Política

País exige direita como
Santo André esquerda

  DANIEL LIMA - 12/03/2024

Para o bem de todos e engajamento democrático geral, custe o que custar, doa a quem doer, chore quem chorar, ria quem rir, a verdade é que Santo André precisa da esquerda como força político-eleitoral assim como o Brasil já tem em forma de direita. Os intolerantes e principalmente os imperialistas detestam essa equação democrática. Por isso que quem pode quer sufocar o adversário. E quem paga o pato é o povo. Mais contraditório, menos opressão.

Das eleições previstas para esta temporada na região, tem-se como certo que não faltarão embates interessantes que eliminariam previsões de comodismo de supostos favoritos. Menos, por enquanto mas provavelmente por pouco tempo, em Santo André, onde o favoritismo da situação só é ameaçado pelas estupidezes da situação.

Para que Santo André tenha uma disputa para valer mesmo, com temários candentes próprios da democracia, é preciso que o PT saia da inércia em que se meteu. Há indicações, como já analisei, de que o PT finalmente jogará um jogo de verdade, não de compadrio com a suposta direita comandada pelo grupo de Paulinho Serra. Suposta direita mesmo, porque a Administração de Paulinho Serra tem todos os condimentos partidários e ideológicos imagináveis. Era uma salada mista e está virando um vatapá apimentadíssimo.

PT FEDERAL

Resta saber se o PT Federal que estaria avaliando com muita atenção a possível candidatura do ex-prefeito Carlos Grana terá poder de convencimento sobre o PT de Santo André, enraizado desde muito tempo na gestão de Paulinho Serra. Na medida em que se fragiliza o grupo de Paulinho Serra, como está se fragilizando, mais o PT de Santo André tende a ganhar coragem de saltar de uma falsa oposição e se tornar oposição de verdade.

Esse acerto de contas e de águas entre petistas e tucanos vem desde a eleição de Paulinho Serra em 2016. Paulinho Serra como se sabe, foi secretário de Carlos Grana, numa operação parcial e semelhante ao que se dá nestes tempos entre Geraldo Alckmin e o presidente Lula da Silva.

Antes que os leitores rebatam a incidência de fato de embates entre direita e esquerda na região, é preciso entender que não existe aqui ainda o aprofundamento ideológico consolidado em nível nacional, expresso nos apoiadores de Jair Bolsonaro e de Lula da Silva.

No caso regional, em que pese a uniformidade filosófica dos partidos de esquerda, valem mais os condimentos municipais, intestinos, embora não se devam desprezar conotações nacionais.

BARAFUNDA INSTALADA

O caso de Santo André é emblemático e o que mais interessa agora. O jogo estava tão fácil e decidido até pouco tempo atrás que o grupo do prefeito Paulinho Serra se deu ao luxo de brincar de candidatos, formando uma roda com nove nomes que, mais tarde, a maioria deles, se descobriu otários, porque jamais estiveram de fato entre os possíveis integrantes da chapa de prefeito e vice-prefeito.

Como a barafunda se instalou, com inconformismos de todos os lados, alguns nem tanto porque não têm outra saída senão aceitar, como tudo isso ocorreu, o PT viu um clarão no horizonte, assim como o vereador alckmista Eduardo Leite. Mais ainda: há dissidências dentro do grupo de Paulinho Serra, de gente do grupo dos nove que não se conforme de ser escanteada. Conclusão: nunca o segundo turno pareceu tão possível.

Como se tudo isso fosse pouco, o segundo turno surge no horizonte também porque pelo andar da carruagem o candidato do Paço Municipal, a contragosto de muita gente, inclusive de influenciadores empresariais com seus métodos de convencimento que todos conhecem, seria o jovem Gilvan Junior, secretario e assessor especial de várias coisas durante o mandato de Paulinho Serra.

GILVAN BARRADO?

Gilvan Junior é visto com muita desconfiança por uns, com temor por outros, com desdém por terceiros e também é refutado por quem mesmo longe da lista dos nove se sente ameaçado em seus interesses junto ao Paço Municipal. Gilvan Junior representaria agrupamentos que poderiam rivalizar forças com os agentes públicos e privados já estabelecidos.

