Administração Pública

POUPATEMPO DA SAÚDE
PREJUDICA QUALIDADE

  DANIEL LIMA - 11/11/2025

Lançado no ano passado em Santo André, o Poupatempo da Saúde é um sucesso no critério de Acesso e um fracasso em Qualidade de Atendimento. A constatação está expressa no Campeonato Brasileiro de Competitividade dos Municípios. O resultado final não contabiliza sincronismo entre os dois quesitos. É algo como lotar um estádio de futebol sem se dar conta de que parte dos torcedores estará tão mal acomodada que perderá os principais lances em disputa.

No cômputo geral, a situação da saúde em Santo André, que detalhamos em seguida, é uma tragédia quando se considera a grandeza do Município, ex-capital econômica do Grande ABC. Mas também não é nada surpreendente: afinal, nenhum Município brasileiro das dimensões de Santo André sofreu tanto com a desindustrialização combinada com a ausência de novas matrizes econômicas.

A Qualidade da Saúde de Santo André despencou 20 posições no Campeonato Brasileiro de Competitividade dos Município0s. A escalada de 117 posições positivas em termos de Acesso à Saúde não conciliou com Qualidade de Atendimento.  Eis o resumo de um estrago  na imagem do programa copiado da Administração de Aidan Ravin, em meados da década passada. 

FUTURO DIFERENTE?

Pode ser que no futuro tudo seja diferente, porque sempre se dá um voto de confiança como contraponto à frustração inicial. Até porque a centralização de atendimento, mesmo com imperfeições, é preferível a deslocamentos improdutivos.  Resta saber como será possível um ajuste fino que harmonize quantidade e qualidade. A decepção está expressa no resultado final. A expectativa é que o Poupatempo de Saúde passe por rearranjo e Santo André possa festejar, ano que vem,  o que por enquanto só ofereceu sucesso em termos eleitorais. O então secretário de Saúde virou prefeito.

No primeiro ano do programa social mais festejado pela gestão do prefeito Paulinho Serra, e que embalou a candidatura vitoriosa do então secretário Gilvan Júnior, o fracasso no critério de qualidade foi agravado. O acesso acelerado de atendimento à população custou caro. Mesmo com melhoria relativa em vários indicadores, Santo André perdeu força na competição nacional. Ou seja: outros municípios evoluíram nos dois quesitos (Acesso e Qualidade) acima dos níveis gerados por Santo André. 

Política pública só pode ser definida como positiva ou negativa quando contraposta pela concorrência. Comparar os dados de qualquer Município numa temporada com a temporada seguinte do mesmo Município não quer dizer muita coisa. Ou geralmente não diz nada.  

SÓ MAUÁ ATRÁS

Fizemos uma avaliação dos resultados de Acesso e Qualidade na Saúde envolvendo seis dos municípios do Grande ABC que disputam com 418 competidores o Campeonato Brasileiro de Competitividade dos Municípios.

O resultado de Santo André no quesito Qualidade da Saúde é mesmo uma decepção retumbante. Santo André ficou atrás dos demais municípios do Grande ABC  -- exceto Mauá --  e terminou a competição na posição 168.

Só para se ter uma ideia do que representa a qualidade de saúde de Santo André após os oito anos de dois mandatos do prefeito Paulinho Serra, no quesito Qualidade da Saúde São Bernardo ocupa a 62ª posição nacional, São Caetano é a sexta colocada, Diadema está na posição 154, Ribeirão Pires na posição 23 e Mauá na posição  305.

No quesito Acesso à Saúde, impulsionado pelo Poupatempo,  Santo André ganhou três posições no Campeonato Brasileiro – passou da posição 117 para 114. Muito abaixo, portanto, das 20 posições perdidas no quesito Qualidade da Saúde. A posição de Santo André está aquém da 39ª de São Bernardo, que ganhou duas posições. São Caetano é a 86ª colocada em Acesso à Saúde, após cair 20 posições em relação à temporada de 2023. Diadema ocupa a posição 27 em Acesso à Saúde, com queda de 11 posições. Ribeirão Pires (236ª colocada) está abaixo de Santo André. Mas a competição de Santo André com Mauá ficou equilibrada: Mauá subiu 114 posições mesmo sem Poupatempo e passou a ocupar a 120ª colocação no Campeonato Brasileiro.

PESOS PONDERADOS

No detalhamento de todos os quesitos dos indicadores de Acesso à Saúde e Qualidade da Saúde, os resultados de Santo André, individualmente, são mais positivos tendo como base o ranqueamento de 2023. Entretanto, o fato de ganhar apenas três posições em Acesso e perder 20 posições em Qualidade indica que os pesos ponderados que compõem  a metodologia aplicada pelo Centro de Liderança Pública condicionam o placar final.

Em Acesso à Saúde, comparando os resultados do ano passado com o da temporada anterior, Santo André colecionou perdas e ganhos. No quesito de Cobertura de Atenção Primária, ocupa a posição 336, com subida de 117 posições. Em Cobertura de Saúde Suplementar (do setor empresarial) manteve o sétimo lugar. Em Cobertura Vacinal ocupa a posição 143, com ganho de nove posições. E em Atendimento Pré-Natal, perdeu 28 posições e passou a ocupar o 186º lugar nacional.

Em Qualidade da Saúde, embora tenha sofrido queda nacional, os resultados estritamente municipais foram melhores que os do ano anterior. Santo André ocupa a 168ª colocação nacional. Em Mortalidade Materna, é a 304ª colocada, ganhando 76 posições. Em Desnutrição na Infância ocupa a posição 299, com ganho de 23 posições em relação à temporada anterior. Em Obesidade na Infância, está na posição 294, com ganho de 17 posições. Em Mortalidade na Infância, ganhou 25 posições e se coloca na 86ª colocação nacional. E em Mortalidade por Causas Evitáveis, Santo André ganhou duas posições e ocupa a colocação 65 no ranking nacional. 

O Ranking de Competitividade dos Municípios reúne algumas imperfeições metodológicas, mas é um mapeamento respeitável de saúde econômica, institucional e social.  Produzido pelo CLP (Centro de Liderança Pública), o ranking coloca Santo André na 103ª posição na classificação geral que envolve 65 indicadores. Está muito abaixo da 13ª de São Bernardo e, ainda mais distante, da oitava colocada São Caetano. Mauá ocupa a posição 192, um pouco acima de Diadema, na posição 187.  Ribeirão Pires ocupa a posição 102. Rio Grande da Serra consta do ranking limitado a 418 com mais de 80 mil habitantes.

TRÊS DIMENSÕES  

A primeira dimensão do Ranking de Competitividade dos Municípios analisa as instituições de cada Município, centralizando atenção nos pilares de sustentabilidade fiscal e funcionamento da máquina pública. A segunda dimensão observa vetores sociais e o atendimento à sociedade, compondo os pilares de saúde, educação, segurança, saneamento e meio ambiente. Por fim, o terceiro pilar revela a Dimensão Econômica, incluindo os pilares de inserção econômica, inovação e dinamismo, capital humano e telecomunicações.

A sexta edição do Ranking de Competitividade dos Municípios analisa o total de 418 municípios brasileiros (7,5% do universo de municípios), representando os municípios do País com população acima de 80 mil habitantes,  de acordo com a estimativa populacional do IBGE para o ano de 2024.

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