PREFEITOS PROFILÁTICOS?
PREFEITOS OPRESSIVOS?

Estou cada vez mais desconfiado, para não dizer convicto, de que teremos uma das mais improdutivas turmas do Clube dos Prefeitos da história dessa instituição de baixíssima aderência à pauta regional. Isso significaria, vejam só que tragédia, o fundo do fundo do fundo do poço da regionalidade. Superar a turma anterior não é tarefa fácil. Afinal, avacalharam de vez o sentido dessa agremiação.
As deserções de São Bernardo e de São Caetano foram efeitos, não causa do desfiladeiro da turma que saiu. Há nome e sobrenome maior daquela patifaria. Você vai reconhecer a identidade desse vilão neste texto.
Pode ser que ao final dos respectivos mandatos de prefeitos municipais, os prefeitos municipais tenham desempenho que satisfaça eleitores e contribuintes seduzidos por populismos. Entretanto, como prefeitos regionais todos tendem a se confirmarem embusteiros. Com a participação efetiva da quase totalidade da mídia.
Por isso, a indagação contida no título é uma forma de manter um fio de esperança onde prevalece fortemente a decepção. Pouco mais de dois meses depois de eleitos – e mais de três meses como vencedores nas urnas com tempo de sobra para chegarem rasgando – o que temos é a espetacularização como ferramenta de marketing.
DOURANDO A PILULA
Ou seja: esmeram-se em dourar a pílula num show incentivado pela torcida organizada da mídia festeira. A mesma mídia festeira que dia sim, dia também, é obrigada a registrar em manchetes inapeláveis o ambiente criminal, por exemplo, que marca uma trajetória de decadência regional fartamente documentada por este jornalista ao longo de 35 anos desta publicação.
Por isso costumo dizer que não adianta tentar alterar a roda do tempo, porque o futuro sempre chega em forma de estragos projetados ou não.
É impossível esconder a decepção que a nova leva de prefeitos desfila com ares de triunfalismo. Não se tem agora nada, absolutamente nada, que indique a possibilidade de juntarem-se em busca de um programa reformista da instituição.
Ao invés disso, juntam-se num coro brancaleônico para mendigar recursos do governo estadual e do governo federal que, ao longo dessa mesma trajetória de desequilíbrios e perdas, contribuíram sim para debilitar ainda mais o organismo social e econômico da região. Basta ver os presentes de grego que legaram à região, entre os quais o aniquilador Rodoanel Mário Covas. Quando o tramo Norte for inaugurado, o massacre estará consumado.
MARIONETES ECONÔMICAS
Os bobalhões que veem competitividade logística só porque estamos fisicamente próximos de aeroportos e portos precisam entender que a menor distância entre dois ou mais pontos não tem nada a ver com a melhor distância entre dois ou mais pontos.
Esses bobalhões insistem na tese furada de que logística é a menor distância física entre dois ou mais pontos. Basta ver para onde vão os investimentos produtivos. Uma planilha de disputa concorrencial envolve mais de três centenas de quesitos. É um corredor da morte aos ineficientes por natureza ou safadeza.
São esses bobalhões filhotes do então governador Geraldo Alckmin, industrializador da estultice de que o Rodoanel faria de São Bernardo a melhor esquina do Brasil. Antes, num outro trecho do Rodoanel, sem qualquer relação com a região, afirmou a mesma coisa. Nada surpreendente para quem disse ontem o que desdisse tempos depois sobre o presidente Lula da Silva.
CADA VEZ PIOR
Prova provada de que o enredo errático do Cube dos Prefeitos é conhecido e lamentado está, por exemplo, na análise que produzi em 2002 sobre a vitória de Lula da Silva, na primeira vez que chegou a Brasília, e o estágio em que se encontrava a região. E de lá para cá, quem diria, perdemos muito mais ainda. Trechos sobre isso estão na análise reproduzida na edição de ontem.
Fossem os prefeitos do Clube dos Prefeitos minimamente responsáveis como pretensos agentes públicos transformadores, o tom de posse da instância regional de Marcelo Lima, titular da Prefeitura de São Bernardo, seria uma combinação de ingredientes que expressariam inquietação pelo passado de estragos e atenção máxima ao novo futuro que se vislumbra.
Diferentemente disso, o que ouvimos e lemos é uma barbaridade de algazarra marqueteira que já dá sinais de desalento. Os recursos esperados do governo do Estado e do governo Federal podem até vir, mas serão em proporção muito aquém do que propagam e da ração básica necessária.
CADÊ O DINHEIRO?
O Estado nas três esferas, especialmente a Federal, está quebrado como fonte de financiamento e depende cada vez mais de parceiros privados. O orçamento federal não dá conta do recado como instrumento mobilizador de crescimento econômico em forma de infraestrutura física e social.
A presidência do Clube dos Prefeitos entregue ao prefeito de São Bernardo até agora não deu sinal algum de que seria diferente de tantos que passaram pelo colegiado. Sob qualquer aspecto se tem apresentado de maneira reticente, intermitente, despreparada e contaminada pelo vírus da farra marqueteira que, também, aplica à frente da Capital Econômica do Grande ABC.
