Orlando, Paulinho e Auricchio
não seguram a queda do PIB
DANIEL LIMA - 26/01/2023
Nos primeiros quatro anos de mandatos encerrados em 2020, quando foram reeleitos para mais quatro anos de gestão, os prefeitos Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio Junior colecionaram resultados negativos no PIB Geral, que envolve todas as atividades.
Com os dados nacionais revelados há um mês pelo IBGE, é possível rastrear e fazer as contas. E as contas não são boas. Nem poderia ser. Somente seriam boas diante de um milagre.
Há sempre o fantasma da ex-presidente Dilma Rousseff no meio do caminho. E, para completar, veio o Coronavírus para arrefecer um crescimento nacional que se insinuava, com evidentes reflexos na região.
DIFERENÇA MÍNIMA
Por diferença mínima em relação a Paulinho Serra, de Santo André, Orlando Morando sustentou São Bernardo um pouco acima dos estragos dos anos 2017-2020. Já José Auricchio Júnior viu São Caetano desmoronar.
A bem da verdade, o fato de a base da pesquisa que faço com números do IBGE ter 2016 como tiro de largada poderia ter beneficiado os três prefeitos que representam 72% do PIB do Grande ABC.
Afinal, pegaram o PIB em baixa, depois da catástrofe de Dilma Rousseff.
Entretanto, terminaram o primeiro mandato prejudicados pelos efeitos do primeiro ano do Coronavírus, justamente na reta de chegada de 2020.
Tanto que em 2020, último ano decifrado pelo IBGE, o PIB do Grande ABC sofreu queda de 5,92% em relação ao ano anterior, conforme analisamos em dezembro do ano passado.
BAIXA E BAIXA
A situação seria muito pior se os três prefeitos tivessem assumido os cargos em janeiro de 2017 com o PIB de 2016 em alta e tendo na outra ponta, de complemento do período legal concedido pela vitória eleitoral, se defrontado com o PIB em declínio, caso de 2020 sob os efeitos do Coronavírus.
Menos mal, portanto, do ponto de vista estatístico, que os dados entre uma ponta e outra obedeceram à simetria do declínio.
Uma situação completamente diferente, portanto, do período de dois mandatos de Lula da Silva no Grande ABC, entre 2003 e 2010. Quando Lula assumiu o governo federal o Grande ABC estava no fundo do poço depois de oito anos de dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso.
Já em 2010, último ano do segundo mandato, Lula da Silva lubrificou a engrenagem de um PIB de gastança e pouco investimento e chegou a 7,5% de crescimento.
Os prefeitos daquele período foram largamente beneficiados pela mesma situação.
COMO A BOLSA
Uma administração pública pode parecer melhor do que é de fato quando repete o comportamento de ações na Bolsa de Valores, ou seja, quando se compra na baixa e se vende na alta. Com Lula da Silva ante FHC foi assim.
Com os três prefeitos da região no primeiro mandato foi diferente: compraram na baixa os dados do PIB e venderam na baixa em 2020.
Quando os dados de 2021 forem revelados, Morando, Paulinho e Auricchio deverão colecionar números menos desconfortáveis, mas ainda negativos.
A tendência é de que o PIB do Grande ABC cresceu levemente em 2021 ante 2020. Como o PIB do Brasil, que avançou 5,0%, depois de cair 3,3% na temporada de 2020.
QUEDA REGIONAL
Chegou a 8,50% a queda geral do PIB dos três mais tradicionais municípios do Grande ABC entre janeiro de 2017 e dezembro de 2020, quando Auricchio, Morando e Paulinho fecharam mandatos conferidos nas eleições de 2016.
Quando se coloca na conta geral o PIB do Grande ABC no mesmo período, incluindo-se Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, a queda regional é de 7,42%.
Entre mortos e feridos não se salvou nenhum dos prefeitos de Santo André, São Bernardo e São Caetano.
Orlando Morando acumulou perda de 6,77% na primeira temporada à frente da Prefeitura de São Bernardo, Paulinho Serra alcançou queda de 7,93% na primeira gestão em Santo André e José Auricchio viu a São Caetano na qual se elegeu então triprefeito cair 15,10% no principal indicador econômico. Auricchio foi prefeito de São Caetano em dois mandatos consecutivos entre 2004 e 2012.
