Economia

Já imaginaram Grande ABC
crescendo como Sorocaba?

  DANIEL LIMA - 09/02/2023

O PIB Geral de Sorocaba cresceu em termos reais nos últimos 18 anos (2003-2020) à média anual de 5,82%. O PIB Geral do Grande ABC cresceu em termos reais nos últimos 18 anos à média anual de 1,12%.  

O PIB Industrial de Sorocaba cresceu no mesmo período à média anual de 3,87%. O PIB Industrial do Grande ABC perdeu em média anual no mesmo período 0,677.  

Fui reto e direto no que pretendo escrever hoje e que pode ser sintetizado na seguinte equação-desafio: quando os sete municípios da região falsamente ligados durante todos esses anos no Clube dos Prefeitos, também Consórcio Intermunicipal, vão tomar vergonha na cara e olhar para Sorocaba como fonte de inspiração de crescimento econômico? 

REAGIR QUANDO?  

Mais que isso: quando os agentes públicos, principalmente os agentes públicos, vão apear da arrogância de indestrutibilidade da economia da região, que eles sabem falsa, e vão meter a mão na massa para valer mesmo? 

Vou mais além ainda: quando os agentes públicos da região vão deixar no cantinho inservível ou quase isso de proselitismo administrativo a conquista de um prêmio aqui, outro lá, e vão entender que o buraco do jogo de produção de riqueza é mais embaixo? 

Lanço mão do exemplo de Sorocaba para espezinhar mesmo, mas com fundamentação.  

Poderia pinçar outro endereço municipal menos ostensivamente dominador da cena de geração de riqueza no período em que o PT esteve no poder federal durante 14 dos 18 anos (mas com influência no período total, por conta das travessuras recessivas de Dilma Rousseff) . Entretanto, decidi mesmo por Sorocaba. 

DIFERENÇA ESTRONDOSA  

É estrondosa a diferença entre o PIB daquele Município, sede de uma região metropolitana, e o conjunto dos municípios do Grande ABC, inseridos como periferia na Região Metropolitana de São Paulo, dominada pela Capital mais rica do País. 

Não sou ingênuo nem ignorante nem estúpido e muito menos analfabeto econômico para sequer sugerir que o receituário de recuperação econômica do Grande ABC está em Sorocaba.  

Mas também não sou obtuso, descrente, limitado e muito mais para descartar a possibilidade de uma série de políticas públicas aplicadas em Sorocaba ser introduzidas com adaptação no Grande ABC. 

ESCOLHA LOCACIONAL  

Sei que sei porque a experiência acumulada assim o determina que há pelo menos 200 quesitos considerados relevantes por especialistas em estratégias de investimentos como determinantes à escolha locacional de empreendimentos.  

Pelo menos duas centenas, claramente convergentes como o propósito de elevar a rentabilidade dos negócios.  

Sem lucro não há futuro econômico para empreendedor algum. Assim como responsabilidade social é inerente ao gestor público, embora o presidente Lula da Silva, que pegou carona nas reformas macroeconômicas do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2003, não considere o feixe de inquietações fiscais algo importante.  

Em textos passados no passado de quem está há 34 anos neste endereço midiático, como se o antes nem precisasse ser contado, fiz várias comparações envolvendo Sorocaba e Santo André, municípios demograficamente semelhantes.  

VERSUS GRANDE ABC  

Hoje decidi ampliar o raio de ação e tomar o conjunto do Grande ABC como referencial a comparações.  

Minha torcida organizada vai no sentido de que alguma alma bondosa e solidária instalada no Consórcio dos Prefeitos decida ouvir a voz da razão e, quem sabe, levar adiante um projeto de perscrutação de quesitos que Sorocaba aplicou com sucesso e que poderiam ser replicados, com adaptações, no Grande ABC. 

