PIB: LULA IMBATÍVEL?
DILMA IRRECUPERÁVEL?

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) está devendo três edições do PIB dos Municípios Brasileiros. E por conta disso já existe muita especulação. Como toda especulação, os dados são carregadíssimos de suspeitas. Por isso, decidimos fazer duas configurações paralelas sobre o futuro dos números de geração de riquezas no Grande ABC.
Trata-se de projeções respaldadas nos números que passaram e que influenciaram o futuro que já virou presente e até mesmo passado, mas o IBGE não os capturou. Quando o Estado demora a cumprir obrigações, os especuladores não dão trégua.
Os anos dourados de Lula da Silva não se repetiram nas últimas três temporadas, ou seja, as temporadas que já viraram passado. E o inferno de Dilma Rousseff, seguido de cinco anos de Michael Temer e Jair Bolsonaro, ou seja, até 2024, não foi apagado ainda, oito temporadas depois.
Mais abaixo vamos tratar da manchetíssima do Diário do Grande ABC de domingo de Pascoa. O jornal publicou maus traçadas linhas de uma consultoria externa. Não há sustentabilidade técnica naqueles dados. Se houver, não foram explorados. E se não foram explorados é mais que provável não existirem.
Tratou-se o PIB do Grande ABC com simplismo típico de quem constrói o terceiro andar de uma torre sem que se tenha construído o segundo, o primeiro e os alicerces. Você vai entender mais embaixo.
TRÊS TEMPORADAS
O mais relevante mesmo é mostrar o que pode acontecer de fato (e que já aconteceu de fato, mas os dados ainda são segredos) quando o IBGE revelar os dados do Grande ABC.
As temporadas de 2022, 2023 e 2024 foram melhores que as imediatamente anteriores para o PIB do Grande ABC, mas nem de longe apagaram os estragos de Dilma Rousseff entre 2015 e 2016, quando o PIB Geral da região desabou. A queda do PIB per capita foi muito maior, mas não trataremos disso nessa análise.
Por conta disso e de tudo isso, qualquer enunciado que não leve isso em consideração, contextualizando os dados, é enunciado manquitola. E pode levar investidores e contribuintes, quando não empreendedores e consumidores, ao desastre da enganação.
Nada disso seria novidade no picadeiro de circo mambembe em que se transformou informação ao longo de décadas no Grande ABC. São inúmeros os casos de maquinações estapafúrdias que não se restringem apenas à temperatura econômica medida pelo PIB e tanto outros indicadores.
O mercado imobiliário é campeão em tapeações. Principalmente sob a liderança do Clube dos Construtores, a Acigabc, entidade puramente lobista que jamais legou à região um plano sequer de ordenamento urbano em parceria com especialistas.
MÉTRICAS SEGURAS
Afinal de contas, qual é a melhor maneira de medir os resultados do PIB Geral, que envolve todas as atividades econômicas? Como evitar que se comprem gatos de inverdades por lebres de responsabilidade social?
A métrica anual, que compara novos números com números imediatamente anteriores, é uma aferição extremamente perigosa, quando não desajustada, para não dizer ordinária. A métrica que considera os últimos cinco anos é mais ajuizada. Mas a melhor métrica mesmo é um intervalo maior com as devidas abordagens condicionantes.
Essa definição tem tudo a ver com o que você vai ler mais abaixo, quando tratarei da manchetíssima de domingo do Diário do Grande ABC. O Diário terceirizou a manchetíssima a uma consultoria. E se deu mal. PIB não é uma viagem entre duas estações próximas do metrô. PIB é uma viagem longa e também muito longa. O que virou manchete das manchetes de primeira página não valeria sequer uma notinha de pé de página na página de Economia. Para o bem da saúde informativa dos leitores. Independentemente de juízo de valor sobre a veracidade ou a especulação da matéria.
PRÓPRIO UMBIGO
Há outro fator condicionante que sugerimos para dar ao PIB um peso mais cuidadoso de compreensão. O PIB restrito ao próprio Município ou à própria região é um PIB pouco esclarecedor. O melhor PIB Municipal e o melhor PIB Regional remete ao PIB Nacional em forma de participação relativa.
