Economia

O que mudou na região após
14 anos do PT em Brasília (5)

  DANIEL LIMA - 08/09/2022

Nos oito primeiros anos do PT em Brasília (e nos seis anos seguintes também, primeiro com Lula da Silva e em seguida com Dilma Rousseff) a institucionalidade do Grande ABC cometeu a sandice de aprofundar fracasso renitente.  

Perdemos uma janela de oportunidade coletiva para marcar presença e definições no governo federal. Imperaram ações individuais e exclusivistas que desabaram em frustrações. 

Os textos que seguem abaixo, de dezembro de 2011, mostram bem em que estágio as principais instituições do Grande ABC se encontravam quando Lula da Silva deixou a presidência.  

Exceto as que já entregaram os pontos do desaparecimento, casos do Fórum da Cidadania e da Câmara Regional, continuam na mesma toada batida de excesso de capacidade de jogar o tempo fora.  

GRANDE FRAUDE  

O Grande ABC é uma grande fraude institucional quando se tem como realidade as entidades supostamente vocacionadas à regionalidade, casos específicos, nestes dias, do Clube dos Prefeitos (Consórcio de Prefeitos) e da Agência de Desenvolvimento Regional.  

Tudo não passa de encenação política e midiática. A sociedade servil aceita tudo. E cada vez mais, porque o diversionismo das redes sociais impera.  

E as instituições fora da órbita legal do Poder Público, como entidades de classe de empresários e trabalhadores, também marcam passo.  

Nenhuma é ambiciosa o suficiente para contar com algum estudo da própria classe que representa, quanto mais do Município a que pertence, ou, pior ainda, do Grande ABC.  

BAIXO VALOR  

Nossas instituições não têm representatividade, que vem a ser densidade de participantes e independência para valer de organizações sob o controle estratégico da classe política. 

Mostrar (como se verá abaixo) como estava o Grande ABC no ano seguinte ao fim dos dois mandatos de Lula da Silva e já no primeiro ano de Dilma Rousseff é essencial para se compreender como a região estava e continua desprovida de articulação político-institucional para alcançar objetivos planejados não só junto ao governo federal, como também ao governo estadual. 

Como esperar elasticidade extraterritorial se nem internamente somos capazes de um ajuntamento programático?  

GOVERNANÇA FRÁGIL  

A falta de governança regional (e é disso que se trata) mesmo num céu de brigadeiro (como foram vários anos do governo de Lula da Silva) se tornou, portanto, um desperdício.  

Afinal, jogou-se no lixo uma potencialidade descomunal de dar tratos à bola de uma regra básica de desenvolvimento econômico e social: traçar os rumos de investimentos que confeririam benefícios gerais aos sete municípios.  

E tudo isso não é pouca coisa, porque o período lulista em Brasília se ofereceu como o encontro do satisfatório com o resolutivo fosse o Grande ABC uma região muito além de uma marca de regionalidade implícita que se perde num municipalismo retrógrado.  

                   

Clube dos Prefeitos chama Celso

Daniel para festa de aniversário 

 DANIEL LIMA - 14/12/2011 

 

Demorou 10 anos para, finalmente, o maior chefe de Executivo regional da Província do Grande ABC constar da agenda do Clube dos Prefeitos. No aniversário de 21 anos do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, entre duas mesas do seminário que tratará de consórcios públicos e governança regional, Celso Daniel será lembrado nesta segunda-feira com a inauguração do Centro de Documentação e Memória.  

O espaço recepcionará o acervo pessoal daquele que concebeu estruturas ao processo de regionalidade, interrompido antes mesmo daquele fatídico 18 de janeiro de 2002.   

Não tenho a menor ideia do que encontrarei no memorial, mas desconfio que os seminários vão se dedicar a sessões lambe-lambe de uma cria que ainda não desmamou de vícios municipalistas, longe de entender o significado de regionalidade. 

TRAPAÇA VERBAL    

Sugiro que as emoções de verdade estejam reservadas às homenagens a Celso Daniel. Eventuais deslizes dos debatedores devem ser comedidamente avaliados pela plateia. Se um ou outro expositor desfraldar triunfalismo com suposta consolidação de regionalidade, o mínimo que o bom senso indica é que tudo não passaria mesmo de trapaça verbal.   

Não acredito que os debatedores têm por pressuposto o vício em penduricalhos argumentativos, mas qualquer exagero os colocaria de saia justa para efeitos históricos.   

Há tão pouco a comemorar que possivelmente eles se fixarão em alguns pontos emblemáticos para justificar a própria existência do Clube dos Prefeitos.  

