Administração Pública

MORANDO MELHOR QUE
PAULINHO E AURICCHIO

  DANIEL LIMA - 13/05/2025

Ainda faltam os resultados de 2024 para se completar o ciclo de dois mandatos seguidos, mas no período de sete anos, entre 2017 e 2023, quando foram eleitos e reeleitos prefeitos, quem melhor se saiu no Indice Firjan de Gestão Municipal (IFGM), ou Campeonato Brasileiro de Gestão Municipal, como prefere este jornalista,  foi Orlando Morando.

O prefeito de São Bernardo obteve a liderança em dois dos três indicadores básicos na disputa com Paulinho Serra e José Auricchio. Tecnicamente esse é o resultado, seguindo a metodologia benevolente do Índice Firjan, que contrasta com outros estudos de critérios mais rígidos.

Tecnicamente é uma maneira de dizer que os números são frios, que desconsideram contextos relevantes. No fundo, quando se constatam os resultados desde 2013, uniformizados e reorganizados por técnicos da Federação das Industria do Estado do Rio de Janeiro, o que temos é muita proximidade nos resultados dos três principais municípios da região. Independentemente de quem ocupou os respectivos Paços Municipais.

No Campeonato Brasileiro de Gestão Municipal do ano passado, números revelados na semana passada, São Caetano ocupa a segunda posição geral, abaixo apenas da paulista Águas de São Pedro. São Bernardo está na 23ª posição e Santo André na 47ª. Esse ranking tem de observado sob ótica histórica, de sucessão de dirigentes públicos. Personalizar sem restrições seria um erro.

Já quando se observam estritamente os sete anos consumados envolvendo os três prefeitos da região que se elegeram e foram reeleitos, há maior flexibilidade em forma de juízo de valor sem descambar para favoritismos. E mesmo assim é preciso relativizar.

Nas três dimensões do Campeonato Brasileiro de Gestão Municipal (Emprego& Renda, Saúde e Educação) há especificidades a avaliar.

No índice de Emprego e Renda, por exemplo, a influência do prefeito, salvo raríssimas exceções, é muito inferior à registrada nas áreas de Saúde e Educação, de práticas mais incidentes locais. Principalmente no caso do Grande ABC, sem políticas públicas consistentes na área econômica, a dependência do ambiente macroeconômico é abrangente.

Santo André do prefeito Paulinho Serra ganhou impulso de 13,42% no índice de Emprego e Renda na comparação de sete anos. O índice do Brasileiro de Santo André passou de 0,8561 para 0,9710. O comportamento foi superior ao registrado por São Bernardo de crescimento de 7,46% (de 0,8672 para 0,9319) e também dos 10,33% de São Caetano, que passou de 0,8973 para 99,00.

No índice do Brasileiro de Gestão Municipal na área de Educação, o melhor resultado foi de São Bernardo durante os sete anos. Subiu 18,32% ao passar de ,7034 para 0,8323. Santo André avançou 15,39% ao passar de 0,6941 para 0,8009. E São Caetano veio a seguir com crescimento de 8,71%, passando de 0,7826 para 0,8508.

Completando a competição, na área de Saúde, São Bernardo também lidera com crescimento de 8,59%, ao passar de 0,7447 para 0,80,87. Santo André veio imediatamente atrás com crescimento de 7,77%, passando de 0,7177 para 0,7735 em sete anos. São Caetano aparece antes de Santo André c0m crescimento de 8,38% ao passar de 07601 para 0,8238.

Quando se leva em conta o desempenho no Campeonato Brasileiro de Gestão Municipal entre 2013, base da competição, e 2023, dados mais atualizados, os resultados são semelhantes entre os três municípios. Santo André avançou 0,828 no índice geral, ao sair de 0,7657 para 0,8485, enquanto São Bernardo cresceu 0,834 ponto ao sair de 0,7742 para 0,8576. São Caetano registrou crescimento de 0,681 do índice, passando de 0,8201 para 0,8882.

Em termos efetivos, Santo André passou de participação relativa frente a São Caetano no índice geral de 93,37% em 2013 para 95,53% em 2023. Já no confronto com São Bernardo, a participação de Santo André partiu de 98,90% em 2013 para chegar a 98,94% em 2023.

Para completar, a participação relativa de São Bernardo no Campeonato Brasileiro de Gestão Municipal frente a São Caetano passou de 94,40% em 2013 e chegou a 96,55% em 2023.

A queda de velocidade de São Caetano diante de Santo André e de São Bernardo é natural: quanto mais próxima da nota máxima (1,000) mais um Município conta com dificuldades para registrar crescimento expressivo. 