Puxando pela memória, sugeriria até que fosse ouvido o médico e empresário Fausto Cestari, de longa atividade na Fiesp e no Ciesp. Ele atuou durante vários anos no Interior e particularmente em Sorocaba. Seria uma peça importante na montagem de um quebra-cabeça para desvendar aquele Município. 

PONTOS INCONCILIÁVEIS  

Há questões inconciliáveis por natureza e que claramente impediriam transplante ou qualquer gambiarra, mas poderiam inspirar reviravoltas inusitadas. 

Não temos condições de competir com Sorocaba, no momento, no campo de logística de transporte.  

A cidade do Interior está cercada por estradas que convergem a seu território, enquanto o Grande ABC é um amontoado de eixos viários problemáticos, quanto não autofágicos.  

Até o Rodoanel, como tenho provado, virou adversário de primeira hora.  

BARBARIDADE INTERNA  

Considerar a Avenida dos Estados uma aliada de investimentos produtivos é muita ignorância. Mal serve à logística de curta distância, ou sub-logística de galpões que atenderiam à segunda etapa empresarial junto a consumidores finais. São exceções os casos de alinhamento à produção local ou regional.  

A logística interna do Grande ABC é uma barbaridade de ruim.  

Poderia desfilar, com mais tempo, pelo menos duas dezenas de indicadores prioritários que seriam detalhadamente investigados por uma força tarefa regional que se deslocasse em busca do pote de ouro de Sorocaba.  

Creiam os leitores que encontraríamos alguns tesouros de solução ou atenuação de nossos problemas.  

Sorocaba não é Sorocaba transbordante de investimentos e produção de riqueza por conta do acaso.  

ORGANIZAÇÃO DO JOGO  

Possivelmente conta com um agregado de estudos, propostas e soluções que têm no Poder Público Municipal e na porção organizada do empresariado um alinhamento automático e resolutivo.  

Tudo o que o Grande ABC jamais teve porque o Grande ABC já nasceu estrategicamente abalado ao se transformar em Grande ABC, dividido e repartido pelo movimento emancipacionista.  

Contraímos historicamente uma aberração com as gerações futuras porque partimos e repartimos o bolo da integridade administrativa e territorial e ficamos com sete pedaços que jamais se juntaram para agirem com força superior à divisão. Muito pelo contrário.  

CURIOSIDADE AMPLA  

Tenho muita curiosidade em saber como é Sorocaba em relação ao Grande ABC no campo trabalhista, em forma de comportamento do sindicalismo.  

Também estou curioso quanto às relações entre forças produtivas e gerentes públicos.  

Como funcionam as instituições de ensino de Terceiro Grau junto aos empresários e ao próprio setor público?  

Quais são as linhas-mestras de táticas e estratégias para tamanho crescimento? 

CIDADE E VIZINHANÇA  

Enfim, tenho tanta vontade de conhecer profundamente Sorocaba e as cidades que a cercam e lhe dão a prerrogativa formal de capital daquela região que não perdoaria jamais as autoridades públicas do Grande ABC no caso de darem o destino do lixo a esse texto. 

Independentemente do que os sete municípios locais podem fazer em conjunto, e até em conformidade com o histórico de municipalismo exacerbado e castrador de cada parte do conjunto regional, entendo que pelo menos um ou outro prefeito deveria transformar minha sugestão em ação: formem uma força-tarefa e vasculhem Sorocaba.  Vejam o que possa ser transportado integralmente como ações providenciais.  

Tenho tanto autoconhecimento profissional, conectado que sempre foi à linha editorial de LivreMercado/CapitalSocial, que duvido não voltar a esse tema.  

E esse tema é objetivamente específico: como tomar na mão grande ou diplomaticamente algumas das qualidades de geração de riqueza que Sorocaba exibe com dados extraordinário? 

OUTROS ENDEREÇOS  

Vou mais longe: há outros endereços municipais no Estado de São Paulo que também poderiam ser vasculhados nos pontos mais vigorosos e que, igualmente a Sorocaba, poderiam ser clonados, copiados, metamorfoseados.  

