Política

O que vai dar depois do
forrobodó de Paulinho?

  DANIEL LIMA - 28/03/2024

Qualquer diagnóstico que se faça agora e mesmo nos próximos tempos sobre as eleições em Santo André tem o significado de pretender enxergar uma lamina de barbear pelo buraco da fechadura na gaveta de um quarto escuro.

Faço essa imediata analogia para que não me cobrem matreiramente no futuro. Principalmente alguns abutres pagos com dinheiros dos contribuintes, escalados que são para calar jornalista independente. Abutres tanto em redes sociais quanto no jornalismo de papel. O alinhamento aos poderosos de plantão tornou-se despautério ético.

Fosse assunto econômico não me atreveria a escrever uma linha sequer sem ter certeza e dados, ou dados e certezas. Na política, sobretudo quando se trata de tendência eleitoral, vale especular porque sem especulação a política perde a graça. O erro é que confundem especulação com esculhambação.

O certo neste momento é que há três candidatos mais viáveis a disputar a chefia do Executivo hoje ocupada por um prefeito bom de voto, ruim de governo e péssimo de política.

ZACARIAS NA FRENTE

O vice-prefeito dissidente Luiz Zacaria assumiu a liderança hipotética.  Ele terá como principal adversário o ungido pelo Paço Municipal, que agora ninguém sabe, ninguém viu. A terceira opção é o vereador Eduardo Leite. O mesmo Eduardo Leite que pode virar a quarta opção caso o PT decida disputar para valer e escolha um candidato com memória eleitoral razoável e engajamento partidário de fato.

Só por reunir tantas alternativas, cada qual com pretenso peso eleitoral, a critério mais de subjetividades do que de materialidades, dá para ter a dimensão da botafogada da gestão de Paulinho Serra. Um prefeito bom de voto e ruim de política não é fácil de encontrar. Mas isso é decorrência natural quando os grupamentos que compõem o governo é um saco de gatos.

Paulinho Serra tinha a disputa na mão para definir em primeiro turno. A recusa em apoiar o vice-prefeito de sete anos culminou em perdas e danos que se acentuam a cada mexida no tabuleiro dos alquimistas do Paço Municipal. Botafogada é a síntese da situação.

CUSTO DE LANTEJOULAS

Esses alquimistas do Paço são ruins demais em racionalidade e criatividade diante de impasses. Erram barbaridade. Sob pressão, a gestão de Paulinho Serra transborda incompetências. Nada surpreendente para quem está acostumado, e muito mal acostumado, com lantejoulas de quase toda Santo André a partir do jornalismo de papel endeusador.

Sem ter acesso a fontes confiáveis do humor dos eleitores, é muito difícil fazer projeções que se encaminhem a resultados menos surpreendentes. Com o acesso a fontes confiáveis há redução da margem de erro, mas mesmo o assim as dificuldades de perscrutação são imensas.

Vejam esse caso específico, detectado em todas as pesquisas já publicadas no Diário do Grande ABC pelo Instituto Paraná: quando chamados a apontar o candidato preferido ao cargo de prefeito, os eleitores ficam a ver navios. Nada menos que 70% não sabem em quem votar.

DEFINIÇÕES PRECÁRIAS

Só há definições, mesmo assim precárias, quando se apresenta a cartela circular com a identidade dos prováveis concorrentes. Aí ainda prevalece cerca de um terço que insiste em fugir de escolha.

Imaginei que esse distanciamento do eleitorado fosse um fenômeno mais marcante nesta região de comunicação de massa frágil, sem televisão de massa, embora esse apagão provavelmente tenha perdido força com a chegada das redes sociais.

Mas, mesmo na Capital, com o glorioso Datafolha da Folha, 60% não ofereceram resposta espontânea aos entrevistadores.

Diante disso (o quarto escuro visto pelo buraco da fechadura) torna-se arriscado demais apontar favoritos, mas, contraditoriamente, os potenciais favoritos sempre aparecem por conta de memórias eleitorais, sempre de muita tração, e também, claro, da maquinaria de adesões que cresce a cada novo dia.

TRAIDOR E TRAIDO

Um exemplo de que maquinaria de votos promove muita recomposição de perspectivas é o caso de Luiz Zacarias, em Santo André. Além de sair da gestão de Paulinho Serra como vítima, imediatamente passou a contar com o suporte de agremiações que têm nomes estaduais e federais de destaque. Imagine Zacarias com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro boa de discurso numa reta de chegada em Santo André? E Tarcísio de Freitas?

