Fechamento do Marechal
Plaza é só café pequeno

Na condição de maior idiota juramentado da região, porque pensar e viver intensamente a região é a expressão máxima de tolice, vos digo com toda a força de minha alma penada: temos uma institucionalidade vagabunda, negligente, submissa e tudo o mais como explicação complementar, mas essencial, a todo tipo de notícia econômica e social, como o fechamento agora do Marechal Plaza Shopping, em São Bernardo.
A notícia acrescenta mais instabilidade emocional a quase três milhões de habitantes. Somos um time em constante rebaixamento. Até parece o São Caetano tão vilipendiado por dirigentes oportunistas.
O fechamento do Marechal Plaza Shopping, que não é shopping coisa alguma com menos de 30 lojas, mas é sempre um endereço que remete ao empreendedorismo de pequeno porte, é mais uma tragédia anunciada. E deturpada por alguns.
Temos uma tragédia anunciada porque integra mais um pedaço deteriorado de uma corrente retroalimentadora de situação catastrófica que envolve a região há pelo menos três dezenas de anos.
Quando se perde a mobilidade social, de miserável virar pobre, de pobre virar classe média precária, de classe média precária virar classe média tradicional e de classe média tradicional virar rico, quando se perde esse escalonamento social, a vaca já foi para o brejo há muito tempo.
FATORES DISTINTOS
Tragédia deturpada porque alguns insistem em personalizar politicamente na região uma corrente de perdas mais ou menos discretas neste século e que ganhou impulso e impacto avassaladores durante os dois anos da hecatombe chamada Dilma Rousseff, na esteira da gastança dos últimos anos do governo Lula da Silva.
Políticas econômicas federais fora do eixo de controle (e todas o são, porque o federalismo determina em larga escala o ritmo da chuva de flores ou de ácido) superam largamente as iniciativas locais e regionais, embora estas sejam essenciais à mitigação dos danos.
É preciso ter muita cara de pau, ser ignorante ao extremo ou estar possuído pelos demônios da retaliação insana creditar prioritariamente a fatores internos os estragos econômicos cada vez mais visíveis.
LATIFÚNDIO COMPLEXO
As patetices regionais, sempre apontadas por este jornalista, para desespero dos triunfalistas que, sempre acontece, têm de se submeter à realidade dos fatos, são uma marca registrada da insolvência institucional municipal e regional. Mas não são o pedaço maior desse latifúndio de vagabundagem e incompetência.
Não vou cansar de dizer: o que se está vendo seguidamente na região desde que Dilma Rousseff foi apeada do poder tem tudo a ver com políticas econômicas de Dilma Rousseff no centro do poder, embora em termos locais a vagabundagem (repito com ênfase) seja algo como um passaporte ao metralhamento da cidadania anestesiada.
Portanto, não se podem desconsiderar as digitais regionais dessa equação, embora não prevalecente em termos de peso relativo.
O Marechal Shopping de São Bernardo está tão à deriva como endereço de empreendedorismo individual num espaço coletivo que nem mesmo o total de trabalhadores foi divulgado, porque não se tem ao certo essa informação correta.
Seja qual for o total de deserdados a partir de janeiro do ano que vem, é café pequeno perto do que temos cumulativamente na região e também segundo projeções mesmo que otimistas para as próximas temporadas.
MUITAS INDAGAÇÕES
Há série de indagações ainda não aventadas para esclarecer a despedida do empreendimento. A propriedade física do espaço é igualmente coletiva ou conta com um ou mais controladores com poderes de decidir pelo fechamento?
E o fechamento dará lugar a que tipo de atividade econômica? Teremos torres de apartamentos ou de escritórios? Os primeiros abundam em vacância e queda de preços numa região empobrecida. Os segundos viraram pó no rastro da desindustrialização e do fator Dilma Rousseff.
Para rememorar cabeças eventualmente doutrinadas a duvidar de verdades absolutas em nome do fundamentalismo político e ideológico, não custa dizer que com Dilma, entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016 (o período parcial de 2016 fora da presidência não a retira das consequências econômicas que sua equipe impingiu ao País), tivemos um saldo perdedor de quase 100 mil carteiras assinadas nas sete cidades da região.