Com esse método, descobre-se até que ponto estamos correndo na mesma raia, na raia inferior ou na raia superior da média nacional. PIB restrito ao próprio território tem alto teor de embriaguez numérica. Um PIB de determinado município pode ter crescido mesmo nos últimos cinco ou 10 anos, mas quando se coloca o universo estadual ou principalmente nacional como referência, pode desaguar em complicações. A competitividade municipal e também regional passa por referenciais extra-território. O Grande ABC tem a mania de olhar para o próprio espelho de admiração enganosa. Até hoje propaga deter o quarto maior PIB do País. Só esquece de considerar outros municípios próximos entre si como conglomerados análogos.
A Grande Osasco, por exemplo, de também sete municípios, é maior que o Grande ABC. E a Grande Guarulhos caminha para isso também. Sem contar outros conglomerados geoeconômicos espalhados pelo País.
BLOCOS MENSURÁVEIS
PIB de Município que olha para o próprio umbigo se assemelha a um velocista que se satisfaz com o cronometro pessoal que registra uma estabilidade média de ritmo, mas esquece os concorrentes que percorrem a mesma distância com mais rapidez e constância.
DOIS BLOCOS
Feitas essas explicações, decidimos dividir em dois blocos o futuro dos três próximos anúncios do PIB do Grande ABC pelo IBGE. O primeiro, tomando-se como base o PIB de Lula da Silva, encerrado em 2010. O segundo de Dilma Rousseff, encerrado em 2021, com o puxadinho de Michel Temer e Jair Bolsonaro, que atenuaram os estragos da ex-presidente e que são os números mais atualizados pelo IBGE.
O PIB Lula da Silva é o PIB Geral da região em 2010, quando o ex-metalúrgico cumpriu o último ano do segundo mandato. O PIB de Dilma Rousseff refere-se ao último dos seis anos em que a ex-presidente comandou o País e os anos subsequentes de Michael Temer e Jair Bolsonaro, até 2021. Repetir essas referências é muito importante para que não se perca o fio da meada dessa análise.
Quando Lula da Silva terminou o segundo mandato, em 2010, o PIB Geral do Grande ABC correspondia a 2,54% do PIB Nacional em 2016. Quando Dilma Rousseff encerrou precocemente o segundo mandato e Michel Temer e Jair Bolsonaro pegaram a bomba, em 2021, o PIB Geral do Grande ABC correspondia a 1,78% do PIB Geral do País. Uma queda de participação relativa, portanto, de 42,70%.
BAIXA VELOCIDADE
Traduzindo: entre o encerramento do segundo mandato de Lula da Silva e o penúltimo ano do mandato de Jair Bolsonaro, num total de 11 anos, o PIB Geral do Grande ABC rodou a uma velocidade média 42,70% inferior ao PIB médio do Brasil. Isso se chama empobrecimento explícito. Desconsiderar essa premissa quando se registram dados posteriores a 2021, cantando pra-frente-Grande ABC é ignorância ou má-fé.
Os 2,54% de participação do PIB Regional no PIB Nacional em 2010 abarcavam dois números absolutos: o Grande ABC contava com nominais (sem considerar a inflação) R$ 93.343.500 bilhões enquanto o Brasil registrava R$ 3.675 trilhões. O PIB Nacional de 2024, já apurado, chegou a R$ 11,6 trilhões. O PIB Nacional é anunciado pelo IBGE nos primeiros meses do ano subsequente ao realizado. Diferentemente, portanto, do PIB dos Municípios, historicamente com defasagem de dois anos.
MAIS CONTAS
O PIB Regional de 2024, ainda não divulgado, possivelmente só será conhecido no final deste ano. Espera-se que o PIB de 2022 e de 2023 saia o quanto antes. O IBGE prometeu para janeiro, mas chegamos praticamente a maio e nada do nada se registrou. Tudo porque o IBGE virou um caldeirão de complicações internas.
O PIB Geral do Grande ABC de 2024 teria de chegar a R$ 297.180 bilhões para manter participação relativa de 2010, os anos dourados de Lula da Silva. Para tornar ainda mais clara a informação: o Grande ABC não terá perdido nada nesse período caso viesse a registrar R$ 297.180 bilhões de PIB. Isso é impossível, como se verá em seguida.
