do País, por não ter as características majoritariamente automotivas do Grande ABC, passou por esse autêntico corredor polonês. E o que o jornal diário da região fez para acompanhar ou mesmo antecipar-se às tendências? Absolutamente nada, ou quase nada, em seu núcleo editorial.

O Grande ABC que viceja pós-demolição de parte de suas indústrias -- notadamente de pequeno e médio porte -- é um território cuja população se vira como pode como empreendedora formal e informal, já que escasseiam empregos mesmo nos setores de serviços. Nossa demanda por empregos ultrapassa a 30 mil novas vagas por ano, conforme dados estatísticos, mas não conseguimos repor quase nada disso. No ano passado abriram-se pouco mais de oito mil vagas com carteira assinada, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego.

Muito pouco quando se sabe que, além da nova leva de jovens economicamente ativos, encontramos um turbilhão de desempregados cumulativos. Só nos anos 1990 perdemos 100 mil empregos industriais com carteira assinada, aqueles que oferecem as melhores contrapartidas de proteção social negadas pelo Estado. Contingente predominante desses desafortunados recorreu aos negócios próprios. Muitos quebraram a cara porque os grandes conglomerados comerciais e de serviços descobriram nosso potencial de consumo e aqui se instalaram com pompa e circunstância. Contaram para isso com a omissão ignorante, quando não com apoio interesseiro, de governos municipais e entidades empresariais e sindicais. Todos ficaram como baratas-tontas incapazes de reagir de forma minimamente coordenada senão para barrar os novos investimentos -- o que seria uma afronta às leis de mercado -- pelo menos para erigir redes compensatórias sobre as quais dispensamos detalhes agora, mas que estão presentes nas economias mais maduras.

Pois é esse Grande ABC terceirizado, informal em larga escala, ressentido pelo status desempregador que atingiu duramente quem carregava no uniforme de trabalho logomarcas das montadoras de veículos, é esse Grande ABC profundamente alterado em seu genoma social e econômico que está aí para ser desvendado, para ser modificado permanentemente até exibir novo formato, não essa peça disforme e inquietante que facilmente detectamos no estado de petrificação em que se encontra.

Pois enquanto esse Grande ABC está aí a nos esfregar nas fuças todos os problemas e eventualmente também muitas soluções inovadoras, o jornal vive na mais absoluta inanição editorial. Preferem seus profissionais fechar os olhos, contaminados pela grandiloquência de um passado ainda recente de que devemos nos ombrear às coberturas do noticiário nacional e internacional. Ou acordamos para esmiuçar esse Grande ABC instigante com que nos defrontamos após o período mais dantesco das atividades econômicas, ou seremos literalmente soterrados pelo desconhecimento do que se passa em nossas próprias fronteiras.

Seria trágico não fosse estúpido admitir que às nossas barbas, em 840 quilômetros de território regional, as grandes alterações históricas se passam sem que o veículo de comunicação que lhe emprestou o nome se tornasse capaz de relatar criteriosamente os fatos, de elucidar dramas, de tematizar prioridades, de conjecturar propostas, de cobrar ação de todos que estão encastelados nas frondosas árvores do poder político, econômico e social.

Haveria absurdo maior para a mídia mais tradicional e poderosa do Grande ABC senão continuar observando com certo desdém -- quando não com deliberado desinteresse -- o que se passa em sua geografia? Que tiro mais estúpido no próprio pé editorial e econômico para a companhia senão a irritante teimosia de seguir o haraquiri de caricaturizar os jornais paulistanos, em vez de esculpir a própria cara? Até quando nossa cultura -- e entenda-se cultura nesse caso como o conjunto cumulativo de características sociais e econômicas de nossa região -- estará subordinada ao intelectualismo obtuso que aprofunda nosso Complexo de Gata Borralheira mirando a Cinderela da Capital, onde estão os jornais diários mais importantes do País?

