Economia

Lula pode superar emprego
de Bolsonaro em 32 meses

  DANIEL LIMA - 02/05/2023

Esta é uma projeção com base no saldo líquido de empregos com carteira assinada no Grande ABC nos primeiros três meses já apurados pelo Ministério do Trabalho. Três meses do governo Lula da Silva.  

O enunciado quer dizer o seguinte: antes de chegar ao quarto ano do terceiro de cinco mandatos do Partido dos Trabalhadores em Brasília, o governo Lula da Silva superará o resultado final de quatro anos de Jair Bolsonaro.  

Mas terá dificuldades de zerar a conta deixada nos dois anos de Dilma Rousseff, na maior recessão da história do Brasil e, inigualavelmente, do Grande ABC.  

Perdemos 23% do Produto Interno Bruno entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016. Uma dose cavalar de destruição.  

FAZENDO AS CONTAS  

Acabei de fazer as contas para o Observatório do Emprego do G-7 desta revista digital. Meti-me informações adentro contando com várias fontes oficiais e da mídia. Fundi os dados com as informações de acervo próprio. E fiz o cálculo do tempo que seria necessário para Lula da Silva superar Jair Bolsonaro. São 32 meses. 

Essa conta se fecha quando se detecta que nos três primeiros meses do novo mandato de Lula da Silva o Grande ABC obteve saldo líquido de 3.577 carteiras assinadas. Média mensal de 1.192.  

Faça o seguinte: multiplique essa média mensal por 32 meses. O resultado é 38.144 empregos formais. Mais que os 37.183 empregos deixados como saldo líquido de Jair Bolsonaro.  

Faço a contraposição entre o ex-presidente e o atual presidente de propósito. Quero ver o circo de controvérsias pegar fogo.  

MAIS POLARIZAÇÃO  

Se existe algo pior que a polarização tão criticada pelos pacifistas de araque é a conformação, estágio em que não existe nem sombra de contestação de um lado e de outro. É a calmaria do mar que precede uma tempestade. 

Os bolsonaristas estão insatisfeitos com essa projeção. E acho que têm razão.  

Primeiro,  porque Lula da Silva mal começou o governo e muita coisa pode acontecer a um País metido numa encrenca dos diabos que vem do passado distante de gastar muito mais do que arrecada.  

Gastar mais do que arrecada é uma situação pior do que se imagina. Já se arrecada demais e se pretende arrecadar ainda mais com a reforma fiscal. A carga tributária é absurda para o nível de renda da população. E para a incapacidade de o Estado dar conta do recado de obrigações implícitas e explícitas de organizar economicamente e socialmente o País. 

VISÃO BOLSONARISTA   

Acho que os bolsonaristas têm razão em contestar o esticamento do saldo de emprego formal como se o futuro fosse uma linha reta. Mas insisto na projeção (que vou repetir a cada nova jornada do Caged, o Cadastro Geral de Emprego e Desemprego) que, entretanto, deverá passar por tremeliques. O saldo do primeiro trimestre necessariamente não será do segundo. Nem dos demais. O emprego formal no Brasil é uma gangorra.   

Muito mais relevante que contestar a flexibilidade do tempo futuro é desprezar (e o fiz de propósito) o ano de 2020, quando a gestão de Jair Bolsonaro foi impactada pelo Coronavírus. Desapareceram do mercado regional nada menos que 48.948 empregos formais em 12 meses.  

Você não se enganou ao ler o parágrafo anterior. Foram mesmo quase 50 mil empregos para o beleleu naquele primeiro ano da pandemia, o segundo do mandato de Bolsonaro. O Brasil virou um forrobodó maior que muitos outros países igualmente abatidos pelo vírus chines. Todo mundo foi autorizado a se meter no combate à pandemia. Sem hierarquia. E um presidente que contestou o vírus o tempo todo.  

SALDO MUITO MAIOR  

Numa contabilidade heterodoxa que eliminaria os empregos perdidos em 2020, e se contabilizasse o mandato de Jair Bolsonaro levando-se em conta apenas três anos de razoável normalidade (2019, 2021 e 2022), o saldo líquido de empregos no Grande ABC chegaria a 86.131.  

Esse é o resultado do saldo líquido de fato registrado para quatro anos, de 37.183 empregos formais, suprimindo-se as quase 50 mil carteiras atirados ao fogo do desemprego em 2020.  

Se for feita essa mágica para agradar aos bolsonaristas e com isso perpetrar uma pedalada cronológica, os 86.131 empregos que o governo de Jair Bolsonaro somou em três anos de mandato representariam saldo médio mensal de 2.392 contratações líquidas.  

Só para que não haja dúvida quanto aos números positivos registrados por Jair Bolsonaro: em 2019, primeiro ano de mandato, foram 19.391 contratações líquidas no Grande ABC. Em 2021 foram 37.014. E em 2022, 29,726 trabalhadores em todas as atividades.  