ATRIBUIÇÃO FALSA   

Quem teria, por exemplo, a coragem de atribuir o Rodoanel Sul à essa instância regional? Já atribuíram ao Clube dos Prefeitos a construção dos abandonados piscinões, quando, de fato, trata-se de gestão do governo do Estado que alcança muitos outros municípios fora da esfera da Província do Grande ABC.   

Apesar dos pesares, deve-se reconhecer que é melhor ter o Clube dos Prefeitos que está aí, admitindo-se seus fracassos, do que não ter Clube de Prefeitos algum.   

A melhor maneira de contribuir com o Clube dos Prefeitos e com tudo que a instituição possa gerar de ganhos sistêmicos é esmiuçá-lo criticamente, confrontando as conquistas em relação às demandas propostas e às avalanches de novos imperativos sociais e econômicos. 

QUAL TOM?    

Tenho sérias dúvidas sobre o tom que permeará os dois seminários programados. A tendência comportamental em festa de aniversário é que o homenageado seja preservado dos pontos negativos. Tal qual a mensagem subliminar nos velórios, embora tanto numa quanto noutra situação não faltem idiossincrasias.   

Se é verdade que a etiqueta recomenda tanto numa situação quanto noutra diplomacia para não ferir suscetibilidades, estender-se em amenidades quando a configuração do ambiente é outra, de evento supostamente de responsabilidade social, discursos efusivos remeterão seus autores à autofagia avaliativa.   

Para os iniciados em regionalidade, para os já relativamente experientes na temática e também para os que jamais ouviram falar do assunto, a situação histórica da institucionalidade extraterritório municipal na Província do Grande ABC é a seguinte:   

a) O Clube dos Prefeitos completará 21 anos de atividades, mas insiste em estar na mesma situação daquele comentarista esportivo que, ante um time próximo de rebaixamento à Segunda Divisão, defende a tese de favoritismo num determinado e decisivo jogo tendo como suporte de argumentação o passado de glórias. Algo como dizer que o Saged (ex-Santo André) é um dos favoritos ao título da Segunda Divisão Paulista porque tem o lastro da conquista da Copa do Brasil em 2004. O que quero dizer com isso em relação ao Clube dos Prefeitos? Que a rotatividade de comando presidencial anual combinada com a troca de prefeitos a cada nova disputa eleitoral encaminha as pautas sempre para o acostamento, inclusive porque o Clube dos Prefeitos só interessa para valer ao chefe de Executivo que ocupa a presidência. Em resumo, falta histórico de enraizamento produtivo ao Clube dos Prefeitos, o que torna o 21° aniversário quase uma abstração. Como não conta com corpo técnico versado em regionalidade e igualmente sempre sujeito a trocas permanentes, o primeiro e o segundo escalões são sempre um enxugar de gelo. Dizer como se diz com razão que o Clube de Prefeitos tem o patrimônio inalienável do ineditismo em matéria de consórcio público é uma constatação que não pode ganhar a forma de adjetivação deslumbrada, de ganhar a força de um título remoto para escorar análises presentes. O time brasileiro mais antigo está sediado no Rio Grande do Sul, mas abdicou do futebol profissional há muito tempo.   

b) O Fórum da Cidadania, criado em 1994 para remexer com as estruturas públicas da região, mal conseguiu sobreviver até o ano 2000 e de lá para cá vive como zumbi, sem representatividade alguma. O gigantismo, entre outras anomalias estruturais, levou o Fórum da Cidadania ao fracasso. O anonimato da década de 2000 o levou ao sono profundo de paciente em estado grave.   

c) A Agência de Desenvolvimento Econômico longe está dos sonhos de Celso Daniel, porque não tem estrutura física, profissional e mesmo institucional para abastecer o Clube dos Prefeitos de projetos que facilitem a vida dos administradores públicos e ofereçam retorno à sociedade. Retirada da costela do Clube dos Prefeitos, a Agência sempre foi considerada um corpo estranho e indesejável, concorrendo pelo estrelato num palco de segunda classe.   

d) A Câmara Regional do Grande ABC, subproduto do Clube dos Prefeitos e que contava com Celso Daniel e Mário Covas como grandes líderes, morreu de morte natural antes mesmo de seus dois maiores formuladores.   

