SETE CIDADES E
SETE SOLUÇÕES
DANIEL LIMA - 12/11/2024
O que você vai ler em seguida vale tanto para cada um dos prefeitos do Grande ABC quanto para todos os prefeitos do Grande ABBC. Ou seja: vale para o prefeito individualmente como vale também para o conjunto dos prefeitos no Clube dos Prefeitos. É mais uma colaboração deste jornalista por uma boa causa -- a causa de uma regionalidade dominada por interesses mesquinhos e incompetências ao longo de muitos anos.
O que coloco com clareza à mesa de debate (e não vou me aprofundar porque não quero perder meu tempo) é a seguinte proposta: por que não aprender com quem está se dando bem neste século em matéria de PIB (Produto Interno Bruto). Nada melhor do que traçar planos, metas e ações com base na realidade construída, não em fantasias.
Os prefeitos deveriam criar operações especiais para estudar detalhadamente os casos que apresento em seguida. Copiar e adaptar não são pecados. Distante disso: é capacidade de compreender que o mundo é redondo, que a Lusitana roda e que a economia é versátil e mutável. Dormir nos louros da vitória é convite ao fracasso. Prova disso é o próprio Grande ABC, iletrado em competitividade.
COMPARANDO, COMPARANDO
Vou direto ao ponto: peguei os cinco maiores municípios da região (Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não servem a esse tipo de trabalho) e os comparei com sete municípios mais proeminentes do Estado de São Paulo e que estão na lista dos 100 maiores PIBs do Brasil, assim como os cinco municípios da região. Esses 12 municípios estão entre os 20 maiores do G-22, o grupo de linha de frente da economia paulista, acrescido de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra para que o Grande ABC possa ser observado também no conjunto.
Voltando ao que interessa: comparei o PIB Geral (de todos os setores) daqueles sete municípios com os cinco municípios da região nos últimos 18 anos já contabilizados pelo IBGE (de 2004 a 2021, com base no PIB de 2003). O resultado não surpreende a mim, que mergulho diariamente em estudos sobre a economia da região, do País e do mundo.
Para os menos versados, é uma bomba. O crescimento do G-7 é 68,82% superior ao resultado do Grande ABC. Repetindo: os sete municípios do Interior e do entorno da Capital cresceram muito mais que o Grande ABC. Para que o leitor tenha uma ideia mais precisa, dou os números.
DEZOITO ANOS DEPOIS
Em 2003, os cinco municípios da região reuniam PIB que representavam 58,06% do PIB daqueles sete municípios. Em 2021, a diferença se alargou para 58,06%. Enquanto em termos nominais (sem considerar a inflação) o PIB do Grande ABC avançou 288,47% no período de 18 anos (de R$ 37.512.311 bilhões para R$ 145.724.643 bilhões), o PIB daquele G-7 subiu 487,00% (de R$ 64.603.816 bilhões para R$ R$ 384.204.370 bilhões).
Noves fora a inflação do período, ou seja, em termos reais, o PIB dos cinco municípios da região cresceu à média anual de 1,63%, enquanto o PIB daquele G-7 avançou 2,99% ao ano. Trata-se de resultado do PIB que chamaria de bruto, em números absolutos, não PIB per capita, sobre o qual dedicaremos espaço outro dia.
O confronto envolvendo ritmo de crescimento dos dois blocos de municípios é apenas uma porta de entrada à curiosidade. É preciso contextualizar de forma ainda mais completa. Foi o que fiz. Aliás, a ideia original era basicamente outra. Pretendia saber qual foi o comportamento dos cinco municípios do Grande ABC no período mencionado no ranking dos 100 maiores PIBs do País. Quais as posições que ocupavam na largada e quais as posições na chegada.
MAIS RESULTADOS
Obtive os resultados mas mesmo assim não fiquei satisfeito. Precisava de alguns referenciais. A derrocada da região, que constatei em poucos minutos, não seria nada em termos práticos se não houvesse alguma coisa que a tornasse dimensionável.
Daí que surgiu a ideia de juntar sete cidades paulistas que constam do G-22 e que também estão no ranking dos 100 maiores do PIB nacional. Foi assim que selecionei Guarulhos, Osasco, Barueri, Campinas, Sorocaba, São José dos Campos e Jundiaí.
Vejam a que conclusão cheguei assim que fiz algumas contas: enquanto o Grande ABC reduzido a cinco maiores cidades caiu acumuladas 100 posições ao longo dos 18 anos, aqueles sete municípios tiveram um saldo positivo de 29 posições. Vejam os resultados:
a) Jundiaí subiu 19 pontos -- passou do 37º para o 18º lugar.
b) Osasco subiu 16 pontos – passou do 23º para o sétimo lugar.
c) Barueri subiu quatro pontos – passou do 21º para o 17º lugar.
d) Sorocaba subiu três pontos – passou do 29º para o 26º lugar.
e) Campinas subiu dois pontos – passou do 14º para o 12º lugar.
f) Guarulhos caiu três pontos – passou do sétimo para o 10º lugar.
g) São Bernardo caiu cinco pontos – passou do 11º para o 16º lugar.
h) Mauá caiu sete pontos – passou do 53º para o 60º lugar.
i) São José dos Campos caiu 11 pontos – passou do 13º para o 24º lugar.
j) Santo André caiu 18 pontos – passou do 22º para o 40º lugar.
k) Diadema caiu 21 pontos – passou do 50º para o 71º lugar.
l) São Caetano caiu 48 pontos – passou do 45º para o 93º lugar.
CASO SÃO BERNARDO
A participação relativa do PIB do Grande ABC de cinco cidades em confronto com os sete municípios selecionados com base na importância igualmente estadual e nacional é o que acredito ser o mais próximo à formulação de conjecturas. Quando se sai de 58,06% para 37,93% em 18 anos, há mais que indicativos, há provas provadas de que o Grande ABC adotou uma postura de alheamento competitivo que seguirá custando caro, sempre tendo aqueles sete municípios como contraponto.
Peguemos a Capital Econômica da região e façamos uma comparação? Como teria sido o confronto individual de São Bernardo com aqueles sete municípios no período. Vamos então aos resultados? Apenas São José dos Campos é superada por São Bernardo no período.
a) Jundiai contava com 41,98% do PIB diante de São Bernardo em 2003 e passou para 98,95% em 2021.
b) Campinas contava com 94,28% do PIB de São Bernardo em 2003 e passou a ter superioridade de 20,11% em 2021.
c) Guarulhos contava com superioridade de 8,92% sobre São Bernardo em 2003 e passou para 24,69% em 2021.
d) Barueri contava com 61,69% do PIB de São Bernardo em 2003 e passou para empate técnico em 2021.
e) Sorocaba contava com 51,23% do PIB diante de São Bernardo em 2003 e passou para 76,42% em 2021.
f) São José dos Campos contava com 94,92% do PIB de São Bernardo em 2003 e caiu para 77,57% em 2021.
g) Osasco contava com 55,88% do PIB de São Bernardo em 2003 e passou para superioridade de 32,33% em 2021.
CENTROS IMPORTANTES
Com vagar vamos voltar a esse assunto, inclusive com aprofundamento mínimo sobre as características de cada uma das sete cidades que deveriam, repita-se, ser observadas mais atentamente pelo Grande ABC.
A derrota continuada ao longo do século, e que deve ter-se agravado nos anos ainda não contabilizados pelo IBGE, não é pouca coisa. Principalmente quando se leva em conta que esses rivais, e são rivais mesmo, não representam apenas sete endereços.
São centros catalizadores e difusores de investimentos privados que impactam direta e indiretamente os respectivos entornos. Já cansamos de alertar que estamos encalacrados espacialmente, entre a Serra do Mar impeditiva à criação de riquezas e as alternativas que se oferecem ao outro lado da Grande São Paulo – casos de Guarulhos, Osasco e Barueri, entre dezenas de endereços próximos. Nossos concorrentes não estão apenas no Interior.
A roda que gira também no Rodoanel Mario Covas é a roda que leva o Grande ABC ao desfiladeiro. Somos um território desafiadoramente em processo de aniquilamento econômico.
Infelizmente, tudo isso é uma bola cantada há tanto tempo que ás vezes me sinto um idiota ao mencionar. Mas os idiotas, de fato, são os outros, que não ouvem nem escutam e ainda cantam de galo.
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