Sociedade

Criminalidade sobrerrodas
retira a máscara de Paulinho

  DANIEL LIMA - 15/08/2023

Os dados anunciados ontem pela grande mídia que colocam Santo André na ponta como pior endereço de criminalidade sobrerrodas no Estado de São Paulo e, particularmente, da Região Metropolitana de São Paulo, provavelmente serão omitidos ou minimizados pela rede midiática de proteção ao prefeito mais bajulado da região. 

Mas as redes sociais não perdoaram. Quem caminhar em sentido oposto ruma drasticamente a mais desmoralização como fonte supostamente confiável de informações. 

Com o Complexo de Gata Borralheira a demarcar o terreno de mensuração da imagem de gestores públicos da região, somente em situações assim, ou principalmente em situações assim, a retirada da máscara protetiva ganha mais credibilidade.  

De resto, não faltam botocudos a vender fake news utilizando a teoria fajuta de que quando se trata de mostrar a realidade dos mandachuvas, atribui-se aos críticos senão a marca de ignorantes, a de industrializadores de fake news. 

PIOR APRIMORADO  

Fake news, para valer mesmo, é a Administração de Paulinho Serra, fartamente esmiuçada por CapitalSocial. Para muitos, a ficha só cai mesmo quando tem a chamada grande mídia de tantos vícios a divulgar dados.  

Tanto é fake news  a gestão de Paulinho Serra que cada vez mais estou me convencendo com densas argumentações e provas que estamos a tratar do pior prefeito da região neste século. Pior prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos já o é largamente. Mas não vamos escrever sobre isso agora.  

Em defesa da contextualização dos fatos e das estatísticas, não é novidade alguma Santo André liderar o ranking de criminalidade (roubos e furtos) sobrerrodas na região.  

O que coloca Santo André e extensivamente Paulinho Serra no centro de debates e de críticas mais que ajustadas à realidade é que o prefeito de Santo André instala a cidade permanentemente num patamar de paraíso que teria sido construído a partir de primeiro de janeiro de2017, quanto tomou posse. 

VOLTANDO AO PASSADO  

Vou repassar agora (em seguida volto ao vivo e em cores) alguns fragmentos da análise que publiquei em março do ano passado. Fiz naquela data mais uma varredura estatística nos crimes sobrerrodas, porque essa preocupação editorial vem desde que criamos a revista LivreMercado, antecessora de CapitalSocial. 

Os resultados foram excelentes para a região, em comparação com os dados de 2001, começo do século, quando a criminalidade local era de Baixada Fluminense. 

A melhora acentuada ao longo dos anos, em contagem paralela com o assassinato do prefeito Celso Daniel (uma coisa teve tudo a ver, como já cansei de explicar) retira de um prefeito específico qualquer mérito especial. O ecossistema de Segurança Pública na modalidade sobrerrodas (e também de homicídios, igualmente declinantes) fez toda a diferença. 

Isso não quer dizer que estamos chorando de barriga cheia. É ainda muito grave o quadro de insegurança para proprietários de veículos em geral. A civilização não pode continuar a ser tão fortemente agredida. Mas não custa lembrar que já fomos bem piores.  

Acompanhem o que escrevi há pouco mais de um ano sobre o que ocorria há mais de 22 anos. E não esqueça: em seguida, volta ao vivo e em cores:  

 

Santo André e Mauá lideram

crime sobrerrodas no século 

 DANIEL LIMA - 29/03/2022

 

É claro que a ficcional (no organograma) mas real (no marketing) Secretaria de Premiações e Indicadores da Prefeitura de Santo André não vai colocar esse estudo no catálogo aos eleitores que também são contribuintes e tantas outras coisas mais. O fato é que neste século, depois de duas décadas, Santo André e Mauá lideram o Ranking de Criminalidade Sobrerrodas no Grande ABC.  Vou explicar do que se trata, mas antecipo que os números de crimes sobrerrodas no Grande ABC são bastante positivos, considerando-se a realidade que vivíamos em 2001, ano-base dessa exposição. Claro que ainda estamos distantes do ideal.   

Criminalidade Sobrerrodas é um índice que mede o tamanho da encrenca de roubos e furtos de veículos automotores no Grande ABC e no Estado de São Paulo. Números históricos são sempre melhores que números circunstanciais.  Números históricos contam por natureza a história, para ser propositadamente redundante.  Números circunstanciais se limitam a determinado período, geralmente mais curtos.  Números circunstanciais podem carregar elevada carga de sazonalidade que não combina com a solidez de números históricos.   

(...) Há um procedimento-padrão que precisa ser respeitado para que os leitores não sejam ludibriados. A fundamentação do ranking segue a metodologia mais que correta aplicada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Os especialistas adotam o critério de furto e roubo (no primeiro há prática de violência) de acordo com o universo local de veículos registrados. No ranking de homicídios, divide-se o total de casos para cada grupo de 100 mil habitantes. No ranking sobrerrodas a divisão é para cada grupo de 100 mil veículos. 

(...) Mas vamos ao que interessa: Mauá e Santo André, nessa ordem, lideram o ranking de furtos e roubos de veículos em 2021.  No ano passado, Mauá registrou o total de 2.294 casos, o que significou 932,76 roubos e furtos para cada grupo de 100 mil veículos. Em 2001 (vejam só que queda extraordinária) Mauá contabilizou 3.097,22 casos para cada grupo de 100 mil veículos. Foram surrupiados naquele ano 2.226.   

