Economia

Prefeitos bons de voto, mas
ainda frágeis em economia

  DANIEL LIMA - 18/10/2022

O prefeito Paulinho Serra fez da mulher Carolina deputada estadual. O prefeito Orlando Morando fez da mulher Carla deputada estadual. O prefeito José Auricchio fez do filho Thiago deputado estadual. Os prefeitos de municípios que representam 70% do PIB do Grande ABC são bons de votos. Pena que sejam frágeis em economia. Como os antecessores. E possivelmente com os sucessores.   

Lembram-se da campanha “Vote no Grande ABC, o resto a gente resolve depois?^”. Pois é: este é mais um capítulo pós-eleições. O depois chegou.  

O alerta quanto à contraposição “bons de votos, mas ainda frágeis em economia” é espécie de freio de arrumação para conter o entusiasmo político-partidário que as urnas proporcionaram às três administrações municipais.  

GRANDE RISCO  

O grande risco que os quase 500 mil votos proporcionaram a Carolina Serra, Carla Morando e Thiago Auricchio é que o triunfalismo seja levado a um campo no qual prevalece grande decepção.  

Ganhar votos contando com a maquinaria de incumbente é uma coisa, que não é exclusividade dos três prefeitos em questão.  

Reorganizar uma economia em desestruturação há mais de três décadas é outra, bem diferente.  

Este texto é um alerta necessário, quando não providencial.  

BADALÃO VAZIA  

Afinal, o que mais prevalece nesta Província sem rumo e sem prumo é a badalação vazia. Méritos eleitorais não podem ser negados. Entretanto, transformar vitória nas urnas em consequente sucesso econômico é outra coisa. 

O encantamento em torno de uma suposta introdução da chamada Bancada do ABC na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal é a repetição de fracasso anunciado.  

Alertar sobre mais um capítulo quadrienal dessa embromação é emergencial como força contraceptiva a uma farsa.  

Deve-se reconhecer que 500 mil votos diretamente conquistados por Carla Morando, Carolina Serra e Thiago Auricchio não são pouca coisa.  

Os números são a soma de votos municipalistas (predominantes em Carla Morando e Carolina Serra), votos regionalistas e votos emprestados (em demais cidade do Estado), este um estoque de Thiago Auricchio.  

SHOW DE VOTOS  

A arquitetura desenhada por especialistas em conquistar eleitores é coisa de profissionais competentes.  

Restaria aos prefeitos que contaram com tamanho sucesso (e aos demais da região) exercitarem algo semelhante no campo econômico. Todos estão a dever.  

Aliás, não só no campo estritamente econômico, cujos indicadores históricos e recentes, relativos às respectivas gestões, são para lá de Bagdá em matéria de improdutividades.  

Os prefeitos também poderiam ser questionados quanto ao desempenho nos indicadores do Coronavírus, omitido pela mídia regional.  

Como já publicamos, o índice mais apropriado a detectar até que ponto houve eficiência coloca a região com letalidade 30% acima da média nacional.  

BALANÇO DO VÍRUS  

Mais que isso, e para que a comparação não seja injusta em função de aspectos demográficos e econômicos, perdemos até para o Distrito de Sapopemba, na vizinha Capital.  

Falta um balanço coordenado dos estragos do Coronavírus na região. Até mesmo para se avaliar com mais cuidado o estado geral da infraestrutura pública na área de saúde.  

Há indicadores desagradáveis e que, como tantos outros, não têm digitais prevalecentes dos atuais prefeitos, mas também têm digitais dos atuais prefeitos.  

Não vou misturar demais as bolas neste texto porque poderia desfilar inúmeros dados que comprovam que, ao longo de décadas. Sem mudança significativa nos últimos anos e mesmo neste século, os três municípios bafejados por novos deputados estaduais (na verdade, Carla Morando e Thiago Auricchio foram reeleitos) ainda não encontraram o rumo do Desenvolvimento Econômico.  