CONTRAPONTO PETISTA  

É claro que os petistas vão discordar radicalmente dessa nova conta porque o que conta para os petistas e adversários de Jair Bolsonaro é o calendário gregoriano do emprego formal, independentemente de venturas e desventuras de um mandato.  

Os petistas poderiam argumentar com muita dose de razoabilidade matemática que não seria possível dentro de uma lógica de lucidez levar em conta apenas os três anos saudáveis do governo Jair Bolsonaro, porque supostamente muitos dos empregos destruídos pelo Coronavírus em 2020 foram recuperados em seguida. Ou seja: o saldo líquido dos três anos de Jair Bolsonaro teria sido contaminados pelo efeito-Coronavírus, agora de forma positiva.   

Também não é difícil de acreditar que petistas poderiam arrogar o direito de contragolpe na metodologia que expurgaria o ano pandêmico de 2020. Solicitariam reciprocidade e avocariam o expurgo dos dois anos nefastos de Dilma Rousseff.  

FATOR DILMA  

Não interessa se Dilma Rousseff das pedaladas e do impeachment tenha produzido a própria catástrofe, ou a maior parte da catástrofe, depois de assumir o espólio de gastos do antecessor Lula da Silva.  

Seria ótimo se fosse possível apagar os rastros e dos desastres de Dilma Rousseff no Grande ABC tanto no campo geral da economia quanto no mercado de trabalho.  

O estrago dilmista foi tão severo no segundo mandato iniciado em 2015 que em dezembro do ano passado, findo o governo de Jair Bolsonaro, ainda restavam 57.813 vagas perdidas em relação a dezembro de 2014. Saldos positivos anuais de Jair Bolsonaro e também de Michel Temer, em 2017 e 2018, não foram suficientes para sufocar o desastre chamado Dilma Rousseff. Um currículo e tanto para presidir o Brics, como se sabe.  

DUPLO RESULTADO  

Afinal, o que significaria para o futuro de quem gosta de consultar o passado para entender o presente o total de carteiras assinadas destruídas durante o governo Dilma Rousseff?  

Levando-se em conta a média mensal dos três primeiros meses do governo Lula da Silva, 1.192 carteiras assinadas, o déficit deixado por Dilma Rousseff de 57.813 postos de trabalho exigirá 48,5 meses para ser debelado.  

Fazendo novas contas, chega-se a um duplo resultado, um bom e o outro ruim. Se a média mensal de contratações líquidas do Grande ABC seguir em frente, o governo Lula da Silva superará o saldo líquido de Jair Bolsonaro no 32º mês de mandato, mas, em contrapartida, não apagará o déficit de Dilma Rousseff, que corresponde a 48,5 meses. O governo de Lula da Silva não passaria de 48 meses. Precisaria de reeleição para tirar Dilma Rousseff do caminho de destruição regional no futuro.  

DADOS DE MARÇO  

Em março último, o balanço do emprego formal no Grande ABC anunciado pelo Ministério do Trabalho foi aquém da expectativa. Houve perda líquida de 91 postos de trabalho. Um resultado ruim que, entretanto, contém um resultado relativamente bom para quem pensa num Grande ABC de sete municípios: com os novos dados, nenhum endereço regional acumula saldo negativo nesta temporada. 

Santo André era o único caso da região que registrava saldo negativo na temporada, na soma de janeiro e fevereiro. Mas o saldo líquido de 331 trabalhadores em março transformou negativo em positivo de 112 vagas preenchidas a mais em relação a dezembro do ano passado. 

NÚMEROS BRUTOS  

Em quantidade (sem considerar o conceito de confronto com o estoque anterior, que é a melhor métrica), quem lidera o mercado de trabalho nesta temporada é São Bernardo, com saldo líquido de 1.658 trabalhadores. Mauá vem em seguida com 758, Diadema com 670, São Caetano com 278, Rio Grande da Serra com 78 e Ribeirão Pires com 23.  

O boletim do mercado de trabalho do Grande ABC produzido pelo Clube dos Prefeitos (Consórcio Intermunicipal) em associação com a Agência de Desenvolvimento Econômico aponta que nos últimos 12 meses (entre abril do ano passado e março deste ano), o Grande ABC registrou saldo líquido de 28.885 postos de trabalho.  O estoque de trabalhadores alcançou 750.554 carteiras assinadas. 

Embora nenhum Município do Grande ABC apresente saldo negativo no mercado de trabalho, quando se observa o comportamento por setor de atividade há dois buracos a serem preenchidos no balanço restrito a março.  

A indústria registra saldo negativo de 538 postos de trabalho, com queda relativa de 0,30% ante o estoque de 177.575 trabalhadores. O comércio perdeu 215 carteiras assinadas, 0,14% ante o estoque anterior de 148.209 trabalhadores. A construção civil somou saldo de 652 trabalhadores, 1,48% do estoque de 44.662, e o setor de serviços 19,0,01% do estoque de 379.998. 

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