DESEMPREGÔMETRO
ABALA SÃO CAETANO

Seguindo o que propus ontem, já imaginou para valer a instalação de um painel eletrônico tipo Impostômetro, no caso o Desempregômetro, na sede de cada Prefeitura dos sete municípios do Grande ABC? Um painel que registraria o andar da carruagem do emprego industrial com carteira assinada nos últimos nove anos já contabilizados e detalhados?
Se você imaginou, então acompanhe o estrondo que causariam os dados de São Caetano, líder em números relativos: nada menos que 45,14 % do efetivo de industriários que batiam ponto nas fábricas em dezembro de 2014, antes do tsunami dos dois últimos anos de Dilma Rousseff, simplesmente desaparecerem.
Perder postos de trabalho industrial em volumes absolutos e relativos astronômicos não torna São Caetano um endereço definitivamente à deriva em qualidade de vida. Há muito gás a ser consumido. Mas é inevitável que a derrocada abalou a autoestima e os bolsos dos moradores. Até porque, como se verá logo abaixo, não se trata de onda temporária. É mesmo um diluvio sem fim. Até porque está acompanhado de duas tormentas: o PIB Tradicional per capita entrou em parafuso e o PIB de Consumo segue trajetória igualmente inquietante.
QUEDA DE 45,14%
Sei que o leitor provavelmente vai retomar a leitura dos primeiros parágrafos por entender que esse escrevinhador esteja maluco, que teria trocado os números, que fez confusão. Perda de tempo. É esse mesmo o tamanho do prejuízo em quantidade e qualidade típicas do emprego industrial.
Só não se pode dizer que esses números são bombásticos e inéditos porque já havia escrito algo sobre isso, num passado recente, alertando à dizimação do emprego industrial em São Caetano, cada vez praticamente mais restrito à General Motors e fornecedores mais próximas.
Os 14.487 trabalhadores industriais registrados em dezembro de 2023 (os dados do ano passado ainda estão sendo aferidos em detalhes) significam rebaixamento de 11.923 postos de trabalho no período iniciado em janeiro de 2015. Ou queda relativa 45,14% do estoque.
Não há um Município sequer do G-22, grupo das 20 maiores cidades do Estado de São Paulo, que chegue perto dessa hecatombe. São Caetano é um caso a ser estudado cuidadosamente. Embora o setor de serviços e a arrecadação do IPTU segurem parte da barra pesada, os dados históricos deste século apontam que o declínio da qualidade de vida se instalou.
VIZINHO PRÓXIMO
A mobilidade social de São Caetano está cada vez mais comprometida. É verdade que está acima dos demais vizinhos, mas já não é uma equipe que entra em qualquer competição certa de que teria desempenho extraordinário. Ao invés disso já sente as dores dos prélios.
O déficit de 11.923 trabalhadores industriais formais contraposto ao estoque de 2023 consuma a perda de 45,14%.
Quem mais se aproxima de São Caetano nessa contabilidade macabra? Repito: quem mais se aproxima? Tem ideia? Se apontar para a vizinha Santo André, acertou em cheio. Detalhes sobre Santo André e os demais municípios da região ficam para outro ocasião.
Certo é que na conta geral desse balanço que deveria sim ser reproduzido em painéis eletrônicos a partir da fachada do Clube dos Prefeitos, perdemos efetivo de 24%. Do total. São Caetano, como se nota, perdeu a metade da média regional.
SILÊNCIO TOTAL
Pior que essa perda gigantesca de empregos industriais formais é mesmo o silêncio em torno do vendaval. Como é possível que sismógrafos da sociedade supostamente envolvida no dia a dia da cidade não foi capaz de reagir a tamanho sangramento?
Em qualquer cidade fora do enquadramento de metropolização da Grande São Paulo, onde tudo se dilui na correria do dia a dia, teria havido reações coordenadas em busca de saídas. Em São Caetano, como na região como um todo, não se mexeu uma palha.
E sabem o que é pior que o passado de descaso? Claro que são o presente e o futuro de aprofundamento do buraco sem fundo no emprego industrial de São Caetano. Esse estoque de trabalhadores vai ser ainda mais debilitado.
São Caetano está tão encalacrada quanto Santo André no quesito logístico, presas à serpentina há muito tempo saturada da Avenida dos Estados. Quem acha que um viadutuzinho em Santa Terezinha, anunciado e proclamado pela Prefeitura de Santo André, vai atenuar a sangria, não sabe de competitividade entre municípios absolutamente nada.