RESUMO DO RESUMO   

Estou produzindo um resumo do resumo do resumo do que vivemos nas duas últimas décadas na Província do Grande ABC. Tudo isso foi esmiuçado por mim e pela equipe de jornalistas que comandei na revista LivreMercado e também, em seguida, nesta revista digital. Se fosse incluir como link as matérias que constam deste site para chamar os leitores mais ávidos por informações e análises, a lista seria quilométrica.   

É por tudo isso que é impossível encarar o aniversário do Clube dos Prefeitos sem emitir sinais de preocupação com possíveis escorregões analíticos que subestimem verdades históricas que ajudam a explicar um presente de baixa regionalidade.  

MUITO ABAIXO  

Diria, sem medo de errar, que a institucionalidade da Província do Grande ABC neste final de 2011 está muito aquém do que se registrava naquele final de 1990, quando o Clube dos Prefeitos foi gestado para tratar apenas de algumas questões regionais.  

Vivemos em estado vegetativo com alguns ensaios de regionalidade que, mais que encantar, preocupam quem entende que a exceção poderia ser a regra se nos déssemos conta de que há muito perdemos competitividade como território econômico e social.   

É claro que nenhum dos oradores previstos nos dois seminários desta segunda-feira na sede do Clube dos Prefeitos vai apresentar essa leitura de regionalidade.   

ARROGÂNCIA DOMINA 

Ainda não perdemos a arrogância que a industrialização automotiva esculpiu com slogans tão verdadeiros quanto desgastados.   

Para não dizer que não falei das flores, mais uma vez enfatizo que a Província do Grande ABC não consegue ser a soma de suas sete partes municipais e muito menos o resultado das individualidades que emergem de várias instâncias.  

 

Trocaram legado de Celso Daniel

por pequeno aeroporto, vejam só 

 DANIEL LIMA - 20/12/2011 

 

Se ainda fosse necessário medir o tamanho da regionalidade da Província do Grande ABC, como se o passado não fosse suficiente para nos colocar na condição de Província, não de Grande ABC, o evento de ontem de manhã na sede do Clube dos Prefeitos, em Santo André, é emblemático de nossa falência institucional.   

Celso Daniel foi praticamente esquecido pelos jornais impressos e digitais, enquanto um pequeno aeroporto, espécie de galeria de lojas quando comparada a um shopping center, mereceu todas as manchetes.  

Estamos de mal a pior mesmo. Caminhamos para o aprofundamento de um provincianismo do qual dificilmente sairemos. É um buraco sem fundo. 

DISCURSO EMOTIVO   

Primeiro, tratemos da cobertura dada ao encontro. Se houve emoção durante o seminário realizado de manhã, ante um público que tomou todas as cadeiras do auditório do Clube dos Prefeitos, isso se deve a quem viveu intensamente as ações de Celso Daniel.  

O agora ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, secretário de governo de Celso Daniel, fez um discurso humanista de conteúdo enternecedor.   

Como todos os demais, aliás, cada um com estilo próprio, conhecimento próprio, experiência própria com aquele dirigente público que não escolhia hora nem lugar para acrescentar mais conhecimento numa cabeça privilegiada, leitor voraz de tudo que envolvia sociedade e governo.   

ESTACA LULISTA  

Foi Celso Daniel quem, como lembrou Gilberto Carvalho, fixou as estacas econômicas do governo de Lula da Silva, durante um congresso realizado em Recife um mês antes de ser sequestrado e assassinado.   

A cerimônia de inauguração do Centro de Documentação e Memória do Clube dos Prefeitos, com naco do legado de Celso Daniel, foi liderada pela mulher do petista, Ivone Santana, e pela filha do casal, Liora, hoje jornalista.  

Um evento simples, modesto, mas de significado que vai muito além do aqui e agora. O mínimo que o Clube dos Prefeitos deveria promover em torno disso seria uma ação coordenada nas escolas para popularizar os projetos e as obras de Celso Daniel.   

Somente romarias de estudantes para produzir trabalhos escolares que tratariam de regionalidade, entre outros temas caros ao grande prefeito de Santo André, corresponderiam minimamente à importância histórica da gestão municipal e regional daquele que seria um dos cinco homens de ouro do governo Lula da Silva.   

POLÍTICOS FALTOSOS    

Lamenta-se que o evento central no Clube dos Prefeitos, na base das comemorações de 21 anos de atividades da instituição, não tenha tido o devido e quase obrigatório envolvimento da classe política da região, já que os demais integrantes do topo da sociedade omitem-se há muito tempo. Preferem papagaiadas de marketing rastaquera.   