MAIS REBAIXAMENTOS  

Quando não se encontram os rumos dos negócios, quando a degradação da economia regional é patente, quando os estragos dos 22 anos de Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff estão escancarados, quando a quase totalidade dos prefeitos nesse período pouco fizeram senão aumentar impostos municipais, quando tudo isso e muito mais vão na contramão da multiplicação dos votos, o que resta é rezar para que algo de extraordinário se dê mesmo que por combustão espontânea. 

Entretanto, como combustão espontânea não é a lógica econômica, o que teremos em novas temporadas de desarranjos produtivos será provavelmente, quase certamente, novos rebaixamentos em rankings que nos colocam em confronto com outros endereços.  

ESCOLHA ADEQUADA  

Temos o G-22 como experimento mais que elucidativo. Os melhores municípios do Estado são melhores que os sete municípios da região.  

Pensei 10 vezes antes em optar por “ainda frágeis” na manchetíssima da edição de hoje.  

Inicialmente pretendia ficar no “ruim”. A ditatura espacial, que exige determinado número de toques para que o título não fique disforme, me forçou ao “ainda frágeis” ao invés de simplesmente “ruins”. 

Não exagerei, acredito. Os indicadores econômicos e as consequências sociais que embutem são frágeis mesmo.  

Talvez o único prefeito dos três envolvidos nas urnas de parentes que poderia ser retirado da condição de “ainda frágeis” seja Orlando Morando, a quem caberia.  

REVOLUÇÃO PARCIAL  

Morando está fazendo uma revolução logística em São Bernardo. Oferece série de obras em infraestrutura que retiram o Município do calabouço da paralisia.  

Pena que Orlando Morando não se tenha dado conta de que revolução econômica não se dá somente com infraestrutura física reorganizada.  

A falta de planejamento estratégico é gravíssima omissão entre outras razões, e especificamente em São Bernardo por conta da reestruturação internacional do setor automotivo. Exatamente o coração e a alma de São Bernardo.   

ENCALACRAMENTO  

Já o prefeito Paulinho Serra, no sexto ano de mandato, permanece inerte no campo econômico, embora acene aqui e ali com uma ramificação digital que só seria diferenciada e colocaria Santo André na ponta da tabela de recuperação caso os demais municípios que também competem por investimento ignorassem a importância da tecnologia como massa crítica desenvolvimentista. O que não é o caso. 

Santo André segue encalacrada em acessibilidade. Algumas obras, que nem em sonho têm a importância estratégica dos investimentos assemelhados do vizinho Orlando Morando, não passam de paliativos.  

Paulinho Serra herdou uma Santo André de viuvez industrial pronunciada e sem encaixe na área de serviços de valor agregado. Vive de investimentos no campo do varejo, que canibalizam empreendimentos familiares.  

GRAVIDADE MAIOR  

Quanto ao prefeito José Auricchio Júnior, a situação é muito mais grave inclusive individualmente,. Está há muito mais tempo à frente do Paço Municipal e São Caetano segue caindo pelas tabelas na economia.  

Não fosse a infraestrutura social de um reduto fortemente povoado pela classe média que também em larga escala trabalha na Capital, São Caetano reproduziria em dimensão muito maior os desajustes que vem dos anos 1990.  

“Vote no Grande ABC, o resto a gente resolve depois” é a plataforma conceitual sobre a qual movo meus argumentos para transmitir aos leitores a ideia de que procurei no limite de um regionalismo responsável dar um voto de confiança aos candidatos que vestiram a camisa dos sete municípios da região. Mas, por outro lado, contudo, todavia e o escambau, não me impus silêncio acumpliciador.  

MANTRA PROVIDENCIAL  

Prefeitos bons de voto, mas ainda frágeis em economia é um mantra que pretendo repetir na medida do possível e necessário.  

Com isso, vou distinguir uma coisa da outra, ou seja, que não há conexão qualitativa entre os votos de Carla Morando, Carolina Serra e Thiago Auricchio, e o Grande ABC econômico. 

Estamos completamente fora do jogo de competitividade que se exige para sair da enrascada em que nos metemos desde que entramos em parafuso com a desindustrialização motivada principalmente pela guerra fiscal combinada com a ação sindical.   

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