Na sequência, o boletim oficial da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro: 

Apesar do avanço das cidades brasileiras na última década, o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) aponta que 47,3% (2.625) ainda têm desenvolvimento socioeconômico baixo (2.376) ou crítico (249). São 57 milhões de pessoas vivendo nessa situação. Os municípios com desenvolvimento moderado são 48,1% (2.669) e aqueles com alto nível são apenas 4,6% (256). Os três mais bem avaliados pelo estudo são Águas de São Pedro (SP), São Caetano do Sul (SP) e Curitiba (PR).  

Elaborado pela Firjan com base em dados oficiais referentes ao ano de 2023, a edição do IFDM analisou 5.550 cidades, que respondem por 99,96% da população.  

“É inadmissível que ainda hoje, apesar da melhoria nos últimos anos, a gente tenha um Brasil tão desigual. Através do IFDM conseguimos chamar a atenção para a situação crítica de muitas cidades, que sequer tem quantidade razoável de médicos para atender a população, em que a diversidade econômica é tão baixa que sete em cada dez empregos formais são na administração pública. Nossos cálculos indicam que as cidades críticas têm, em média, mais de duas décadas de atraso em relação as mais desenvolvidas do país. É como se parte dos brasileiros ainda estivesse vivendo no século passado” -- ressalta o presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano. 

TRÊS INDICADORES 

Criado em 2008 e atualizado neste ano com nova metodologia, o estudo é composto pelos indicadores de Emprego & Renda, Saúde e Educação e varia de 0 a 1 ponto, sendo que quanto mais próximo de 1 maior o desenvolvimento socioeconômico. Através dessa pontuação, é possível avaliar o município de forma geral e específica em cada um dos indicadores. 

Tanto a avaliação geral quanto as análises dos indicadores são classificadas em quatro conceitos: entre 0 e 0,4 – desenvolvimento crítico / entre 0,4 e 0,6 – desenvolvimento baixo / entre 0,6 e 0,8 – desenvolvimento moderado / entre 0,8 e 1 – desenvolvimento alto. 

O estudo permite, ainda, avaliação absoluta por município e ano e comparações entre cidades e anos anteriores. A análise mostra que 99% dos municípios registraram avanço no índice geral entre 2013 e 2023. Com isso, a pontuação média brasileira no estudo é de 0,6067 ponto, referente a desenvolvimento moderado. As três vertentes do índice contribuíram para esse avanço, ainda que em ritmos distintos. 

EVOLUÇÃO 

O IFDM Educação teve o maior crescimento (+52,1%), passando de 0,4166 ponto em 2013 — quando era a variável com pior pontuação — para 0,6335 em 2023, tornando-se o componente de melhor desempenho. O IFDM Saúde registrou o segundo maior avanço (+29,8%), aumentando de 0,4626 ponto para 0,6002. 

Já o IFDM Emprego & Renda foi o que menos evoluiu (+12,1%), mesmo com a forte recuperação pós-pandemia. Essa trajetória de desenvolvimento disseminado resultou em redução de 87,4% no número de municípios com desenvolvimento crítico, que passou de 1.978 em 2013 para 249 em 2023. 

O gerente de Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart, coloca que todas as regiões ainda têm cidades em situação crítica, mas que Norte e Nordeste ainda são as mais prejudicadas. Ele destaca que o estudo oferece análise detalhada para que o cenário possa ser modificado nos próximos anos. “Estamos fornecendo um quadro representativo para a formulação de políticas públicas mais eficazes e equitativas”, pontua Goulart.  

A Educação se destaca como a área do estudo com maior número de municípios em patamares mais elevados de desenvolvimento. No país, 56,1% das cidades (3.113) registram desenvolvimento moderado, enquanto 7,2% (401) têm alto desenvolvimento. Ainda assim, desafios persistem, pois 32,5% (1.806) permanecem na faixa de baixo desenvolvimento e 4,1% (230) apresentam cenário crítico. 

DETALHES DA EDUCAÇÃO

O IFDM Educação foi desenvolvido para avaliar tanto a oferta quanto a qualidade da educação básica em escolas públicas e privadas, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Percentual de crianças de até três anos matriculadas em creches, adequação da formação dos professores que lecionam no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, oferta de educação em tempo integral, taxas de abandono escolar e de distorção idade-série, além do desempenho dos alunos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no Ensino Fundamental são as variáveis consideradas no indicador.