Dos sete prefeitos, apenas os três petistas compareceram (Mário Reali, de Diadema, também presidente do Clube dos Prefeitos, Oswaldo Dias de Mauá e Luiz Marinho, de São Bernardo). O prefeito José Auricchio Júnior, de São Caetano, pelo menos enviou o vice-prefeito. Aidan Ravin, de Santo André, que, durante a campanha eleitoral de 2008 evocou em muitas situações a imagem de Celso Daniel, prometendo realizar vários de seus projetos, nem deu as caras. Assim como Clóvis Volpi, de Ribeirão Pires, e Kiko Teixeira, de Rio Grande da Serra.   

CALENDÁRIO ELEITORAL 

O que acrescentar a um evento importante, de comemoração da maioridade do Clube dos Prefeitos e de homenagem ao idealizador da instituição, se quatro dos prefeitos da Província do Grande ABC não comparecem? É claro que não é simples coincidência. O calendário eleitoral tem imbricamento total.   

Querem saber os leitores quantos dos 13 deputados da Província do Grande ABC participaram do encontro? Preparem-se para novo golpe: apenas Vanderlei Siraque (federal), José de Filippi Júnior (federal) e Carlos Grana (estadual).  

Surpresa? Apenas a ausência dos demais petistas, já que o divisionismo partidário está escancarado na lista de prefeitos.   

Combinados ou não, todos os jornais da região que li nesta terça-feira, os impressos e os digitais, não fazem qualquer referência aos faltosos. Nem dão às homenagens a Celso Daniel e à atuação histórica do Clube dos Prefeitos sentido esclarecedor, crítico, analítico. Algo que este CapitalSocial oferece aos leitores com enxurradas de textos históricos.   

APENAS GALERIA    

Agora, com relação ao suposto aeroporto que o prefeito Luiz Marinho pretende instalar em São Bernardo, o empenho da Imprensa foi intenso. E esclarecedor para quem lê muito além das pobres e mal traçadas linhas de interesses de manter informações maltrapilhas.   

Caso do Diário do Grande ABC, que pretende fazer crer aos leitores que o aeroporto pretendido por Luiz Marinho é de fato um aeroporto com direito a tudo que se imagina. Bobagem. É, repito, uma galeria de lojas que se pretende fazer shopping, como sugere, aliás, a reportagem do Repórter Diário, sem compromisso em manipular conceitos e em vender gato por lebre. 

MUITO CUIDADO   

Seria demais acreditar que o sempre diplomático Gilberto Carvalho fosse ao menos colocar em risco a reputação de Luiz Marinho, desqualificando a proposta de criar um terminal de cargas e um espaço para pouso e decolagem de pequenos aviões.   

É lógico que responderia que o assunto chegou ao conhecimento da presidente Dilma Rousseff. Daí, entretanto, a saltar prioritariamente para o campo de ações vai muita diferença. Mas, principalmente, chamar de aeroporto, aeroporto mesmo, como Viracopos, como Congonhas, como Cumbica, o terminalzinho projetado numa sensível área de mananciais de São Bernardo, vai muita diferença.   

INSISTINDO EM ERRO   

O Diário do Grande ABC, com a tese de construção de aeroporto em São Bernardo, simplesmente porque foi o primeiro jornal a noticiar essa possibilidade, me remete ao oba-boa patrioteiro com que se embalou a carruagem de desastre do Santos ante o Barcelona.  

Esse negócio de se equivocar na abordagem de uma informação (o aeroporto de São Bernardo foi vendido pelo Diário como uma grandiosíssima obra, como uma réplica de Cumbica) e depois utilizar todas as armas de imprecisões para impulsionar a concretização da bobagem, é coisa de amadores.  

Um furo nágua se torna uma chuvarada quando se insiste em viabilizar um sonho desgarrado da lógica. 

DE MAL A PIOR    

Estamos de mal a pior em matéria de cobertura jornalística. Os fatos que interessam à região são olimpicamente desprezados ou minimizados.   

O fato mais grave de ontem no Clube dos Prefeitos, e que deveria ter tido repercussão intensa da Imprensa, conectaria a homenagem prestada a Celso Daniel e a inadimplência de regionalidade dos prefeitos ausentes.   

A galeria de lojas sem qualquer sustentação inclusive como galeria de lojas, quanto mais como shopping, acabou introduzida na pauta de forma inadvertida e incômoda para o ministro Gilberto Carvalho.  

Quem conhece a mecânica de investimentos no setor aeroportuário sabe que não é bem assim nem assado.   

A Província do Grande ABC adora acreditar em Papai Noel de soluções mágicas. É patético demais.

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