Marcelo Lima tem-se apresentado como animador de festas que já foi no passado. Tem priorizado, o que não é novidade e tampouco monopólio, atuação como prefeito de intensa disposição populista. Mal assumiu o cargo e já parece concorrer à reeleição. Quando não à preparação de candidatos aliados às disputas proporcionais de 2026 para a Assembleia Legislativa e a Câmara Federal.
A dúvida que se carrega após mais de três meses como presidente do Clube dos Prefeitos (sim, mais de três meses, porque já estava decidido junto ao grupo de absolutistas que lhe deram apoio que seria o comandante dos prefeitos) é se Marcelo Lima registrará a façanha de superar Paulinho Serra como peso morto, quando não nocivo, à frente da entidade.
PORTAS ESCANCARADAS
Não se pode esquecer que Paulinho Serra abriu escancaradamente as portas do Clube dos Prefeitos como moeda compensatória para se projetar fora do ambiente regional, chegando, como se sabe, à presidência estadual do moribundo PSDB.
O mais grave em tudo isso -- e por conta disso o vexame se espalha aos demais prefeitos do Clube dos Prefeitos -- é que Marcelo Lima não tem a humildade de solicitar contribuição, apoio ou algo equivalente a profissionais que de alguma forma poderiam abrir os caminhos essenciais às mudanças daquela instituição. Prefere acreditar em enganadores profissionais, em ludibriadores da boa-fé, que se atribuem conhecimentos regionais e não passam de penduricalhos inservíveis.
O Clube dos Prefeitos requer profilaxia em todos os sentidos, tanto organizacional como técnica, tanto conceitual quanto factual, mas até agora Marcelo Lima e seus companheiros de jornada incerta não sinalizaram nada que pudesse sugerir algum entusiasmo sustentável como fonte de inspiração.
ESCOLHA EMBLEMÁTICA
Se é verdade que são poucos os exemplares de gente com competência para entender o significado de regionalismo tendo foco no Desenvolvimento Econômico, é certo, entretanto, que não seria o perfil do pobre secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, Rafael Demarchi, o minimamente esperado como exemplar individual do que precisa ser o conjunto de executivos para encaminhar o Grande ABC rumo a outro destino senão o prolongamento da derrocada.
Quem escolhe, por motivos políticos e eleitorais, alguém com as características de ignorância econômica de Rafael Demarchi, provavelmente seria uma temeridade às escolhas de que o Clube dos Prefeitos tanto carece como espécie de assessoramento técnico. Marcelo Lima abriu uma cratera de desconfiança quanto ao apetrechamento que supostamente teria como garantia a mudanças essenciais na entidade.
Os próximos tempos vão determinar se o pessimismo realístico do desempenho do Clube dos Prefeitos com a nova turma saída das urnas no ano passado será apenas uma temporada de verão ou se prolongará indefinidamente ao longo das quatro estações.
VELHARIA REPETIDA
O pouco que se divulgou até agora com algum sentido de objetividade mesmo que frágil, caso da participação do prefeito paulistano, Ricardo Nunes, não passa de pirotecnia. Possivelmente o prefeito dos prefeitos Marcelo Lima não detenha conhecimento de que em 35 anos ainda incompletos de atividades, o Clube dos Prefeitos já anunciou medidas semelhantes, quando não exatamente iguais, e rigorosamente o que se deu não passou de fogo de palha.
Os prefeitos paulistanos e o governo do Estado jamais se preocuparam com a metropolização de temáticas essenciais a 22 milhões de pessoas que moram na Grande São Paulo. O Grande ABC está nessa geografia do descaso, complementando ou não esse gigantesco conglomerado social.
Já cansei de escrever sobre a regionalidade do Grande ABC e a metropolização da Grande São Paulo, pilares conceituais desta publicação que completa 35 anos de circulação neste março. Muito antes disso, em outras publicações, já mergulhara nessa temática.
Não tenho o direito de, em nome de um falso compromisso com o Grande ABC, porque é disso que se trata a atual turma do Clube dos Prefeitos, levar aos leitores linhas e mais linhas de demagogia apenas para ser politicamente correto.
PROJETO ABSOLUTISTA
Até agora, essa turma de prefeitos do Grande ABC, exceto o resistente Tite Campanella, tem marcado um discurso que não se encaixa para valer nas premissas de regionalidade voltada à sociedade como um todo. Trata-se, como já escrevi, de um projeto absolutista de um grupamento de políticos alinhados numa causa que tem o controle unilateral das instituições locais. Algo que se estabeleceu na Prefeitura de Santo André, com o então prefeito Paulinho Serra e sua turma de mandachuvas e mandachuvinhas.
A elasticidade desse projeto de mandonismo edulcorado não passa nem de longe nos corredores da democracia. É algo muito pior que a polarização que domina o cenário político brasileiro. Um esquema imperialista que faz da oposição não mais que objeto de pressão, coerção e dissolução gradativa e irrefreável. Santo André é isso. Os demais municípios são mais resistentes. Mas a empreitada vai de vento em popa. Tenebrosamente.
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