Política

QUE BOLA ROLA ENTRE
GILVAN E PAULINHO?

  DANIEL LIMA - 23/09/2025

As urnas eletrônicas que embalaram a eleição de Gilvan Júnior à Prefeitura de Santo André tiveram marcantes digitais de Paulinho Serra.  Sem Paulinho  Serra e o grupo de Paulinho Serra que ungiram Gilvan Júnior não haveria como Gilvan Júnior virar sucessor do prefeito que encerrou dois mandatos.

Mas o Gilvan Júnior que até outro dia não pronunciava uma frase sem o acréscimo de “prefeito Paulinho Serra” já não é mais tão pronunciadamente Gilvan Serra. Está ganhando vida própria.

Não creio francamente que Paulinho Serra perderá todo o espaço na agenda de comprometimento com Gilvan Júnior. Até porque, o grupo que comanda Santo André há pouco mais de oito anos tem espírito de sobrevivência, ou  preservação de poder,  e sabe que ruptura seria uma conta negativa e arriscada.

Por mais que não exista força oponente em Santo André, não vale a pena facilitar com divisionismo. O PT não faz cócegas ainda, e mesmo reestruturado dificilmente ganhará fôlego às próximas eleições. Menos, quem sabe, se Lula for reeleito.

FERREIRA BATE FORTE

Tenho horror a fofocas de bastidores políticos. Não tenho vocação a ser linha auxiliar para lubrificar muitas vezes interesses subterrâneos. Mas também não posso ser mais realista do que o próprio rei. Há divergências que se aprofundam entre os governistas de Santo André. Não se chegou ainda ao ponto de Gilvan Júnior e Paulinho Serra deixarem de sentar-se para almoçar ou jantar.

Acho até, pelas informações, que Paulinho Serra não teria participado da festa de aniversário do ex-pupilo, sábado passado. Tenho dúvidas se dividiriam o mesmo carro para torcer pelo São Paulo no Morumbi. Ou se o farão neste meio de semana,  quando o Tricolor pode ser eliminado da Libertadores que tanto o enobrece.

Certo mesmo e disso não tenho dúvida é que existe estremecimento entre os interesses de Paulinho Serra como candidato a deputado federal e o presidente do Legislativo de Santo André, Carlos Ferreira. O vereador apareceu nestes dias numa gravação emblemática, em forma de entrevista. Disse para o mundo que vai apoiar o ex-prefeito de São Bernardo,  Orlando Morando, a uma vaga de deputado federal no ano que vem. Carlos Ferreira é próximo de Gilvan Júnior. Paulinho Serra e Orlando Morando são inimigos diplomáticos. Já foram aliados. 

TABELINHA E TABELINHA 

Ora bolas, se Gilvan e Carlo Ferreira fazem uma tabelinha no campo político eleitoral, uma tabelinha que Paulinho Serra e Gilvan não fariam num combinado para assistir ao jogo do São Paulo, alguma coisa está fora do lugar. Se Paulinho Serra e Gilvan Júnior não compartilharem proximamente as emoções são-paulinas, então danou-se. O rompimento teria chegado a um ponto irrecuperável nos próximos tempos.  

Ainda não posso dizer porque não tenho certeza de que Gilvan Júnior seria melhor do que parece. Como determinados jogadores de futebol, mais importantes do que imagens, ações e analistas definem, Gilvan Júnior teria o comando da Prefeitura de Santo André articuladíssimo a ponto de ter mandado fixar no gabinete principal uma placa imaginária de “Sob nova direção”.

Se o ambiente na Prefeitura de Santo André já chegou a esse nível, então a vaca pode ir mesmo para o brejo. Tenho cá comigo que qualquer que seja a situação atual, duvido que Gilvan Júnior e Paulinho Serra não manterão relações a salvo de estremecimentos incontornáveis no futuro que não precisa ser próximo. Uma parceria não se desfaz assim do dia para a noite. Mesmo que se confirmem informações de que há desgaste profundo entre o que saiu e o que entrou. A politica tem sempre um estoque de vaselinagem para contornar desconfortos. 

MAR DE ROSAS

Talvez o relacionamento entre Gilvan e Paulinho esteja na fase de reavaliações sem, entretanto, chegar ao extremo de afastamento. É praticamente impossível que tenham chegado a esse ponto. Fala-se na possibilidade de um acordo diplomático que os levariam a aparecimento público para transmitir a imagem de integridade. Faz parte da política parecer o que não é para fazer com que o que não é saia da pressão impositiva a afastamentos mútuos.