Tudo isso é muito melhor, mas muito melhor, do que ficar participando de competições mais que manjadas que distribuem prêmios geralmente encomendados ou mal-ajambrados e que não mudam para valer absolutamente nada em cada cidadela regional. 

Os dados de Sorocaba nos 18 anos de gestão influenciadoramente petista mostram que apesar dos pesares de uma longevidade desastroso à economia nacional, há movimentos municipais que contornaram todas as dificuldades impostas por agentes federais desastrados.  

JOGO JOGADO  

O PIB Industrial de Sorocaba partiu em termos nominais (sem considerar a inflação) de uma base (de 2002, deixada por Fernando Henrique Cardoso) de R$ R$ 1.813.987 bilhão e chegou a R$ 8.396.590 bilhões em 2020.  

Fosse o valor original corrigido pelo IPCA de 172,61% do período, o PIB Industrial em 2020 deveria registrar R$ 4.945.110 bilhões. Um crescimento efetivo de R$ 3.451.480 bilhões.  

Como mostramos ontem, o PIB Industrial do Grande ABC no mesmo período foi esfacelado com a perda de R$ 4.246.066 bilhões.  

ALTA E BAIXA  

Ou seja: enquanto o PIB Industrial de Sorocaba cresceu em termos reais (descontada a inflação) 69,79% no período, o PIB Industrial do Grande ABC sofreu queda real de 12,19%.  

Resultado? Enquanto o PIB Industrial de um Grande ABC de agora quase três milhões de habitantes era 7,04 vezes maior que o PIB Industrial de Sorocaba, agora a diferença é de 3,6 vezes.   

Já no PIB Geral, que comporta todas as atividades, o estrago foi muito maior. Em 2002, o PIB Geral do Grande ABC (R$ 39.246.092 bilhões em valores nominais) era 5,95 vezes superior ao PIB Geral de Sorocaba (R$ 6.594.372 bilhões). Na fita de chegada de 2020 a diferença baixou para 2,86 vezes. Sorocaba chegou em valores de 2020 a R$ 36.723.769 bilhões ante R$ 128.389.075 dos sete municípios da região.  

VERSUS SANTO ANDRÉ  

Uma comparação município versus município que envolva Sorocaba e Santo André dá dimensão mais precisa da diferença entre aquela cidade do Interior do Estado e o Grande ABC.  

Em 2002, o PIB Geral de Santo André no valor de R$ 8.514.414 bilhões era superior ao PIB Geral de Sorocaba, no valor de R$ 6.594.372 bilhões. Já em dezembro de 2020, o PIB Geral de Santo André chegava a R$ 29.440.477 bilhões, enquanto Sorocaba registrava R$ 36.723.769 bilhões.  

Ou seja: o que era vantagem de Santo André de 22,50%, virou desvantagem no PIB Geral de 19,84%. 

A base dessa dissonância comportamental da economia dos dois municípios, e que pode ser expandida aos demais da região, está no PIB Industrial.  

VIRADA INDUSTRIAL  

Enquanto em 2002 o PIB Industrial de Santo André registrava em valores nominais R$ 2.303.332 bilhões, Sorocaba mal passava de R$ 1.813.987 bilhão. Já na ponta da pesquisa, em 2020, Santo André registrava R$ 7.130.909 bilhões ante R$ 8.396.590 bilhões de Sorocaba.  

Ou seja: o que era vantagem de 21,25% favorável a Santo André virou desvantagem de 15,08%. E olhem que Santo André tem a desindustrialização mascarada pelo Polo Petroquímico de Capuava.   

Desindustrialização mascarada se dá quanto uma determinada atividade prevalecente no cômputo de Valor Adicionado compensa em algumas porções valiosas a retirada ou o fim de atividades de pequenas e médias indústrias de outros setores, principalmente. 

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