A direita em Santo André, que é difusa e tem cromossomos predominantemente extrativista, sem conceitos que a guiariam como os direitistas nacionais, está temerosa de que as forças de esquerda, impulsionadas pelo PT, coloquem para valer as cartas de potencialização de votos nas mesas. Se o fizerem, não estaria descartada uma reconfiguração do tabuleiro ora prevalecente.

A barração de Gilvan Junior é uma possibilidade, mas ainda está fora de cogitação como elemento central de mudanças. Somente se a vaca de coalizões que levariam a vitória do grupo de Paulinho Serra num consagrador primeiro turno ameaçar ir para o brejo haveria de fato um repensar da situação que nesse momento se apresenta apenas como uma ameaça vaga, porque o PT ainda não se decidiu para valer ir para o jogo jogado não para o jogo combinado.

ZACARIAS FORTE

Entretanto, um novo componente de complicações passou a rondar o poderio eleitoral do Paço Municipal a ponto de adicionar perigoso aumento da temperatura e levar o grupo de Paulinho Serra a, quem sabe, preparar gabinete de emergência.

Há sinalizações de que o vice-prefeito Luiz Zacarias, barrado do baile da sucessão situacionista, estaria com os dois pés de competitividade eleitoral na arena de outubro. Zacarias já teria assegurado tanto o apoio do governador Tarcísio de Freitas quanto do ex-presidente Jair Bolsonaro. Zacarias teria, segundo estrategistas do PL, o perfil de popularidade de que precisariam para disputar as eleições com amplas possibilidades de sucesso.

O apoio escancarado do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi impulsionado ontem à noite nas redes sociais. De viva voz, o dirigente máximo do PL nacional enfatizou adesão ao vice-prefeito de Santo André.

Nestas alturas do campeonato e sempre levando em conta que política é como as nuvens, sujeita a mudanças num piscar de olhos, não estaria fora de cogitação o que poderia ser chamado de a maior botafogada da história política de Santo André, ou seja, o fracasso de uma conquista dada como certeira: o candidato do Paço Municipal seria varrido de um possível segundo turno, depois de o primeiro turno ter sido avaliado como o resultado compulsório da popularidade de Paulinho Serra.

Não custa lembrar que o Botafogo ganhou 47 pontos dos 56 pontos possíveis no Campeonato Brasileiro do ano passado, passou a ser cantado em prosa e verso como campeão mas, no segundo turno, ao somar apenas 17 pontos, caiu para o quinto lugar.

PAÇO EM TORMENTA

No Paço de Santo André, nestes últimos dias de tormenta com a possível decisão de o PT abandonar a amistosidade dos últimos anos, e, ontem à noite, com Luiz Zacarias se reforçando fora das quatro linhas municipais, lembrar o nome do time carioca cheira a provocação.

Como se pode observar, portanto, há sinalizações de que uma direita sem convicção, porque amasiada durante muitos anos com a esquerda, estaria em processo de depuração, por assim dizer, em Santo André. Ao mesmo tempo em que uma esquerda adormecida, quando não submissa e interesseira que teve no Paço Municipal toda a acolhida subserviente, também estaria acordando para o embate de outubro.

O jogo ao que parece estaria começando a ser jogado em Santo André. Para os situacionistas sob o comando hierárquico do prefeito, já teria passado a hora de uma reorganização do planejamento imposto internamente e, mais que isso, desprezando a sociedade omissa e desorganizada mas, de qualquer forma, a sociedade de Santo André.

A indicação de Gilvan Junior como provável candidato do Paço Municipal feriu algumas regras sagradas da política. Vamos tratar disso em outra ocasião. Gilvan Junior também é vitima do imperialismo que domina Santo André desde que Paulinho Serra tomou posse e se transformou na administração mais maléfica da história da cidade porque, acima de quaisquer virtudes e deficiências, sempre considerou que poderia fazer de gato e sapato os eleitores que também são leitores que também são consumidores e que também são vítimas de uma cidade decadente.

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