Que gataborralheirismo é esse -- e trato disso no livro específico sobre a fragmentação social do Grande ABC -- que, na tentativa de negar, mais resplandece servilismo à Capital? E quem são os contestadores do Complexo de Gata Borralheira -- esse é o nome que dei à obra -- senão sabujos da Capital que se fingem de regionalistas? O que vale mais nessas alturas do campeonato: um regionalismo realístico, que não esconde nosso gataborralheirismo mas faz tudo o que é possível para mudar o enredo com pressupostos de modernidade, ou um falseamento do conceito de contemporaneidade que no fundo, no fundo, não busca outra saída senão subjugar nosso gataborralheirismo à predisposição de impor -- muitas vezes acriticamente -- as supostas qualidades da Capital?

Neste estudo-proposta, questões vinculadas à regionalidade serão suficientemente expostas. É sobre esse eixo que vai girar a roda de transformações conceituais no campo editorial que definirão os agregados de valor na esfera econômica. Traduzindo em miúdos: a mesma estrada de conteúdo que colocaria o jornal na trilha de aproximação mais concreta e sustentável com os leitores permitiria o assentamento de bases estruturais para conquistas econômicas. Essa confluência sem falsas aparências deve mover nossos passos na condução da reviravolta editorial com consequentes ganhos comerciais. Por isso, é imperioso o relacionamento prospectivo entre as duas áreas vitais à consolidação do produto: o editorial e o comercial.

Nossa experiência jornalística e empreendedora à frente da Editora Livre Mercado, onde desempenhamos funções executivas que se consolidaram em torno dos insumos editoriais como as que objetivamos agora nessa nova empreitada, nos ensinou que a animosidade entre editorial e comercial é uma estrada da perdição só frequentada por quem olha atavicamente para o próprio umbigo.

Não temos o menor receio -- muito pelo contrário -- de imantar as relações com os demais departamentos da companhia, porque os valores que determinarão a interatividade corporativa estarão ancorados nos conceitos que preparamos para o núcleo de insumos editoriais do jornal. Sempre foi assim na Editora Livre Mercado. Os eventuais exageros cometidos pelo Departamento Comercial da Editora Livre Mercado sempre foram olimpicamente neutralizados editorialmente num aprendizado frequente.

Reconhecemos as dificuldades que encontraremos em traçar novo perfil editorial para um produto que -- agora me manifesto como jornalista -- há muito tempo deixou de justificar a própria denominação. Muitos dos problemas que vivenciamos no Grande ABC de uns tempos a esta parte estão situados na zona de aderência do jornal. Reações e inações de uma sociedade declaradamente à deriva resultam de coragem e identificação editorial que o jornal há muito abdicou. Tem-se a impressão -- agora me manifesto também como leitor -- que o Diário do Grande ABC sofre com a ameaça de uma permanente espada que lhe cortaria a cabeça e lhe retalharia o resto do corpo. Como justificar, em contrário, posicionamentos erráticos, quando não inconsistentes, e dúbios, quando não omissos?

Somente a prática nos dará mais respostas a perguntas e afirmações que decidimos não provocar neste estudo-análise. Nada é mais emblemático do que o cotidiano de muito trabalho. A função de analista da situação que encontraríamos no campo de batalha em que se constituiria a formatação de um produto regionalmente forte terá de ser nos primeiros tempos igualmente cumulativa de operacionalidade. Dependeremos de informações de terceiros, mas fundamentalmente dos nossos próprios olhos e juízo para aferir desconfianças ou poucas certezas com respeito à estrutura funcional do jornal. Não bastasse a demolição de eventuais encastelamentos antiprodutivos, teremos de espichar olhos e preparar ouvidos para o atendimento das demandas externas dos consumidores de informação.

Nada, entretanto, deverá obstar nosso caminho. A retaguarda dos acionistas, plenamente conscientes de que esse é um projeto de reconstrução do produto, não nos deixa dúvida sobre o resultado final. Teremos pelo menos 50 meses iniciais para elevar o produto às raízes de sua própria criação há quase 50 anos, ou seja, voltado à comunidade do Grande ABC. Com a impressionante diferença de que agora vivemos num mundo globalizado que nos cobra múltiplas atenções.

Por isso não podemos perder o foco de um regionalismo contemporâneo. Acreditamos francamente na enorme possibilidade de iniciar e encerrar de forma vitoriosa a contagem regressiva dos 50 anos deste veículo de transcendental importância para a comunidade do Grande ABC. Será uma tarefa árdua, desgastante, maratonista. Não haverá vaga para acomodados. Da mesma forma que não sobrará espaço aos interlocutores da comunidade cuja percepção da realidade crônica do Grande ABC se esgota no levar vantagem em tudo e no compromisso social de quem se descontrai num parque de diversões.

