PAÇO CORTA AOS POUCOS 
 ASAS DE PAULINHO SERRA                                                                                                                
   DANIEL LIMA - 13/10/2025
  DANIEL LIMA - 13/10/2025
A manchetíssima (manchete das manchetes da primeira página ) da edição de ontem do Diário do Grande ABC sinaliza o que temos antecipado nesta publicação: há em curso uma operação que poderia ser chamada de Corte de Asas. O alvo é o ex-prefeito Paulinho Serra, até outro dia queridinho do jornal, entre outros. Agora o jornal parece decidido a integrar o grupo de políticos que quer ver Paulinho Serra perder parte do prestígio para apagar o fogo de estrela máxima da companhia.
A perda não será drástica, disruptiva. Combinou-se que medidas cirúrgicas fariam estragos controláveis. Descarta-se radicalismo que possa provocar autodestruição do grupo situacionista em Santo André. Por mais que não exista oposição em Santo André, há limites a entreveros internos dos situacionistas.
Antes de entrar na Operação Corte de Asas propriamente dita, no sentido do que a manchetíssima de ontem do Diário do Grande ABC aponta ação em plena execução, cabe especulação com fundamentação. Só faço especulação com fundamentação quando se trata de política, essa atividade sujeita a chuvas de ilações e trovoadas de espetacularizações. Fujo dessa equação em qualquer outra área. Sobretudo no setor econômico.
MUDANDO AS PEÇAS
Paulinho Serra está sendo podado aos poucos. Peças-chaves de novos ocupantes do Paço Municipal de Santo André tomam assentos. Novos ocupantes não necessariamente no sentido literal, mas de domínio de postos de trabalho. O secretariado deixado por Paulinho Serra e inicialmente, com poucas mexidas de postos, já aponta novos rumos. Outras mudanças virão. Sobrou até mesmo para a mulher de Paulinho Serra, dona Carolina, deputada estadual eleita no ritmo do assistencialismo. Nenhuma novidade.
Até o final do primeiro mandato muita água de trocas vai passar pela ponte de reacomodações. Nada que lembraria uma pomba rebelde que decide acabar com um jogo de xadrez, mas também não tão mensamente que pareceria disputa de compadres.
Muitos servidores graduados da Prefeitura de Santo André atribuem empáfia a Paulinho Serra. Deram ao ex-prefeito tanta imunidade e, mais que isso, tanto incentivo para deitar e rolar, transformando o Executivo num teatro de prestidigitadores, que a conta acabou chegando. Ou acabou se estendendo.
FICHA NÃO CAI
Ainda não teria caído a ficha de Paulinho Serra de que não é mais prefeito e que precisaria entender que uma disputa vitoriosa à Câmara Federal, ano que vem, é o que o manterá aceso no mercado público.
Toda essa história de candidato a governador não passa de brincadeirinha de marqueteiros que fazem de Paulinho Serra uma imagem que não passa de fralda descartável para quem entende do riscado de gestão pública.
O que parecia improvável no seio situacionista de Santo André acabou virando desassossego, mas ainda está longe de tornar-se pó. Para virar pó seria necessário barafunda de estupidezes. Quem tem o poder quer manter o poder e se possível aumentar o poder. Paulinho Serra quis dar um salto maior que as pernas já longas por natureza e encontrou barreiras.
O prefeito Gilvan Júnior é a face mais respeitada do situacionismo diplomático nestas alturas do campeonato em Santo André. Discreto, humilde, dedicado, vai amealhando parceiros de jornada. E gradualmente elimina nas declarações públicas o complemento que o ajudou a ganhar as eleições. “O prefeito Paulinho Serra”, dizia Gilvan Júnior a cada declaração de agradecimento ao padrinho eleitoral. Algo como os cristãos reverenciam o Poderoso.
SEM RADICALISMO
A retaliação ainda embrionária, mas que estaria distante de se tornar radical em oposição a Paulinho Serra será abrandada e se estabelecerá num patamar de ponderação razoável na medida que o ex-prefeito entender que passou a ser ex-prefeito desde janeiro deste ano. Não teria sentido considerar-se prefeito com outro prefeito a ocupar o cargo.
Incomoda os grupos de situacionistas em Santo André um ar de certa autossuficiência de Paulinho Serra. Com essa história de concorrer a governador, lançada para reforçar a liderança que exerce em Santo André, Paulinho Serra bandeou-se em direção a grupos partidários hierarquicamente acima dos dirigentes locais.
Acreditava o ex-prefeito, segundo versões mais factíveis, que, com as costas largas, teria no ambiente estadual a repetição da ascensão em Santo André. E que os pistolões estaduais e nacionais o sustentariam acima de todos em Santo André. Não é assim que a banda toca.