Com isso, o estudo ressalta que nos municípios com desenvolvimento crítico 57% das turmas do Ensino Fundamental não são ministradas por professores com formação adequada. Ainda que em menor proporção, municípios com alto desenvolvimento (23%) também têm esse problema. A distorção idade-série é outro ponto destacado. Estão acima da idade recomendada 40% dos alunos do Ensino Médio nos municípios críticos. Esse número é quase cinco vezes o observado nas cidades mais desenvolvidas (8,3%). Na Educação Infantil, a análise da Firjan aponta que apenas 19% das crianças de até três anos estão matriculadas em creches nos municípios com pior desempenho, quase um terço do percentual registrado nos municípios de alto desenvolvimento (53%), onde a média supera a meta vigente do Plano Nacional de Educação (PNE). 

DETALHES DA SAÚDE 

A maioria dos municípios brasileiros apresenta desempenho moderado no IFDM Saúde. Do total analisado, 53,2% (2.961) registram pontuações entre 0,6 e 0,8 no indicador. Por outro lado, 39,1% das cidades (2.179) permanecem em situação de baixo desenvolvimento. Nos extremos, 5,8% (323) registram desempenho crítico e apenas 1,9% (107) tem alto desenvolvimento. 

O IFDM Saúde avalia cobertura vacinal, percentual de gestantes que realizam consultas pré-natais, incidência de gravidez na adolescência, número de internações por condições sensíveis à atenção básica e por problemas relacionados ao saneamento inadequado, taxa de óbitos infantis evitáveis e quantidade de médicos disponíveis para cada mil habitantes.

A análise mostra que as cidades críticas têm, em média, apenas um médico para dois mil habitantes. Nas cidades com alto desenvolvimento são sete para cada grupo de dois mil habitantes. O estudo aponta, ainda, que são 74 internações por saneamento inadequado a cada dez mil habitantes nos municípios críticos. Nas cidades mais desenvolvidas são quatro. 

Outro ponto ressaltado pelo estudo é a gravidez na adolescência. Nas cidades com situação crítica, 41% das gestações são de adolescentes, percentual mais de três vezes superior ao das cidades de alto desenvolvimento (12%). Já as internações por causas sensíveis à atenção básica representam um terço (33,2%) do total nos municípios críticos, mais que o dobro da proporção observada nas cidades mais desenvolvidas (13,7%). 

DETALHES DE EMPREGO

Baixa diversidade econômica: nos municípios críticos, quase sete em cada dez empregos formais são na administração pública. 

A distribuição dos municípios brasileiros por nível de desenvolvimento do IFDM Emprego & Renda em 2023 revela cenário contrastante. Enquanto 20,3% das cidades têm alto nível de desenvolvimento nessa dimensão — a maior proporção entre as três vertentes do IFDM —, ainda há desafios significativos: um em cada quatro (25,2%) municípios apresenta um mercado de trabalho em condição crítica.

O IFDM Emprego & Renda avalia a capacidade de geração de empregos e de distribuição de renda nos municípios, levando em conta absorção da mão de obra local, diversidade econômica (indicadora de resiliência do mercado), taxa de desligamentos voluntários (reflete a mobilidade e a confiança do trabalhador), PIB per capita (medida de riqueza produzida por habitante), participação dos salários no PIB (indicadora de distribuição de renda) e taxa de pobreza (evidencia a parcela da população em situação de vulnerabilidade socioeconômica).

Nas cidades com desenvolvimento crítico no IFDM Emprego & Renda, 9,3% da população adulta possui emprego formal. Nos municípios de alto desenvolvimento nesse indicador, esse percentual é de 39,4%. O estudo também aponta que a baixa diversidade econômica nos municípios críticos é ilustrada pela alta dependência nos empregos públicos: nessas cidades, quase sete em cada dez vínculos formais (67,9%) de emprego estão na administração pública, frente a apenas 10,6% nos municípios com alta performance.

Veja as 10 cidades com os melhores resultados no IFDM: 

1º – Águas de São Pedro (SP) – 0,8932 ponto

2º – São Caetano do Sul (SP) – 0,8882 ponto

3º – Curitiba (PR) – 0,8855 ponto

4º – Maringá (PR) – 0,8814 ponto

5º – Americana (SP) – 0,8813 ponto

6º – Toledo (PR) – 0,8763 ponto

7º – Marechal Cândido Rondon (PR) – 0,8751 ponto

8º – São José do Rio Preto (SP) – 0,8750 ponto

9º – Francisco Beltrão (PR) – 0,8742 ponto

10º – Indaiatuba (SP) – 0,8723 ponto

Leia mais matérias desta seção: