Prêmio Desempenho: bons
programas públicos na praça

Apenas a título de curiosidade selecionei três programas públicos das atuais administrações municipais que poderiam concorrer ao Prêmio Desempenho, se Prêmio Desempenho houvesse a ser disputado. Como o foi durante 15 anos seguidos na região.
É claro que os programas passariam pelo escrutínio de reportagens esclarecedores para, então, serem indicados à condição de Destaques do Ano, primeira etapa reservada à consolidação do processo de meritocracia.
O programa Moeda Verde da Prefeitura de Santo André, o programa de hortas comunitárias da Prefeitura de São Caetano e o programa de reestruturação do sistema viário de São Bernardo seriam os primeiros a passar pelo filtro crítico, com, aparentemente, amplas condições de chegar aos melhores postos no ranking final não só da categoria Governamental, mas do todo.
PRATELEIRA VAZIA
Desde que foi retirado da prateleira de referência exponencial, sem máculas e repleto de crédito no ambiente regional, o Prêmio Desempenho passa por abordagens esporádicas de retomada.
Realizado durante 15 anos seguidos sob o comando deste jornalista, então à frente da revista de papel LivreMercado, o Prêmio Desempenho entregou em festas memoráveis 1.718 troféus.
O Prêmio Desempenho praticamente exterminou com todos os eventos que faziam de premiações não mais de trambiques ou jogo de cartas marcadas, quando não uma ação entre amigos para lustrar egos.
Durante os 15 anos que distanciam última edição do Prêmio Desempenho, em 2008, e esta temporada, recebi pelo menos seis propostas de retomada do evento.
MELHOR CAMINHO
Não foi ainda possível encontrar o melhor caminho, embora todos tenham se apresentado muito bem na fita de perspectivas.
A distância que separa perspectivas e ações efetivas é algo como uma planilha de campo de futebol em que o treinador desenha uma jogada fatal, mas os fatos teimam em contraria-lo no gramado.
Acho que cada vez mais vai ser difícil este jornalista retroceder no tempo e recriar o Prêmio Desempenho.
Confesso publicamente que estou mais exigente e menos crente de que o passado possa virar futuro quando se trata de algo com as características do Prêmio Desempenho.
O contexto econômico e social é diferente do que vivemos durante aqueles 15 anos seguidos. De qualquer forma, sinto ponta de decepção porque até agora ninguém foi capaz de levar adiante algo semelhante, mesmo que com outra configuração. Claro que não é fácil.
INTEGRIDADE ÉTICA
Para começo de conversa, não pode haver transigência ética. O Prêmio Desempenho só durou tanto (e durou até a última edição da revista LivreMercado sob meu controle editorial) porque todos os mecanismos possíveis de transparência e de meritocracia jamais sofreram qualquer arranhão.
Os convidados e os concorrentes que participavam das festas anuais (eram pelo menos duas) sabiam que tudo poderia acontecer, porque nada que poderia acontecer ganhou espaço a manipulações. Sobremodo na etapa decisiva, quando se anunciavam os vencedores da temporada.
Havia tanta rede de segurança para assegurar a legitimidade dos resultados que chegamos a exagerar.
O Conselho Editorial, a quem cabia a análise de cotas dos cases, chegou a contar com 250 representantes. Um número tão grande que, entre outras vantagens além de aumentar a representatividade social, mitigava eventuais deslizes individuais.
DUAS AUDITORIAS
Nada menos que duas auditorias externas foram contratadas para investigar as planilhas de notas e aferir a legitimidade dos resultados.
Os próprios conselheiros conferiam as notas atribuídas aos cases e aos títulos individuais. O sigilo dos resultados só era revelado durante a cerimônia final, sempre em outubro. Eu controlava as relações com os conselheiros. Não havia intermediação. Vazamentos não tinham vez. Até porque os próprios conselheiros desconheciam os parceiros de análises da cota dos cases.
Diferentemente de premiações encomendadas que até hoje fazem a festa principalmente de prefeitos loucos por marketing a qualquer custo, o Prêmio Desempenho passava pelo escrutínio de meritocracia.
Os cases produzidos eram rigorosamente escolhidos pela equipe de redação de LivreMercado. E todos passavam por vários filtros, o primeiro dos quais na fase classificatória, quando eram analisados pelos conselheiros editoriais. Depois, nas fases seguintes, o filtro era cada vez mais intenso e exigente.
