Política

ALEX MANENTE SENADOR?
TRUQUE OU MEGALOMANIA?

  DANIEL LIMA - 09/09/2025

Se o leitor quiser se sentir um otário juramentado, basta escolher os cenários eleitorais que se seguem. Primeiro, acreditar que o deputado federal Alex Manente, absolutamente sem bandeira eleitoral expressiva,  teria votos suficientes no Estado de São Paulo para eleger-se senador no ano que vem. Segundo, acreditar que parte significativa desses votos, algo como um quarto de todo o Estado, seria dos eleitores do Grande ABC. Sabe quanto significaria esses 1,5 milhão de eleitores da região: 70% dos eleitores.

Vou revelar nos últimos trechos desta análise o que de fato e para valer pode estar preocupando Alex Manente. E a fórmula encontrada seria a disposição de não se candidatar a um quarto mandato de deputado federal, preferindo um voo impossível, mas que supostamente lhe daria algum respaldo político posterior. Aguarde os trechos finais, portanto. 

Alex Manente é um parlamentar medíocre. Vive de emendas que irrigam apoios não só na região. Sem emendas obrigatórias e obscuras (isso vale para o conceito das emendas, como todos sabem e estão cansados de denunciar)  Alex Manente seria um político vazio. Mas, pensando bem, mesmo com as emendas, Alex Manente é mesmo um político vazio para quem entende que mandato popular é muito mais que votação expressiva. 

LEGISLADOR DO VAZIO

Alex Manente está no Grande ABC há quase 30 anos como candidato sempre a alguma coisa, e sempre levou o cargo de deputado estadual e o cargo de deputado federal como prêmios de consolação. Prêmios de consolação muito bem remunerados, como se sabe.

Alex Manente é um parlamentar medíocre, como praticamente todos que passaram por Brasília desde que inauguramos o placar de representante supostamente regional. Alex Manente é incapaz de construir algum legado regional. Exceto as emendas parlamentares pagas com dinheiros dos contribuintes. Alex Manente anuncia as emendas como se os recursos saíssem de seu bolso. Eles e tantos outros políticos repetem a mesma coisa, como se sabe. Os contribuintes escorchados deste País ainda aplaudem.

Alex Manente jamais foi organizado e  dedicado o suficiente para fincar raízes a transformações locais, especialmente de combate à desindustrialização que nos abate sem parar com a vertiginosa quebra da mobilidade social.

Enfim, Manente é um vereador federal, como o foi também vereador estadual e vereador municipal. Manente é fruto da política oficial, de quem ocupa o poder. Desde sempre.

PROJEÇÃO SURREAL

Posto isto, de forma elucidativa sobre o perfil de Alex Manente, vamos a aspectos políticos e em seguida investiremos em aspectos político-eleitorais ligados à geopolítica.

Foi o próprio Alex Manente, em entrevista autobajulativa no Diário do Grande ABC, que fez a projeção de obter 1,5 milhão de votos na região como plataforma de embarque a uma pretensa e sensacional vitória para Senador da República. Manente conta com uma arma que se pretende poderosa: o territorialismo subserviente, coercitivo, manipulador e autoritário dos que o embalariam, como o embalam permanentemente.

Alex Manente e seu grupo político-partidário regional convergiriam em torno do doutrinamento do eleitorado. Todos por Alex Manente. Quem entende de política sabe como isso funciona em nível municipal e mesmo regional. Conquistam-se aliados que concorrerão como linha auxiliar à Assembleia Legislativa ou à Câmara Federal. Perseguem-se os oponentes, rebaixando-os à obscuridade e ao isolamento. Com dobradinhas, não há como deixar de ser eleito.

Isso é comum, portanto,  tanto para deputado estadual como para deputado federal. Dos atuais titulares desses cargos, poucos fugiram dessa coreografia de coalizações voluntárias e impostas. Bois de piranha abrem brechas em nichos específicos do eleitorado. A recompensa é certeira. Os mapas eleitorais confirmam ou não as respectivas parcerias.

TROCA-TROCA GERAL

Há troca-trocas também. Dá-se reciprocidade a candidato a deputado estadual no domicílio de um candidato a federal e do mesmo candidato a deputado federal no domicílio do candidato estadual. São operações casadas bastante produtivas.  

O que provavelmente Alex Manente e o grupo de territorialistas pretendem é aplicar a mesma metodologia na corrida pelo Senado Federal. Territorialismo é a política de barra pesada dos mandachuvas e mandachuvinhas que não abrem mão do poderio municipal e também regional.

Usam a bandeira da regionalidade para disfarçar modus-operandi nada democrático. Há quem acredite que regionalismo e territorialismo são metades da mesma laranja de cidadania.  Uma coisa é todos por todos, no caso regionalismo. Outra coisa é todos por alguns, no caso territorialismo. Alex Manente é desse time.

Talvez os alquimistas da pretensa candidatura de Alex Manente a senador em São Paulo não tenham observado o óbvio: por mais que façam para convergirem os votos da região em favor da mediocridade já conhecida, um eterno perdedor de eleições em São Bernardo, derrotas que ele transforma em vitórias nas eleições parlamentares seguintes, por mais que isso ocorra, nem todos os votos disponíveis nas próximas eleições, perto de 2,2 milhões, seriam suficientes à vitória de Alex Manente. Ainda faltariam algo próximo de cinco milhões.  

CONCORRENTE FORTE

Outra coisa que os marqueteiros dessa operação megalomaníaca parece não terem entendido é que a campanha eleitoral a senador é fortemente midiática, nos programas eleitorais nada gratuitos da mídia eletrônica, como também nas redes sociais.

