Esportes

O que o Santo André precisa
para fugir do rebaixamento?

  DANIEL LIMA - 13/02/2024

Se você pretende ajudar o Santo André a escapar do rebaixamento à Série A-2 do Campeonato Paulista é melhor preparar um coquetel exótico. Faça mesmo. Sabe o resultado? Não vai adiantar muito, mas você não se sentirá culpado. As cinco rodadas que restam não têm antídoto específico e muito menos formulações salvadoras.

O Santo André precisa mesmo é de dotações mensuráveis dentro de campo. E isso o time finalmente mostrou no empate em casa com o implacável Palmeiras.

Foi a melhor sinalização de que o Santo André poderá ter encontrado soluções que fazem a diferença em campo. Mas o ceticismo, essa armadilha psicológica, não é recomendável.

Não custa nada uma oração, uma reza, uma promessa, essas coisas comuns no futebol e na vida. O ambiente positivista ajuda nessas horas, mas estão subordinados a fatores mensuráveis.

CANDIDATO FORTE

Ainda acho que o Santo André vai para a Segunda Divisão. É o que tenho provocado nas redes sociais. Mas acho menos depois do empate com o Palmeiras e também ao verificar a classificação da competição: Portuguesa, Ituano e Guarani também estão loucos para cair. Como caem dois, e sem exagero, acho que o Santo André pode escapar.

Há oito vetores que precisariam ser observados para a construção de juízo de valor da disputa contra o rebaixamento. São questões que pesam no conjunto. Observem:

1. Classificação atual.

2. Jogos que restam.

3. Contextos das rodadas.

4. Desempenho em campo.

5. Confrontos diretos.

6. Ambiente interno.

7. Imponderabilidades.

8. Rodada final.

Vou ser brevíssimo em cada quesito nesta Terça-Feira de Carnaval que evoca Quarta-Feira-de-Cinzas com cara de coisa ruim. Vejam:

 CLASSIFICAÇÃO ATUAL

O que interessa é a classificação geral, fora dos grupamentos. Santo André e Portuguesa têm três pontos, enquanto Guarani e Ituano têm quatro. A Portuguesa tem um jogo a menos disputado. Enfrenta neste meio de semana, em casa, o Água Santa.  

 JOGOS QUE RESTAM

A ordem dos fatores pode alterar o produto final. Não basta apontar os jogos que o quarteto condenado a lutar contra o rebaixamento tem a realizar. É preciso contextualizar rodada a rodada. E a contextualização só é possível quando cada rodada chegar. Diagnósticos apressados podem fracassar. Certo é que a tabela, teoricamente, é pior para o Santo André, que ainda joga fora com o Corinthians, disputa o clássico com o São Bernardo fora de casa, sai neste meio de semana para um jogo de seis pontos com o Guarani em Campinas e tem apenas dois jogos em casa, contra Internacional de Limeira e Ponte Preta. Os demais à beira do precipício jogam três vezes em casa e duas fora. A Portuguesa joga quatro vezes em casa e duas fora. Quem disser que o fator mandante não pesa jamais aceitaria trocar a condição de mandante por visitante. Basta pegar as estatísticas em geral. Quem joga em casa, com todos os fatores ambientais favoráveis, está mais próximo do sucesso. Menos, claro, quando entram em campo equipes díspares em apetrechamentos. Caso do Palmeiras diante do Santo André, por exemplo.

 CONTEXTOS DAS RODADAS

Como estará a situação classificatória quando, na última rodada, o Ituano recebe o São Paulo, o Guarani manda o jogo contra o Bragantino, o Santo André recebe a Ponte Preta e a Portuguesa enfrenta o Novorizontino no Interior? Essa é uma amostra do que rodadas anteriores e contextos anteriores poderão reservar de condicionalidades que deveriam inibir aventuras de linguarudos em forma de palpites. O mundo da bola muda a cada rodada para quem está à beira do abismo. A classificação para a próxima etapa pode acelerar a competitividade de algumas equipes e arrefecer de outras hoje com possibilidades de disputar o mata-mata.

 DESEMPENHO EM CAMPO

O que se passa no gramado é o que determinaria, em tese, o futuro de cada equipe ameaçada. O Santo André do jogo com o Palmeiras fez uma exibição fora da curva ou seria inspiradora a repetições nos jogos que restam? O Guarani continuará patinando? E a Portuguesa? O Ituano não encontrará o eixo do equilíbrio que o mantém há duas décadas na Série A-1 do Campeonato Paulista? Essa maquinaria foge à detecção de inteligências artificiais que palpitam com ares de ciência, mas cometem erros graves quando se trata de futebol.

 CONFRONTOS DIRETOS

A fórmula do campeonato e as nuances da competição restringiram a raros confrontos diretos entre equipes ameaçadas de queda. Guarani versus Santo André, em Campinas, pode representar um salto de distanciamento relevante na reta de chegada. A vitória de qualquer lado colocaria o derrotado em situação ainda mais dramática. O empate favoreceria o Santo André por jogar fora.  Portuguesa versus Guarani é o outro confronto entre ameaçados. 

 AMBIENTE INTERNO

Não existe fórmula mágica para definir o ambiente interno ideal. É elástico o conceito de ambiente produtivo quando mais adiante, mas claramente visível, está o escalpelamento classificatório.  Definir o tipo de ambiente interno ideal, esse traçado que começa no sentimento de confiança da torcida, passa pelos dirigentes, invade os vestiários e entra em campo com mobilização esfuziante, é farto de surpresas. Jogadores de futebol são porções humanas que reagem também com marcas de individualidades muitas vezes sabotadoras do conjunto. Quem reduz os riscos coletivos embutidos em cada peça tende a sair-se melhor.

 IMPONDERABILIDADES

Está no campo do fortuito, por assim dizer, uma série de fatores extras, como contusão de jogadores imprescindíveis, erro de arbitragem, expulsão, essas coisas que tornam o futebol uma caixinha de surpresas eventual, num determinado jogo, mas sem surpresa alguma quanto aos resultados finais da competição.  

 RODADA FINAL

A salvação de uma equipe ameaçadíssima de rebaixamento pode estar na ordem e local dos jogos da rodada final. Jogar em casa dependendo exclusivamente do próprio resultado seria a melhor situação que se apresentaria ao Santo André. Duro mesmo é ter de contar com resultado próprio e de terceiros para fugir da queda.

ADIVINHAÇÃO TECNOLÓGICA

Endereços eletrônicos supostamente especializados em cartomancia futebolística já projetam milimetricamente o Santo André como o mais favorito dos rebaixáveis. E também as outras três equipes na lista da queda. Só fiz a consulta a um desses sites quando estava na metade desse texto e, portanto, já escolhera os condenados a sofrer na parte de baixo da tabela. A classificação é auto denunciatória.

Não ousaria quantificar a potencial desgraça de cada equipe. Não há inteligência artificial e inteligência humana com tamanho poder de detalhadamente antever o futuro, mesmo quando o futuro de quatro cartas marcadas facilite o que, entretanto e na melhor das hipóteses não passaria mesmo de especulação.

JOGO DE NÚMEROS

Levando-se em conta os números classificatórios atuais, sete pontos seriam suficientes para fugir do rebaixamento. A conta é simples: mesmo com eventual vitória da Portuguesa diante do Água Santa, igualando-se o numero de jogos disputados do quarteto do terror, a margem de risco subiria para aproveitamento de 19,04% (quatro pontos em 21 disputados), do Guarani ou do Ituano, além do Santo André.

Nesse caso, bastaria ao Santo André ganhar os dois jogos em casa e tudo estaria acertado com 25% de aproveitamento. É melhor não confiar nisso. Primeiro porque a marca de rebaixamento é maleável, como se constatou ao longo de campeonato. Segundo, quem quiser dormir em paz e não depender de ninguém precisa chegar a 12 pontos. Somente uma vez em toda a história os 12 pontos não foram garantia de permanência na competição. Nesse caso não é a engenharia algorítmica que decidiria. Mas a matemática, apenas a matemática pura.

O Santo André precisa ganhar os dois jogos em casa e surpreender Guarani, Corinthians ou São Bernardo.  Os números rocambolescos enfeitam demais o pavão de probabilidades. A matemática sem truques responde às especulações. Os números relativos que se oferecem à diversão ou ao sofrimento dos torcedores fazem parte da dramatização explorada com uso e abuso da tecnologia.  

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