Este é apenas o começo de um provavelmente único plano plurianual editorial concebido na história do Diário do Grande ABC. Através deste documento, creiam, saberemos onde registrar nossos passos nos próximos tempos. Da mesma forma, saberemos onde também deverão registrar seus passos todos aqueles que representam o que chamaria de esgarçado capital social da região -- os governos locais, os agentes econômicos e os representantes sociais. Ou seja: a missão histórica que se apresenta a todos que se envolverem nesse projeto ultrapassa a corporação do Diário do Grande ABC porque se sintoniza com os anseios de uma comunidade aparvalhada com as consequências macroeconômicas. Sem paternalismo, sem tutela, porque não poderemos repetir os erros do passado. Somos um produto vocacionado a agitar a sociedade regional. Essa missão precisa ser desempenhada com denodo e perseverança. 

EDIÇÃO NÚMERO NOVE

Não nos concentramos em nenhum momento, ainda, especificamente nas questões estruturais de textos do jornal. Trata-se de conversa mais longa, mais complicada, que, portanto, não caberia nesse instante. De modo geral, e sem qualquer intenção de ferir suscetibilidades, mas também longe de parecer omisso, diria que no conjunto da obra diária que levamos aos leitores estamos aquém das necessidades informativas -- em forma e em conteúdo. 

Nada mais natural. Afinal, em uma redação que passou anos e anos a assistir a banda da qualidade passar seria mesmo exigir demais que se encontrassem uniformidade e alto rendimento individual e coletivo. Essa constatação deriva de uma soma de conhecimentos e de exigências que balizam minhas atividades profissionais. 

Não será com açodamento gerencial, com intolerância xiita aos erros, com substituições aleatórias que haveremos de melhorar o produto. O problema central da redação é estrutural e isso ultrapassa em muito os limites funcionais de cada um. Como um time de futebol ao longo de temporadas mal orientado, mal preparado, é pecaminoso tentar torná-lo vencedor sem que um conjunto de medidas seja aplicado. Um time desarrumado exige tempo e muito trabalho para reencontrar-se. 

Espero que forças colaborativas sejam a maioria entre os profissionais do jornal. Uma caçada intensa às chamadas inconformidades só será possível com empenho de todos; portanto longe de qualquer estereótipo que, mesmo que vagamente, seja correlacionado a salvadores da pátria. Vamos agora à análise do jornal desta terça-feira: 

UNIVERSIDADE FEDERAL

Não nego que estou tendo um orgasmo editorial ao ler o jornal à página de abertura de Setecidades, e constatar que um representante do Ministério da Educação exigiu no encontro de ontem com o Consórcio de Prefeitos que as forças produtivas estejam no grupo que vai debater o formato da Universidade Federal do Grande ABC. Há muito estamos esgrimindo essa obviedade no Capital Social Online e na revista LivreMercado. 

O jornal entrou atrasado na pregação, depois esqueceu o assunto e hoje, infelizmente, dedicou apenas alguns parágrafos. Preferiu, como se vê no título "MEC quer pressa na universidade", percorrer um caminho já mencionado e relativo ao cronograma dos estudos. A grande matéria está na introdução das forças produtivas nos ensaios para retirar de acadêmicos e burocratas o controle conceitual da universidade. 

Está difícil o jornal entender quais os caminhos que nos reconduzirão aos tempos de mudanças efetivas. É por essas e outras que estou distribuindo a toda a audiência os pressupostos do Planejamento Estratégico Editorial. Quem se opuser àqueles preceitos de regionalidade estará dando um tiro no próprio pé -- e atrasará ainda mais o cronograma de modernização do Grande ABC. 

DOENÇA EM MAUÁ

Apesar de pecadilhos no texto, está boa a cobertura da matéria "Doença misteriosa: 8 no hospital". 