Ao despencar durante o governo de Dilma Rousseff (e mesmo com alguma grau de recuperação nos anos seguintes) de um patamar de 2,50% de participação no PIB Nacional e chegar a 1,78 em 2021, o Grande ABC se viu num processo de difícil recuperação econômica.
O PIB Regional registrado em 2021, de R$ 150.576 bilhões, teria que crescer em termos nominais 38,08 % nos três anos faltantes para que se mantivesse a participação relativa desse mesmo período secundário, ou seja, sem considerar o 2010 de Lula da Silva. Seriam, nesse caso, R$ 208.260 bilhões.
É mais provável que tenha havido mais deterioração do PIB Regional frente ao PIB Nacional durante e após o desastre de Dilma Rousseff. A manutenção de participação relativa de 1,78% no PIB Nacional, registrado em 2021, é ou não relativamente factível quando forem apurados as três últimas edições do PIB dos Municípios? Eis uma questão intrigante. A possibilidade de mais resultados negativos conta com taxa de viabilidade maior.
SAÍDA COMPLICADA
O PIB do Grande ABC se manterá proporcionalmente igual ao fim de feira de Dilma Rousseff seguido de estabilidade de seus sucessores se os R$ 150.576 bilhões de 2021 saltarem para R$ 208.260 bilhões. O crescimento nominal seria de 38,31% -- eis o reforço de uma perspectiva para o leitor não se perder nessa análise.
Chegar a esse resultado é uma saída complicada para zerar o déficit de Dilma Rousseff quando se completariam oito anos pós-afastamento da então presidente. Nesse caso, convém ressaltar com máxima atenção: se as três últimas edições de PIB Nacional já consumadas mas que ainda não se desdobram no PIB dos Municípios revelarem uma reação aguda do Grande ABC, o que teremos ao final é que apenas estaremos zerando o déficit provocado pela maior recessão da história econômica da região.
Nada, entretanto, que resvalasse nos valores absolutos e relativos de participação regional do PIB Regional no PIB Nacional em 2010 lulista. A cada nova temporada de anúncio do PIB Geral do Grande ABC há, portanto, uma dupla janela a ser devidamente observada para que não se compre bobagens estatísticas. O Lula da Silva de 2010 e o pós-recessão dilmista são marcadores de bom senso. E de respeito aos consumidores de informações.
MANCHETÍSSIMA DO DIÁRIO
Na sequência, vamos reproduzir integralmente a reportagem do Diário do Grande ABC que trata do assunto e que virou manchetíssima da publicação. A reprodução é uma ação frequente de CapitalSocial em situações semelhantes. Procura-se dar autenticidade ao contraditório. Leiam a reportagem do jornal.
PIB do Grande ABC supera marca
do País e cresce 4,9% em 2024
O PIB (Produto Interno Bruto) do Grande ABC cresceu 4,9% em 2024, superando o nacional e o do Estado de São Paulo, que empataram em 3,4%. Bateu também a RMSP (Região Metropolitana de São Paulo), que avançou 4,5%. O desempenho do setor industrial, que no último ano registrou alta de 8,2%, é apontado como o principal responsável pelo avanço da atividade econômica nas sete cidades.
No ano passado, o setor de serviços cresceu 2,75% no Grande ABC, enquanto a agricultura caiu 1,73%. No País, a indústria registrou alta de 3,8%; serviços, 3,7% e o segmento agropecuário retraiu 3,2%, após o boom de 16,3% em 2023.
Os dados foram compilados pelo CIM (Centro de Inteligência de Mercado) da Strong Business School, com base nas informações levantadas pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), divulgadas no início do mês.
No acompanhamento mensal, os pesquisadores observaram que a indústria registrou 10,4% de expansão no primeiro semestre de 2024, mas desacelerou no segundo. Enquanto o setor de serviços registrou seu melhor desempenho nos últimos seis meses do ano, quando cresceu 5,5%, compensando as perdas registradas nos primeiros seis.
O resultado obtido pelo segmento industrial surpreendeu o diretor da Regional de Santo André do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Norberto Perrella. “Ninguém entende o que aconteceu no ano passado. A gente esperava um ano bastante negativo. E, pelo contrário, foi um ano positivo. Eu, particularmente, no meu ramo, que é ligado a eletrodomésticos, acho que nunca vendi tanto”, afirma o empresário.
