GILVAN JÚNIOR OU GILVAN 
 SERRA? VOCÊ VAI ENTENDER                                                                                    
   DANIEL LIMA - 27/08/2025
  DANIEL LIMA - 27/08/2025
A pesquisa do Instituto Paraná que mede a temperatura da Administração de Gilvan Júnior em Santo André encaminha os resultados a uma bifurcação básica de análise que talvez não tenha sido captada por muita gente, mas que especulativamente faz parte do enredo de retaliação ou de recado cifrado ao ex-prefeito Paulinho Serra.
Como se sabe, o tucano que preside o moribundo partido no Estado de São Paulo não anda de boas relações com o dono do Diário do Grande ABC. Há sempre uma porta entreaberta entre parceiros reconciliáveis, mas ainda não houve avanços reparatórios significativos, além dos protocolares.
O vereador Carlos Ferreira, presidente do Legislativo, é uma das lanças direcionadas a Paulinho Serra. O noticiário é emblemático. Carlos Ferreira saiu do ostracismo midiático para ocupar espaço relativamente de destaque. Apoia intransigentemente Gilvan Júnior e segue espicaçando Paulinho Serra nas entrelinhas.
ENTENDENDO OS DADOS
Entender bastidores da belicosidade entre Paulinho Serra e Ronan Maria Pinto é essencial às avaliações da pesquisa do Instituto Paraná. Então vamos ao que interessa e que está exposto na manchetíssima de hoje em forma de provocação que também é elucidação.
Os 78,3% de aprovação obtida por Gilvan Júnior corre na mesma raia da aceitação do então prefeito Paulinho Serra, ano passado, nas rodadas de sondagens do Instituto Paraná. Anotem esse ponto para que se compreenda a bifurcação sugerida.
O que significam esses 78,3% depois de apenas oito meses de gestão do menino que até outro dia batalhava num mercadinho varejista?
CONCLUSÕES PRECÁRIAS
A primeira conclusão, precária como a segunda, ou instável como a segunda, é que Gilvan Júnior levaria os eleitores de Santo André a esquecerem facilmente o antecessor, ao qual deve grande parcela da votação obtida, com 60% e alguns quebrados de votos válidos e 38% dos votos consumados em relação ao total de votos disponíveis.
A segunda conclusão, precária como a primeira, ou instável como a primeira, é que Gilvan Júnior só chegou a essa extraordinária margem de aprovação porque pegou carona no sucesso popular de Paulinho Serra e com isso apanhou uma correnteza de créditos do antecessor que o embala na primeira temporada de gestão.
A primeira conclusão é tão precária quanto a segunda porque não há cristo que seja capaz de assegurar a exclusão de uma e a preferência por outra. Não há na pesquisa do Instituto Paraná nada que enverede por uma tomografia dos sentimentos dos eleitores a ponto de assegurar que o sucesso de quase 80% se deve a uma coisa específica, no caso uma das duas alternativas.
Acredito que o recado da pesquisa do Instituto Paraná visto sem paixonites e discriminações tem um fulcro razoavelmente sustentável: Gilvan só chegou parcialmente a tanto porque beneficia-se do efeito-tração legado por Paulinho Serra, assim como a audiência do Jornal Nacional da TV Globo só alcança os números sempre líderes porque a TV Globo conta com encadeamento de programas antecedentes que aquecem a audiência.
Traduzindo: não acredito que tudo que Gilvan Júnior alcance após oito meses de mandato se deva exclusivamente às ações próprias e tampouco à memória afetiva do eleitorado por Paulinho Serra. Sim, o Paulinho Serra Bom de Voto e Ruim de Governo.
GUETOS SOCIAIS
Me parece que essa é a resposta mais consistente que poderia dar aos leitores e eleitores que também são torcedores e contribuintes. Daí, ter escolhido lá em cima, na manchetíssima do dia, o enunciado provocativo, além de criativo e instigante. Mas outros fatores que ajudam a entender o resultado final.
Pesa também, independentemente dos resultados práticos, a imagem do novo prefeito que, longe de parecer brilhante (Paulinho Serra parecia, mas estava distante de ser) transmite a sensação de comedimento mais sereno em relação ao antecessor.
O Paulinho Serra de classe média tradicional de Santo André sempre transpirou autossuficiencia. Gilvan Júnior, egresso de outras plagas, é observado sem o mesmo glamour. Em determinados guetos sociais chega mesmo a ser discriminado por conta da origem humilde. O Bairro Jardim não é a melhor praia para Gilvan Júnior. Ele está mais para o Cata Preta.
