PRISÃO DE BOLSONARO É 
 UM MATA-MATA VICIADO                                                                                    
   DANIEL LIMA - 16/09/2025
  DANIEL LIMA - 16/09/2025
É isso mesmo que você acaba de ler na manchetíssima de hoje, aí em cima: a prisão de Jair Bolsonaro sob a ótica científica do Datafolha da Folha de S. Paulo é um processo de pesquisa viciado e que por ser viciado não tem valor técnico nem científico, mas é um estupendo portal de impacto político para quem acredita que o Datafolha da Folha deve merecer credibilidade.
Antes de prosseguir e para evitar que o radicalismo me coloque no banco dos réus sem pestanejar, porque é isso que acontece quando se toma posição mesmo que baseada em provas, em argumentos, em tudo que difere informação ou análise qualificada de esculhambação, devo dizer que que acalmem os ânimos. Sejam sensatos e prossigam na leitura.
Sei que o radicalismo é barra pesada, mas sei também como perdoar os radicais que não sejam idiotas porque o que temos, como cansei de escrever, é resultado de quatro décadas de uma democracia imperfeita produzida por gente que sempre costurou vantagens mútuas em nome do equilíbrio das relações institucionais. O placar final de 50% que acham que Bolsonaro deveria ser preso pela tentativa de golpe e de 43% que são contra é um embuste.
MANIPULAÇÃO TOTAL
Vamos aos fatos. O que tivemos mais uma vez nas páginas da Folha de S. Paulo de domingo com base nos insumos do Datafolha sobre a prisão de Jair Bolsonaro foi manipulação descarada. Afinal, tanto a metodologia, principalmente a metodologia já denunciada aqui, quanto a temporalidade do trabalho, foram tratados para dar o resultado esperado pela linha editorial não só do Folha, mas de toda a chamada Grande Imprensa.
Afinal, esse consórcio ultrapassa a linha de fundo da coerência para tentar manter o que é impossível de ser mantido: goste-se ou não, os conservadores da direita radical ou da direita menos intensa, e também os conservadores envergonhados do centro, estão decididos a atrapalhar a reeleição de Lula da Silva.
O mesmo Lula da Silva, que, ao contrário do que pensam os conservadores de todos os tons, mesmo os tons mais engajados, é até prova em contrário um concorrente fortíssimo nas eleições do ano que vem.
DOIS ENUNCIADOS
Vamos então aos dois pecados capitais do Datafolha que a Folha explorou até o último sumo e por conta disso caracteriza a metáfora de uma disputa de mata-mata no futebol. Nesse caso, o Datafolha e a Folha formam o time finalista que vai jogar as duas partidas finais do mata-mata em casa, com o apoio da torcida, contando com a bonificação de dois gols de vantagem em cada partida e, para evitar riscos, terá um adversário em que o goleiro obrigatoriamente será um centroavante com direito a só utilizar os pés.
O carro-chefe que conduziu o Datafolha da Folha à vantagem programada é o enunciado da pesquisa. Enunciado é força de expressão. O que tivemos mesmo foi um trecho seletivo de peça acusatória que induz o entrevistado a pender para o time mandante dos dois jogos. Que enunciado, afinal, foi esse, e qual seria a alternativa mais justa, mais sensata, mais equânime, para aferir de fato a opinião pública? Acompanhem o enunciado acusatório:
DATAFOLHA – CONSIDERANDO O QUE FOI REVELADO PELA INVESTIGAÇÃO SOBRE A TENTATIVA DE GOLPE EM 2022 E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O MOMENTO, NA SUA OPINIÃO, JAIR BOLSONARO DEVERIA OU NÃO SER PRESO?
Sugiro ao leitor uma leitura atenta, acurada, detalhista de cada palavra, do conjunto de palavras e dos valores intrínsecos do enunciado para que possa entender o golpe do Datafolha. Prestaram atenção? Então, em seguida, ofereço aos mesmos leitores o enunciado alternativo (e tremendamente isento, como mostrarei também em seguida) que elaborei no sentido de quem a pesquisa do Datafolha não fosse uma fraude. Acompanhem:
CAPITALSOCIAL – CONSIDERANDO OS ACONTECIMENTOS DE OITO DE JANEIRO E SEUS DESDOBRAMENTOS ATÉ O MOMENTO, NA SUA OPINIÃO JAIR BOLSONARO PODERIA OU NÃO SER PRESO?
É claro que leitor mesmo songamonga sabe distinguir uma coisa da outra em termos de formulação de pesquisa que perscrute a opinião pública sem malandragens semânticas ou deliberadíssima. Vamos então à trituração analítica dos pontos mais sensíveis que sustentam a desclassificação do Datafolha em mais uma oportunidade?