Os números absolutos de Mauá praticamente não se alteraram no século. A explicação é que a frota de veículos aumentou consideravelmente, bem acima do crescimento demográfico.  Santo André veio logo em seguida à classificação de Mauá com 4.839 casos de furtos e roubos de veículos na temporada passada, incidindo na taxa de 874,12 roubos e furtos para cada 100 mil veículos. Em 2001, Santo André contabilizou 11.867 veículos furtados e roubados e registrou índice de 4.520,11 para cada 100 mil veículos. Uma queda de 80,66%.   

(...) Agora, continuando no ranking, a segunda marca mais expressiva do ponto de vista positivo é de Ribeirão Pires, que registrou no ano passado 359,76 roubos e furtos para cada 100 mil veículos registrados. Foram 265 casos apontados na estatística oficial entre primeiro de janeiro e 31 de dezembro. Uma queda no século de 85,68%. Em 2001 foram registrados 558 furtos e roubos e o índice por 100 mil alcançava 2.513,40. Quem lidera em positividade é São Caetano, com índice de 348,48 veículos por 100 mil roubados ou furtados na temporada de 2021. Foram 500 registros. No século, a queda é de 89,26%. Foram 2.693 motoristas contrariados em 2001. São Bernardo registrou no ano passado índice de criminalidade sobrerrodas de 507,91 por 100 mil. Portanto, bem abaixo da segunda economia da região, no caso Santo André. Foram registrados 3.128 casos nas delegacias de Polícia. Bem menos que os 7.947 de 2001. Uma queda de 82,74% na comparação do índice por 100 mil veículos. Em 2001, São Bernardo contava com 2.942,73 casos de veículos roubados e furtados por 100 mil unidades de estoque.  

Fosse a Secretaria de Premiações e Indicadores da Prefeitura de Santo André algo que carregasse responsabilidade social e compromisso com a verdade, não com a manipulação, não haveria problema algum em destacar a melhora de Santo André no Ranking de Criminalidade Sobrerrodas. Os números (como dos demais municípios) são satisfatórios.  A queda desse tipo de crime em Santo André registra 80,66%. Praticamente uma réplica dos demais municípios locais. Menos Mauá, onde os números absolutos não sofreram alteração no século, embora os relativos tenham sido rebaixados em 69,88%.  

AO VIVO, AO VIVO 

O que me leva a afirmar categoricamente que o prefeito Paulinho Serra é excessivamente desrespeitoso à inteligência em geral é que ele não perde oportunidade alguma à autobajulação. Veja a reportagem publicada há quatro dias com amplo destaque editorial no Diário do Grande ABC. Faço meus comentários em seguidas: 

 

Estudo põe Sto. André como  

município mais seguro do Grande ABC    

 

Santo André é a cidade mais segura do Grande ABC entre municípios com população entre 500 mil e 1 milhão de habitantes. Os dados são do Anuário 2023 Cidades Mais Seguras do Brasil, divulgados nesta semana pelo site MySide e baseado no Painel de Monitoramento de Mortalidade da SVSA (Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente), do Ministério da Saúde, e no Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O município andreense registrou 11,7 assassinatos a cada 100 mil habitantes em 2022, índice que lhe conferiu a oitava colocação entre as cidades consideradas de médio e grande porte. A líder desse estrato é Uberlândia (MG), com 6,9 assassinatos a cada 100 mil moradores, seguida por São José dos Campos (SP) e Osasco (SP).

“Os investimentos em segurança que fizemos ao longo de nossa gestão certamente contribuíram para os resultados. A gente sabe que os índices podem, e devem, melhorar, para combatermos essa sensação de insegurança que ainda acomete os moradores das cidades da Região Metropolitana de São Paulo. Mas estamos no caminho certo”, comentou o prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB). Entre as cidades do Grande ABC, São Bernardo aparece na lista, atrás de Santo André – ficou na nona posição.

Na avaliação de Paulo Serra, o resultado obtido por Santo André está balizado em três ações implementadas pela administração tucana. “O primeiro é a integração das forças de segurança, que em Santo André funciona de verdade. Aqui existem reuniões sistemáticas e colaboração efetiva nas operações entre as polícias Civil, Militar e a Guarda Civil Municipal. O segundo é a política de fortalecimento da nossa GCM, baseada em capacitação, remuneração e equipamentos. Transformamos a Guarda em uma polícia municipal. O terceiro ponto é o uso da tecnologia. Santo André hoje utiliza a inteligência contra o crime”, citou.

Paulo Serra destacou avanços tecnológicos, em investimento municipal, para coibir a criminalidade na cidade – na semana passada, o próprio prefeito apresentou série de aparatos que auxilia a GCM na garantia de sensação de segurança em Santo André. “A cidade é monitorada por 3.000 câmeras, número dez vezes maior do que o de seis anos atrás, e os GCMs têm óculos especiais. Esses olhos eletrônicos, integrados por meio do COI, protegem a cidade, sendo capazes de identificar indivíduos procurados pela Justiça e placas de veículos com queixa de furto ou roubo. Hoje, a muralha eletrônica impede que qualquer veículo roubado ou furtado em Santo André deixe a cidade sem ser detectado pelas forças de segurança”, avaliou.  

RÁPIDO, RÁPIDO  

Sem esticar demais a corda do contraditório, o prefeito Paulinho Serra errou na entrevista ao Diário do Grande ABC porque subestimou a vida real, atribuindo suposto sucesso da tecnologia no combate ao crime sobrerrodas, entre outras iniciativas.  

Também desprezou a materialidade do estoque de criminalidades em geral ao se referir à “sensação de segurança” como se o ambiente de violência em Santo André estivesse controlado em nível satisfatório, o que está longe da verdade.   

Mais poderia escrever sobre as declarações de Paulinho Serra. Seria apenas uma repetição desnecessária. Os dados divulgados ontem são um retrato em preto e branco que se antepõem ao regime de propaganda enganosa do prefeito e seus adoradores.

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