JOÃO AVAMILENO (I)

Praticamente relatorial a matéria "Avamileno faz balanço e promete bilhete único para setembro". Nos sonhos de um jornalismo interpretativo e competentemente entranhado na avaliação dos gestores públicos, às declarações do prefeito de Santo André sucederiam contrapontos do especialista.

JOÃO AVAMILENO  (II)

O desempenho do orçamento participativo, que consta da matéria, poderia ser destrinchado em reportagem específica. Quem tem razão sobre os números apresentados? A administração ou o vereador oposicionista? Da forma que está, a matéria deixa os leitores diante de enorme ponto de interrogação.

INCLUSÃO DIGITAL

A entrega do Ônibus de Inclusão Digital pela Prefeitura de Santo André poderia ter sido melhor estruturada, especialmente se contextualizasse a realidade do Município em relação aos vizinhos da região e, mais que isso, aos principais municípios paulistas. O Instituto de Estudos Metropolitanos (www.ieme.com.br) apresenta ranking imperdível. 

MANANCIAIS

O Estadão de hoje publica matéria interessante ("Mananciais: só 66 fiscais para evitar invasões") que poderia, com arte, ser regionalizada à nossa realidade. Afinal, quem está fiscalizando 56% do nosso território atingido pela Billings?

ELEIÇÕES PAULISTANAS

A OAB da Capital realizou ontem manifesto em que solicitou compromisso de ética aos candidatos à Prefeitura local. Como estariam se comportando as unidades da OAB no Grande ABC quando se sabe que há atrelamento com forças políticas, ou seja, são correias de transmissão de interesses localizados? 

FRENTE DE TRABALHO

Consta da retranca (matéria auxiliar) "Contrato de trabalho valerá por 9 meses", referindo-se à Frente de Trabalho em Mauá, que o consultor técnico da Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho do Estado disse que o governo não paga o mínimo de R$ 260 e sim R$ 210 porque não existe vínculo empregatício. O que pergunto é o seguinte: não estaria o próprio Estado (como instância) surrupiando direitos trabalhistas num Município governado por um partido cuja representação sindical brada aos quatro cantos contrariedade à fragilização do mercado de trabalho?

Não seria essa uma boa pauta? Frentes de Trabalho são um artifício para burlar a legislação trabalhista ou têm mesmo séria conotação eleitoral? Seriam ambas as coisas? A iniciativa privada também poderia criar frente de trabalho nos moldes do Estado? 

CASO CELSO DANIEL

Mais uma vez o jornal (agora com material de agência) dá destaque à mobilização de promotores e procuradores contrários à imensa possibilidade de o Supremo Tribunal Federal acabar com a invasão investigatória do Ministério Público. O outro lado da moeda, de respeito à Constituição, parece não constar da preocupação editorial. Diferentemente de outros veículos. Inclusive do Estadão, flagrantemente defensor do MP. Se precisarem, tenho farto material a respeito. 

Suspeito que o jornal, dado o passado pouco nobre nas abordagens do caso Celso Daniel, tenha dificuldades de operar essa questão. Pois vou continuar insistindo, porque não vou adicionar à minha biografia profissional omissão diante de tamanho protecionismo. 

COPA DO BRASIL (I)

Jornal deu ao jogo do Santo André e Flamengo relevância pouco expressiva à chamada de primeira página. É muito difícil prognosticar o comportamento do veículo em questões de interesse regional. É uma espécie de "kinder ovo". Tudo pode acontecer. 

COPA DO BRASIL (II)

Jornal deu nesta terça-feira um perfil do técnico Péricles Chamusca. Folha de S. Paulo seguiu na mesma trilha. Os dois jornais (e os demais) poderiam ter produzido texto melhor. Estive em Salvador no último sábado, acompanhando o jogo do Santo André contra o Bahia, e, como sempre fiz como repórter, encaminhei-me aos vestiários do Santo André. Lá descobri que Chamusca e toda a comissão técnica que ele levou para o comando do Santo André apresentam importantes inovações na preparação da equipe, inclusive com o uso de laptop. Valeria a pena destrinchar o assunto. 

Francamente, desconheço a possibilidade de o jornal já ter dado alguma coisa sobre a parafernália tecnológica do Chamusca. Se já fez matéria sobre o assunto, mais que nunca seria interessante resgatá-la. 