MANCHETÍSSIMA EMBLEMÁTICA
Agora vamos explicar a manchetíssima de ontem. Depois de muito tempo, o Diário do Grande ABC decidiu mesmo que subliminarmente, ou menos escancaradamente, ou cuidadosamente, dizer o que canso de afirmar nesta revista digital. Os oito anos de Paulinho Serra à frente da Prefeitura de Santo André foram um desastre fiscal (entre outros).
A manchetíssima do Diário do Grande ABC e a reportagem na página interna não trazem os números que vou expor em seguida, mas de qualquer forma explicita que a gestão de Santo André ao fim do ano passado (o jornal não menciona o nome do ex-prefeito em nenhum dos parágrafos) e também de São Caetano (José Auricchio também não foi citado, numa espécie de isonomia nominativa) chegaram ao extremo da preocupação, com nota zero de um a dez no quesito de Liquidez fiscal, conforme resultado divulgado do Índice de Gestão Fiscal dos Municípios Brasileiros, uma especialidade da Firjan e seus técnicos.
Firjan é a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, e os dados são do Tesouro Nacional. O Diário do Grande ABC deu ontem a manchetíssima que CapitalSocial publicou em manchetíssima em 19 de setembro, ou seja, quase um mês antes. Quando bati os olhos na manchetíssima do Diário do Grande ABC de ontem desconfiei do sentido da coisa.
ENDEREÇOS CERTOS
A publicação tardia em relação à CapitalSocial tem endereço duplo. É uma espécie de ação preventiva em favor tanto do prefeito Gilvan Junior de Santo André quanto de Tite Campanella de São Caetano. As contas das duas prefeituras são preocupação de curto prazo, e também carregam potencial explosivo de longo prazo, porque estrangulam o fluxo de gastos e investimentos.
Paulinho Serra, repito, perdeu a virgindade de complacência editorial do Diário do Grande ABC. Mesmo que de forma discreta. A manchetíssima de primeira página (“Índice aponta como críticas as finanças de Sto. André e S. Caetano) seria outra não fosse a proximidade entre o jornal e o Paço de Santo André.
O mais provável, em situação diversa, seria algo mais ou menos nestes termos: “Paulinho Serra e Auricchio desfalcam cofres e deixam sucessores à própria sorte fiscal”.
Para complementar, não custa nada mostrar como era Santo André em 2016, no ranking da Firjan, que chamo de Campeonato Brasileiro de Gestão Fiscal, e como ficou Santo André ao final do ano passado, ou seja, após oito de dois mandatos de Paulinho Serra.
CAINDO PELAS TABELAS
Quando se toma o resultado geral dos quatro indicadores que compõem o ranqueamento, praticamente não houve alteração no desempenho de Santo André. A nota geral de 2016 está fixada em 0.6237 (quanto mais próximo de 1,oooo melhor) foi superada levemente em 2024 pela nota geral 0,6342. Praticamente empate técnico.
Entretanto, essas notas não expressam a realidade dos fatos fiscais medidos pela Firjan tomando o pulso da quase totalidade dos municípios paulistas e brasileiros. Querem saber a diferença entre uma coisa e outra coisa? Simples. Em 2016, portanto antes da posse de Paulinho Serra, a média geral de Santo André de 0,6237 correspondia à posição 1.142 no ranking nacional e à posição 172 no ranking Paulista. Agora é que vem a bomba: em 2024, a média geral de 0,6342 correspondia à posição 2.953 no ranking nacional e à posição 426 no ranking paulista.
Trocando em miúdos: Santo André caiu 1.811 posições no ranqueamento nacional e 254 no ranking paulista. Esses dados exprimem, de fato, o desempenho dos municípios brasileiros. Santo André terminou tanto no ranking nacional quanto no ranking estadual em posições muito mais desconfortáveis.
Esses resultados inserem dados dos quatro quesitos sob apreciação da Firjan, casos dos vetores fiscais nas áreas de Autonomia, Gastos com Pessoal, Liquidez e Investimento.
Propriamente no campo de Liquidez, motivo que ancorou a manchetíssima de ontem do Diário do Grande ABC, Paulinho Serra recebeu a Prefeitura de Santo André em 2017 com índice zero. Exatamente como a deixou no ano passado. A diferença é que Paulinho Serra se desfez do Semasa, medida que, pretensamente, reduziria valores despendidos com precatórios, e os municípios brasileiros, segundo especialistas, jamais receberam tantos recursos adicionais do governo federal como o pós-pandemia.
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