Os marqueteiros do Paço Municipal são habilidosos engenheiros de resultados extraordinários. Haja vista a aprovação popular do então prefeito Paulinho Serra e a eleição com os pés nas costas de Gilvan Júnior. Aguarda-se, por isso mesmo, que mexam os cordéis e tracem os rumos de uma contenção de ânimos, mesmo que numa sala ou outra do Paço Municipal existam agentes dispostos a rabos-de-arraia.

Leitores ingênuos, somente leitores ingênuos, acreditam que a atividade política é um mar de rosas e que os vestiários de times de tamanhos diversos patrocinam gentilezas após uma derrota inesperada. Desavenças desaparecem no campo de jogo quando a bola rola e quando o voto é o ferramental de movimentação das tropas. Marcelinho Carioca e Rincon se odiavam fora dos gramados, mas infernizavam os adversários dentro de campo. Alckmin até outro dia chamava Lula de ladrão. Duro mesmo, impossível,  é fazer com que este jornalista, por exemplo, negue o que sempre escreveu. Desindustrialização é desindustrialização sempre. Não perdi o juízo nem a vergonha na cara.

PREFEITO-PONTE

A previsão de que Gilvan Júnior seria apenas um prefeito-ponte, desses que passam por passar pelo cargo porque o cargo pelo qual passou estava adredemente garantido ao prefeito anterior,  não estaria mais na perspectiva de quem assumiu o poder. É natural que assim seja. A eleição de Paulinho Serra a deputado federal é praticamente garantida. Com isso, deverá acomodar o facho de opor-se à reeleição de Gilvan Júnior.

Em qualquer outro Município da região, essa previsão de sucessão eleitoral poderia soar como estupidez porque o jogo a ser jogado ainda está longe do apito inicial.

No caso de Santo André, devido a tudo que se sabe, de monopólio do poder político de ocupantes e agregados do Paço Municipal, tudo é questão de cumprimento de tabela. É essa previsibilidade mais que uma barbada que acalentaria o sonho de Paulinho Serra lutar até o quanto puder pelo sistema quatro-por-um. Oh, raios, que sistema é esse? Ora, Paulinho Serra prefeito, Paulinho Serra reeleito, Gilvan prefeito, Paulinho prefeito de volta e Paulinho Serra reeleito outra vez.  

Esse quatro a um para Paulinho Serra só encontraria respaldo e apoio, quando não aplausos de Gilvan Júnior, a julgar pelo ambiente atual, se o placar fosse exclusivamente deslocado ao jogo do São Paulo com o time equatoriano na Libertadores. Os quatro a um como resultado da política de Santo André, que político algum alcançou na história, não passaria de combustível a uma guerra que tantos procuram evitar.

JOGO JOGADO

Por conta disso, a única dúvida que restaria na rota do futuro que sempre chega é encontrar um jeito de Paulinho Serra satisfazer-se com o mandato de deputado federal, continuar a apreciar a atuação de Gilvan Júnior, manter o grupo de apoiadores que estão incrustados na Prefeitura e, com paciência, fidalguia, diplomacia e o escambau, programar aterrissagem no cargo já ocupado somente em 2033.

Parece muito distante? A relatividade do tempo precisa ser ponderada. Os cinco minutos finais de um jogo em que se está chegando próximo de uma classificação memorável parecerá um relâmpago se o adversário estiver fragorosamente derrotado.  Entretanto, em caso contrário, de jogo parelho, de eventual sufoco para garantir ao menos a cobrança de penalidades máximas, os cinco minutos parecerão uma eternidade até o apito final.

Se Paulinho Serra e Gilvan Júnior combinarem de assistir ao jogo deste meio de semana como tricolores inseparáveis no Morumbis, tudo indicará que uma trégua foi estabelecida para se chegar à conclusão provisória de que é muito cedo para se afastarem. Se nem a Libertadores for suficiente à reaproximação, é sinal de que vão atropelar o calendário de avaliações e perspectivas que passa pelas eleições parlamentares do ano que vem. Tudo estaria mesmo decididamente programado para a disputa de 2028.

Que bola rola de fato entre Gilvan e Paulinho? Na linguagem futebolística bola quadrada é uma figura de imagem libertária porque destroça a incompatibilidade geométrica   e avança como metáfora que sugere dificuldade de controle. Na linguagem política, bola quadrada pode ser qualquer coisa que sempre terá o mesmo destino da bola quadrada do futebol. Gilvan Júnior e Paulinho Serra sabem disso. E torcem, juntos ou não,  para que o São Paulo da Libertadores não caia de quatro em eventuais penalidades máximas após empate ao final de 180 e muitos mais minutos.

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