PRIMEIRO ENUNCIADO
“Considerando o que foi revelado pelas investigações sobre a tentativa de golpe em 2022 e seus desdobramentos” é um trecho incisivo de encaminhamento viciadíssimo para o resultado final da pesquisa. O uso posterior de “revelado pelas investigações”, seguido de “sobre a tentativa de golpe em 2022 e seus desdobramentos” contempla pontes à condenação de Bolsonaro. “revelado” “pelas investigações”, e “tentativa de golpe” reúne três imprecisões. As revelações das investigações são uma caixa preta sujeita a chuvas e tempestades de provas e contraprovas e principalmente de fossos de obscuridade. Para completar e fechar o caixão de incorreções, “Tentativa de golpe” também passa longe de comprovação fática. “Deveria ou não ser preso” é um passo adiante ao precipício de inconformidade de origem dos questionamentos. Quando o ministro da Defesa do governo Lula da Silva, entre tantos, desclassifica a teoria de tentativa de golpe, tipificando-o como baderna, sem uso de armas, parece evidente que há algo de exagerado na pesquisa de time mandante e favorecido do Datafolha.
SEGUNDO ENUNCIADO
Feita a desqualificação da peça acusatória do Datafolha, travestida de detecção livre e soberana da opinião pública, vamos, agora, ao destrinchamento do enunciado sugerido por este jornalista. “Considerando os acontecimentos de Oito de Janeiro e seus desdobramentos até o momento” é um trecho que esteriliza a pesquisa de qualquer desvio semântico indutivo à condenação do ex-presidente. Ou seja: não estabelece juízo de valor que o primeiro enfoque do enunciado efetivamente levado a campo cristaliza. “Na sua opinião Jair Bolsonaro poderia ser preso ou não” reúne sutileza que também nocauteia o direcionamento do enunciado oficial do Datafolha. Repararam ou não? Ao invés de “deveria ou não ser preso”, o bom-senso, por conta da situação de múltiplas interpretações, recomenda que se utilize “poderia ou não ser preso”.
Sei que é preciso contar com muita atenção para compreender esse mata-mata do Datafolha e seu contraponto, mas tenho uma sugestão aos leitores no caso de, por mais que leia e reflita, encontre dúvidas à compreensão da diferença entre o oficial do Datafolha e a sugestão de CapitalSocial.
Vamos resolver essa questão: leia de novo e se preciso leia mais uma vez, quando não uma terceira vez, os dois enunciados em negrito e em letras maiúsculos que apresentei aí em cima. Leiam mesmo. Agora se coloquem no lugar de um eleitor de conhecimento mínimo, médio ou mesmo máximo sobre os acontecimentos de Oito de Janeiro.
Você acha que o resultado da pesquisa seria o mesmo apresentado em manchetíssima da Folha de S. Paulo? Claro que não. “Considerando o que foi revelado”, “Investigação”, “tentativa de golpe”, “deveria ser preso” formam um quarteto cuidadosamente orquestrado pelos alquimistas do Datafolha para dar foro de realidade intocável aos acontecimentos em Brasília.
NO CALOR DA DISPUTA
Se tudo isso que você acabou de ler já seria suficiente para desmascarar o Datafolha da Folha, tenho mais uma prova do crime. Segundo a matéria que a Folha de S. Paulo publicou na edição de domingo, a barbaridade se completa com a seguinte informação, entre aspas, da própria publicação: “O Datafolha ouviu 2.000 mil eleitores na segunda (8) e na terça-feira (9), em meio ao julgamento de Bolsonaro no STF, em 113 cidades do país. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos”.
Quer dizer então que a pesquisa foi realizada durante a disputa do mata-mata sabidamente condenatório de Jair Bolsonaro? A cobertura da Velha Imprensa, sobretudo da TV Globo, ainda a maior influenciadora política do País, mesmo que no caso “maior” já não seja “dominante” como em outros tempos, torna ainda mais frágil o resultado do Datafolha.
Uma pesquisa sob outras condições, tanto de formulação equilibrada do enunciado quanto de desaquecimento de paixões, poderia oferecer resultado bastante diverso.
Não quero dizer com tudo isso – repito principalmente olhando para os radicais – que estou metendo a colher nesse angu de imprecisões porque tenha outro objetivo senão jornalístico. Há 163 referências diretas ou indiretas de CapitalSocial à atuação positiva, negativa ou neutra do Datafolha ao longo dos anos de dedicação a esse tema. Inclusive o texto em que, em 2022, a Folha de S. Paulo abriu manchetíssima afirmando que Lula da Silva superaria Jair Bolsonaro por 14 pontos de diferença no primeiro turno (50% a 36%), e estaria prestes a matar o jogo no primeiro turno.
A distância não chegou a quatro pontos percentuais. O voto útil antibolsonaristas não foi suficiente para matar o jogo no primeiro turno. Não se erra tanto por errar. Erra-se tanto de forma deliberada para conectar linha editorial e suposto ambiente público.
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