REVISTA INCUBADORA
Comandar o Prêmio Desempenho foi uma das maiores experiências de minha vida profissional, incorporada essa função à direção editorial da melhor revista regional que esse País já produziu.
A revista LivreMercado nasceu primeiro que o Prêmio Desempenho e foi a incubadora do evento durante os 15 anos. LivreMercado circulou pela primeira vez em março de 1990, simultaneamente ao fracasso Plano Collor. O Prêmio Desempenho surgiria quatro anos depois.
O segredo do sucesso do Prêmio Desempenho envolvia uma rede de qualificações, mas o princípio do princípio do começo estava centrado no mantra de que a edição do ano seguinte começava quando terminava a edição da temporada anterior.
Ou seja: quando a festa de encerramento da premiação da temporada consagrava os melhores do ano, o trabalho para o ano seguinte já estava engatilhado.
APERFEIÇOAMENTO
O Prêmio Desempenho foi aperfeiçoado ao longo das temporadas, assim como a própria linha editorial da revista LivreMercado, antecessora deste CapitalSocial.
O Prêmio Desempenho lançado em 1994 restringia-se a cases do setor empresarial, mas em seguida, a cada nova temporada, novas modalidades corporativas e individuais foram acrescentadas. De repente se tornou um conglomerado de cases e biografias referenciais à sociedade regional.
Lembro que quando decidi colocar na programação o setor de Administração Pública, causei desagrado. Conservadores entendiam que as prefeituras em geral não tinham e não têm nada de interessante. Provamos que tinham e continuam a ter. Não esqueço que um dos inquisidores que mais me condenaram pela iniciativa hoje conta com um herdeiro atuando como vereador.
Prêmio Desempenho Social, Prêmio Desempenho Governamental, Prêmio Desempenho Esportivo, Prêmio Desempenho Cultural, Prêmio Desempenho Empresarial, Prêmio Desempenho Não-Governamental, tudo isso passou a fazer parte da premiação.
MADRES TEREZAS
Já no campo de individualidades, também colocamos no palco depois de todos passarem pelo escrutínio dos conselheiros editorais profissionais consagrados de esporte, cultura, empreendedorismo e tudo o mais.
Mas a maior inspiração a transformar o Prêmio Desempenho em algo diferenciado de todos foi instalar as Madres Terezas (e depois os Freis Galvão) nos palcos. As Madres Terezas foram homenageadas pela primeira vez no ano 2000. Foi inexequível ver o Tênis Clube de Santo André lotado a aplaudi-las. Não faltaram choros copiosos.
Relembrar com brevidade a fantástica marcha de sucesso do Prêmio Desempenho não é saudosismo barato. É o puxar de um gatilho que tem de fato duas finalidades.
A primeira é mostrar aos leitores que também por conta dessa premiação e da atuação vigorosa da revista LivreMercado, o ABC Paulista viveu principalmente até por volta do ano 2002 os melhores momentos da história.
Foi um período do Fórum da Cidadania vibrante e de um Celso Daniel que, pressionado pelo ambiente de efervescência social, lançou-se na cruzada de uma regionalidade do setor público que perdeu o fôlego antes mesmo de ser assassinado.
MATÉRIA-PRIMA
A segunda finalidade dessas reminiscências é mostrar para os inúteis deste século, que tomaram de assalto muitos comportamentos oficiais e sociais do ABC Paulista, o quanto são responsáveis pelo afrouxamento crítico e participativo que contamina quase três milhões de habitantes.
É isso mesmo, porque qualquer sociedade vive e se agita na medida em que encontra exemplos a seguir, inovações a aperfeiçoar. E, infelizmente, nada disso se deu nas duas últimas décadas na região.
Pior que isso: o que temos é um simulacro maroto, esquizofrênico, ardiloso, de comprometimento regional quando de fato, grande parte dos atores atuais não passa de procrastinadores do futuro alvissareiro cada vez mais improvável.
Não chegaria a afirmar categoricamente que seria pouco provável retomar o Prêmio Desempenho com aquelas características porque está a faltar matéria-prima corporativa e individual ao reconhecimento público.
Não é exatamente isso, porque apesar dos pesares, se bem selecionados, teremos sim gente de qualidade para homenagear. O problema maior é que os medíocres tomaram conta do barrado de oportunismos e abusivos e quando os medíocres se juntam, e eles se juntam mesmo, fazem de tudo para torpedear aqueles sobre os quais ainda não lançaram mão de métodos persuasivos de submissão.
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