A propósito do espalhamento da imagem de que Luiz Zacarias foi traído pela gestão de Paulinho Serra após mais de sete anos de titular absoluto do time mandante, o que temos visto nos últimos dias pós-dissidência é um aparato de inteligência a organizar um dos prováveis motes da campanha: a extração do máximo de simpatia do eleitorado por ter Zacarias integrado uma administração populista de elevada aceitação.

Por conta disso, pesa muito o despropósito de ter sido preterido em nome de quem quer que seja o escolhido.

Pelo que já foi exposto, Zacarias não perderá o equilíbrio a ponto de hostilizar o Paço Municipal. Provavelmente já disponha de pesquisas não publicáveis que indiquem o caminho das pedras em forma de resgate dos eleitores nas urnas.

CONTRAGOLPE FORTE

E por falar em caminho das pedras, como será o comportamento eleitoral do escolhido pelo grupo de Paulinho Serra para, além de neutralizar o vice-prefeito despachado do Paço, catalisar fidelidade exclusiva dos apoiadores do prefeito bom de voto e ruim de governo?

Não haveria como desqualificar Luiz Zacarias, sob pena de soar a retaliação, ao mesmo tempo que novo esquadrinhamento do grupo que representa o incumbente teria de fechar o cerco com sutileza para estancar vazamento de parte do eleitorado às águas de Zacarias.

O fato é que o Paço Municipal e arredores do Paço Municipal que apoiam o Paço Municipal sentiram o contragolpe de Luiz Zacarias. Uma agudeza irretocável até agora. Quem imaginava que Zacarias sairia atirando, caiu do cavalo.

Mas quem garante que não haveria um contexto favorável, obtida a condição de vítima, para encetada belicista cirúrgica?

TEMPO DECIDIRÁ

O que quero dizer com belicismo cirúrgico? Ora, pode chegar o momento na trajetória às urnas que cabeças pensantes do grupo de Zacarias detectem que, consolidada a situação de vítima, tenha-se a possibilidade de disparar mísseis dirigíveis a pontos suscetíveis de destruição da gestão de alguns pilares populistas de Paulinho Serra. O calcanhar de Aquiles de Paulinho Serra não tem aderência popular. A sociedade de maneira geral não detecta danos a tempo de corrigir percursos. Claro que me refiro ao Desenvolvimento Econômico.

Creio até que essa perspectiva já esteja na alça de mira da campanha. Ao que tudo indica, o preferido do Paço Municipal partiria em algum momento ao apontamento de traição do agora vice-prefeito. Aliás, esse cenário já foi desenhado ainda outro dia em matéria do Diário do Grande ABC. Pode ser também que o Paço segure os passos nessa direção, já que não houve novas arremetidas na mídia.

A possibilidade de o tiro da insensatez sair pela culatra da contradição seria enorme. Afinal, quem fica sete anos como vice-prefeito e é barrado do baile da sucessão na reta de chegada jamais seria traidor.  Zacarias estava mais para um pano de trapo.

EDUARDO E PT

Como se observa, estou fazendo breve voo panorâmico sobre alguns aspectos de dois dos possíveis quatro candidatos à sucessão de Paulinho Serra.

Eduardo Leite já deve lastimar o desenlace entre os situacionistas porque não haveria como negar, apesar do quarto escuro e da fechadura da porta, que está em desvantagem ante o vice-prefeito Luiz Zacarias. Virou terceira via.

E poderá virar quarta via se, por exemplo, o ex-prefeito Carlos Grana for ungido pelo PT.

Aliás, o PT pode ser o fiel da balança da disputa tanto para a definição dos prováveis dois finalistas do primeiro turno como também no resultado do possível segundo turno. Mas teria de ser o PT de verdade, não o de mentirinha que há mais de sete anos se aboletou no governo de Paulinho Serra.

O Paço Municipal jamais admitiria a hipótese de exclusão do segundo turno. Provavelmente nem admitirá que a disputa seja esticada. Mas seria melhor refletir, principalmente sobre o segundo turno, não propriamente com a possibilidade de ser alijado do baile, mas de ter contra si mais que o outro finalista, mas também os que ficarem pelo caminho e que pretenderiam ver mudanças no ambiente imperialista de Santo André.

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