Pesos pesados da política estadual vão se engalfinhar em busca dos eleitores. Não haveria, portanto, nada que daria elasticidade à estratégia regional suficientemente sustentável no ambiente estadual. O fluxo opressivo do territorialismo proposto pelo grupo de Alex Manente se esgotaria nos 840 quilômetros quadrados do Grande  ABC.

Mas, voltemos ao eleitorado da região. Manente disse ao Diário que espera receber 70% dos votos nas sete cidades. Citou numericamente o objetivo: 1,5 milhão de votos. Talvez o deputado federal tenha feito o cálculo com base na possibilidade de fechar em larga escala o território do Grande ABC a estranhos, ou seja, a candidatos de fora da região.

RESERVA DE MERCADO

Alex Manente pretenderia algo como uma reserva de mercado razoavelmente robusta. Os territorialistas lhe dariam esse suporte. “Todos por Alex, Todos pelo Grande ABC” seria um mote interessante. Claro que faltaria combinar com os eleitores arredios. Eleitores arredios numa região com as características socioculturais e políticas do Grande ABC são profusos. O sentimento de gataborralheira, manifesto em todas as áreas, é implacável como fator de erosão de votos em candidatos locais. As disputas a deputado estadual e a deputado federal comprovam o sangramento.

Interditar a geografia do Grande ABC aos demais candidatos a senador teria o mesmo sentido de dispensar vacinas  num eventual repique pandêmico ou mesmo uma versão epidêmica da Covid ou algo semelhante mas de gravidade menos intensa. Como acreditar que bastaria a cada potencial vítima regional apelar para o princípio da imunidade territorial para afastar os invasores invisíveis?  

Alex Manente chegaria a 1,5 milhão de votos na região  com base no fato de que haverá vagas para dois senadores paulistas. Ou seja: cada eleitor, dois votos. A matemática não é bem essa. Cada candidato, um voto. O eleitor não vota no mesmo candidato duas vezes. O eleitor vota em dois candidatos. Não há valoração profundamente distinta entre um voto e outro voto. Mas é preciso ter um dos votos de cada eleitor.

VOTOS INTOCÁVEIS

Alex Manente também considerou que não haveria voto em branco nem voto nulo. Tampouco eleitores cadastrados deixariam de ir às urnas. Seria um feito extraordinário. Acho que Manente teria de rever os conceitos. Não custa reformular os números com base em todas essas condicionantes. Voto disponível é uma coisa. Votos válidos são outros quinhentos.

A experiência vivida em 2018, quando se renovaram duas vagas para senador no Estado de  São Paulo, não oferece garantia de que Alex Manente chegaria sequer próximo 800 mil votos na região.  Acho que não registraria nem 300 mil. Querem ver os dados de 2018?

O candidato mais bem votado naquela temporada (Major Olímpio)  em que a direita de Jair Bolsonaro

foi vitoriosa, não teve mais que 518.133 votos. No Estado de São Paulo o militar que pouco tempo depois morreu de Covid obteve 25,81% dos votos. Chegou a 9.039.717. No Grande ABC, registrou em São Caetano o maior percentual de votos, com 27,26%. Os 18,33% de Diadema colocaram o vencedor com a média mais baixa da região. 

A segunda vaga do Estado de São Paulo foi conquistada pela então tucana Mara Gabrilli, fortemente beneficiada por dois temas: o apelo popular de cadeirante e o apelo criminal do caso Celso Daniel. Pela primeira vez os tucanos levaram ao horário eleitoral a morte do prefeito de Santo André. A medida, ditada pelo então governador João Doria, demarcou o rompimento do Teatro das  Tesouras com o Partido dos Trabalhadores. Escrevi sobre isso. Mara Gabrilli obteve 6.513.282 votos no Estado, ou 18,59% do total. No Grande ABC, conquistou 439.792 votos. São Caetano lhe deu a maior proporção, com 25,99% do total dos eleitores locais. Diadema não passou de 14,55%.

Parece que o apelo à regionalidade que de fato é territorialidade não seria suficiente para Alex Manente empinar a pipa de votos. Talvez não seja mesmo essa a intenção de Alex Manente. Os marqueteiros de Alex Manente são da mesma escola dos marqueteiros de Paulinho Serra, ex-prefeito de Santo André, e até outro dia dono de manchetes que o colocavam exatamente onde Manente está agora. Ou seja: como candidato a senador. Agora Paulinho Serra virou candidato a governador.

No fundo, é mais que provável que tudo não passe mesmo de campanha eleitoral antecipada e programada para valorização do passe de Manente e de Paulinho. Eles concorreriam mesmo a deputado federal. Como também deverá concorrer Orlando Morando, ex-prefeito de São Bernardo. Que também já ganhou manchetes no passado como possível candidato a vice-governador.

ADVERSÁRIOS LOCAIS

Os marqueteiros políticos estão sempre inventando alguma coisa. A ordem unida é colocar políticos de estimação e de alta remuneração nas manchetes.  Faz parte do show.

Entendeu o leitor as primeiras linhas desta análise? Desconfie de tudo o que você lê sobre política. Inclusive deste texto. Não custa nada. Às vezes até quem sugere novos otários juramentados também é levado no bico.

Estava esquecendo da promessa de revelar um ponto, ou seja, outra alternativa, ao anúncio de desistência de Alex Manente deixar de concorrer à Câmara Federal. Qual é? A possibilidade de Alex Manente cair do cavalo da reeleição. Basta observar que teria como adversários locais Paulinho Serra e Orlando Morando no campo conservador e Luiz Marinho, entre outros, no campo esquerdista. Haveria congestionamento de concorrentes. Manente sem bandeira poderia ser alijado do jogo.

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