CRISE AGRAVADA
Desse total, mais de 60% relativos aos setores de serviços e comércio. E oito anos depois os empregos não foram recuperados. A projeção que fiz outro dia remete a pelo menos uma década para possível volta ao passado em termos de ocupação.
Perder empregos fora do âmbito industrial é o fim da estrada regional porque não restaria saída senão a desesperança mais aguda. Afinal, o setor industrial parece uma arena irrecuperável a quem pretende obter ou manter mobilidade social.
Os ricos e a classe média da região desabaram em representação relativa na população geral. O Potencial de Consumo medido pela Consultoria IPC, e que significa nosso PIB de Consumo, é uma constante ruína social.
A situação de São Bernardo, Capital Econômica da região, é a mais grave na geografia de Desenvolvimento Econômico que virou ficção. Não só porque São Bernardo é a capital, mas sobremodo porque foi quem mais sentiu as dores dos dois anos desastrosos de Dilma Rousseff.
SETOR EXPOSTO
O setor automotivo ficou exposto a intempéries incontroláveis. Diadema e São Caetano, semelhantemente vítimas da Doença Holandesa Automotiva, também sangraram mais que os demais municípios locais.
Se como um todo a região perdeu nos dois anos finais de Dilma Rousseff nada menos que 20,75% do PIB Geral, São Bernardo teve impacto ainda maior, de 24,68%. Nessa contabilidade coloco os valores brutos. Quando se vai ao PIB por habitante, as perdas são muito maiores ainda. Em termos de região, são perto de 30%.
Também não se pode deixar de levar em conta no anunciado fechamento do Shopping Marechal, que de fato é galeria, uma variável de transformações no varejo nacional, sobretudo com a chegada da Internet e de players internacionais, especialmente chineses.
As vendas digitais são cada vez mais relevantes às companhias. A chamada indústria de shoppings de verdade, ou seja, de estabelecimentos que se enquadram nos conceitos de negócios conjugados em espaços físicos estruturados por grandes corporações de investimentos, está vivendo situações desafiadoras.
PEQUENA FRAÇÃO
O que os leitores precisariam entender e certamente entenderão é que o Marechal Plaza que vai virar estatística de fracasso empresarial coletivo é apenas uma fração de tantos outros desajustes coletivos e também individuais, estes fora de contextos de empreendimentos consorciados em espaços determinados.
Faltam dados que traduzam o que vou explicar, mas o que vou explicar faz todo o sentido e eleva ainda mais a preocupação que não pode ser circunscrita a um determinado endereço comercial.
Vivemos um quadro de septicemia econômica enquanto autoridades principalmente públicas ainda acreditam estar diante de um maratonista.
MAIS NÚMEROS
A pergunta que faço e que é desafiadora quanto à quantidade dos estragos se refere a tentar imaginar quantos shoppings de verdade foram fechados na região desde a recessão de Dilma Rousseff?
Vou explicar: quantos empregos formais havia nos shoppings da região em dezembro de 2014, antes da tragédia dilmista, quantos sobraram após aqueles 24 meses e o que houve de recuperação e de transformações de janeiro de 2017 para cá?
Mais que isso: quantas lojas físicas os nove shoppings da região comportavam, quanto faturavam antes da recessão dilmista e quanto são e faturam hoje como sinônimo de transferência de recursos fiscais à região?
Uma coisa é tão certa quando o sol da manhã: perdemos dezenas de lojas na contagem convencional, ou seja, de estabelecimentos que soçobraram no período, independentemente do porte e da qualidade dos produtos, e, mais que isso, perdemos o equivalente a muito mais lojas do que seria possível contabilizar se compararmos a quantidade de empregados nesses estabelecimentos nos respectivos períodos delimitados.
Traduzindo a equação que não é tão intrincada assim: o que registraremos de quebra de trabalhadores no Marechal Shopping é mesmo café pequeno ante tudo que ocorreu desde dezembro de 2014, marco regulatório do descalabro presidencial.
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