FIESP EM DISPUTA

Não gostei da matéria "Eleição da Fiesp passa pela região", que consta da página 3 de Economia desta terça-feira. O título não tem impacto algum. Poderia ser puxado por uma frase do candidato Paulo Skaf, que promete despachar no Grande ABC caso alcance a vitória. Faltou um gancho nas respostas do outro candidato, Claudio Vaz, que pudesse justificar título que contemplasse a ambos e, principalmente, os leitores. 

Senti dificuldade imensa de questionamento mais substantivo, principalmente ao candidato da situação, Claudio Vaz. A verdade é que o conglomerado Fiesp/Ciesp nada fez nos últimos anos pela economia do Grande ABC. Os chamados arranjos produtivos, que Claudio Vaz insinua em favor do setor de cosméticos de Diadema, simplesmente foi esquecido durante a gestão Horácio Piva, enquanto outras regiões contaram com recursos financeiros da entidade e seus parceiros. 

A matéria foi excessivamente condescendente com os candidatos, especialmente com o concorrente da situação que tem um grande fracasso como ponta-de-lança regional na Fiesp, o médico e empresário Fausto Cestari. De grande esperança de mudança na correlação de forças regionais na Fiesp, especialmente dos pequenos industriais, Fausto Cestari se tornou dirigente omisso e partidário, atuando como linha auxiliar de gerenciadores públicos locais e em evidente conflito de interesses com a classe produtiva. Resumindo: ele cuidou de si próprio, não da região. 

A impressão que tenho é de que o jornal se dá por satisfeito em cumprir pautas burocráticas, quando o jornalismo evolucionista assume funções transformadoras. A entrevista dos dois candidatos à Fiesp é a consagração da redundância. 

BNDES EM DIADEMA

A entrevista com o presidente do BNDES na edição de segunda-feira ("BNDES ressalta cultura nacionalista") poderia ter sido regionalizada de forma mais explícita, inclusive no título. Sugiro que se fique de olhos bem vivos à repercussão do assunto. Aliás, conviria ouvir lideranças do setor de cosméticos de Diadema. Valeria a pena incorporar a essa pauta uma outra questão que interessa diretamente aos empreendedores locais dessa atividade: como poderia ser útil aos representantes dessa que é uma das principais atividades do Município um eventual campus da Universidade Federal do Grande ABC em Diadema que trate do setor de cosméticos? 

CONVENÇÃO PETISTA

O jornal anunciou a decisão do PT de escolher a vereadora Ivete Garcia como companheira de chapa de João Avamileno, conforme consta da edição de domingo. Houve equívoco quando se afirma que a candidata "foi confirmada". Na verdade, "foi anunciada". 

EMPREGUISMO 

Boa a matéria de domingo da convenção do Partido Verde ("Leonel Damo promete empregar membros de partidos de coligação"). Faltou apenas registrar que Damo não é pioneiro regional nesse tipo de empreguismo eleitoral -- anteriormente, no mesmo espaço editorial utilizado domingo, manchete semelhante abordou declaração de Duílio Pisaneschi, então candidato a prefeito pelo PTB. 

CLONAGEM  EDITORIAL

Tenho notado algo que não é episódico. Em várias edições o Nossa Opinião, espaço reservado ao editorial do jornal, tem praticamente repetido a essência da matéria que originou o temário. A diferença é que existe uma preocupação em acrescentar conceitos ao acelerado ritmo das informações do noticiário. Entretanto, na maioria dos casos, a diferença entre o original noticioso e a clonagem interpretativa não ultrapassa limites do penduricalho. 

ANHEMBI TURISMO

O jornal perdeu oportunidade de ouro na matéria publicada na edição de domingo para tentar extrair do presidente da Anhembi Turismo e Eventos, Celso Marcondes, avaliação sobre o fato de a indústria de eventos não prosperar no Grande ABC. Há muito se comenta sobre a possibilidade de se construir uma espécie de Anhembi na região, mas não conseguimos viabilizar o negócio. O que será que o entrevistado diria sobre o assunto? Que dimensão e a que público seria destinado um eventual investimento num centro de convenções do Grande ABC de forma a tornar-se algo rentável?

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