Política

Paulinho Serra ataca
ex-parceiros de gestão

  DANIEL LIMA - 03/04/2024

A micro entrevista que o prefeito Paulinho Serra concedeu ao jornal eletrônico Repórter Diário é a prova provada de que Paulinho Serra é o maior adversário de Paulinho Serra.  Mesmo sob proteção discreta ou escancarada da mídia, Paulinho Serra geralmente confessa tudo. E o tudo no caso é o despreparo para lidar com qualquer coisa que não seja a garantia de que suas declarações deveriam ser previamente avaliadas.

Paulinho Serra precisa de permanente VAR extraoficial daqueles que o embalam. O Reporter Diário fez uma entrevista típica de chá das cinco com o prefeito de Santo André. As respostas, entretanto, se enquadrariam num clássico de casa do terror político-eleitoral.

O Repórter Diário cumpriu a função protocolar de expor as respostas às questões que o Repórter Diário amenizou. Como nem sempre as respostas de um politico desastrado são captadas por leitores e eleitores, é melhor expor cada uma ao contraditório.

ATACANDO EX-ALIADOS

O prefeito de Santo André falou o que não deveria e mostrou que sem monitoração  severa de assessores é capaz de tudo. Inclusive de botar fogo às próprias vestes político-administrativas e eleitorais. Paulinho Serra atacou duramente ex-parceiros de jornada que abandonaram o barco sucessório.

Não vou esticar muito essa abordagem porque a propósito da Administração Paulinho Serra vou apresentar  -- além de tudo o que venho destilando há mais de sete anos -- um balanço geral, não necessariamente minucioso, na próxima segunda-feira, quando Santo André completa 471 anos de fundação. O prefeito-perfeito já preparou um mês inteiro de festas. O povo gosta dessas coisas. Paulinho Serra sabe das coisas que o povo gosta. É um prefeito bom de voto e ruim de governo.

A anatomia de uma administração fantasiosa, que não deu conta do principal recado, ou seja, oferecer perspectivas que se contrapusessem à estagnação da derrocada econômica de Santo André, é a síntese de 87 meses de governança mequetrefe.

CONTRAPONTOS NECESSÁRIOS

Vamos nos ater, portanto, agora, ao conteúdo da entrevista ao Reporter Diário. Vou  contrapor contraditórios a uma barbeiragem geral em forma de interlocução virtual com os leitores da publicação.

Já a partir do título da matéria, que retrata o conteúdo, Paulinho Serra é avassaladoramente vítima de Paulinho Serra. Ou estou exagerando? Veja o título: “‘Não podemos aceitar continuidade da Série B’, diz Serra sobre dissidentes”. Vamos agora à entrevista e aos contraditórios:

REPÓRTER DIÁRIO -- O prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), não esconde sua decepção com aqueles que deixaram o seu grupo político para apoiar a pré-candidatura de Luiz Zacarias (PL). Ao RDtv desta terça-feira (02/04), o tucano deixou claro que vai manter a “calma e paciência” para escolher quem representará seu legado nas urnas. E considera que tem responsabilidade com a cidade e por isso não apoiará um projeto de “continuidade da Série B”. Ao ser questionado sobre os últimos acontecimentos ligados à Zacarias, Serra iniciou sua resposta relatando a necessidade de um trabalho coletivo para realizar a gestão e que o grupo que segue em seu apoio entende esse recado, e por consequência sabe aguardar uma decisão futura sobre a sucessão.

CAPITALSOCIAL – A verdade que Paulinho Serra sonega aos leitores do Reporter Diário é que conduziu de forma lamentável a sucessão eleitoral e administrativa tendo como premissa o grupo em forma de homogeneidade dos objetivos a serem supostamente alcançados. Ao cometer o delírio de criar o Grupo dos Nove Privilegiados, ou seja, de nove concorrentes que se uniriam  para, num passe de mágica, ocuparem internamente às vagas de candidatos a prefeito e vice-prefeito, Paulinho Serra abriu a porta do inferno. A preferência descarada por um jovem sem experiência e sem lastro político, no caso o hoje secretário de Saúde Gilvan Junior, se converteu em ponto de resistência e de revolta. O que temos, portanto, é uma fragmentação em forma de reação do vice-prefeito Luiz Zacarias, e, de alguma forma consentida, mas não respeitada para valer, dos demais supostos concorrentes. Entre os quais está o experiente Coronel Sardano, vereador e ex-secretário de  Segurança Pública, que lançou candidatura a prefeito, bem como do vereador Eduardo Leite. A Administração Paulinho Serra fez da soberba fogaréu político-eleitoral difícil de apagar. Ainda mais com ataques ressentidos. Quando à Série B de Santo André no ranking sugerido pelo prefeito, nada mais enganoso também: pelo critério do Campeonato Paulista de Futebol, de 16 equipes por divisão, Santo André estaria na Série K dos Municípios Paulistas, ocupando a posição 184 no ranking de PIB per capita.

REPORTER DIÁRIO --

“Ninguém está preocupado com política, não é o momento ainda. Então, eu digo que quem ama a cidade para valer e ama a cidade mais do que ama a política ou a politicagem, continua na mesma toada: trabalhando, produzindo. Vamos ter agora as inaugurações, as entregas, mas a equipe está fechada nisso”, inicia o prefeito.

CAPITALSOCIAL – Paulinho Serra não fez outra coisa durante os dois mandatos senão semear a própria carreira política além do território de Santo André, o que é um direito sagrado. Tanto direito sagrado de desejar e lutar por isso como o tropeço de criticar os agora adversários. Trata-se de algo que soaria patético, não fosse lamentável,  porque se vende uma imagem de sacrifício, de paixão pela cidade, quando se sabe que os objetivos pessoais,  que são também profissionais do político, sempre constaram de patamares muito acima.

REPORTER DIÁRIO -- Paulo Serra reafirma que respeita a decisão daqueles que preferiram um outro caminho neste momento, mas voltou a reforçar que tais movimentos individuais não poderiam ser maiores que os coletivos. Além disso, reforçou que a escolha para o representante de seu grupo será realizada “no momento certo”. “Vamos anunciar um produto desse grupo, desse time que para a grande maioria da cidade tem dado certo. É muito fácil chegar lá e falar que não tinha condição de ser o escolhido, mas quero dar continuidade. Então, continuidade da Série B também não podemos aceitar e temos que ter essa responsabilidade com a cidade”, seguiu.

CAPITALSOCIAL – Esse é o ponto mais desastrosa das declarações de Paulinho Serra, ao fazer menção à Série B com conotação claramente depreciativa aos que foram embora. Ora, se é depreciativa para tentar explicar ou justificar as fragmentações no grupo do qual fazia parte, nada pior do que ele estar, portanto, envolvido na Série B, que de fato, vai muito além disso. Some-se a isso o espírito imperialista do prefeito – uma de suas marcas. Afinal, ele estabelece juízo de valor do significado de coletivo e de individual conforme sua ótica particular e sempre puxando a sardinha para a brasa de seus interesses. Ao rifar a candidatura do vice-prefeito que o acompanhava há mais de sete anos, Paulinho Serra se coloca na própria pele e alma do preterido, exatamente porque estiveram colados um ao outro no período.

REPORTER DIÁRIO -- A fala sobre “a condição de ser escolhido” tem como referência a justificativa de Luiz Zacarias em antecipar sua pré-candidatura. O vice-prefeito alegou que não contava com o apoio de Paulo Serra para representar o grupo e por isso resolveu atender ao processo que ocorreria em 2016, quando seria candidato ao comando do Paço, mas resolveu apoiar Paulo Serra para a disputa. Serra evitou falar nomes de antigos aliados, tanto durante os questionamentos sobre as eleições quanto em momentos em que se falou sobre a gestão: “Muitas vezes vejo que Santo André é um avião que estava no chão. Conseguimos decolar esse avião e eu pilotando. Chegamos na velocidade de cruzeiro. Toda a família andreense está embarcada nesse avião e não dá para a gente entregar o comando desse avião, a pilotagem desse avião para quem nunca pilotou um Teco Teco. Correndo o risco desse avião cair e derrubar de novo, como estávamos em 2017”, continua Serra.

CAPITALSOCIAL – A metáfora utilizada pelo prefeito,  além de exploratória de  gestão, longe da realidade pintada por ele, incrementa mais terra à tentativa de tornar o vice-prefeito cadáver concorrencial.  O avião construído por  Paulinho Serra seria um avião de verdade ante um aviãozinho qualquer do vice-prefeito. Falta apenas combinar com os números e o conjunto de ações e omissões de mais de sete anos de gestão.  

REPORTER DIÁRIO -- Por diversos momentos, Serra ressaltou a necessidade de escolher alguém preparado para uma gestão e de seguir o plano estabelecido nos últimos oito anos. Por fim, fez críticas a outros nomes que fizeram parte de seu mandato em algum setor, mas que também migraram para a base de Zacarias. “Por um lado, eu lamento (as saídas), mas como dizem muitas pessoas, pode ser um livramento em alguns aspectos, porque tem alguns quadros também que acabam se juntando ali e que nunca pensaram na cidade. Inclusive, nós vemos isso nas entrevistas. Só se fala de partidos, de política, de acordo político e ninguém fala da cidade”, concluiu.

CAPITALSOCIAL – As afirmações de Paulinho Serra encontram novos candidatos a cadáveres políticos. Não existe castigo maior e melhor aos detratados por Paulinho Serra do que entrarem para valer no campo magnético da realidade que eles sempre subestimaram. Paulinho Serra é um prefeito mimado pela mídia, especialmente pelo Diário do Grande ABC, cujas páginas o transformaram em prefeito-perfeito por razões que vão muito além das páginas de papel. Paulinho Serra esculhambou os aliados de muitos anos por causa do calendário eleitoral que não lhe abriu as portas da subserviência geral daqueles que imagina ter sob controle total, típico dos tiranos.

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