BILHÃO DE DIFERENÇA
Seguramente, sem risco de cometer erro, numa projeção tecnicamente com alto grau de acerto, somente na temporada de 2023 a queda do emprego industrial em São Caetano significou a perda salarial acumulada em 12 meses de algo próximo a R$ 1,2 bilhão. Isso mesmo: bilhão de reais.
Fiz uma conta rápida e cuidadosa para chegar a esse número. Os R$ 103.585.830 milhões que entraram nas contas dos mais de 24 mil trabalhadores industriais em dezembro de 2014 seriam em valores atualizados pelo IPCA nada menos que R$ 172.822.260 milhões em dezembro de 2023. Corrigiram-se os valores pela inflação, claro.
Sabe quanto os trabalhadores industriais que sobraram em São Caetano, em relação a 2014, receberam em dezembro de 2023? Apenas R$ 71.232.579 milhões.
Além de perder riqueza com o choque do efetivo industrial numa comparação entre dezembro de 2014 e dezembro de 2023 (imaginem o estouro presumível caso fossem contabilizadas as diferenças mensais cumulativas nesse período de nove anos, considerando a mudança do efetivo de carteiras assinadas) , a média salarial também não acompanhou a inflação do período. O IPCA de 66,84% nos 108 meses do período, foi maior que os 24,86% dos ajustes médios dos salários. Uma diferença e tanto. Deveria ter chegado a R$ 6.543,00 se empatasse com a inflação, mas não passou de R$ 4.917,00 em dezembro de 2023.
PIB DESABA
O comportamento do mercado de trabalho não pode ser analisado isoladamente, principalmente quando os dados são escandalosamente fortes. É claro que, nesses casos, tudo indicaria que se trata realmente, em suma, de empobrecimento de um determinado território urbano. No caso de São Caetano e do Grande ABC como um todo, não há dúvida de que se trata de derrocada coletiva.
O caso de São Caetano, portanto, é emblemático. Mas quem precisa de mais provas provadas terá em seguida. Dois indicadores de valor exponencial a qualquer estudo corroboram o período restrito desses nove anos de mercado de trabalho em estágio de estrangulamento e, mais que isso, expandem os dados de modo que os tornam consolidadamente preocupantes.
O PIB (Produto Interno Bruto) que, resumidamente, significa tudo que se produz de riqueza na forma de produtos e serviços, é impiedoso com São Caetano. No período de 2014 a 2021 (ainda não foram divulgados os números dos anos de 2022, 2023 e 2024 pelo IBGE), São Caetano praticamente teve o PIB congelado. Em 2014 o PIB per capita registrava R$ 102.754,00 em valores nominais, ou seja, sem considerar a inflação. Já em 2021, também em valores nominais, o PIB per capita registrou R$ 103.015,00.
Quando se faz o que deve ser feito, ou seja, quando se atualiza o valor da moeda, desgastada pela inflação do IPCA de 50,75% no período analisado, o PIB per capita de São Caetano deveria ter atingido R$ 154.901.655 para que não houvesse perda. Traduzindo: em valores atualizados, São Caetano perdeu em valores monetários de dezembro de 2021 R$ 51,88.6 mil.
CONSUMO TAMBÉM
Já no PIB de Consumo, especialidade da Consultoria IPC que atende ao mercado de negócios brasileiros em várias áreas, também não houve escapatória. Nesse caso, o período analisado é mais extenso. O PIB de Consumo exige, para analises mais aprofundadas, algo como observar o comportamento de um transatlântico em risco.
O PIB de Consumo de São Caetano no começo do século, mais precisamente em 2002, respondia por 0,91312% do PIB de Consumo nacional. Já em 2023 a participação relativa caiu para 0,12459%. Em 2002, São Caetano ocupava a 23ª posição no ranking do PIB de Consumo do Estado de São Paulo, enquanto em 2023 caiu para a posição 41. No ranking nacional, o desabamento foi mais impactante: caiu da posição 72 para a posição 131.
Esses números refletem remelexos negativos na composição das faixas econômicas em São Caetano. Famílias de classe rica representavam 13,35% dos moradores em 2002 ante 7,4% em 2023. Já a classe média tradicional contava com 37,80% de representatividade familiar no começo do século, ante 33,4% em 2023. Os integrantes de classe média precária, que flutua entre a classe média tradicional e as famílias mais sofridas, eram 31,85% em 2002 e passaram a ser 42,9% em 2023. Pobres e miseráveis representavam 17,20% das famílias moradoras de São Caetano em 2002 e em 2023 passaram a compor 16,3%.
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