MENOS EXIGÊNCIAS
Exaurido esse aspecto da pesquisa do Instituto Paraná, não resisto a uma afirmação mais peremptória: o eleitorado de Santo André e da região como um todo tem se provado menos exigente, mais condescendente, menos informado e tudo o mais quando um pesquisador trata de questões municipais em relação ao que manifestam quando os alvos de avaliação são o governador do Estado e o presidente da República.
Repete-se a cada nova pesquisa, e isso vem de longe, que tanto Tarcísio de Freitas quanto Lula da Silva, mais este que aquele, passam por escrutínio popular mais rigoroso.
Basta observar os dados da pesquisa divulgada ontem pelo Diário do Grande ABC. Enquanto Gilvan Júnior contabilizou 78,3% de aprovação e 18,1% de reprovação dos eleitores de Santo André, Tarcísio de Freitas somou 61,7% e 34,2 respectivamente. E Lula da Silva: aprovação de apenas 44,6% e reprovação de 51,7%.
Não existe segredo algum nesses placares. Em regiões subalternas à luminosidade econômica e política de capitais, ou seja, em periferias metropolitanas sem identidade municipalista mais acentuada, a tendência é cada vez maior de prevalecimento de pautas relacionadas às decisões e embates de governos estaduais e governo federal.
REDES DOMINAM
As redes sociais e os aplicativos estão aí para comprovar. Participo como voyeur de alguns grupos de WhatsApp. Espio permanentemente as redes sociais locais. Posso assegurar que a política municipal está centralizada burocraticamente no restrito domínio de cena dos prefeitos, principalmente em forma de assessoria de imprensa de mídias jornalísticas. Restam poucos espaços a questões domésticas e muito menos a pautas regionais.
A colonização cultural em forma de gataborralheirismo mais aprofundado dos sete municípios da região é um fenômeno que interfere diretamente e ajuda a explicar o desprezo à regionalidade, além da aparentemente perpetuação da decadência econômica e cultural.
Lembro aos leitores que esta é uma pauta realista que produzo mais uma vez diante do distanciamento crítico da mídia regional. Explicando: não existe fora do universo de CapitalSocial um texto sequer, algo mesmo que superficial, que aborde esse fenômeno de despersonalização da municipalidade e da regionalidade.
DESREGIONALIZAÇÃO
Vou ser mais enfático: vivemos o fenômeno da desregionalização sem que se tenha ao longo de quase um século de separatismos municipais o que configuraria costura da regionalidade. Somos sem ter sido, por assim dizer.
Estaria este jornalista exultante caso fosse adepto do isolacionismo cultural e louco para manter o monopólio de abordagens de um regionalismo desprezado pela quase totalidade dos três milhões de habitantes do Grande ABC, conta que inclui profissionais de mídia. Entretanto, como sou um idiota juramentado que lamenta não contar no dia a dia regional com sequer um parceiro insistentemente em defesa da regionalidade, nada é mais lamentável. Tão lamentável que a cada dia que passa mas meto na cabeça a ideia de que além de idiota, sou um estúpido igualmente juramentado.
São dramáticas as consequências da estreiteza dos movimentos das pedras em direção a algo que chamaria de cavalo de pau na apatia generalizada, combinada com oportunismos de todos os calibres. O Grande ABC perde a cada nova temporada mais e mais traços ao encaminhamento de qualquer coisa que se diferencie de gigantesco acampamento.
FALTA CIDADANIA
A falta de cidadania municipal e muito pior ainda de cidadania regional leva o Grande ABC a operar um sistema de aprovação acrítica de tudo que interfere no presente e no futuro que chegará, como consequência natural de um passado relapso.
UMA ABERRAÇÃO
É um escárnio a aprovação popular de qualquer prefeito de municípios com os problema sociais e econômicos do Grande ABC, situação comprovada e ratificada em inúmeros dados estatísticos de organizações respeitáveis. Por melhor que venha a ser o desempenho de um prefeito, seria impossível carregar valores positivos tão elevados num ambiente de contágios provocados por perdas sociais e econômicos comprovadíssimos.
Por conta disso, os números de aprovação de Gilvan Júnior, assim como o foram os de Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio Júnior, independentemente de valores amealhados, são, acima de tudo, o retrato fiel de um desencaixe comprometedor entre razão e comprovação. São os efeitos evidentes do baixo interesse de acompanhar para valer as gestões locais, associados a um propagandismo oficial sufocante.
O Grande ABC festeja desmesuradamente os prefeitos de plantão que não cometem maiores deslizes, embora limitados até por causa dos efeitos deletérios da desindustrialização.
Essa relação de confiança ou de despreparo crítico lembra aquele casal em permanente lua de mel porque a mulher é uma dona de casa atarefadíssima com uma penca de filhos e o marido que chega tarde cheirando à cachaça jura que atua voluntariamente como atendente numa associação de combate ao álcool.
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