FALTARAM R$ 8,5 BILHÕES
Para que não se registrasse PIB negativo nos três municípios do Grande ABC seria preciso que em 2020 o valor geral chegasse a R$ 100.561.356 bilhões, ou seja, 23,76% (IPCA do período) acima do registrado em 2016, de R$ 81.255.137 bilhões. Entretanto, Santo André, São Bernardo e São Caetano registraram R$ 92.015.484 bilhões. Faltaram R$ 8.545.873 bilhões na geração de riquezas nos três endereços.
Esse valor é praticamente o dobro da soma do PIB de Ribeirão Pires e de Rio Grande da Serra, registrado em 2020.
O PIB de Santo André do prefeito Paulinho Serra, no ano em que ganhou a primeira eleição, em 2016, totalizava R$ 25.837.046 bilhões. Deveria chegar a R$ 31.975.928 bilhões em 2020, caso corresse na mesma raia da inflação. Mas alcançou R$ 29.440.447 bilhões. Queda, portanto, de 7,42%. Ou de R$ 2.535.481 bilhões. Um pouco menos que Ribeirão Pires.
A São Bernardo que o prefeito Orlando Morando começou a administrar em janeiro de 2017 contava com PIB de 2016 de R$ 42.131.380 bilhões. Caso não se desgrudasse da inflação, teria chegado a 2020 com R$ 52.141.796 bilhões. Mas não passou de R$ 48.614.342 bilhões. Uma queda relativa de 6,77%, que corresponde a R$ 3.527.454 bilhões. Uma Ribeirão Pires inteira de baixa.
O caso mais grave do primeiro mandato a partir de janeiro de 2017 envolve José Auricchio Júnior. São Caetano perdeu 15,10% do PIB, o dobro da média regional que chegou a 7,42% no período. O PIB de São Caetano herdado por José Auricchio Júnior em janeiro de 2017 correspondia a R$ 13.286.711 bilhões em dezembro de 2016. Deveria alcançar em dezembro de 2020 o total de R$ 16.443.633 bilhões caso seguisse o processo inflacionário. Mas não passou de R$ 13.960.695 bilhões. Uma perda líquida de 2.482.938 bilhões.
Ou seja: perdeu em termos absolutos tanto quanto Santo André, embora o PIB de Santo André seja quase o dobro de São Caetano.
UM DOS INDICADORES
Concentrar no PIB a bateria de avaliação de uma administração pública municipal seria um exagero, mas não é improcedente se for bem temperada num coquetel de indicadores.
Prefeitos dependem de decisões da própria administração para estimular o PIB, mas têm poderes limitadíssimos sobretudo no curto prazo.
Um ou mesmo dois mandatos consecutivos é pouco para sentenças definitivas, embora já exponha conceitos e definições influenciadoras.
Já um mesmo grupo que promove troca de comando do Paço Municipal ao longo de anos pode sim ser avaliado mais detidamente como política de Estado continuada. Barueri, na Grande São Paulo, é um caso emblemático.
CAOS EXEMPLARES
No âmbito estadual, por exemplo, os 28 anos de governos do PSDB são um tempo mais que sustentável a avaliações críticas. Tanto quanto os 14 anos do PT no governo federal. São governos que se transformaram em Estado temporário.
No Grande ABC, há situações que podem dar propulsão a análises sobre o desempenho municipal vinculado a uma determinada linha de gestão.
É o caso de São Caetano, de José Auricchio, cujo grupo, neste século, só ficou de fora da Prefeitura nos quatro anos do prefeito Paulo Pinheiro, entre 2013 e 2016. O PT foi o cavalo de Troia da vitória do peemedebista Paulo Pinheiro. Tempos do Petrolão a todo vapor. Com o silêncio da mídia.
Santo André dos tempos de Celso Daniel, de 1996 a 2008, também contou com uma marca gerencial definida. Nesse período estão incluídos os seis anos do prefeito João Avamileno, substituto de Celso Daniel.
DIADEMA EMBLEMÁTICA
Claro que o caso de Diadema conta com os traços mais profundos de definição organizacional e operacional de gestão pública.
Nos 40 anos de viés socialista patrocinado pelo PT e partidos de esquerda, somente nos oito anos do conservador Lauro Michels houve interrupção da cadeia de sucessores, sem, entretanto, alterar o ritmo da chuva da matriz ideológica esquerdista. Diadema perdeu 8,04% do PIB nos quatro primeiros anos dos três principais prefeitos da região.
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