“A gente sabe que o governo atual sempre teve a característica de fazer com que a economia gire em função de criar condições, vamos dizer assim, artificiais. Ele injeta muito dinheiro, o que não é uma coisa sustentável. Não sei se foi isso, mas é uma das explicações”, afirma Perrella. “Outra coisa que também me surpreende é o quanto a indústria ainda é importante no Grande ABC”, completa.
Eduardo Mazurkyewistz, 2° vice-diretor do Ciesp São Bernardo, também destaca a relevância da indústria para a região. “Esse resultado é fruto do trabalho incansável dos industriais que, mesmo diante de um cenário econômico desafiador, seguem investindo, inovando e gerando empregos. Como Ciesp, reforçamos o nosso compromisso com o fortalecimento da indústria, que é, sem dúvida, a grande alavanca do desenvolvimento econômico e social do Grande ABC”, diz.
Os pesquisadores da Strong apontam tendência de manutenção do crescimento tanto do PIB do Grande ABC quanto do setor industrial neste ano. Entretanto, ressaltam o ‘tarifaço’ imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como o principal empecilho. “As perspectivas para o desempenho de 2025 poderiam ser positivas, dado que em algum grau o desempenho econômico anual tende a estar correlacionado com o ritmo anterior. Contudo, estas perspectivas se tornaram mais nebulosas em função dos efeitos de transbordamento a serem observados a partir das alterações da política de comércio exterior dos Estados Unidos”, diz o estudo.
PONDERAÇÕES PERTINENTES
A reportagem do Diário do Grande ABC deu ênfase a informações rasas que trafegam na zona de rebaixamento sustentável. Entregou o jornal a manchetíssima de uma edição a números incompletos não só relativos aos próprios números da temporada abordada como também ao conjunto de dados históricos que envolvem temática tão complexa.
Entregou-se docilmente, portanto, a lantejoulas que pretenderiam artificializar o ambiente regional que é de ceticismo econômico e social que vem do passado de desindustrialização permanente e descaso recorrente de instituições públicas e privadas.
O afundamento do Titanic regional ainda não foi devidamente contraposto com mobilização organizada. Vende-se agora, como empacotamento ardiloso, a ressureição do Clube dos Prefeitos. Nada mais inapropriado. Tanto é verdade que a entidade não tem feito outra coisa senão pedir dinheiro ao governo do Estado e ao governo federal, enquanto ignora qualquer proposta de reestruturação da instituição criada há 35 anos por Celso Daniel.
A insustentabilidade dos estudos da Strong é evidente. Faltam números absolutos, falta passado comparativo, faltam detalhamentos com base nas temporadas anteriores ainda deficitárias no calendário do IBGE, falta, portanto, um conjunto de dados. Tudo o que falta leva à conclusão hilária de que se libera o terceiro andar sem que tenham sido construídos os andares inferiores e o próprio alicerce.
Tem-se, portanto, algo que, por mais que eventualmente, num esforço de credibilidade, venha a se confirmar no futuro, quando o PIB dos Municípios de 2024 vir à tona, não resiste no momento a qualquer teste de confiabilidade.
A Strong deveria vir a público para fundamentar os apontamentos que levaram à conclusão exposta na manchetíssima de primeira página do jornal. Como é possível acreditar na numerologia se nos anos anteriores, que influenciam diretamente os anos posteriores até que se chegue a 2024, não foram divulgados dados? Como é possível dar ênfase de credibilidade aos números apresentados se há omissão deliberada do passado de perdas que condicionam o presente supostamente de ganhos. Como ignorar a lógica de que eventuais ganhos atuais não passam de recuperação parcial de perdas volumosas no passado recente?
Ao tratarem com entusiasmo o mal-ajambrado PIB Geral do Grande ABC, a Strong Business School e o Diário do Grande ABC ignoraram cabeludas inconformidades empíricas. É terraplanismo estatístico puro. Agiram como um cardiologista apressado que recomenda ao paciente infartado a disputa de uma maratona assim que deixar a UTI hospitalar.
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